17 de março de 2010

No palco, Baltar concilia bem os Brasis de disco

Resenha de Show
Título: Mariana Baltar
Artista: Mariana Baltar (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 16 de março de 2010
Cotação: * * * *
Em texto dito quase ao fim do show de lançamento de seu segundo disco, Mariana Baltar aborda a variedade de tons e Brasis contidos em seu repertório. Se o (bom) CD Mariana Baltar perde pique lá pelo meio (mais por conta da disposição equivocada das faixas do que pela qualidade do repertório), o show que estreou no Teatro Rival (RJ), na noite de 16 de março de 2010, resulta harmonioso e extremamente bem-cuidado no que diz respeito à iluminação, ao figurinos, aos arranjos e ao roteiro, bem estruturado. No palco, escorada em sua forte presença cênica (evidenciada no gestual bem marcado de cada número) e num azeitado octeto capitaneado pelo diretor musical Josimar Carneiro, Baltar concilia bem os vários Brasis de seu repertório em show que termina sublime com o Jongo do Irmão Café (Wilson Moreira e Nei Lopes) e depois, já no bis, contagiou o público com Tia Eulália na Xiba (Cláudio Jorge e Nei Lopes), número que, em sua repetição, teve a vibração que faltou na abertura do show, quando, possivelmente ainda fria, a cantora não se jogou para valer no ritmo ancestral evocado pelo tema de Cláudio e Nei, destaque do recém-lançado disco de Baltar.
Bem costurado, o roteiro entrelaça onze das doze músicas do novo disco (a exceção é Canções de Menina, de fato dispensável no show) com temas gravados por Baltar em seu primeiro CD, Uma Dama Também Quer se Divertir (2006). Zumbi (Jorge Ben Jor), por exemplo, faz apropriado link afro com Tia Eulália na Xiba. Em elo nordestino, o baião Seção 32 (Vander Lee) antecede Sertão do Vale, o bom baião em que os autores Zé Paulo Becker e Mauro Aguiar se entranham no universo do compositor maranhense João do Vale (1934 - 1996). Na sequência dessa trilha do Brasil mais interiorano, vem o primeiro grande momento do show: Estrada do Sertão. Ao cantar com sentimento os versos postos por Hermínio Bello de Carvalho na melodia de João Pernambuco, Baltar afirma a excelência de seu canto. Além de extremamente afinada, a intérprete sabe compreender as intenções de cada música. Se põe a devida malícia no samba Uva de Caminhão (Assis Valente) e soa moleca como pede a letra do choro Teco-Teco (Pereira da Costa e Milton Villela), Baltar sabe mergulhar no tempo da delicadeza para fazer emergir toda a beleza melódica e poética da Canção Marinha (Luiz Flavio Alcofra e Lenildo Gomes). A Canção Marinha cresce no show (no CD, o tema sobressai menos, talvez por estar alocado no bloco mais calmo do CD). Da mesma forma, a valsa Tudo à Toa (Edu Kneip e Mauro Aguiar) é valorizada no show pela movimentação cênica criada para o número, entoado por Baltar numa cadeira giratória. A luz de Marcelo Linhares valoriza o rodopio da cantora, criando belo efeito visual. Luzes à parte, Baltar exibe grande vivacidade em cena. Ela sabe se movimentar no palco. Tanto que o show inclui número de dança que incrementa o roteiro. Baltar evolui ao som do choro Aguenta, seu Fulgêncio. No fim, Pressentimento (Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho - sem a excelência do registro do disco de 2006) e Samba da Zona (Joyce), este num clima quase de gafieira, esquentam o público para o emocionante fecho com Jongo do Irmão Café, número que remete a um Brasil antigo e negro, também habitado pelo canto límpido de Mariana Baltar entre tons de Brasis mais contemporâneos. Um ótimo show!

7 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em texto dito quase ao fim do show de lançamento de seu segundo disco, Mariana Baltar aborda a variedade de tons e Brasis contidos em seu repertório. Se o (bom) CD Mariana Baltar perde pique lá pelo meio (mais por conta da disposição equivocada das faixas do que pela qualidade do repertório), o show que estreou no Teatro Rival (RJ), na noite de 16 de março de 2010, resulta harmonioso e extremamente bem-cuidado no que diz respeito à iluminação, ao figurinos, aos arranjos e ao roteiro, bem estruturado. No palco, escorada em sua forte presença cênica (evidenciada no gestual bem marcado de cada número) e num azeitado octeto capitaneado pelo diretor musical Josimar Carneiro, Baltar concilia bem os vários Brasis de seu repertório em show que termina sublime com o Jongo do Irmão Café (Wilson Moreira e Nei Lopes) e depois, já no bis, contagiou o público com Tia Eulália na Xiba (Cláudio Jorge e Nei Lopes), número que, em sua repetição, teve a vibração que faltou na abertura do show, quando, possivelmente ainda fria, a cantora não se jogou para valer no ritmo ancestral evocado pelo tema de Cláudio e Nei, destaque do recém-lançado disco de Baltar.
Bem costurado, o roteiro entrelaça onze das doze músicas do novo disco (a exceção é Canções de Menina, de fato dispensável no show) com temas gravados por Baltar em seu primeiro CD, Uma Dama Também Quer se Divertir (2006). Zumbi (Jorge Ben Jor), por exemplo, faz apropriado link afro com Tia Eulália na Xiba. Em elo nordestino, o baião Seção 32 (Vander Lee) antecede Sertão do Vale, o bom baião em que os autores Zé Paulo Becker e Mauro Aguiar se entranham no universo do compositor maranhense João do Vale (1934 - 1996). Na sequência dessa trilha do Brasil mais interiorano, vem o primeiro grande momento do show: Estrada do Sertão. Ao cantar com sentimento os versos postos por Hermínio Bello de Carvalho na melodia de João Pernambuco, Baltar afirma a excelência de seu canto. Além de extremamente afinada, a intérprete sabe compreender as intenções de cada música. Se põe a devida malícia no samba Uva de Caminhão (Assis Valente) e soa moleca como pede a letra do choro Teco-Teco (Pereira da Costa e Milton Villela), Baltar sabe mergulhar no tempo da delicadeza para fazer emergir toda a beleza melódica e poética da Canção Marinha (Luiz Flavio Alcofra e Lenildo Gomes). A Canção Marinha cresce no show (no CD, o tema sobressai menos, talvez por estar alocado no bloco mais calmo do CD). Da mesma forma, a valsa Tudo à Toa (Edu Kneip e Mauro Aguiar) é valorizada no show pela movimentação cênica criada para o número, entoado por Baltar numa cadeira giratória. A luz de Marcelo Linhares valoriza o rodopio da cantora, criando belo efeito visual. Luzes à parte, Baltar exibe grande vivacidade em cena. Ela sabe se movimentar no palco. Tanto que o show inclui número de dança que incrementa o roteiro. Baltar evolui ao som do choro Aguenta, seu Fulgêncio. No fim, Pressentimento (Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho - sem a excelência do registro do disco de 2006) e Samba da Zona (Joyce), este num clima quase de gafieira, esquentam o público para o emocionante fecho com Jongo do Irmão Café, número que remete a um Brasil antigo e negro, também habitado pelo canto límpido de Mariana Baltar entre tons de Brasis mais contemporâneos. Um ótimo show!

17 de março de 2010 às 14:25  
Anonymous Barci said...

É bom ver essa simpatia de pessoa sair do mundo neo-chique do Estrela da Lapa/Carioca da Gema/Centro Cultural Carioca.

Lotou ?
Qual a expectativa pra Samba ?
Vem pros SESCs ?

17 de março de 2010 às 14:28  
Anonymous Anônimo said...

Mas só depois que ela regravou " Pressentimento " em 2006 que muitas,como Roberta Sá e até Alcione, voltaram a jogar luz nesse classico Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho

17 de março de 2010 às 15:57  
Anonymous Anônimo said...

Te manca, 15:57!
Essa música é MUITO regravada! Não foi por causa de Mariana Baltar.
Grande parte do Brasil ainda não descobriu a Mariana.

17 de março de 2010 às 19:39  
Blogger Unknown said...

Oi, turma do blog,

Hoje não venho aqui para falar exatamente de mim.

Houve um problema qualquer na gravação da ficha técnica do show e o nome da Dani Cavanellas, que assina a direção de movimento, não foi sequer mencionado.
Muitas das idéias cênicas são minhas, mas ter o olhar de uma profissional como ela foi absolutamente fundamental.

Muito obrigada, Dani.

Mauro, obrigada pelo espaço, pela presença no show e pela crítica.

Quando alguém me diz que tudo está absolutamente perfeito, eu não acredito. Isso é impossível! Mas estávamos inteiros (eu e toda a equipe) e sabíamos o que queríamos fazer. E isso conta muito!

Ufa!

Boa noite,

Mariana Baltar

17 de março de 2010 às 23:07  
Anonymous Anônimo said...

Adoraria ver e ouvir Mariana cantando os GRANDES NOMES da MPB antiga..acho que seria um super projeto... Candeia, Assis Valente, Ary Barroso, Lupicinio Rodrigues, Lamartine, Ataulfo.... enfim...acho que a voz dessa incrivel cantora serviria para apresentar tais compositores a uma geração mais nova.

18 de março de 2010 às 15:42  
Anonymous Anônimo said...

Mauro como sempre ótimo e sensível crítico, mas péssimo fotógrafo, parece que ele escolhe o pior momento do artista e a pior luz, vai lá e clica!

19 de março de 2010 às 01:11  

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