Canto triste de Edu Lobo se engrandece em cena
Resenha de Show
Título: Tantas Marés
Artista: Edu Lobo (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Espaço Tom Jobim (RJ)
Data: 24 de março de 2010
Cotação: * * * *
Sempre houve na música de Edu Lobo certa melancolia, atenuada por vezes pela vivacidade dos ritmos nordestinos recorrentes na obra do compositor - em especial, o frevo, apre(e)ndido nas férias passadas em Recife (PE). Tantas Marés - o belo álbum que Lobo lançou em fevereiro de 2010 com rala dosagem de inéditas - é um disco impregnado dessa melancolia. Talvez por isso mesmo, Lobo - sábio - tempere em cena seu canto triste com comentários bem-humorados. Foi o que se viu e ouviu na noite de 24 de março de 2010 no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ), no show que marcou o feliz retorno do artista aos palcos. Descontraído, Lobo entreteu a plateia lotada com observações e causos engraçados enquanto desfiou seu rosário de pérolas novas e antigas. Pelo fino acabamento da obra, o canto triste do compositor se engrandece em cena, mesmo que já se revele por vezes deficiente do ponto de vista técnico. A sensação era a de que todo o público que encheu o teatro saiu de lá embevecido pela oportunidade de assistir a um (raro) show de Lobo, artista habitualmente recluso, fora da mídia.
É fato que o compositor - já sem a memória dos tempos idos - leu as letras da maior parte das 18 músicas. Tal recurso, no entanto, não empanou o brilho do show, feito por Lobo na companhia de uma "banda de mestres", como ele mesmo se referiu ao grupo que o acompanhou em cena sob a liderança do pianista, maestro e diretor musical Cristóvão Bastos. A banda incluía feras como Jurim Moreira (bateria), Jorge Helder (baixo), Lula Galvão (violão), Carlos Malta - brilhante nos sopros que sobressaíram em temas como Angu de Caroço (Edu Lobo e Cacaso) - e Mingo Araújo (percussão). O sexteto embalou com vivacidade a música de Lobo, com espaço para alguns improvisos feitos na dose exata.
Aberto com Vento Bravo, o roteiro seguiu com o frevo-canção No Cordão da Saideira antes de começar a apresentar dez das 12 músicas gravadas no álbum Tantas Marés (as exceções foram Senhora do Rio e o acalanto Primeira Cantiga, registrado no CD em dueto com Mônica Salmaso). Autor das seis letras inéditas apresentadas no disco, Paulo César Pinheiro pegou o espírito melancólico da obra de Lobo ao construir versos reflexivos. Lobo revira memórias com certa nostalgia em temas como a valsa Qualquer Caminho e canção Coração Cigano, destaque da safra nova. As quebradas sinuosas do baião Dança do Corrupião e os contornos do choro Perambulando - temas letrados por Pinheiro, mas já existentes na obra de Lobo - mostraram que, em qualquer época, o cancioneiro do compositor esbanja real sofisticação. Contudo, é justo admitir que os grandes momentos do show - atestados pelo tom mais entusiástico dos aplausos - foram temas de tempos passados. Canto Triste foi um instante sublime pelo sentimento posto pelo autor em doses exatas. Pra Dizer Adeus também se confirmou grandiosa, tendo a música sido repetida no bis com o coro embevecido da plateia (já presente também na primeira apresentação dessa obra-prima). A total interação entre banda e cantor foi atestada pela pulsação de A História de Lily Braun, número em que sobressaiu o saxofone de Carlos Malta (momentos depois, a flauta deste músico extraordinário seria fundamental para moldar o tom vivaz de Ponteio). No fim, Beatriz - num instante mais introspectivo de voz e piano (o de Cristóvão Bastos) - reiterou a grandeza melódica da obra de Lobo (no caso, realçada pela letra igualmente magistral de Chico Buarque). Enfim, um belo show de um compositor que precisa aparecer mais nos palcos (a última apresentação de Edu Lobo no Rio de Janeiro tinha sido em abril de 2007) para que o público possa apreciar mais seu canto triste de paradoxal leveza. A maré do artista continua cheia.
Título: Tantas Marés
Artista: Edu Lobo (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Espaço Tom Jobim (RJ)
Data: 24 de março de 2010
Cotação: * * * *
Sempre houve na música de Edu Lobo certa melancolia, atenuada por vezes pela vivacidade dos ritmos nordestinos recorrentes na obra do compositor - em especial, o frevo, apre(e)ndido nas férias passadas em Recife (PE). Tantas Marés - o belo álbum que Lobo lançou em fevereiro de 2010 com rala dosagem de inéditas - é um disco impregnado dessa melancolia. Talvez por isso mesmo, Lobo - sábio - tempere em cena seu canto triste com comentários bem-humorados. Foi o que se viu e ouviu na noite de 24 de março de 2010 no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ), no show que marcou o feliz retorno do artista aos palcos. Descontraído, Lobo entreteu a plateia lotada com observações e causos engraçados enquanto desfiou seu rosário de pérolas novas e antigas. Pelo fino acabamento da obra, o canto triste do compositor se engrandece em cena, mesmo que já se revele por vezes deficiente do ponto de vista técnico. A sensação era a de que todo o público que encheu o teatro saiu de lá embevecido pela oportunidade de assistir a um (raro) show de Lobo, artista habitualmente recluso, fora da mídia.
É fato que o compositor - já sem a memória dos tempos idos - leu as letras da maior parte das 18 músicas. Tal recurso, no entanto, não empanou o brilho do show, feito por Lobo na companhia de uma "banda de mestres", como ele mesmo se referiu ao grupo que o acompanhou em cena sob a liderança do pianista, maestro e diretor musical Cristóvão Bastos. A banda incluía feras como Jurim Moreira (bateria), Jorge Helder (baixo), Lula Galvão (violão), Carlos Malta - brilhante nos sopros que sobressaíram em temas como Angu de Caroço (Edu Lobo e Cacaso) - e Mingo Araújo (percussão). O sexteto embalou com vivacidade a música de Lobo, com espaço para alguns improvisos feitos na dose exata.
Aberto com Vento Bravo, o roteiro seguiu com o frevo-canção No Cordão da Saideira antes de começar a apresentar dez das 12 músicas gravadas no álbum Tantas Marés (as exceções foram Senhora do Rio e o acalanto Primeira Cantiga, registrado no CD em dueto com Mônica Salmaso). Autor das seis letras inéditas apresentadas no disco, Paulo César Pinheiro pegou o espírito melancólico da obra de Lobo ao construir versos reflexivos. Lobo revira memórias com certa nostalgia em temas como a valsa Qualquer Caminho e canção Coração Cigano, destaque da safra nova. As quebradas sinuosas do baião Dança do Corrupião e os contornos do choro Perambulando - temas letrados por Pinheiro, mas já existentes na obra de Lobo - mostraram que, em qualquer época, o cancioneiro do compositor esbanja real sofisticação. Contudo, é justo admitir que os grandes momentos do show - atestados pelo tom mais entusiástico dos aplausos - foram temas de tempos passados. Canto Triste foi um instante sublime pelo sentimento posto pelo autor em doses exatas. Pra Dizer Adeus também se confirmou grandiosa, tendo a música sido repetida no bis com o coro embevecido da plateia (já presente também na primeira apresentação dessa obra-prima). A total interação entre banda e cantor foi atestada pela pulsação de A História de Lily Braun, número em que sobressaiu o saxofone de Carlos Malta (momentos depois, a flauta deste músico extraordinário seria fundamental para moldar o tom vivaz de Ponteio). No fim, Beatriz - num instante mais introspectivo de voz e piano (o de Cristóvão Bastos) - reiterou a grandeza melódica da obra de Lobo (no caso, realçada pela letra igualmente magistral de Chico Buarque). Enfim, um belo show de um compositor que precisa aparecer mais nos palcos (a última apresentação de Edu Lobo no Rio de Janeiro tinha sido em abril de 2007) para que o público possa apreciar mais seu canto triste de paradoxal leveza. A maré do artista continua cheia.
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Sempre houve na música de Edu Lobo certa melancolia, atenuada por vezes pela vivacidade dos ritmos nordestinos recorrentes na obra do compositor - em especial, o frevo, apre(e)ndido nas férias passadas em Recife (PE). Tantas Marés - o belo álbum que Lobo lançou em fevereiro de 2010 com rala dosagem de inéditas - é um disco impregnado dessa melancolia. Talvez por isso mesmo, Lobo - sábio - tempere em cena seu canto triste com comentários bem-humorados. Foi o que se viu e ouviu na noite de 24 de março de 2010 no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ), no show que marcou o feliz retorno do artista aos palcos. Descontraído, Lobo entreteu a plateia lotada com observações e causos engraçados enquanto desfiou seu rosário de pérolas novas e antigas. Pelo fino acabamento da obra, o canto triste do compositor se engrandece em cena. A sensação era a de que todo o público que encheu o teatro saiu de lá embevecido pela oportunidade de assistir a um (raro) show de Lobo, artista habitualmente recluso, fora da mídia.
É fato que o compositor - já sem a memória dos tempos idos - leu as letras da maior parte das 18 músicas. Tal recurso, no entanto, não empanou o brilho do show, feito por Lobo na companhia de uma "banda de mestres", como ele mesmo se referiu ao grupo que o acompanhou em cena sob a liderança do pianista, maestro e diretor musical Cristóvão Bastos. A banda incluía feras como Jurim Moreira (bateria), Jorge Helder (baixo), Lula Galvão (violão), Carlos Malta - brilhante nos sopros que sobressaíram em temas como Angu de Caroço (Edu Lobo e Cacaso) - e Mingo Araújo (percussão). O sexteto embalou com vivacidade a música de Lobo, com espaço para alguns improvisos feitos na dose exata.
Aberto com Vento Bravo, o roteiro seguiu com o frevo-canção No Cordão da Saideira antes de começar a apresentar dez das 12 músicas gravadas no álbum Tantas Marés (as exceções foram Senhora do Rio e o acalanto Primeira Cantiga, registrado no CD em dueto com Mônica Salmaso). Autor das seis letras inéditas apresentadas no disco, Paulo César Pinheiro pegou o espírito melancólico da obra de Lobo ao construir versos reflexivos. Lobo revira memórias com certa nostalgia em temas como a valsa Qualquer Caminho e canção Coração Cigano, destaque da safra nova. As quebradas sinuosas do baião Dança do Corrupião e os contornos do choro Perambulando - temas letrados por Pinheiro, mas já existentes na obra de Lobo - mostraram que, em qualquer época, o cancioneiro do compositor esbanja real sofisticação. Contudo, é justo admitir que os grandes momentos do show - atestados pelo tom mais entusiástico dos aplausos - foram temas de tempos passados. Canto Triste foi um instante sublime pelo sentimento posto pelo autor em doses exatas. Pra Dizer Adeus também se confirmou grandiosa, tendo a música sido repetida no bis com o coro embevecido da plateia (já presente também na primeira apresentação dessa obra-prima). A total interação entre banda e cantor foi atestada pela pulsação de A História de Lily Braun, número em que sobressaiu o saxofone de Carlos Malta (momentos depois, a flauta deste músico extraordinário seria fundamental para moldar o tom vivaz de Ponteio). No fim, Beatriz - num instante mais introspectivo de voz e piano (o de Cristóvão Bastos) - reiterou a grandeza melódica da obra de Lobo (no caso, realçada pela letra igualmente magistral de Chico Buarque). Enfim, um belo show de um compositor que precisa aparecer mais nos palcos (a última apresentação de Edu Lobo no Rio de Janeiro tinha sido em abril de 2007) para que o público possa apreciar mais seu canto triste de paradoxal leveza. A maré do artista continua cheia.
Não acredito que ler as letras em cena seja por força da memória.Não acho legal!Com Edu até passa.Mas com aqueles e aquelas que são apenas cantores é muito feio.Com os que se julgam "intérpretes" é inconcebível,não ha desculpa.Acho o cúmulo da displicência,preguiça e falta de respeito com o público.Fica na cara que no mínimo não houve ensaio suficiente.
Mauro, li seu texto sobre o disco do Edu na Rolling Stone deste mês. Parabéns!
Já na resenha eu vi que Mauro respondeu minhas dúvidas.Mas do album em si não teve resenha né?
Olá, amigos.
Com relação ao fato do Edu estar lendo em cena, não se esqueçam que isso pode aí ser algum resíduo do problema de saúde sério que ele teve (aneurisma cerebral). A Nara Leão também passou a ler as letras das músicas nos seus shows quando a doença se manifestou mais forte nela, sem que ninguém soubesse disso. Torço muito para que não seja o caso, mas não gosto de ver essa cobrança para cima dele. Acho fantástico que ele esteja aí maravilhoso e lúcido para cantar e compor para a gente.
Vou falar uma heresia, mas acho que a interpretação do Edu Lobo para "Beatriz" é melhor do que a do Bituca. Fui às lágrimas quando assisti há pouco tempo em um DVD do Edu Lobo que foi gravado no antigo Mistura Fina da Lagoa Rodrigo de Freitas.
E "Ponteio" com o auxílio luxuoso do Carlos Malta deve ter ficado extraordinário.
Tomara que esse show se repita mais vezes.
abração,
Denilson
O disco é um primor. Edu é tudo de bom e ao vivo, melhor.
Carioca da Piedade, que devido a distância acabou não indo... Uma pena
Prezado Mauro, o novo CD de Edu Lobo me motivou a criar um novo blog. Convido você a ler o que escrevi sobre ele em http://andreluiscamara.wordpress.com
Um abraço.
A quinta estrela é o próprio Edu.
Que bom a Vânia Bastos estar gravando a obra do Edu Lobo. Só traz força para seu trabalho genial de compositor. Ainda mais cantada pela voz maravilhosa e perfeita de Vânia.
Denilson,obrigado pela informação.Agora ninguem cobrou pelo fato de Edu ler as letras.Mesmo porque ele é o maior compositor vivo do Brasil.Esta ali e pode apresentar suas canções da forma que quizer.O cantar é secundario.E tenho certeza que pela personalidade e o caráter desse compositor genial,se ele achasse que não caberia aquele tipo atuação,não o faria.Mas tem muita gente boa que faz isso sem precisar e sem noção de como isso prejudica em sua performance.Principalmente quem se diz interpretar e tem que estar completamente envolvido e ciente por completo da obra que ira executar,letra e melodia.Tem que ir ate alem do decoreba para passar uma verdade emocional para convencer.Abraço!
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