'Salvador Negro Amor' valoriza pop afro-baiano
Resenha de CD
Título: Salvador Negro Amor
Artista: Vários
Gravadora: Maianga Discos
Cotação: * * * *
Em 1997, Marisa Monte gravou com Gilberto Gil para a trilha do filme Navalha na Carne uma espécie de mantra afro-pop-brasileiro cuja letra relaciona somente nomes de entidades divinas em diversos idiomas e dialetos. O belo dueto no tema intitulado Life Gods virou raridade desconhecida até por fãs da cantora porque o CD com a trilha teve distribuição restrita. Só que a música da percussionista Mônica Millet (detalhe: neta de Mãe Menininha do Gantois) - composta em parceira com Arnaldo Brandão e Tavinho Paes - ganha segunda chance com sua inclusão na coletânea Salvador Negro Amor, editada pelo selo baiano Maianga. Parte da renda obtida com a venda do CD (encontrável no site oficial da gravadora) será revertida para a ONG Salvador Negroamor, que trabalha para firmar a identidade afro-brasileira.
Produzida por Alê Siqueira com Reinaldo Maia, a compilação mistura gravações inéditas com outras licenciadas para o disco em mosaico de 12 faixas que realçam a excelência da produção do pop afro-brasileiro além dos limites da já desgastada axé music. Samba-reggae e ijexá são os ritmos predominantes no repertório. Se Virgínia Rodrigues une sua voz operística ao canto de Lazzo Matumbi em Alegria da Cidade (Lazzo é co-autor do sucesso de Margareth Menezes), Gilberto Gil toca na sempre delicada questão da miscigenação racial no ijexá Luandê. A boa letra é de Capinam.
Líder do grupo Os Tincoãs, Mateus Aleluia defende a faixa-título em ritmo de samba-reggae - gênero que tem um de seus clássicos, Brilho e Beleza, turbinado com efeitos eletrônicos em releitura que une as vozes de Margareth Menezes, Ninha e Nem Tatuagem. Na mesma seara eletrônica, Zumbi, de Jorge Ben, ganha loops da dupla Berna Ceppas & Kassin - além da voz de Arnaldo Antunes e do percussão do grupo Cortejo Afro. A letra de Ben Jor é mixada com o texto Fax para Zumbi, de Alberto Pitta. Já Jackson Costa insere o discurso do rap no samba À Cidade da Bahia, musicado sobre (belos) versos do poeta Gregório de Mattos (1633 – 1696).
Se Jauperi reafirma a devoção ao afoxé Filhos de Gandhi, em pot-pourri de temas que louvam o bloco afro com arrepiante arranjo vocal, a cantora Claudete Macedo propaga o orgulho negro com sua voz rústica em Sou Negro Sim. E o canto operístico de Rita Braz fecha o disco com Ê Ôru Ô, saudação em yorubá baseada em canção do folclore nigeriano. Inclusive por apresentar gravação pouco conhecida de Maria Bethânia (Massemba, dueto feito com Roberto Mendes para disco do compositor), a ótima compilação Salvador Negro Amor merece lugar de honra na discografia brasileira por reafirmar a riqueza da produção musical baiana, às vezes até soterrada sob a força (comercial) do axé industrializado.
Título: Salvador Negro Amor
Artista: Vários
Gravadora: Maianga Discos
Cotação: * * * *
Em 1997, Marisa Monte gravou com Gilberto Gil para a trilha do filme Navalha na Carne uma espécie de mantra afro-pop-brasileiro cuja letra relaciona somente nomes de entidades divinas em diversos idiomas e dialetos. O belo dueto no tema intitulado Life Gods virou raridade desconhecida até por fãs da cantora porque o CD com a trilha teve distribuição restrita. Só que a música da percussionista Mônica Millet (detalhe: neta de Mãe Menininha do Gantois) - composta em parceira com Arnaldo Brandão e Tavinho Paes - ganha segunda chance com sua inclusão na coletânea Salvador Negro Amor, editada pelo selo baiano Maianga. Parte da renda obtida com a venda do CD (encontrável no site oficial da gravadora) será revertida para a ONG Salvador Negroamor, que trabalha para firmar a identidade afro-brasileira.
Produzida por Alê Siqueira com Reinaldo Maia, a compilação mistura gravações inéditas com outras licenciadas para o disco em mosaico de 12 faixas que realçam a excelência da produção do pop afro-brasileiro além dos limites da já desgastada axé music. Samba-reggae e ijexá são os ritmos predominantes no repertório. Se Virgínia Rodrigues une sua voz operística ao canto de Lazzo Matumbi em Alegria da Cidade (Lazzo é co-autor do sucesso de Margareth Menezes), Gilberto Gil toca na sempre delicada questão da miscigenação racial no ijexá Luandê. A boa letra é de Capinam.
Líder do grupo Os Tincoãs, Mateus Aleluia defende a faixa-título em ritmo de samba-reggae - gênero que tem um de seus clássicos, Brilho e Beleza, turbinado com efeitos eletrônicos em releitura que une as vozes de Margareth Menezes, Ninha e Nem Tatuagem. Na mesma seara eletrônica, Zumbi, de Jorge Ben, ganha loops da dupla Berna Ceppas & Kassin - além da voz de Arnaldo Antunes e do percussão do grupo Cortejo Afro. A letra de Ben Jor é mixada com o texto Fax para Zumbi, de Alberto Pitta. Já Jackson Costa insere o discurso do rap no samba À Cidade da Bahia, musicado sobre (belos) versos do poeta Gregório de Mattos (1633 – 1696).
Se Jauperi reafirma a devoção ao afoxé Filhos de Gandhi, em pot-pourri de temas que louvam o bloco afro com arrepiante arranjo vocal, a cantora Claudete Macedo propaga o orgulho negro com sua voz rústica em Sou Negro Sim. E o canto operístico de Rita Braz fecha o disco com Ê Ôru Ô, saudação em yorubá baseada em canção do folclore nigeriano. Inclusive por apresentar gravação pouco conhecida de Maria Bethânia (Massemba, dueto feito com Roberto Mendes para disco do compositor), a ótima compilação Salvador Negro Amor merece lugar de honra na discografia brasileira por reafirmar a riqueza da produção musical baiana, às vezes até soterrada sob a força (comercial) do axé industrializado.
11 Comments:
Numa boa, Mauro, não entendi começar o texto falando de Marisa se a gravação é antiga e o disco tem gravação nova. tenho que admitir que você protege Marisa.
Não entendi "a despeito de incluir gravação pouco conhecida de Maria Bethânia (Massemba, dueto feito com Roberto Mendes para disco do compositor)"! Não vale a pena está na compilação? Não é boa? É apenas mediana? Ser pouco conhecida, a princípio, não justifica o "a despeito". Ou não?
Flávio
Flávio, grato por chamar minha atenção para a construção ruim da frase sobre Bethânia. Já consertei.
Obrigado.
Boa foto.
Este disco será comercializado nacionalmente ou ficará restrito à Bahia?
Anônimo das 7:51, este disco está à venda no site da Maianga e, acredito, poderá ser encontrado em grandes lojas como a Modern Sound e a Livraria da Travessa.
aliás, embora não goste do cd do roberto mendes como um todo, acho sua gravação de massemba com a bethania mais vibrante do que a da baiana solo em brasileirinho (cd que, por sua vez, dá de 10 no cd do roberto).
Passo muito bem sem estes 'sons da bahia'.
Os grandes artistas baianos sequer fazem o tal 'som da bahia', tampouco frequentam o Candeal ou a Baixa do Sapateiro...menos ainda os trios que a partir de agora voltam a assolar (e poluir) a cidade de Salvador.
Isso aí, baiano. Só pra citar alguns: Caymmi and family, Bethânia, Jussara, Gal, Simone, etc...
Cadê o CD para download? É isso que importa. No dia que você ler este comentário e tiver o CD disponível me contacte pelo e-mail abaixo e poderemos conversar sobre a música dos homens.
overdejah@gmail.com
Caro Mauro!!
Parabéns pelos textos, mesmo tendo a iniciativa humilde de altera-los quando necessário.
Muito bacana.
No entanto gostaria de comprar os 2 cd's "Salvador negro amor" e "5 sentidos". Eu moro em Salvador. Onde posso comprar?
Por favor mande a sua resposta para o meu e-mail: alexandrexaxara@gmail.com
Um abraço
Alexandre Lima
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