29 de janeiro de 2007

'Salvador Negro Amor' valoriza pop afro-baiano

Resenha de CD
Título:
Salvador Negro Amor
Artista:
Vários
Gravadora:
Maianga Discos
Cotação:
* * * *

Em 1997, Marisa Monte gravou com Gilberto Gil para a trilha do filme Navalha na Carne uma espécie de mantra afro-pop-brasileiro cuja letra relaciona somente nomes de entidades divinas em diversos idiomas e dialetos. O belo dueto no tema intitulado Life Gods virou raridade desconhecida até por fãs da cantora porque o CD com a trilha teve distribuição restrita. Só que a música da percussionista Mônica Millet (detalhe: neta de Mãe Menininha do Gantois) - composta em parceira com Arnaldo Brandão e Tavinho Paes - ganha segunda chance com sua inclusão na coletânea Salvador Negro Amor, editada pelo selo baiano Maianga. Parte da renda obtida com a venda do CD (encontrável no site oficial da gravadora) será revertida para a ONG Salvador Negroamor, que trabalha para firmar a identidade afro-brasileira.

Produzida por Alê Siqueira com Reinaldo Maia, a compilação mistura gravações inéditas com outras licenciadas para o disco em mosaico de 12 faixas que realçam a excelência da produção do pop afro-brasileiro além dos limites da já desgastada axé music. Samba-reggae e ijexá são os ritmos predominantes no repertório. Se Virgínia Rodrigues une sua voz operística ao canto de Lazzo Matumbi em Alegria da Cidade (Lazzo é co-autor do sucesso de Margareth Menezes), Gilberto Gil toca na sempre delicada questão da miscigenação racial no ijexá Luandê. A boa letra é de Capinam.

Líder do grupo Os Tincoãs, Mateus Aleluia defende a faixa-título em ritmo de samba-reggae - gênero que tem um de seus clássicos, Brilho e Beleza, turbinado com efeitos eletrônicos em releitura que une as vozes de Margareth Menezes, Ninha e Nem Tatuagem. Na mesma seara eletrônica, Zumbi, de Jorge Ben, ganha loops da dupla Berna Ceppas & Kassin - além da voz de Arnaldo Antunes e do percussão do grupo Cortejo Afro. A letra de Ben Jor é mixada com o texto Fax para Zumbi, de Alberto Pitta. Já Jackson Costa insere o discurso do rap no samba À Cidade da Bahia, musicado sobre (belos) versos do poeta Gregório de Mattos (1633 – 1696).

Se Jauperi reafirma a devoção ao afoxé Filhos de Gandhi, em pot-pourri de temas que louvam o bloco afro com arrepiante arranjo vocal, a cantora Claudete Macedo propaga o orgulho negro com sua voz rústica em Sou Negro Sim. E o canto operístico de Rita Braz fecha o disco com Ê Ôru Ô, saudação em yorubá baseada em canção do folclore nigeriano. Inclusive por apresentar gravação pouco conhecida de Maria Bethânia (Massemba, dueto feito com Roberto Mendes para disco do compositor), a ótima compilação Salvador Negro Amor merece lugar de honra na discografia brasileira por reafirmar a riqueza da produção musical baiana, às vezes até soterrada sob a força (comercial) do axé industrializado.

11 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Numa boa, Mauro, não entendi começar o texto falando de Marisa se a gravação é antiga e o disco tem gravação nova. tenho que admitir que você protege Marisa.

29 de janeiro de 2007 às 17:13  
Anonymous Anônimo said...

Não entendi "a despeito de incluir gravação pouco conhecida de Maria Bethânia (Massemba, dueto feito com Roberto Mendes para disco do compositor)"! Não vale a pena está na compilação? Não é boa? É apenas mediana? Ser pouco conhecida, a princípio, não justifica o "a despeito". Ou não?

Flávio

29 de janeiro de 2007 às 17:59  
Blogger Mauro Ferreira said...

Flávio, grato por chamar minha atenção para a construção ruim da frase sobre Bethânia. Já consertei.
Obrigado.

29 de janeiro de 2007 às 18:28  
Anonymous Anônimo said...

Boa foto.

29 de janeiro de 2007 às 20:52  
Anonymous Anônimo said...

Este disco será comercializado nacionalmente ou ficará restrito à Bahia?

30 de janeiro de 2007 às 09:51  
Blogger Mauro Ferreira said...

Anônimo das 7:51, este disco está à venda no site da Maianga e, acredito, poderá ser encontrado em grandes lojas como a Modern Sound e a Livraria da Travessa.

30 de janeiro de 2007 às 09:57  
Anonymous Anônimo said...

aliás, embora não goste do cd do roberto mendes como um todo, acho sua gravação de massemba com a bethania mais vibrante do que a da baiana solo em brasileirinho (cd que, por sua vez, dá de 10 no cd do roberto).

30 de janeiro de 2007 às 10:37  
Anonymous Anônimo said...

Passo muito bem sem estes 'sons da bahia'.

Os grandes artistas baianos sequer fazem o tal 'som da bahia', tampouco frequentam o Candeal ou a Baixa do Sapateiro...menos ainda os trios que a partir de agora voltam a assolar (e poluir) a cidade de Salvador.

30 de janeiro de 2007 às 22:50  
Anonymous Anônimo said...

Isso aí, baiano. Só pra citar alguns: Caymmi and family, Bethânia, Jussara, Gal, Simone, etc...

2 de fevereiro de 2007 às 10:50  
Blogger Verdejah said...

Cadê o CD para download? É isso que importa. No dia que você ler este comentário e tiver o CD disponível me contacte pelo e-mail abaixo e poderemos conversar sobre a música dos homens.
overdejah@gmail.com

6 de fevereiro de 2010 às 12:50  
Anonymous Alexandre said...

Caro Mauro!!

Parabéns pelos textos, mesmo tendo a iniciativa humilde de altera-los quando necessário.
Muito bacana.
No entanto gostaria de comprar os 2 cd's "Salvador negro amor" e "5 sentidos". Eu moro em Salvador. Onde posso comprar?
Por favor mande a sua resposta para o meu e-mail: alexandrexaxara@gmail.com

Um abraço

Alexandre Lima

23 de julho de 2010 às 15:05  

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