Olivia Hime valoriza as palavras de Ruy Guerra
Resenha de CD
Título: Palavras de Guerra
Artista: Olivia Hime
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *
Diretor de filmes importantes como Os Cafajestes (1962) e Os Deuses e os Mortos (de 1970), o cineasta Ruy Guerra iniciou sua militância na música brasileira nos anos 60, quando se enturmou no CPC (o engajado Centro Popular de Cultura da UNE) com compositores então iniciantes como Carlos Lyra e Edu Lobo. Algumas parcerias de Guerra com estes autores são revividas por Olivia Hime no disco Palavras de Guerra, terceiro trabalho da cantora na Biscoito Fino, a gravadora na qual exerce a função de Diretora Artística. O álbum de 17 faixas é inteiramente dedicado à obra musical de Guerra como letrista. É uma ótima idéia de Olivia!
Da lavra do cineasta com Lyra, a cantora entoa a marcha-rancho Entrudo. Da produção com Lobo, vem músicas como Em Tempo de Adeus, faixa de tom camerístico que apresenta a voz profunda e cavernosa de Guerra no poema Tigrana. Aos 75 anos, o artista tributado também dá o ar da graça ao recitar Fortaleza, tema da trilha da peça Calabar, composta por Guerra com Chico Buarque em 1973. São dessa bela trilha - a parcela mais conhecida da obra musical do cineasta - canções louvadas e entoadas até hoje como Tatuagem (que ganha regravação corriqueira que se ressente da comparação com o registro de intérpretes mais passionais como Maria Bethânia ou técnicas como Elis Regina) e Bárbara, cuja boa releitura consegue soar até interessante pela sacada de Olivia de convidar sua colega e xará Olivia Byington para dueto nessa linda música que retrata - poeticamente - a paixão entre duas mulheres.
Em ótima forma vocal, Olivia Hime confere unidade a músicas de tempos e parceiros distintos. A uniformidade vem dos arranjos de Francis Hime e da percussão muito personalíssima da baiana Edith do Prato, que abre o disco - em Jogo de Roda, uma outra parceria de Guerra com Edu Lobo - e o fecha, deslocando para o Recôncavo Baiano Esse Mundo É meu. Este tema feito com Sérgio Ricardo é o marco inicial da militância musical do cineasta (de Moçambique).
O prato de Edith caiu bem, mas é detalhe charmoso de CD pautado pelas tradições da MPB em faixas como Último Retrato (entoada por Olivia em dueto com Francis Hime, co-autor do tema) e Ode Marítima (outra parceria com Francis, adornada pela harpa de Cristina Braga). Da vasta parceria de Guerra com Francis, aliás, vem a única inédita: o samba Corpo Marinheiro, gravado com o (luxuoso) auxílio vocal de Nilze Carvalho. O samba se impõe no repertório pela beleza e pela harmonia do dueto. Já vale o álbum!!
Música mais conhecida da parceria de Francis com o cineasta, Minha ganha o toque virtuoso dos violões do Quarteto Maogani, autor do arranjo. Já Meu Homem quase vira tango no compasso do acordeom de Marcos Nimrichter. Pena que a intérprete não abordou a obra composta por Guerra com Milton Nascimento para oferecer painel mais abrangente da produção musical do cineasta. Até porque faixas como Último Canto e Corpo e Alma soam dispensáveis no repertório. Mas, em essência, Olivia Hime valoriza as palavras de Ruy Guerra num trabalho refinado e denso.
Título: Palavras de Guerra
Artista: Olivia Hime
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *
Diretor de filmes importantes como Os Cafajestes (1962) e Os Deuses e os Mortos (de 1970), o cineasta Ruy Guerra iniciou sua militância na música brasileira nos anos 60, quando se enturmou no CPC (o engajado Centro Popular de Cultura da UNE) com compositores então iniciantes como Carlos Lyra e Edu Lobo. Algumas parcerias de Guerra com estes autores são revividas por Olivia Hime no disco Palavras de Guerra, terceiro trabalho da cantora na Biscoito Fino, a gravadora na qual exerce a função de Diretora Artística. O álbum de 17 faixas é inteiramente dedicado à obra musical de Guerra como letrista. É uma ótima idéia de Olivia!
Da lavra do cineasta com Lyra, a cantora entoa a marcha-rancho Entrudo. Da produção com Lobo, vem músicas como Em Tempo de Adeus, faixa de tom camerístico que apresenta a voz profunda e cavernosa de Guerra no poema Tigrana. Aos 75 anos, o artista tributado também dá o ar da graça ao recitar Fortaleza, tema da trilha da peça Calabar, composta por Guerra com Chico Buarque em 1973. São dessa bela trilha - a parcela mais conhecida da obra musical do cineasta - canções louvadas e entoadas até hoje como Tatuagem (que ganha regravação corriqueira que se ressente da comparação com o registro de intérpretes mais passionais como Maria Bethânia ou técnicas como Elis Regina) e Bárbara, cuja boa releitura consegue soar até interessante pela sacada de Olivia de convidar sua colega e xará Olivia Byington para dueto nessa linda música que retrata - poeticamente - a paixão entre duas mulheres.
Em ótima forma vocal, Olivia Hime confere unidade a músicas de tempos e parceiros distintos. A uniformidade vem dos arranjos de Francis Hime e da percussão muito personalíssima da baiana Edith do Prato, que abre o disco - em Jogo de Roda, uma outra parceria de Guerra com Edu Lobo - e o fecha, deslocando para o Recôncavo Baiano Esse Mundo É meu. Este tema feito com Sérgio Ricardo é o marco inicial da militância musical do cineasta (de Moçambique).
O prato de Edith caiu bem, mas é detalhe charmoso de CD pautado pelas tradições da MPB em faixas como Último Retrato (entoada por Olivia em dueto com Francis Hime, co-autor do tema) e Ode Marítima (outra parceria com Francis, adornada pela harpa de Cristina Braga). Da vasta parceria de Guerra com Francis, aliás, vem a única inédita: o samba Corpo Marinheiro, gravado com o (luxuoso) auxílio vocal de Nilze Carvalho. O samba se impõe no repertório pela beleza e pela harmonia do dueto. Já vale o álbum!!
Música mais conhecida da parceria de Francis com o cineasta, Minha ganha o toque virtuoso dos violões do Quarteto Maogani, autor do arranjo. Já Meu Homem quase vira tango no compasso do acordeom de Marcos Nimrichter. Pena que a intérprete não abordou a obra composta por Guerra com Milton Nascimento para oferecer painel mais abrangente da produção musical do cineasta. Até porque faixas como Último Canto e Corpo e Alma soam dispensáveis no repertório. Mas, em essência, Olivia Hime valoriza as palavras de Ruy Guerra num trabalho refinado e denso.
21 Comments:
não é por que Bethânia ou Elis gravaram bem uma música que essa música não pode ser gravada por outra cantora.
Mas quem foi que proibiu?
levanto outra questão: se Olívia não fosse diretora da Biscoito Fino, seu disco teria tido um espaço tão grande nessa coluna??
vejo um excesso de post sobre albuns da biscoito fino nesse blog . tô errado ?
Dueto com Nilze ...
Duteo com Olivia Byngton ...
Dueto com Maogani ...
Dueto com Edith do Prato ...
Poderia se chamar , Olivia entre amigos !
Tá errado sim, oh! anônimo das 10h26, eu leio este espaço para saber sobre música de qualidade e qual a gravadora que só apresenta produtos de qualidade? Que não faz concessões para o lixo musical? Obrigado, Mauro, por nos manter informados sobre os excelentes produtos lançados no mercado. Gostaria também de responder à Edna, Bethânia gravou visceralmente Tatuagem, chego a arrepiar quando lembro, e Elis também gravou muito bem, é claro que Olívia ou qualquer outra grande cantora pode gravar, porque não foi isso que o Mauro disse, ele quis apenas lembrar outras gravações dessa música. Vamos viver em paz, minha gente, eu gosto de informação.
Parabéns, Mauro, por este importante espaço para a música brasileira.
Bethãnia
Olivia Hime tem estatuto profissional na Biscoito Fino porque deu provas de seu refinado gosto e ouvido . Além disso só faz trabalhos de qualidade. Não é popular mas tem prestígio. Não acho que o Mauro seja "pau mandado" da Biscoito. Na realidade eu acho que ele tem uma quedinha pela Marisa Monte. Quanto ao resto, é bem imparcial e tornou-se uma referência como crítico musical, aliás, " profissão" em processo de extinção.
É preciso ser didático, senão não entedem! Que canseira!
Olívia é muuuuuuuuuuuuuuuito chata, nunca fez sucesso. Não tem tesão...quem quiser ouvir Bárbara, que ouça com Simone & Gal, acompanhadas pelo violão de Toquinho - esta sim, uma bela gravação.
A melhor gravaçao de Tatuagem é mesmo a do Chico,meio termo entre Bethânia e Elis.Talvez Nana cantaria isso bem.
Adoro 'Bárbara' com a Ângela Rorô.
Olivia Hime já ouvi ao vivo e em disco. Tem bom gosto.
Olivia é uma senhora de respeito. Séria, profissional, correta, mas sem brilho nenhum. Existem várias assim. Podem documentar; jamais imortalizar.
Imortalizar: Tarefa para Bethânia, Elis, Nana, Elba, Gal, Simone, Adriana Calcanhoto, algumas outras. Estas são iluminadas. Fazem história.........que, depois, Olivias, sérias, concentradas, disciplinadas, tentam reescrever. Em boa caligrafia mas com letras pálidas.
A vida é assim mesmo: dividida entre protagonistas e figurantes.
A tatuagem que grudou em mim foi feita pela Bethania no Drama. As demais a água lavou.
Tô todos os dias por aqui . E percebo sim muitos posts sobre Biscoito Fino . Mas não vejo isso com um problema , pois ao lado da Trama é a única que ainda investe no artista . Estão preocupados em manter a identidade do profissional , do músico de verdade . Pensam depois no dinheiro ... Quantos já estão lá ? Chico , Bethânia , Antunes , Zé da Velha & Silvério Pontes , Garrafieira ... Talvez ainda cheguem Rita Lee e Elba Ramalho .
Só espero que o casal Hime ( que eu muito respeito e admiro ) fechem com Paulinho da Viola e Mariana Bernardes .
OBS : Para o LUC : Vou ouvir 'Bárbara 'com Angela . Sobre a Olivia , concordo com você . Tem bom gosto , percepção e classe .
Abraços, Diogo !
Os comentários das 06:39 e das 07:39 se completam . Tem muitas matérias sobre Marisa Monte e a Biscoito Fino porque o Mauro Ferreira prefere comentar sobre quem faz trabalhos de qualidade.
Tá errado ele ? Não . Daí o motivo de até agora não ter nada no blog sobre Roberta Miranda .
Pronto , lá vem os fãs de Maria Bethânia jogando confetes na cantora . 'Tatuagem ' é chata . E com Chico é melhor .
Acho que até Bethânia acha seus fãs chatos , exagerados , fanáticos , extermistas , infantis , importunantes ...
Não ouvi esse . É que o CD que ela fez sobre Caymmi não é nada bom . Refinado sim , mas longo , denso e muito cansativa . Falta a dona Olivia vivacidade musical .
Luc , my baby , você é que é ' Bárbaro '. Sempre solicito e educado !
anônimo das 8.08, que lindo!
além de bem escrito traduz, igualmente, o que penso.
nada a acrescentar...ah, sim, colocaria marisa monte, com certeza, em sua lista das que imortalizam, ok?
Baby, muito obrigado pelo comentário, que diz mais da sua generosidade do que dos meus predicados.
Diogo, a Rorô canta 'Bárbara' com paixão. O arranjo ajuda. O andamento é um pouco mais movido. Trata-se de uma valsa francesa (ou 'valse musette', como eles chamam lá), com ênfase no segundo tempo (um-DOIS-três, um-DOIS-três). Tipo 'L'Accordéoniste' ou 'La Foule' da Piaf, sabe?
Luc, ar-ra-s-ou!!!!!
merci, merci. Au revoir!
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