24 de junho de 2010

Balangandã de hoje reaviva a Carmen de ontem

Resenha de CD
Título: Carmen Miranda Hoje
Artista: Carmen Miranda
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * *
Com o aval e a assinatura de Ruy Castro, biógrafo de Carmen Miranda (1909 - 1955), o violonista e cavaquinista Henrique Cazes dá fino trato em 12 gravações da cantora para fazer o som pioneiro da Brazilian Bombshell bombar nos dias de hoje. Em notável intervenção que resultou no CD Carmen Miranda Hoje, editado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de junho de 2010, Cazes acrescentou cordas, percussão e sopros para que se possa, enfim, ouvir tudo o que baiana tinha, mas não podia mostrar porque nos anos 30 não havia canais suficientes para equalizar e realçar tantos balangandãs. Sem recorrer a DJs e aos recursos modernosos da era eletrônica, o produtor põe pressão e instrumentos nas 12 gravações como se tivesse encarnado na segunda metade dos anos 30, época em que a primeira pospstar do Brasil ainda não tinha trocado o ensopadinho com chuchu pelo hambúrger. Ou seja, a obra de Carmen não foi transfigurada em nome da modernidade. Sambas como No Tabuleiro da Baiana (1936) e Adeus Batucada (1935) ganham graves, agudos e uma mixagem mais equilibrada. É o som de ontem aprimorado e reavivado pela técnica de hoje. A intervenção é notável porque, no período seminal da indústria fonográfica, a equalização das gravações era tão precária que todos os instrumentos soavam embolados. Carmen Miranda Hoje corrige o problema com absoluta fidelidade ao acompanhamento e ao espírito dos 12 registros selecionados entre os 129 fonogramas gravados pela intérprete na extinta companhia Odeon entre 1935 e 1940. É a modernidade posta respeitosamente a serviço de obra que, 80 anos depois, ainda continua moderna. Com sua voz vivaz, Carmen propagou sambas e marchas de compositores como Ary Barroso (1903 - 1964), Assis Valente (1911 - 1958) e Dorival Caymmi (1914 - 2008), entre outros. Por mais que a voz da cantora soe eventual e inevitavelmente abafada no confronto com essa atual base instrumental, há maior equilíbrio entre o canto da Pequena e as bases das faixas - equilíbrio inexistente na mixagem original das gravações de temas como Uva de Caminhão (1939). Com encarte que traz texto inédito de Ruy Castro e as letras das músicas (mas que omite os anos dos 12 registros), Carmen Miranda Hoje embala ainda faixa virtual com vídeo de Querido Adão. É luxo só!!

5 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Com o aval e a assinatura de Ruy Castro, biógrafo de Carmen Miranda (1909 - 1955), o violonista e cavaquinista Henrique Cazes dá fino trato em 12 gravações da cantora para fazer o som pioneiro da Brazilian Bombshell bombar nos dias de hoje. Em notável intervenção que resultou no CD Carmen Miranda Hoje, editado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de junho de 2010, Cazes acrescentou cordas, percussão e sopros para que se possa, enfim, ouvir tudo o que baiana tinha, mas não podia mostrar porque nos anos 30 não havia canais suficientes para equalizar e realçar tantos balangandãs. Sem recorrer a DJs e aos recursos modernosos da era eletrônica, o produtor põe pressão e instrumentos nas 12 gravações como se tivesse encarnado na segunda metade dos anos 30, época em que a primeira pospstar do Brasil ainda não tinha trocado o ensopadinho com chuchu pelo hambúrger. Ou seja, a obra de Carmen não foi transfigurada em nome da modernidade. Sambas como No Tabuleiro da Baiana (1936) e Adeus Batucada (1935) ganham graves, agudos e uma mixagem mais equilibrada. É o som de ontem aprimorado e reavivado pela técnica de hoje. A intervenção é notável porque, no período seminal da indústria fonográfica, a equalização das gravações era tão precária que todos os instrumentos soavam embolados. Carmen Miranda Hoje corrige o problema com absoluta fidelidade ao acompanhamento e ao espírito dos 12 registros selecionados entre os 129 fonogramas gravados pela intérprete na extinta companhia Odeon entre 1935 e 1940. É a modernidade posta respeitosamente a serviço de obra que, 80 anos depois, ainda continua moderna. Com sua voz vivaz, Carmen propagou sambas e marchas de compositores como Ary Barroso (1903 - 1964), Assis Valente (1911 - 1958) e Dorival Caymmi (1914 - 2008), entre outros. Por mais que a voz da cantora soe eventual e inevitavelmente abafada no confronto com essa atual base instrumental, há maior equilíbrio entre o canto da Pequena e as bases das faixas - equilíbrio inexistente na mixagem original das gravações de temas como Uva de Caminhão (1939). Com encarte que traz texto inédito de Ruy Castro e as letras das músicas (mas que omite os anos dos 12 registros), Carmen Miranda Hoje embala ainda faixa virtual com vídeo de Querido Adão. É luxo só!!

24 de junho de 2010 às 15:20  
Blogger Luca said...

mesmo que o trabalho tenha ficado legal, sou purista: gosto de ouvir uma gravação da forma que ela foi feita...

24 de junho de 2010 às 19:03  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, que bela resenha. Eu achei que tivesse sido voto vencido. Adorei o resultado desse CD e espero que o mesmo seja feito com outros artistas. Parabéns. Abs, Luiz Felipe Carneiro. www.esquinadamusica.com.br

24 de junho de 2010 às 21:30  
Anonymous Anônimo said...

Eu escutei no rádio a música "O Que é Que a Baiana Tem" e achei muito legal. Gostei muito do resultado.

Vou comprar esse cd, porque Carmem Miranda é fundamental em qualquer boa coleção de música que se queira ter em casa.

abração,
Denilson Santos

25 de junho de 2010 às 09:05  
Anonymous Fabiano said...

Espero que o mesmo seja feito com gravações de outros artistas da época, como Aracy de Almeida. E para quem é purista, as gravações originais continuam existindo. Agora temos outras opções. E se formos realmente puristas, deveriamos escutá-las somente em discos de 78 rpm, e não em arquivos de audio compactados, cds ou lps.

Não vejo nada demais em usar a tecnologia para aproximar da realidade como seria ouvir aquele artista, já que as técnicas de gravação daquela época eram precárias, e o que se ouve nos discos daquele tempo está muito distante de como soavam na realidade.

25 de junho de 2010 às 11:17  

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