5 de julho de 2009

Zélia faz show leve com sons e gestos saborosos

Resenha de Show
Título: Pelo Sabor do Gesto
Artista: Zélia Duncan (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Theatro Municipal de Niterói (RJ)
Data: 4 de julho de 2009
Cotação: * * * * *
Em cartaz em Niterói (5 de julho no Theatro Municipal de Niterói),
em São Paulo (31 de julho e 1º de agosto no Citibank Hall) e Rio de
Janeiro (29 de agosto no Canecão) em turnê que segue pelo Brasil

Zélia Duncan reedita no show Pelo Sabor do Gesto a delicadeza elegante do álbum que o inspirou. O show - que estreou na noite de sábado, 4 de julho de 2009, no principal teatro de Niterói, cidade natal da artista - confirma o excelente momento de Zélia. Talvez pelo fato de ser dirigida em cena por uma atriz, Ana Beatriz Nogueira, a cantora nunca esteve tão leve, linda e solta no palco. Escorada na direção musical do baixista Ézio Filho, quase sempre hábil na intenção de tranpor para o show a sonoridade suave do disco (urdida pelos produtores Beto Villares e John Ulhoa), Zélia seduz o espectador com espetáculo moldado com sons e gestos saborosos. É emocionante, por exemplo, a iniciativa de traduzir a letra de Todos os Verbos (parceria de Zélia com Marcelo Jeneci) para a linguagem dos deficientes auditivos em singela homenagem a uma fã portuguesa, Marta Morgado, que driblou problemas de audição ao tomar contato com a música de Zélia. Tocou o público.

Iluminada com sensibilidade por Aurélio de Simoni, Zélia Duncan apresenta no show todas as 14 músicas do CD Pelo Sabor do Gesto. É ato de coragem que expressa a confiança da artista neste trabalho tão renovador. A faixa-título, que Zélia canta sentada enquanto toca violão, é o número que traduz com perfeição o espírito leve e poético do disco. Mas as demais canções também chegam envolventes ao palco. Boas Razões, Ambição (a obscura canção de Rita Lee que soa ainda mais sedutora em cena), Telhados de Paris, Se Um Dia me Quiseres... As novas músicas vão sendo apresentadas em roteiro redondo - veja post abaixo - e nem parece que elas são novas para o público da artista. Intimidade, parceria de Zélia com Christiaan Oyens que em 1996 deu título ao terceiro álbum da cantora, é a primeira música fora do disco a ser apresentada. E, nela, fica especialmente perceptível a graciosa movimentação de Zélia em cena. E o que dizer de Tudo Sobre Você? Seu acabamento pop é tão perfeito que a platéia interage imediata e espontaneamente com a cantora no número (repetido no bis após Benditas), acompanhando a letra e marcando com palmas o ritmo dessa primeira parceria de Zélia com John Ulhoa.

Zélia enfatiza no roteiro as músicas de Pelo Sabor do Gesto, mas extrapola o repertório do disco com boas sacadas que ratificam sua capacidade de incursionar por repertório alheio sem nunca cair no óbvio. Quem se lembraria de I Love You, fox maroto e irônico, perdido entre tantos clássicos lançados por Roberto Carlos em seu álbum de 1971? Pois Zélia lembrou e presta seu tributo aos 50 anos de carreira do Rei com abordagem lúdica do tema, ao fim do qual simula um instrumento de sopro com a boca. Permeia I Love You a mesma fina ironia que pontua Felicidade, outro número off-disco. Envolta em barulhinhos bons feitos pela banda, Zélia quase recita os versos de Luiz Tatit. Esse tom meio confessional seria bisado em Duas Namoradas, a inédita de Itamar Assumpção (1949 - 2003) - feita em parceria com Alice Ruiz - que Zélia desvenda em seu oitavo álbum solo. Ainda dentro do universo indie, Defeito 10: Cedotardar expõe a verve de Tom Zé, parceiro de Moacyr Albuquerque neste tema já lapidado por Thaís Gulin, cantora emergente, em seu primeiro álbum, de 2006.

Enfim, um show lindo e redondo. Coesão perceptível nos vocais harmoniosos de Os Dentes Brancos do Mundo (a jóia que Zélia encontrou no baú dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle), na economia quase silenciosa de Sinto Encanto (pérola atual de Zélia com Moska) e no suingue bailante que desabrocha em Flores. No fim, há sensível homenagem a Michael Jackson (1958 - 2009) - "Uma pessoa tão revolucionária quanto solitária" - com Nem Tudo, uma das duas parcerias de Zélia com Edu Tedeschi (a outra, Aberto, cresce no show). E é com o último apropriado verso dessa música, "Nem tudo que acaba aqui deixa de ser infinito", que Zélia encerra o show, então já certa de que sua saída de cena não tira do espectador a sensação de leveza deixada por esse espetáculo de sons e gestos saborosos que, a partir de julho, percorrerá o Brasil.

9 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Zélia Duncan reedita no show Pelo Sabor do Gesto a delicadeza elegante do álbum que o inspirou. O show - que estreou na noite de sábado, 4 de julho de 2009, no principal teatro de Niterói, cidade natal da artista - confirma o excelente momento de Zélia. Talvez pelo fato de ser dirigida em cena por uma atriz, Ana Beatriz Nogueira, a cantora nunca esteve tão leve, linda e solta no palco. Escorada na direção musical do baixista Ézio Filho, quase sempre hábil na intenção de tranpor para o show a sonoridade suave do disco (urdida pelos produtores Beto Villares e John Ulhoa), Zélia seduz o espectador com espetáculo moldado com sons e gestos saborosos. É emocionante, por exemplo, a iniciativa de traduzir a letra de Todos os Verbos (parceria de Zélia com Marcelo Jeneci) para a linguagem dos deficientes auditivos em singela homenagem a uma fã portuguesa, Marta Morgado, que driblou problemas de audição ao tomar contato com a música de Zélia. Tocou o público.

Iluminada com sensibilidade por Aurélio de Simoni, Zélia Duncan apresenta no show todas as 14 músicas do CD Pelo Sabor do Gesto. É ato de coragem que expressa a confiança da artista neste trabalho tão renovador. A faixa-título, que Zélia canta sentada enquanto toca violão, é número que traduz com perfeição o espírito leve e poético do disco. Mas as demais canções também chegam envolventes ao palco. Boas Razões, Ambição (a obscura canção de Rita Lee que soa ainda mais sedutora em cena), Telhados de Paris, Se Um Dia me Quiseres... As novas músicas vão sendo apresentadas em roteiro redondo - veja post abaixo - e nem parece que elas são novas para o público da artista. Intimidade, parceria de Zélia com Christiaan Oyens que em 1996 deu título ao terceiro álbum da cantora, é a primeira música fora do disco a ser apresentada. E, nela, fica especialmente perceptível a graciosa movimentação de Zélia em cena. E o que dizer de Tudo Sobre Você? Seu acabamento pop é tão perfeito que a platéia interage imediata e espontaneamente com a cantora no número (repetido no bis após Benditas), acompanhando a letra e marcando com palmas o ritmo dessa primeira parceria de Zélia com John Ulhoa.

Zélia enfatiza no roteiro as músicas de Pelo Sabor do Gesto, mas extrapola o repertório do disco com boas sacadas que ratificam sua capacidade de incursionar por repertório alheio sem nunca cair no óbvio. Quem se lembraria de I Love You?, fox maroto e irônico, perdido entre tantos clássicos lançados por Roberto Carlos em seu álbum de 1971? Pois Zélia lembrou e presta seu tributo aos 50 anos de carreira do Rei com abordagem lúdica do tema, ao fim do qual simula um instrumento de sopro com a boca. Permeia I Love You a mesma fina ironia que pontua Felicidade, outro número off-disco. Envolta em barulhinhos bons feitos pela banda, Zélia quase recita os versos de Luiz Tatit. Esse tom meio confessional seria bisado em Duas Namoradas, a inédita de Itamar Assumpção (1949 - 2003) - feita em parceria com Alice Ruiz - que Zélia desvenda em seu oitavo álbum solo. Ainda dentro do universo indie, Defeito 10: Cedotardar expõe a verve de Tom Zé, parceiro de Moacyr Albuquerque neste tema já lapidado por Thaís Gullin, cantora emergente, em seu primeiro álbum, de 2006.

Enfim, um show lindo e redondo. Coesão perceptível nos vocais harmoniosos de Os Dentes Brancos do Mundo (a jóia que Zélia encontrou no baú dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle), na economia quase silenciosa de Sinto Encanto (pérola atual de Zélia com Moska) e no suingue bailante que desabrocha em Flores. No fim, há sensível homenagem a Michael Jackson (1958 - 2009) - "Uma pessoa tão revolucionária quanto solitária" - com Nem Tudo, uma das duas parcerias de Zélia com Edu Tedeschi (a outra, Aberto, cresce no show). E é com o último apropriado verso dessa música, "Nem tudo que acaba aqui deixa de ser infinito", que Zélia encerra o show, então já certa de que sua saída de cena não tira do espectador a sensação de leveza deixada por esse espetáculo de sons e gestos saborosos que, a partir de julho, percorrerá o Brasil.

5 de julho de 2009 às 11:56  
Anonymous Anônimo said...

Salve ZD!!! Salve a sua inteligência e sensibilidade tão raras nas intérpretes da MPB que se contentam na mesmice. Parabéns ZD VOCE MERECE!!!!!

5 de julho de 2009 às 12:00  
Anonymous Anônimo said...

Se o CD foi uma supresa, o show então foi uma surpresa e meia.


Mauro, foi isso mesmo, e até a postura dela está diferente: leve e feminina. Foi um show jovem e nostalgico, romântico e brincalhão, que fez rir e se emocionar.


A música do Tom Zé, o texto lúdico de Luiz Tatit, o texto genial de Fernando Pessoa embebido da naquela música, e a brincadeira com o I Love You - foram sacadas especiais. E o resultado é que um show com quase só inéditas ou músicas que quase ninguém conhecia ficou um show rápido, quase como uma peça musical.


E aí certamente o dedo de Ana Beatriz Nogueira, que com uma camaleoa como a Zélia conseguiu moldar o espetáculo e fazer uma apresentação de belas músicas com ótima voz, virar uma estória - e com a introdução de Ambição: "Pelo caminho de espinhos, avistei um mar de rosas", ficou quase conto de fadas. Leve, gostoso, comovente, ainda estou sob o efeito.


Mauro, não esperava que vc fosse a essa estréia (primeiro show sempre tem pequenos problemas, não? som, luz, etc) e entrei aqui pra ver outras noticias, e fiquei feliz de ver que alguém mais viu o maravilhoso show que eu vi ontem.

Helena M.

5 de julho de 2009 às 13:45  
Blogger Unknown said...

Incompreensível a ausência de "Verbos Sujeitos" tão ligada a "Todos os Verbos" , tal como "Lá Vou Eu" que caberia super bem ao lado de "Ambição".

Ampliaria o sentido de coesão para toda uma carreira, e não apenas ao show.

5 de julho de 2009 às 16:48  
Anonymous Denilson said...

Mauro,

Que bom saber que esse show está tão bacana. Adoro Zélia e torço muito para que ela continue a ser como uma das poucas artistas inteligentes e coerentes desse país.

Perguntinha: qual a razão da perda de meia estrela na sua avaliação? Fiquei curioso.

abração,
Denilson

5 de julho de 2009 às 20:49  
Anonymous Anônimo said...

engraçado é que ninguém fala da banda. tão importante para o sucesso do show. mas é isso mesmo, no brasil,´só dá canário.
abrçs.

6 de julho de 2009 às 16:40  
Anonymous Anônimo said...

Zélia cantando MPB é tudo de bom... Pense em radicalizar no próximo trabalho , Zélia!!! Suas gravações em BONITA e SÁBADO EM COPACABANA são lindas demais.

6 de julho de 2009 às 18:40  
Anonymous Chris Fuscaldo said...

Oi, Mauro! Fui na Zélia, sim... só que no domingo. Olha lá o que achei do show. Bjs!!

6 de julho de 2009 às 20:48  
Anonymous Anônimo said...

para o anonimo das 16.40
muito justa, justíssima essa sua observação. a banda que acompanha Zélia Duncan é composta por profissionais de primeira linha. são a mais-valia num show por si só excelente.sempre e bem lembrados!!

6 de julho de 2009 às 21:38  

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