5 de dezembro de 2006

Retrô 2006 - A reedição oficial de Tim Racional

Até então disponível somente em reedições piratas ruins ou em raros exemplares de LPs, vendidos a peso de ouro nos sebos, o cultuado disco Tim Maia Racional foi, enfim, relançado oficialmente em CD em abril de 2006. Coube à gravadora Trama - depois de vencer disputa travada com a Biscoito Fino - restaurar o áudio (extraído de cópia de vinil) deste disco mais comentado do que propriamente ouvido. Mas, infelizmente, o contrato com os herdeiros de Tim Maia previu inicialmente apenas a reedição do primeiro volume (foto). Na seqüência, a Trama lançou neste fim de ano CD com remixes do repertório, feitos por nomes como Max de Castro, João Marcelo Bôscoli, Mad Zoo e (o coletivo) Instituto.

Lançados originalmente em 1975, os dois volumes de Tim Maia Racional tinham aura mítica pelo fato de o cantor ter renegado posteriormente o trabalho, idealizado e gravado quando o Síndico pertencia à seita Universo em Desencanto, então comandada pelo guru Manuel Jachinto na Baixada Fluminense (RJ). Tim vivia seu auge artístico ao se tornar adepto da tal doutrina, em 1974. Ao se desligar da seita, desencantado, o artista destruiu as matrizes dos discos. Só que a reedição da Trama, com a capa original encoberta por luva, provou que o volume um resiste a uma audição racional.

Então na melhor forma vocal, o cantor fez sua pregação em ritmo de soul e funk de ótima qualidade. Na época, a obra de Tim ainda não havia sido contaminada pelo vírus brega que a enfraqueceria progressivamente a partir da década de 80. Mas é preciso separar letra e música em Tim Maia Racional. O discurso é meio pirado porque construído unicamente para propagar a supremacia do tal "mundo racional" idealizado por Manuel Jachinto. A devoção de Tim era tamanha que ele até se dignou a fazer uma música, O Grão Mestre Varonil, para exaltar seu guru. Felizmente, algumas letras - sobretudo as de Imunização Racional (Que Beleza) e Bom Senso - conseguiram extrapolar o universo da seita e, por isso mesmo, se tornaram mais populares. Mas há outras pérolas no rosário de fé cega e som amolado. O funkaço Rational Culture, que dura quase 12 minutos, é exemplo de que, mesmo dentro da seita, Tim não se desencantou com o soul que tão bem soube traduzir para o Brasil.

1 Comments:

Anonymous José said...

pena que o volume 2 não saiu

6 de janeiro de 2010 às 15:11  

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