14 de maio de 2007

Hits cafonas sob desfocada ótica da cena indie

Resenha de CD
Título: Eu Não Sou
Cachorro, Mesmo
Artista: Vários
Gravadora: Allegro
Discos
Cotação: * *

Após tentar redimensionar o repertório de Odair José com a gravação do CD Vou Tirar Você desse Lugar (2005), o tributo em que nomes como Zeca Baleiro recriaram músicas do autor de Pare de Tomar a Pílula, o selo Allegro Discos apresenta o segundo projeto de sua trilogia de releitura do relicário brega - ou cafona, como prefere o produtor Sandro Bello. Em Eu Não Sou Cachorro, Mesmo, bandas da cena indie revisitam o cancioneiro de ídolos dos anos 70 como Benito Di Paula, Evaldo Braga, Fernando Mendes, José Augusto, Márcio Greyck, Reginaldo Rossi e Waldick Soriano, entre outros.

Os hits cafonas são enfocados sob ótica bem irregular. Funciona quando a banda não se acha mais importante do que a música. O grupo português Clã, por exemplo, enobrece Tortura de Amor (clássico de Waldick) em gravação melodiosa cheia de climas. Já vale o CD. Outro belo acerto é o do Laranja Freak, que envenena levemente com sua guitarra Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme (hit de Rossi) sem prejuízo da melodia e com o respeito que, aliás, também norteia o registro do Rádio de Outono para De que Vale Ter Tudo na Vida? (sucesso de José Augusto) e a leitura de Érika & Telecats para Ainda Queima a Esperança (hit de Diana). As quatro bandas erguem com êxito e justa reverência a ponte cafona-indie.

Com dose menor de sucesso, aparecem os grupos Ramirez (ainda soando como o clone de Los Hermanos em Meu Pequeno Amigo, uma pérola obscura do cancioneiro de Fernando Mendes), Móveis Coloniais de Acaju (pretensioso em Sorria, Sorria, o standard de Evaldo Braga), The Darma Lovers (Retalhos de Cetim, em registro opaco do samba de Benito Di Paula). Já Los Diaños simplesmente destroem a pulsação vibrante de Você É Doida Demais. Gongados!

No todo, o álbum fica aquém do tributo a Odair. Mas cumpre seu papel de apresentar às jovens gerações um cancioneiro de estilo simplista, mas nem por isso desprezível. Comparado com o brega de hoje, o cafona de ontem é muito chique e resiste bem ao tempo.

5 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Aos eventuais interessados na compra do CD, o site do selo é www.allegrodiscos.com.br

14 de maio de 2007 às 10:18  
Anonymous Anônimo said...

Eu A-M-O a cafonália.
Abajur lilás, piteira, fumaça...é comigo mesmo.

14 de maio de 2007 às 17:08  
Blogger Unknown said...

Concordo com o jornalista. Soam como pérolas se comparadas com o que se ouve hoje em dia por aí.

14 de maio de 2007 às 19:02  
Anonymous Anônimo said...

Waldick faz falta, muita falta, na mídia. Autêntico, charmoso, quente, maravilhoso. Tipo de homem que anda em falta no mercado. Um cantor que arranca suspiros de todas as mulheres que se prezam femininas.
'Tortura de Amor' é arrepiante mas duvido que alguém consiga cantá-la com a mesma verve e a mesma pulsação de Waldick. Lembro de uma tia que me embalava com esta canção, sempre emocionada, capturada por aquela voz viril. Acho que esta emoção passou para mim e também me tornei cativa deste baiano.
Mais cantores como Waldick e as mulheres eclodiriam todas como lavas de vulcão. A bossa nova deve ter contribuído muito para que a maioria de nós tenha se tornado brasas adormecidas. Perdidas, desorientadas, acéfalas em um mundo sem waldicks sorianos.

15 de maio de 2007 às 06:38  
Anonymous Anônimo said...

Ursula, quanta poesia, nega. Vc é das antigas, não?
Tb curto este tipo de música (vez em quando) e encaro (com cerveja gelada, claro), um bom Waldick, um Reginaldo Rossi, até uma Cláudia Barroso - who knows??? BÁRBARA!)
Gostei de sua teoria bossa nova. Vou dar um 'up' neste som e encarar um lance mais hard-core. Tb estou me sentindo low profile em excesso e...um banquinho, um violão...SOCORRO!
Ah, faltou a Vexame da Marisa Orth, não acham? Impagável.

16 de maio de 2007 às 09:39  

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