12 de dezembro de 2009

Filhos conferem dignidade ao baile do Simonal

Resenha de CD / DVD
Título: O Baile do Simonal
Artistas: Alexandre Pires, Caetano Veloso, Diogo
Nogueira, Ed Motta, Fernanda Abreu, Frejat, Lulu
Santos, Marcelo D2, Maria Rita, Mart'nália, Max de
Castro, Orquestra Imperial, Paralamas do Sucesso,
Péricles, Rogério Flausino, Samuel Rosa, Sandra de Sá,
Seu Jorge, Thiaguinho e Wilson Simoninha
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * *

É justo admitir de cara: o Baile do Simonal é ótimo. Embora o objetivo oportunista desta gravação ao vivo editada pela EMI Music seja faturar com a redescoberta da obra de Wilson Simonal (1938 - 2000), motivada pelo documentário Simonal Ninguém Sabe o Duro que Dei (2008), o resultado supera expectativas. O êxito é oriundo do envolvimento dos filhos do cantor, Max de Castro e Wilson Simoninha, na produção e na direção musical do show captado em 11 de agosto de 2009 na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ). Já em País Tropical - celebrado por Seu Jorge - fica nítido que os arranjos são totalmente fiéis ao som suingado da Pilantragem, o pseudo-movimento que ampliou a popularidade de Simonal no fim dos anos 60. Certeza reiterada quando Samuel Rosa (em bissexta gravação solo) entra em cena para pilotar majestosamente Carango com o mesmo gás roqueiro usado em doses maiores pelos Paralamas do Sucesso ao conduzir Mustang Cor de Sangue. Mas há ousadias. Mais fiel à sua ideologia hip hop do que ao estilo do homenageado, Marcelo D2 põe seu rap em Nem Vem que Não Tem. Igualmente à vontade, Mart'nália celebra a popularidade com as garotas em Mamãe Passou Açúcar em mim. Já Simoninha mostra que é legítimo herdeiro musical do pai ao reviver Aqui É o País do Futebol e Tributo a Martin Luther King (número exclusivo do DVD). Cantor do Jota Quest, Rogério Flausino - em sua primeira gravação solo - é prejudicado por música (Meia-Volta, de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar) menos inspirada. Na sequência, Fernanda Abreu mostra que se garante no país do suingue ao defender o samba A Tonga da Mironga do Kabuletê enquanto Max de Castro procura evocar o carisma do pai ao comandar a plateia em reverente leitura de Meu Limão Meu Limoeiro. Empolga. "Meio tom acima... Agora em reggae... Olha o champignon... Agora vamos em jazz...", ordena ora para a plateia, ora para a big-band, numa comunicação facilitada pelo balanço irresistível deste clássico da fase pilantra da obra de Simonal. Que começou linkado à bossa nova - o que justifica as presenças no roteiro de Lobo Bobo (a cargo de Ed Motta, em clima de samba-jazz) e de Balanço Zona Sul (na voz excessivamente calorosa de Sandra de Sá). Embalado pelos metais que remetem a um clima de gafieira, Diogo Nogueira recorda Está Chegando a Hora em tons elevados. Os metais também garantem o balanço de Vesti Azul, cantada por Frejat com direito a um solo roqueiro de guitarra. Já os pagodeiros Péricles e Thiaguinho - presenças provavelmente impostas pela EMI - unem forças e vozes em Na Galha do Cajueiro sem comprometer. Por seu turno, por mais que exiba sua técnica irretocável, Maria Rita parece fora do tom de Simonal em Que Maravilha (uma surpresa, pois a cantora entrou totalmente no clima ao saudar a turma da Pilantragem em dueto gravado com Ed Motta para o recém-lançado 13º álbum do cantor, Piquenique). Também intencionalmente fora do tom está a Orquestra Imperial, que revive o cha cha cha Terezinha à sua moda. Completam o elenco Caetano Veloso (meramente correto no samba Remelexo), Alexandre Pires (escorado na ginga envolvente de Sá Marina) e Lulu Santos (que reinventa Zazueira em registro de estúdio, já deslocado para seu novo disco, Singular, nas lojas nos próximos dias). Enfim, com muito mais altos do que baixos, o Baile do Simonal honra o repertório do cantor graças ao envolvimento reverente e criterioso dos filhos do artista ora reabilitado na cena.

5 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

É justo admitir de cara: o Baile do Simonal é ótimo. Embora o objetivo oportunista desta gravação ao vivo editada pela EMI Music seja faturar com a redescoberta da obra de Wilson Simonal (1938 - 2000), motivada pelo documentário Simonal Ninguém Sabe o Duro que Dei (2008), o resultado supera expectativas. O êxito é oriundo do envolvimento dos filhos do cantor, Max de Castro e Wilson Simoninha, na produção e na direção musical do show captado em 11 de agosto de 2009 na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ). Já em País Tropical - celebrado por Seu Jorge - fica nítido que os arranjos são totalmente fiéis ao som suingado da Pilantragem, o pseudo-movimento que ampliou a popularidade de Simonal no fim dos anos 60. Certeza reiterada quando Samuel Rosa (em bissexta gravação solo) entra em cena para pilotar majestosamente Carango com o mesmo gás roqueiro usado em doses maiores pelos Paralamas do Sucesso ao conduzir Mustang Cor de Sangue. Mas há ousadias. Mais fiel à sua ideologia hip hop do que ao estilo do homenageado, Marcelo D2 põe seu rap em Nem Vem que Não Tem. Igualmente à vontade, Mart'nália celebra a popularidade com as garotas em Mamãe Passou Açúcar em mim. Já Simoninha mostra que é legítimo herdeiro musical do pai ao reviver Aqui É o País do Futebol e Tributo a Martin Luther King (número exclusivo do DVD). Cantor do Jota Quest, Rogério Flausino - em sua primeira gravação solo - é prejudicado por música (Meia-Volta, de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar) menos inspirada. Na sequência, Fernanda Abreu mostra que se garante no país do suingue ao defender o samba A Tonga da Mironga do Kabuletê enquanto Max de Castro procura evocar o carisma do pai ao comandar a plateia em reverente leitura de Meu Limão Meu Limoeiro. Empolga. "Meio tom acima... Agora em reggae... Olha o champignon... Agora vamos em jazz...", ordena ora para a plateia, ora para a big-band, numa comunicação facilitada pelo balanço irresistível deste clássico da fase pilantra da obra de Simonal. Que começou linkado à bossa nova - o que justifica as presenças no roteiro de Lobo Bobo (a cargo de Ed Motta, em clima de samba-jazz) e de Balanço Zona Sul (na voz excessivamente calorosa de Sandra de Sá). Embalado pelos metais que remetem a um clima de gafieira, Diogo Nogueira recorda Está Chegando a Hora em tons elevados. Os metais também garantem o balanço de Vesti Azul, cantada por Frejat com direito a um solo roqueiro de guitarra. Já os pagodeiros Péricles e Thiaguinho - presenças provavelmente impostas pela EMI - unem forças e vozes em Na Galha do Cajueiro sem comprometer. Por seu turno, por mais que exiba sua técnica irretocável, Maria Rita parece fora do tom de Simonal em Que Maravilha (uma surpresa, pois a cantora entrou totalmente no clima ao saudar a turma da Pilantragem em dueto gravado com Ed Motta para o recém-lançado disco do cantor, Piquenique). Também intencionalmente fora do tom está a Orquestra Imperial, que revive o cha cha cha Terezinha à sua moda. Completam o elenco Caetano Veloso (meramente correto no samba Remelexo), Alexandre Pires (escorado na ginga envolvente de Sá Marina) e Lulu Santos (que reinventa Zazueira em registro de estúdio, já deslocado para seu novo disco, Singular, nas lojas nos próximos dias). Enfim, com muito mais altos do que baixos, o Baile do Simonal honra o repertório do cantor graças ao envolvimento reverente e criterioso dos filhos do artista ora reabilitado na cena.

12 de dezembro de 2009 às 12:34  
Anonymous Anônimo said...

Sandra de Sá parece que a cada dia que passa desaprende a cantar. Ela só sabe gritar e a voz naõa guenta e cansa. Maria Rita cantou fora do tom e Marcelo D2 faz a gente querer pular a faixa logo no começo, deveria receber o troféu do cara mais chato da música brasileira. Sinceramente Mauro. Prefiro os registros originais do velho Simona...

12 de dezembro de 2009 às 14:45  
Anonymous Anônimo said...

Não gosto de ver Sandra de Sá pagando de sambista ...
Aliás e o tal album que ela anda gravando há 5/6 anos ?

14 de dezembro de 2009 às 00:03  
Blogger Julio said...

Sou Colecionador e pesquisador de musica (10.000 CDs + outras mídias). Possuo toda obra do Wilson Simonal. Não conhecia este DVD que assisti na TV nesta sexta-feira. È lamentável a qualidade deste trabalho, seja por seleção das musicas, cantores e arranjos, podem ser diferentes, mas não se aproxima dos arranjos feitos para o Simonal em seus discos como Maestro Briamonte, Lyrio Panicalli, Eumir Deodato e outros. Não se esquecendo da qualidade de improvisador de Simonal. Vejam aquela musica usada em rodas de criança, Terezinha de Jesus (que transformação). Embora a boa intenção dos seus filhos. A obra mereceria outros critérios.

Critico de blog

14 de dezembro de 2009 às 02:52  
Blogger Sandro CS said...

Reconduzir o Wilson Simonal ao seu devido posto de um dos grandes da música brasileira foi um dos maiores méritos do documentário do Cláudio Manoel e cia.
É também digno de elogios a emocionante devoção do Max e do Simoninha no resgate da imagem artística do pai (as questões pessoais relacionadas ao cantor ainda são um enigma...)
Mas, cá entre nós, esses pseudo tributos (Cazuza, Tim Maia, Raul Seixas...) já cansaram. Além de sempre soarem oportunistas, apenas nos fazem lembrar o quanto as versões originais são infinitamente melhores.

15 de dezembro de 2009 às 11:25  

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