6 de fevereiro de 2010

Alexandre honra dinastia Gismonti com seu trio

Resenha de CD
Título: Baião de
Domingo
Artista: Alexandre
Gismonti Trio
Gravadora: Fina Flor
Cotação: * * * * 1/2

Basta uma única audição do primeiro disco do violonista Alexandre Gismonti, Baião de Domingo, para entender o (justo) entusiasmo de Gilberto Gil no texto que escreveu para o encarte. "Chega a ser uma proeza acreditar no que estamos ouvindo. Ou se estamos mesmo ouvindo o que estas gravações mediaram para nós: dedos de carne e osso de um lado, e nossos ouvidos incrédulos e extasiados, do outro. Estas gravações colocam ao nosso alcance o milagre da música despencando do alto de sua morada celeste para nos atingir em cheio, corpo e alma, sem apelação. Alexandre, como um menino mago, vai mexendo, desassustado, em tudo em que ele encontra nessa morada celestial da música, escolhendo entre os brinquedos os que mais se parecem com os da sua morada terrena: o samba, o baião, o choro, a toada, a velha canção. Tudo que seu pai - primeiro mestre - lhe ensinou a admirar", festeja - metafórico - Gil.

Gil não exagera. Como líder e arranjador de seu entrosado trio, integrado por Felipe Cotta (percussão) e Mayo Pamplona (baixo), Alexandre honra a dinastia Gismonti - e seu pai, para quem ainda não sabe, é o mestre Egberto - e se impõe de cara como o mais novo grande talento de uma corrente de violonista brasileiros que já rendeu virtuoses como Garoto (1915 - 1955), Baden Powell (1937 - 2000), Raphael Rabello (1962 - 1995) e Yamandú Costa. Produzido por Ruy Quaresma para a gravadora carioca Fina Flor, Baião de Domingo é o primeiro disco de Alexandre editado no mercado brasileiro (com o pai Egberto, ele já lançou o CD Duets no exterior). Como já sinaliza o título Baião de Domingo, nome também de uma das seis inéditas autorais apresentadas por Alexandre no disco, o Nordeste fornece a matéria-prima rítmica para que o violonista possa expor sua criatividade em temas próprios - como Arrasta-Pé e Forrozinho - e alheios, casos de Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e de Feira de Mangaio. Nesta parceria de Sivuca (1930 - 2006) com Glorinha Gadelha, propagada em 1979 na voz de Clara Nunes (1942 - 1983), Gismonti transpõe para seu violão a vivacidade rítmica que, nas gravações anteriores do tema, ficava a cargo da sanfona. De sólida formação clássica, o músico toca um violão firme e precocemente maduro que consegue evocar tanto lirismo (como em Saudades, o tema de Alexandre que encerra o disco) como pôr o devido molho brasileiro em sambas como Saudade da Bahia, do seminal Dorival Caymmi (1914 - 2008). Enfim, Baião de Domingo é um grande disco de um violonista que tem tudo para inscrever seu nome de forma definitiva na galeria mais nobre da música brasileira. Anote!

2 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Basta uma única audição do primeiro CD do violonista Alexandre Gismonti, Baião de Domingo, para entender o (justo) entusiasmo de Gilberto Gil no texto que escreveu para o encarte. "Chega a ser uma proeza acreditar no que estamos ouvindo. Ou se estamos mesmo ouvindo o que estas gravações mediaram para nós: dedos de carne e osso de um lado, e nossos ouvidos incrédulos e extasiados, do outro. Estas gravações colocam ao nosso alcance o milagre da música despencando do alto de sua morada celeste para nos atingir em cheio, corpo e alma, sem apelação. Alexandre, como um menino mago, vai mexendo, desassustado, em tudo em que ele encontra nessa morada celestial da música, escolhendo entre os brinquedos os que mais se parecem com os da sua morada terrena: o samba, o baião, o choro, a toada, a velha canção. Tudo que seu pai - primeiro mestre - lhe ensinou a admirar", festeja - metafórico - Gil.

Gil não exagera. Como líder e arranjador de seu entrosado trio, integrado por Felipe Cotta (percussão) e Mayo Pamplona (baixo), Alexandre honra a dinastia Gismonti - e seu pai, para quem ainda não sabe, é o mestre Egberto - e se impõe de cara como o mais novo grande talento de uma corrente de violonista brasileiros que já rendeu virtuoses como Garoto (1915 - 1955), Baden Powell (1936 - 2000), Raphael Rabello (1962 - 1995) e Yamandú Costa. Produzido por Ruy Quaresma para a gravadora carioca Fina Flor, Baião de Domingo é o primeiro disco de Alexandre editado no mercado brasileiro (com o pai Egberto, ele já lançou o CD Duets no exterior). Como já sinaliza o título Baião de Domingo, nome também de uma das seis inéditas autorais apresentadas por Alexandre no disco, o Nordeste fornece a matéria-prima rítmica para que o violonista possa expor sua criatividade em temas próprios - como Arrasta-Pé e Forrozinho - e alheios, casos de Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e de Feira de Mangaio. Nesta parceria de Sivuca (1930 - 2006) com Glorinha Gadelha, propagada em 1979 na voz de Clara Nunes (1942 - 1983), Gismonti transpõe para seu violão a vivacidade rítmica que, nas gravações anteriores do tema, ficava a cargo da sanfona. De sólida formação clássica, o músico toca um violão firme e precocemente maduro que consegue evocar tanto lirismo (como em Saudades, o tema de Alexandre que encerra o disco) como pôr o devido molho brasileiro em sambas como Saudade da Bahia, do seminal Dorival Caymmi (1914 - 2008). Enfim, Baião de Domingo é um grande disco de um violonista que tem tudo para inscrever seu nome de forma definitiva na galeria mais nobre da música brasileira. Anote!

6 de fevereiro de 2010 às 10:09  
Anonymous luiz woodstock said...

Mauro, eu acompanho seu blog a muito tempo, hoje tomei a liberdade de postar esta sua materia em meu blog, caso tenha algum problema favor entrar em contato end do meu blog: http://luizwoostock.blogspot.com/
LUIZ WOODSTOCK.

11 de fevereiro de 2010 às 13:26  

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