1 de junho de 2010

Marina expõe urgências a caminho do 'Clímax'

Resenha de Show
Título: Peça MPB - Marina Lima em Revista
Artista: Marina Lima (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Teatro dos Quatro (RJ)
Data: 31 de maio de 2010
Cotação: * * * 1/2
"Este não é um show novo... Ainda não é o Clímax... É um show a caminho de...", conceituou Marina Lima, logo após apresentar a inédita Doce de Nós para o público antenado que encheu o Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 31 de maio de 2010. Havia um clima de expectativa no ar. Era, afinal, a volta de Marina aos palcos cariocas - após ausência de um ano - e era também a primeira vez que seus fãs cariocas iriam conhecer ao vivo o repertório inédito que a artista já alinhava para formatar o roteiro do show Clímax, ainda sem data certa para subir à cena (cogita-se que seria em São Paulo no segundo semestre, mas, por ora, nada há de concreto). De quebra, o público ouviu Marina refazer antigas incursões pelos repertórios de Lobão (Me Chama, perfeitamente ajustada ao tom quente do show), Zélia Duncan (Tempestade, belo momento do roteiro) e Erasmo Carlos (Mesmo que Seja Eu, com pausas inusitadas que revalorizaram o número).
A expectativa foi cumprida. A caminho do Clímax, aos 54 anos, Marina expressa dores, inquietudes e urgências típicas do que se pode chamar maturidade. "Me deixe quieta com a minha solidão / A vida é minha e também meu coração / E, se você já encontrou sua parte, / Me Deixe em paz / Atrás da parte que me cabe", suplica em versos de A Parte que me Cabe, pseudo-samba em que confronta sentimentos e atitudes da juventude com as aspirações da tal maturidade. Marina já parece saber que nada será como antes. E não é. Mesmo os velhos sucessos - como Charme do Mundo (1981) e O Chamado (1993) - soaram novos, repaginados para os tempos modernos pelas programações eletrônicas urdidas pelo baixista e guitarrista Edu Martins. A voz, que ameaçou não sair no primeiro frio número, Fullgás (1984), acabou vindo para ajudar Marina a expressar toda a atitude que há em inéditas como Não me Venha Mais com Amor - primeira parceria com Adriana Calcanhoto, já em rotação em rádios de São Paulo (SP) - e também na abordagem cool de Call me, o tema gravado por Chris Montez em 1965, reminiscência da "pré-adolescência" de Marina, como ela contou no show. Ao desconstruir o ritmo da música, a cantora evidencia a pungência escondida na letra escrita por Tony Hatch na forma de recado para o ser amado em (imaginado) sofrimento.
Recado é também o que Marina manda através dos versos de Lex, inédita envolta em arranjo que evoca o som cheio de camadas do grupo inglês Radiohead. "Teus olhos cansados evocam os fados para eu não mais partir", relata Marina, expondo dor de amor vivido em Lisboa. Em Lex, ficam evidentes a firmeza e a atitude da artista. A energia posta na interpretação valoriza música que, numa primeira impressão, não reedita a inspiração melódica de tempos áureos - evocada no recente tango Três (2006). Doce de Nós deixa a mesma sensação. Mas fica boa impressão de Keep Walking, balada embebida em clima roqueiro. E, em português ou em inglês, as letras continuam invariavelmente interessantes. Até porque, em cena, com sua guitarra encorpando o som produzido pelo trio esperto, Marina Lima ainda parece ter todo o charme do mundo. Nesse show de transição, pontuado por interrupções e reclamações sobre o som, fica claro que a artista está em sintonia com os dias de hoje, driblando as limitações vocais com bravura - atestada pelo sons guturais emitidos em O Chamado - e expondo as urgências existenciais de quem tem o charme - mas já não todo o tempo... - do mundo. Marina vai chegar ao Clímax com atitude!

15 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

"Este não é um show novo... Ainda não é o Clímax... É um show a caminho de...", conceituou Marina Lima, logo após apresentar a inédita Doce de Nós para o público antenado que encheu o Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 31 de maio de 2010. Havia um clima de expectativa no ar. Era, afinal, a volta de Marina aos palcos cariocas - após hiato de dois anos - e era também a primeira vez que seus fãs cariocas iriam conhecer ao vivo o repertório inédito que a artista já alinhava para formatar o roteiro do show Clímax, ainda sem data certa para subir à cena (cogita-se que seria em São Paulo no segundo semestre, mas, por ora, nada há de concreto). De quebra, o público ouviu Marina refazer antigas incursões pelos repertórios de Lobão (Me Chama, perfeitamente ajustada ao tom quente do show), Zélia Duncan (Tempestade, belo momento do roteiro) e Erasmo Carlos (Mesmo que Seja Eu, com pausas inusitadas que revalorizaram o número).
A expectativa foi cumprida. A caminho do Clímax, aos 54 anos, Marina expressa dores, inquietudes e urgências típicas do que se pode chamar maturidade. "Me deixe quieta com a minha solidão / A vida é minha e também meu coração / E, se você já encontrou sua parte, / Me Deixe em paz / Atrás da parte que me cabe", suplica em versos de A Parte que me Cabe, pseudo-samba em que confronta sentimentos e atitudes da juventude com as aspirações da tal maturidade. Marina já parece saber que nada será como antes. E não é. Mesmo os velhos sucessos - como Charme do Mundo (1981) e O Chamado (1993) - soaram novos, repaginados para os tempos modernos pelas programações eletrônicas urdidas pelo baixista e guitarrista Edu Martins. A voz, que ameaçou não sair no primeiro número, Fullgás (1984), acabou vindo para ajudar Marina a expressar toda a atitude que há em inéditas como Não me Venha Mais com Amor - primeira parceria com Adriana Calcanhoto, já em rotação em rádios de São Paulo (SP) - e também na abordagem cool de Call me, o tema gravado por Chris Montez em 1965, reminiscência da "pré-adolescência" de Marina, como ela contou no show. Ao desconstruir o ritmo da música, a cantora evidencia a pungência escondida na letra escrita por Tony Hatch na forma de recado para o ser amado em (imaginado) sofrimento.
Recado é também o que Marina manda através dos versos de Lex, inédita envolta num arranjo que remete ao som cheio de camadas do grupo inglês Radiohead. "Teus olhos cansados evocam os fados para eu não mais partir", relata Marina, expondo dor de amor vivido em Lisboa. Em Lex, ficam evidentes a firmeza e a atitude da artista. A energia posta na interpretação valoriza música que, numa primeira impressão, não reedita a inspiração melódica de tempos áureos - evocada no recente tango Três (2006). Doce de Nós deixa a mesma sensação. Mas fica boa impressão de Keep Walking, balada embebida em clima roqueiro. E, em português ou em inglês, as letras continuam invariavelmente interessantes. Até porque, em cena, com sua guitarra encorpando o som produzido pelo trio esperto, Marina Lima ainda parece ter todo o charme do mundo. Nesse show de transição, pontuado por interrupções e reclamações sobre o som, fica claro que a artista está em sintonia com os dias de hoje, driblando as limitações vocais e expondo as urgências existenciais de quem tem o charme - mas já não todo o tempo... - do mundo. Marina vai chegar ao Clímax com atitude!!!

1 de junho de 2010 às 11:49  
Anonymous Anônimo said...

O momento artístico dela pede mesmo espaços menores como teatros e centro culturais em vez de grandes casas. Primeiro por conta da popularidade e depois por conta da voz. FORÇA LA LIMA!!

1 de junho de 2010 às 11:51  
Anonymous Anônimo said...

Ótimo texto, que conseguiu minimizar as deficiências do show.

Eu não entendo muito essa coisa de "show a caminho de"... É um show ou não é! Cobrar um ingresso caro para apresentar algo inacabado não é justo. Maria Bethânia jamais fez algo assim. É questão de respeito com o público.

Não dá pro artista pensar que é tão amado a ponto de que todas as suas imperfeições artísticas são esquecidas ou perdoadas.

Mais capricho, Marina, por favor. Você pode.

1 de junho de 2010 às 13:23  
Anonymous Anônimo said...

Creio que o clímax já passou, com toda certeza!

1 de junho de 2010 às 13:28  
Anonymous Anônimo said...

Amo Marina Lima!
Ela é única! Grande compositora.
Pode cantar em pequenos e grandes espaços. Estrela é sempre estrela.
São Paulo te ama! Marina sabe que tem público grande aqui na terra da garoa. Marina a gente te "chama".
Lucas / SP

1 de junho de 2010 às 13:43  
Anonymous Anônimo said...

É isso que o público que não conhece Marina ainda precisa reconhecer. ATITUDE. É isso que diferencia das outras. É isso que dribla a ausência da voz. É sempre um prazer (re)ver Marina se recriando. Cara, a roupagem para Fullgás transformou o que poderia já ser velho em algo sedutor e foi só o começo. Ave Marina!

1 de junho de 2010 às 14:01  
Anonymous Beto said...

a obra de marina tem assinatura própria, hoje todo mundo já chega a cola de alguém

1 de junho de 2010 às 16:27  
Blogger Cássia said...

Espero que ela tenha recuperado a voz, prejudicada por uma longa depressão que passou. O repertório sempre foi ótimo!

1 de junho de 2010 às 17:31  
Blogger Betha Medeiros said...

Belo texto! Parabéns!
Marina É maravilhosa e se re-inventa sempre!! Tem muito Clímax ainda pra vir!
Ela não deixa a peteca cair e toca pra frente!

As músicas novas são deliciosas e viciantes!!!

1 de junho de 2010 às 18:21  
Anonymous Martha Barros said...

Ótimo texto, Mauro. Traduz exatamente como foi este belíssimo show.

1 de junho de 2010 às 18:29  
Anonymous Anônimo said...

A Marina que eu gostava já não mais existe. Boa sorte aos que curtam essa Marina atual!!

1 de junho de 2010 às 23:59  
Blogger Ursh said...

Ótima resenha do show!
Marina sempre encanta. Climax é um show que promete: os arranjos de Edu Martins, palco de Isay W. e composições que expressam bem a sensibilidade e a atitude de Marina.

"...que os tambores batam e que tudo se acenda, forte"

2 de junho de 2010 às 10:52  
Anonymous Anônimo said...

"A ignorância extravanca o progresso". Ouvi isso muito na época da ditadura e depois que li alguem aqui falando de respeito,de fazer um show inacabado, de cobrar ingresso, achei cabível. Quando Caetano fez no Canecão shows chamando-os de "ensaio aberto", lotou. Marina é muito importante pra musica brasileira. Não estou comparando-a a Caetano, mas se existem Anas Carolinas, Tavianis, Marias Gadus e adjacências, deva-se isso ao talento e unilateralidade da Marina Lima, sempre autentica. Há muito Marina transformou seus shows a momentos conceituais e esse com certeza foi mais um. Que Marina venha, de novo mostrar o que quiser, escrevendo livros, mas venha. Marina faz falta a musica boa. Marina Lima, vc é genial, pra sempre. Te amo.

2 de junho de 2010 às 18:22  
Anonymous Anônimo said...

Bom, se "a ignorância extravanca (sic) o progresso", o que dizer da preguiça? As pessoas dariam o mesmo valor de uma casa pronta a uma casa inacabada? Sou um espectador com um mínimo de exigência. Mas também não quero atravancar a vida de nenhum artista. Pode continuar com seus momentos conceituais, mas seja franco e não venda como um show.

2 de junho de 2010 às 19:48  
Blogger DRikA said...

GRaNde CaNToRa,CoMPoSiToRA e GuiTARRiSTA, SuAs MúSiCaS sÃo CoMo OBRA de ARTE qUe peRMANeCeM no TeMPO... é uMa ARTisTA em CoNsTaNTe MuTaçÃo e ReNoVaçÃo...
QuE a MúsiCa seJa seMpRe a iNspiRAção
deSsa LiNdA MuLHer.
EsTreLa qUe NaSceU TeM q BRILHAR
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4 de junho de 2010 às 07:32  

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