4 de dezembro de 2006

Retrô 2006 - O lindo 'Duos II' de Luciana Souza

Ainda não foi em 2006 que o Brasil descobriu a linda voz de Luciana Souza. Editado desde 2005 nos Estados Unidos, país em que a intérprete paulista é respeitada no meio musical e já coleciona até indicações ao Grammy no nicho já vago do jazz, o último CD da artista, Duos II (foto), saiu no Brasil em fevereiro com magérrima tiragem de mil cópias e sem a merecida repercussão. Uma pena, pois tal disco está entre os melhores do ano. Sem favor nenhum...

Sem o acento nordestino do CD Brazilian Duos (2002) e sem o piano de Norte e Sul (2003), Duos II é disco de voz e violões - os de Romero Lubambo, Marco Pereira, Swami Jr. e Guilherme Monteiro, que se revezam entre as 12 faixas. O que impressiona é a absoluta perfeição das interpretações de Luciana, que transita entre o samba e a canção brasileira. Mesmo um tema associado a Elis Regina, como Atrás da Porta (Chico Buarque e Francis Hime, 1972), ressurgiu em releitura imponente que conjuga técnica e dosada emoção. Aliás, vem também do repertório da Pimentinha o samba que abre o disco, Sai Dessa (Nathan Marques e Ana Terra, 1980), em que já aparece o suingue da voz de Luciana, ainda mais explorado no Sambadalú, tema sem letra composto por Marco Pereira e levado pela intérprete nos scats com o violão de Pereira.

Ao realçar e reverenciar as boas relações da música brasileira com o violão, a cantora tratou como peças de câmera canções como Trocando em Miúdos (Chico Buarque e Francis Hime, 1977) e sambas do quilate de Nos Horizontes do Mundo (Paulinho da Viola, 1978). Mas Duos II incorporou também suave percussão, como o pandeiro tocado pela própria cantora em Chorinho pra Ele, tema de 1976, de autoria de seu padrinho, Hermeto Pascoal. Gravado por Luciana com Romero Lubambo, o choro é a faixa em que a intérprete mais faz uso das liberdades improvisadas do jazz.

Além da percussão, o violão é trocado pela guitarra de Guilherme Monteiro em Você, lenta canção composta em 1960 por Walter Santos e Tereza Souza, pais de Luciana Souza. A guitarra dá clima todo especial à faixa, que encerra um disco que já valeria somente pela gravação impecável de Modinha (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1958). Tomara que o Brasil ainda aplauda Luciana Souza como o público americano para aumentar a tiragem de seus CDs...

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Tomara mesmo Mauro . Faço minhas as suas palavras . O CD é ótimo , tão bom quanto " Duos " .

4 de dezembro de 2006 às 09:05  

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