28 de dezembro de 2006

Retrô 2006 - Aragão se renovou (com inéditas)

Assim como seu samba Coisinha do Pai, usado em 1997 para acordar o robô da NASA, Jorge Aragão quase viu sua carreira ir para o espaço por conta de sucessivos e redundantes discos ao vivo. Mas sua dilapidada obra ganhou novo fôlego em 2006 com um álbum de inéditas, E Aí?, posto nas lojas em julho pela Indie Records sem a forte repercussão comercial a que o disco fazia jus.

A renovação esteve, sobretudo, no tom do disco. Havia os sambas dolentes e melancólicos que costumam predominar nos álbuns de Aragão e fazem saltar a veia poética do artista. A Vida É Rápida, Emoção Sincera (composição de Sombra) e Ninguém É Perfeito foram alguns deles. Mas E Aí? foi um CD bem mais alegre e jovial.

Sem sair de seu quintal, Aragão transitou pela diversidade rítmica do samba. Se À Sombra da Amendoeira tinha até cadência baiana próxima da chula, inaugurando a salutar parceria do compositor com os baianos Jorge Portugal e Roberto Mendes, Não É Segredo foi delicioso samba de quadra composto por Aragão com Flávio Cardoso. Já Adepto do Samba Sincopado exibiu, como o título já anunciava, melodia balançada, à moda dos sambas popularizados por Cyro Monteiro nos anos 40. O quintal deu outros bons frutos.

A maior surpresa foi a adesão de Aragão ao samba-rock. Ele tirou do baú jóia pouco lapidada do gênero - e a preciosidade vinha do repertório de Roberto e Erasmo Carlos! Sim, Mané João teve sua primeira gravação em 1972 num LP magistral do Tremendão. A leitura de Erasmo continuou imbatível, mas Aragão não derrapou no suingue do tema. A outra regravação - menos surpreendente - foi Partido Alto. O clássico de Chico Buarque, também de 1972, ressurgiu em tom suave, sem o rancor (necessário e até essencial nos anos de chumbo) do registro inaugural do autor do partido.

Aragão, aliás, soube colher frutos em árvores alheias. Retrato da Desilusão foi obra-prima da parceria bissexta de Monarco com o filho Mauro Diniz. A dor dos versos contrastou com a pulsação vibrante do samba. Malaco (Alcino Correia e Márcio Vanderlei) foi ode aos bambas do Império Serrano. Já Disciplina (Serginho Meriti e Frank Daiello) se revelou um samba de nobre estirpe. Em disco produzido com arranjos calcados em percussões e metais, sem os teclados que por vezes pausterizam o samba, Sem Dívida Nem Dúvida abriu o trabalho em clima suburbano e reafirmou a inspiração autoral de Jorge Aragão, que sempre se renova quando o deixam ir para o estúdio... Pena que E Aí? vendeu pouco. Pena!!

1 Comments:

Anonymous José said...

é o poeta do samba

26 de janeiro de 2010 às 18:30  

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