1 de junho de 2010

Revitalizado, Gil faz ótima festa em disco junino

Resenha de CD
Título: na Festa
Artista: Gilberto Gil
Gravadora: Geléia Geral
/ Universal Music
Cotação: * * * * 1/2

A fé nos sons das festas de junho parece ter feito Gilberto Gil pôr fé na própria arte da composição. Nas lojas a partir desta terça-feira, 1º de junho de 2010, Fé na Festa é o melhor disco de inéditas do artista baiano desde Dia Dorim Noite Neon (1985). A qualidade exemplar dos xotes, xaxados, toadas e baiões compostos para Fé na Festa dá vigor ao álbum e revitaliza a obra de Gil, até então mais voltada para projetos retrospectivos e para tributos a ícones como Bob Marley (1945 - 1981) e Luiz Gonzaga (1912 - 1989). A alma e a rítmica nordestina do Rei do Baião, a propósito, se insinuam no CD sem impor tom saudosista a Fé na Festa. Ao contrário, Gil foca as festas de junho sob ótica sempre contemporânea. Basta ouvir O Livre-atirador e a Pegadora, xote inspirado em que o compositor aborda a pluralidade sexual que norteia as novas gerações, em diálogo espirituoso com Despedida de Solteira, o xote (não tão primoroso) de Banda Larga Cordel, o bom álbum de 2008 em que Gil se conectou à rede de tensões da vida hi-tech. Da mesma forma, Não Tenho Medo da Vida - canção transmutada em xote para se ajustar à rítmica nordestina do disco - embute questões existenciais que fazem conexão direta com Não Tenho Medo da Morte, outro tema do CD Banda Larga Cordel. Entre saboroso xaxado (Assim, Sim) e baião que aponta questões ambientais (Marmundo), Gil festeja o próprio aniversário num parabéns-baião (Vinte e Seis, com título alusivo à data de 26 de junho) e dialoga sem saudosismo com os idos tempos de São João em Estrela Azul do Céu, tema que evoca a festa idealizada de Olha pro Céu, o clássico junino de Gonzaga e José Fernandes, lançado em 1951. Tempos em que o baião era a Dança da Moda - como já anunciava no título o baião composto por Lua com Zé Dantas em 1950 e pescado por Gil no rico e vasto baú de Gonzagão. Das 13 faixas de Fé na Festa, a irresistível Dança da Moda é uma das três músicas não assinadas por Gil no CD. As outras são Aprendi com o Rei - xote em que João Silva reverencia tanto Lua quanto os músicos que animam as festas juninas e os forrós nos sertões nordestinos - e Maria Minha, delicioso xote de Targino Gondim e Eliezer Setton. Da lavra do próprio Gil com Perinho Santana e Moacyr Albuquerque, a toada Norte da Saudade - lançada em 1977 no álbum Refavela - se adequa perfeitamente ao espírito do disco, ainda que dê breve pausa na festa com clima mais ameno reiterado por Lá Vem Ela, a toada feita por Gil (com toques de baião) e letrada por Vanessa da Mata. Mas a quadrilha São João Carioca - parceria de Gil com pernambucano Nando Cordel - se encarrega de garantir a animação ao refazer a rota da festa a partir da geografia do Rio de Janeiro (RJ). É quando brilha o acordeom frenético de Toninho Ferragutti, músico que garante a pulsação da festa ao lado de Sergio Chiavazzoli (cavaquinho, guitarra baiana, banjo, viola de 12 cordas, triângulo e arranjos), Nicolas Krassic (violino e rabeca), Gustavo di Dalva (percussão), Jorginho Gomes (zabumba), Arthur Maia (baixo) e do próprio Gil (voz, violão e guitarra). No todo, Fé na Festa é arretado álbum que atenua a rouquidão da voz de Gil e se impõe como um dos melhores títulos da discografia desse talentoso aprendiz do Rei do Baião. Ponha fé!!

8 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

A fé nos sons das festas de junho parece ter feito Gilberto Gil pôr fé na própria arte da composição. Nas lojas a partir desta terça-feira, 1º de junho de 2010, Fé na Festa é o melhor disco de inéditas do artista baiano desde Dia Dorim Noite Neon (1985). A qualidade exemplar dos xotes, xaxados, toadas e baiões compostos para Fé na Festa dá vigor ao álbum e revitaliza a obra de Gil, até então mais voltada para projetos retrospectivos e para tributos a ícones como Bob Marley (1945 - 1981) e Luiz Gonzaga (1912 - 1989). A alma e a rítmica nordestina do Rei do Baião, a propósito, se insinuam no CD sem impor tom saudosista a Fé na Festa. Ao contrário, Gil foca as festas de junho sob ótica sempre contemporânea. Basta ouvir O Livre-atirador e a Pegadora, xote inspirado em que o compositor aborda a pluralidade sexual que norteia as novas gerações, em diálogo espirituoso com Despedida de Solteira, o xote (não tão primoroso) de Banda Larga Cordel, o bom álbum de 2008 em que Gil se conectou à rede de tensões da vida hi-tech. Da mesma forma, Não Tenho Medo da Vida - canção transmutada em xote para se ajustar à rítmica nordestina do disco - embute questões existenciais que fazem conexão direta com Não Tenho Medo da Morte, outro tema do CD Banda Larga Cordel. Entre saboroso xaxado (Assim, Sim) e baião que aponta questões ambientais (Marmundo), Gil festeja o próprio aniversário num parabéns-baião (Vinte e Seis, com título alusivo à data de 26 de junho) e dialoga sem saudosismo com os idos tempos de São João em Estrela Azul do Céu, tema que evoca a festa idealizada de Olha pro Céu, o clássico junino de Gonzaga e José Fernandes, lançado em 1951. Tempos em que o baião era a Dança da Moda - como já anunciava no título o baião composto por Lua com Zé Dantas em 1950 e pescado por Gil no rico e vasto baú de Gonzagão. Das 13 faixas de Fé na Festa, a irresistível Dança da Moda é uma das três músicas não assinadas por Gil no CD. As outras são Aprendi com o Rei - xote em que João Silva reverencia tanto Lua quanto os músicos que animam as festas juninas e os forrós nos sertões nordestinos - e Maria Minha, delicioso xote de Targino Gondim e Eliezer Setton. Da lavra do próprio Gil com Perinho Santana e Moacyr Albuquerque, a toada Norte da Saudade - lançada em 1977 no álbum Refavela - se adequa perfeitamente ao espírito do disco, ainda que dê breve pausa na festa com clima mais ameno reiterado por Lá Vem Ela, a toada feita por Gil (com toques de baião) e letrada por Vanessa da Mata. Mas a quadrilha São João Carioca - parceria de Gil com o compositor pernambucano - se encarrega de garantir a animação ao refazer a rota da festa a partir da geografia do Rio de Janeiro (RJ). É quando brilha o acordeom frenético de Toninho Ferragutti, músico que garante a pulsação da festa ao lado de Sergio Chiavazzoli (cavaquinho, guitarra baiana, banjo, viola de 12 cordas, triângulo e arranjos), Nicolas Krassic (violino e rabeca), Gustavo di Dalva (percussão), Jorginho Gomes (zabumba), Arthur Maia (baixo) e do próprio Gil (voz, violão e guitarra). No todo, Fé na Festa é arretado álbum que atenua a rouquidão da voz de Gil e se impõe como um dos melhores títulos da discografia desse talentoso aprendiz do Rei do Baião. Ponha fé!!

1 de junho de 2010 às 16:23  
Blogger André Luís said...

Já tinha escutado todo o novo álbum do Gil no seu site, e de fato está maravilhoso! Vou comprar assim que puder!

1 de junho de 2010 às 16:42  
Anonymous Juvenal Simplício said...

Esse é mais um do Baiano pra gente comprar, curtir encarte, se deliciar com as letras e dançar solto! Ele continua em forma, diferentemente de outro baiano que anda meio perdido no garage rock. Banda larga cordel já trazia pérolas e esse só confirma que o ministério fez muito bem ao Gil ( e ele ao ministério)!

1 de junho de 2010 às 18:33  
Blogger Gill Sampaio Ominirò said...

Bem, não ouvi ainda o CD. Mas nem preciso fazê-lo para saber que é bom. Pois desconheço disco ruim deste artista. Por outro lado, penso ser um absoluto, absurdo e infeliz comentário do crítico Mauro Ferreira quando este diz que "Fé na Festa é o melhor disco de inéditas do artista baiano desde Dia Dorim Noite Neon (1985)". Quem diz algo assim, não ouviu, ouviu mal, ou se esqueceu que ouviu e existem discos ímpares na deste artista na MPB (após 1985) como o impecável "Parabolicamará", o genial "O Sol de Oslo" ou mesmo o brilhante, em parceria com Caetano, "Tropicália 2".

1 de junho de 2010 às 20:49  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, o compositor pernambucano é Nando Cordel.
Nivaldo

1 de junho de 2010 às 21:51  
Anonymous Anônimo said...

Ahh, o DVD Banda Dois é lindo!
Não deixem de conferir

2 de junho de 2010 às 00:23  
Anonymous Anônimo said...

Não ouvi e já gostei.
Gostei também da capa com o Gil em um passo de xaxado, a dança prefirida de Lampião.
Mas, xará do gênio, Tropicália 2 é tão ruim que chega a doer nos ouvidos.
Só salva-se a pérola "Desde que o samba é samba" do Caetano.

2 de junho de 2010 às 00:23  
Blogger Mauro Ferreira said...

Grato, anônimo das 21:51, por me avisar do Nando Cordel. Esqueci de digitar o nome dele.
abs, MauroF

2 de junho de 2010 às 09:22  

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