31 de janeiro de 2007

Argentina tenta realçar luz de estrelas da MPB

Resenha de livro
Título: Estação Brasil - Conversas com Músicos Brasileiro
Autor: Violeta Weinschelbaum
Editora: 34
Cotação: * * *
"Posso até errar em algumas coisas que faço, mas tudo o que fiz foi verdadeiro. Era o que eu queria fazer em cada momento", garante uma altiva Gal Costa, como a desmentir a fama (recorrente no meio musical) de que sua carreira tem oscilado por conta de suposto controle externo. "Sou geminiana. Então tenho um espírito muito livre. Tenho que ter certas coisas muito seguras para poder voar. Se essas questões práticas não estão resolvidas, viro um bicho, porque atrapalham o que preciso para estar livre", argumenta Maria Bethânia ao falar sobre seu temperamento, tido como difícil por quem convive com a cantora. Os depoimentos de Gal e Bethânia fazem parte das 14 entrevistas feitas pela escritora argentina Violeta Weinschelbaum entre 1998 e 2005. Estas boas entrevistas estão reunidas no livro Estação Brasil - Conversas com Músicos Brasileiros, já lançado na Argentina e editado no Brasil neste início de 2007 pela 34, editora voltada para a música.
Para leitores argentinos, o livro deve ter resultado especialmente saboroso. Entrevistadora segura, Violeta sempre fugiu do óbvio na formulação de suas perguntas e realizou entrevistas de caráter quase atemporal, posto que não estão centradas no lançamento de algum CD ou na estréia de um show. Para brasileiros amantes da MPB, a rigor o principal público alvo do livro, Estação Brasil apresenta teor de novidade bem menor. Ainda assim, propicia o entendimento do pensamento articulado e sempre inteligente de Carlinhos Brown ("Eu vivo a África dentro de um país chamado Brasil") e da opinião de Marisa Monte sobre o mundo virtual ("A internet reúne tudo o que há de bom e ruim na humanidade. É terra de ninguém, sem controle"). É muito bacana ver Adriana Calcanhotto reforçar a influência que o Tropicalismo tem em sua obra. Assim como é sempre interessante ler entrevistas em que Chico Buarque e Milton Nascimento rememoram suas trajetórias - no caso de Chico, relembrando a recorrente censura que afetou sua produção como compositor na primeira metade dos anos 70.
Ao tentar identificar de onde vem a luz de estrelas como Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso e Rita Lee, a escritora monta pequeno painel da ideologia de artistas que dão ao Brasil uma identidade musical (re)conhecida em todo o mundo.

13 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Gal em muitas ocasiões da carreira fez o que outros queriam. Bethânia sempre se impôs. As duas são cantoras extraordinárias, a diferença está na condução das carreiras.

31 de janeiro de 2007 às 19:19  
Anonymous Anônimo said...

Bethania já afirmou em entrevista que fez o disco do roberto carlos não por vontade propria e sim pq a universal pediu e ela topou. Mel e Talismã são otimos discos mas repetem descaradamente a formula vitoriosa de Alibi e é nitido para qualquer pessoa do meio que tem muito da gravadora ali. E o que falar dos discos ao vivo em serie que tem sempre a mesma estrutura???? Portanto esse estoria de que bethania sempre fez o que quis é mezzo verdade, mas mezzo lenda tb.

31 de janeiro de 2007 às 19:52  
Anonymous Anônimo said...

O que 5.52 escreveu faz sentido. Ainda assim, no frigir dos ovos, o que resulta é a coragem e insistência sempre presentes em Bethania para manter sua carreira (mesmo que dentro do possível) em suas mãos.

Maria Bethânia é um cavalo de raça!

Quanto à Gal - este absurdo de cantora - acho que ela não tem a mesma necessidade vital que impulsiona a existência de Bethânia, a artista Bethânia, a pessoa Bethânia: indissociáveis.

31 de janeiro de 2007 às 21:44  
Anonymous Anônimo said...

Bethânia gravou Roberto Carlos porque a gravadora pediu, mas tb porque sempre sua fã, talvez menos do que de Chico, mas fã. Já havia gravado e cantado coisas de seu repertório e composições suas antes e depois de AS CANÇÕES QUE VOCÊ FEZ PRA MIM. Gravar Roberto e Erasmo não foi demérito para a sua carreira. Antes e depois, Bethânia gravou discos corajosos e quase anti-comerciais, que, de fato, ficaram restritos a um público menor. Para mim, o grande problema com carreiras como a de Bethânia, Nana Caymmi e outros grandes artistas, até mais novatos, é que o gosto do público caiu muito. O nível cultural de hoje em dia é muito ruim. Tenho 36 anos e isso para mim é patente. Não cresci num meio intelectual e, durante a minha infância, no rádio de casa e da vizinhança tocava Chico Buarque, Bethânia, Caetano, Gal, Milton, Clara Nunes e todo ouvia porque gostava, não era para se fazer de chique, de intelectual, nada disso. Claro que havia público para coisas mais populares, mas até o popular de ontem, hoje pode soar chique como Márcio Greyck, gravado recentemente por Rita Ribeiro e Tony Platão. Com tudo isso, Bethânia manteve uma coerência impressionante, assim como outros amigos contemporâneos. Nana Caymmi, por exemplo, que era um exemplo de independência gravou discos em espanhol para atender pedidos da gravadora e nem por isso fez feio. Talvez faça parte. Não pode é vender a alma para fazer sucesso que aí quebra cara. Os exemplos falam por si...

Flávio

1 de fevereiro de 2007 às 00:18  
Anonymous Anônimo said...

Flávio,

Muito legal a sua análise.

Realmente faz parte da carreira profissional do artista se adaptar ao mercado, ou pelo menos decidir o quanto essa adaptação fere a sua coerência artística.

Evidente que Bethânia, Nana e, recentemente, Rita Ribeiro, com seu disco TecnoMacumba, entre outras cantoras e cantores ditos coerentes, tiveram que passar por essa opção.

O problema é quando vira fórmula e pasteuriza o artista. Não nos esqueçamos do Emílio Santiago e da Alcione, excelentes intérpretes que se perderam artistiscamente (pelo menos na minha opinião).

abração,
Denilson

1 de fevereiro de 2007 às 09:46  
Anonymous Anônimo said...

Alcione é uma das vozes mais bonitas que ouvi, um colorido único. Foi para ela que foi feita A VOZ DE UMA PESSOA VITORIOSA, cantada por Bethânia, em Álibi.

Aliás, o Brasil é muito pródigo em belas vozes. Sejam masculinas ou femininas. Gal, Milton, Nana, Ângela Maria, Ney Matogrosso, Clara Nunes...

Mas uma grande voz não é tudo. Música é uma espécie de sedução. Para cantar, tem que saber seduzir, tem saber vender o peixe. Então, se você escolhe errado com o que vai seduzir quebra a cara. Assim, um strip-tease pode ser sensual ou patético.

Mesmo dentro da opção feita por Alcione, eu me diverto e até curto muitas coisas recentes cantadas por ela. Ela enfia o pé na jaca como poucos e acaba acertando, às vezes. Mas também é inegável que fica aquela sensação de que com aquela voz dava para fazer coisa bem melhor, mesmo que houvesse algumas concessões às canastrices amorosas. Afinal, ninguém é de ferro.

Flávio

1 de fevereiro de 2007 às 11:43  
Anonymous Anônimo said...

Todo mundo esquecendo de Alaíde Costa. Quem, depois de Maysa, para cantar os males do amor? Ninguém, só ela : ALAÍDE COSTA que ontem fêz um show memorável no Sesc Vila Mariana de São Paulo.

1 de fevereiro de 2007 às 13:30  
Anonymous Anônimo said...

Oi, Flávio.

Você tem certeza dessa informação sobre a música "A Voz de uma Pessoa Vitoriosa"?

Eu me lembro de ter lido, mas agora não tenho como confirmar onde, uma declaração do Caetano de que essa música tinha sido feita inspirada na Bethânia.

Acho inclusive que a letra tem muito a ver com a admiração sincera que ele tem por ela.

PS: eu adoro Alaíde Costa, mas é que é inviável listar todas as cantoras maravilhosas que o Brasil tem ou teve.

abração,
Denilson

1 de fevereiro de 2007 às 14:07  
Anonymous Anônimo said...

E Alaíde Costa cantando ME DEIXA EM PAZ em dueto com Milton Nascimento.

Bom demais!

Flávio.

1 de fevereiro de 2007 às 14:25  
Anonymous Anônimo said...

Ouvi, há poucos dias, uma entrevista da Rosa Passos na Cultura FM de SP, onde ela dizia que a única cantora brasileira que sabia respirar era a Zizi. Acho que se ela ouvisse Alaíde, sairia correndo à procura de um balão de oxigênio para auxiliá-la...

1 de fevereiro de 2007 às 17:10  
Anonymous Anônimo said...

Mano Freire disse...

É Mauro, queria saber mais ainda sobre o livro. Partae-me algo novo mesmo, assuntos renocadores. O pessoal aí em cima, emplaca uma masturbação intelectual sem fim e nada questiona ou elogia. Aliás, leitura no Brasil é complicado né??? Sempre busco novidades sobre MPB. A revista Imprensa fez uma entrevista recente com Milton Nascimento e tudo eu já sabia de cor. A única surpresa foi o cantor ter descido a ripa no repórter global Mauricio Kubrusli. Bem, parece que a fonte de novidades acabou???

1 de fevereiro de 2007 às 18:43  
Anonymous Anônimo said...

Gal respondeu o que Fafa responderia . Essa última tão injustiçada aqui no blog . Viva Fafá . Quando ela lancará o dvd que gravou em Belém Mauro ?

2 de fevereiro de 2007 às 07:45  
Anonymous Anônimo said...

Sabe o que acontece.Insistem nessa ala da MPB,que já cançamos de ouvir o que dizem ,o que fizeram...Muito chato!Muito chatos e previsíveis!A Rosa Passos que poderia dizer algo mais interessante,disse essa bobagem?Poxa um dos fatores que criam um diferencial importante de criatividade e estilo entre os intérpretes é justamente o respirar.Gosto da Zizi,não por ela "saber respirar",mas por respirar e cantar como ninguém.Acho que a Rosa Passos esta precisando compor mais,cantar suas lindas canções e fornece-las para os cantores.Gosto muito das suas canções na voz da Nana Caymmi!

2 de fevereiro de 2007 às 10:34  

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