Ed faz 'Piquenique' pop com inspiração parcial
Resenha de CD
Título: Piquenique
Artista: Ed Motta
Gravadora: Trama
Cotação: * * *
Ao trocar a gravadora Universal Music pela Trama, em 2003, Ed Motta se valeu da liberdade artística concedida pela companhia dirigida por João Marcelo Bôscoli para fazer uma série de discos descompromissados com o sucesso comercial - atitude, a rigor, tomada quando Ed ainda estava na Universal e arriscou álbum quase inteiramente instrumental (Dwitza, 2002). Na Trama, o cantor flertou com o samba-jazz (Aystelum, 2005) e se permitiu um CD inteiramente cantado em inglês (Chapter 9, 2008). Pagou um preço pela liberdade, cobrado com a queda de popularidade. Nas lojas no começo de dezembro, Piquenique tenta recuperar essa popularidade com repertório desencanado. O título do disco já traduz a alegria que pontua as 12 inéditas. Em Poptical, álbum de 2003, o cantor ensaiou guinada pop, mas não foi tão radical quanto em Piquenique, disco que marca a estreia da parceria do artista com sua mulher, Edna Lopes, autora de onze das 12 letras, escritas no tom feliz que domina o CD. Edna estreia bem na função.
Bem produzido pelo próprio Ed Motta, em parceria com Silvera, Piquenique flagra Ed imerso em grooves de funk e soul que remetem ao seu início de carreira. Músicas como Minha Vida Toda com Você e Mensalidade poderão dar ao artista novo passe nos bailes da pesada, nos quais ele andou barrado nos últimos tempos. Assim como a faixa-título, gravada com vocais de Marya Bravo. Contudo, há mais requinte harmônico, fruto da evolução da discografia e Ed desde 1988, ano em que ele surgiu no comando da Conexão Japeri. A sofisticação é perceptível na base de A Turma da Pilantragem - faixa de alto teor erótico na qual Ed celebra com Maria Rita o som que deu popularidade a Wilson Simonal (1938 - 2000) - e na moldura da linda balada Carência no Frio, urdida por Ed e Silvera com mix de sons analógicos e eletrônicos. O fino acabamento instrumental não dilui a pegada popular de boa parte das músicas. "Pôs o pé na jaca / De pirraça / Ficou sem noção / Pra não ter ressaca / Pôs na taça / Muito gelo e limão", canta Ed no refrão de Pé no Jaca, o (provável) hit do disco.
O problema é que Ed fez seu Piquenique com inspiração parcial. A primeira metade é exemplar, mas, a partir da sétima faixa, o nível do repertório inédito cai bastante. E nem mesmo Nefertiti - a terceira parceria de Ed com Rita Lee - consegue cativar de fato. A letra de Rita é deliciosa, só que a melodia de Ed não reedita a felicidade de Fora da Lei (1997) e Colombina (2000). O Mestre e o Aprendiz (faixa de versos esotéricos), Compromisso (balada soul) e Bel Prazer (tema no qual Ed se exercita na arte dos scats) deixam Piquenique menos animado. Sensação corroborada pelas duas últimas faixas, Nicole Versus Ching e Tanto Faz, ambas chatas. No entanto, justiça seja feita, as iguarias iniciais do cardápio pop dão sabor a Piquenique e mostram que Ed Motta é bem mais feliz quando segue à risca seu manual prático para festas, bailes e afins.
Título: Piquenique
Artista: Ed Motta
Gravadora: Trama
Cotação: * * *
Ao trocar a gravadora Universal Music pela Trama, em 2003, Ed Motta se valeu da liberdade artística concedida pela companhia dirigida por João Marcelo Bôscoli para fazer uma série de discos descompromissados com o sucesso comercial - atitude, a rigor, tomada quando Ed ainda estava na Universal e arriscou álbum quase inteiramente instrumental (Dwitza, 2002). Na Trama, o cantor flertou com o samba-jazz (Aystelum, 2005) e se permitiu um CD inteiramente cantado em inglês (Chapter 9, 2008). Pagou um preço pela liberdade, cobrado com a queda de popularidade. Nas lojas no começo de dezembro, Piquenique tenta recuperar essa popularidade com repertório desencanado. O título do disco já traduz a alegria que pontua as 12 inéditas. Em Poptical, álbum de 2003, o cantor ensaiou guinada pop, mas não foi tão radical quanto em Piquenique, disco que marca a estreia da parceria do artista com sua mulher, Edna Lopes, autora de onze das 12 letras, escritas no tom feliz que domina o CD. Edna estreia bem na função.
Bem produzido pelo próprio Ed Motta, em parceria com Silvera, Piquenique flagra Ed imerso em grooves de funk e soul que remetem ao seu início de carreira. Músicas como Minha Vida Toda com Você e Mensalidade poderão dar ao artista novo passe nos bailes da pesada, nos quais ele andou barrado nos últimos tempos. Assim como a faixa-título, gravada com vocais de Marya Bravo. Contudo, há mais requinte harmônico, fruto da evolução da discografia e Ed desde 1988, ano em que ele surgiu no comando da Conexão Japeri. A sofisticação é perceptível na base de A Turma da Pilantragem - faixa de alto teor erótico na qual Ed celebra com Maria Rita o som que deu popularidade a Wilson Simonal (1938 - 2000) - e na moldura da linda balada Carência no Frio, urdida por Ed e Silvera com mix de sons analógicos e eletrônicos. O fino acabamento instrumental não dilui a pegada popular de boa parte das músicas. "Pôs o pé na jaca / De pirraça / Ficou sem noção / Pra não ter ressaca / Pôs na taça / Muito gelo e limão", canta Ed no refrão de Pé no Jaca, o (provável) hit do disco.
O problema é que Ed fez seu Piquenique com inspiração parcial. A primeira metade é exemplar, mas, a partir da sétima faixa, o nível do repertório inédito cai bastante. E nem mesmo Nefertiti - a terceira parceria de Ed com Rita Lee - consegue cativar de fato. A letra de Rita é deliciosa, só que a melodia de Ed não reedita a felicidade de Fora da Lei (1997) e Colombina (2000). O Mestre e o Aprendiz (faixa de versos esotéricos), Compromisso (balada soul) e Bel Prazer (tema no qual Ed se exercita na arte dos scats) deixam Piquenique menos animado. Sensação corroborada pelas duas últimas faixas, Nicole Versus Ching e Tanto Faz, ambas chatas. No entanto, justiça seja feita, as iguarias iniciais do cardápio pop dão sabor a Piquenique e mostram que Ed Motta é bem mais feliz quando segue à risca seu manual prático para festas, bailes e afins.
7 Comments:
Maria Rita não é convidada a faixa "A turma da Pilantragem"? Fiquei em dúvida ao ver que não foi citada no texto...
Anderson Falcão
Brasília - DF
Tem razão, Anderson. Eu ia escrever o nome dela, mas acabei esquecendo. Grato pelo toque. Abs, MauroF
Canta tão bem, mais tão bem! Que cansa...
Adoro!
http://vidasemmusicaenada.blogspot.
Os dois últimos cds dele eu achei mei ochato, mas adorei o Dwitza. Aguardo ansioso por esse novo cd. Pois como trabalho numa loja de cds, vou ouvir o dia inteiro com muito prazer.
Pequena correção: 'Dwitza' (2002) foi lançado quando Ed ainda estava na Universal Music. 'Poptical' foi o primeiro pela Trama.
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E "Tanto Faz" não é chata. O fato dela ser a última do CD talvez a deixe 'menor' em relação às outras, mas o groove está ali! Guitarras altamente ritmícas e refrão grudento!
A comparação na carreira de um artista sempre será injusta, ainda mais em se tratando de Ed Motta, que sempre procura arriscar musicalidade que está a frente do nosso entendimento!!
Eu torço muito para que esse novo disco do Ed, que já vem sendo mal conduzido pela gravadora, alcance sucesso proporcional à dedicação aplicada em cada música!
"Tanto faz" é uma das minhsa prediletas, sinto pitadas do "Entre e ouça" nessa faixa!
Abração, Mauro!
Daniel Duarte
Obrigado, Marcelo. Você tem razão. É que o Dwitza tem tanto a cara da Trama que eu me confundi. Mas já corrigi o texto. Abs, grato pela observação. MauroF
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