26 de abril de 2009

Arlindo arma seu pagode de qualidade na MTV

Resenha de CD e DVD
Título: MTV ao Vivo
Artista: Arlindo Cruz
Gravadora: Deckdisc
Cotação: * * * 1/2

Há cerca de 25 anos, ou até mais, Arlindo Cruz é um dos caras que mais produz samba da melhor qualidade nos quintais férteis do Rio de Janeiro. Contudo, foi preciso que a MPB (no caso, Maria Rita) desse aval ao compositor para, numa confusão de valores, Arlindo começar a ganhar espaço na mídia. No embalo dessa descoberta, o artista foi parar na MTV, registrando em 13 de novembro de 2008, no Citibank Hall de São Paulo (SP), um show que funciona como resumo de sua obra. Egresso do grupo Fundo de Quintal, Arlindo gravou ótimos discos em dupla com Sombrinha antes de partir para carreira solo que, sim, precisava de um registro ao vivo de bom nível (o anterior, Pagode do Arlindo ao Vivo, gravado em 2003, tinha acabamento tosco). Não que sejam excepcionais a imagem e o áudio desse MTV ao Vivo editado em DVD e dois CDs (vendidos separadamente), mas, ao menos, a gravação está dentro de um padrão aceitável. A felicidade de Arlindo é visível já no número de abertura. Na sequência, o artista celebra o samba e a própria obra no medley que une por afinidade temática Um Velho Malandro de Corpo Fechado e Da Melhor Qualidade. Tal medley já anuncia o tom festivo do show, que termina com o compositor rodeado no palco por colegas e familiares. Entre abraços e beijos, a interpretação de Quem Gosta de mim - um samba de versos autobiográficos que encerra o roteiro de caráter essencialmente retrospectivo - soa até prejudicada. Mas vale por expressar o afeto que o meio do samba dedica a Arlindo Cruz. Dentro desse contexto, as intervenções de Beth Carvalho e Zeca Pagodinho, embora previsíveis, soam naturais. Intérprete que canta Arlindo desde os anos 80, Beth entra na segunda parte de Saudade Louca. Zeca - parceiro e amigo de primeira hora - se mostra à vontade ao versar com Arlindo no inédito partido alto Vê se Não Demora, mais uma jóia da lavra dos dois compositores. A presença do rapper Marcelo D2, no menos inspirado samba Mão Fina, também se justifica pelo fato de Arlindo ter sido apresentado ao público da MTV por conta de suas aparições em clipes de D2, como o próprio Arlindo conta em cena de forma espontânea, acrescentando que os amigos de seu filho passaram a lhe reconhecer como artista depois de sua entrada na MTV. E o fato é que, com maior ou menor visibilidade, Arlindo parece ser o mesmo cara de sempre. Entre inéditas em sua voz como Chegamos ao Fim (samba de tom mais dolente), Bom Aprendiz (parceria com o filho Arlindo Neto, convidado afetivo do medley com dois sambas-enredos da escola carioca Império Serrano) e Amor à Favela, o artista revive feliz sucessos de várias épocas e parceiros. Bem receptivo à carreira do sambista desde antes do aval da mídia, o público paulista faz coro tanto em Camarão que Dorme a Onda Leva (parceria com Zeca e Beto sem Braço) como em A Pureza da Flor (parceria com Babi e Jr. Dom). Para a platéia, Arlindo Cruz há muito já é um dos caras...

9 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Há cerca de 25 anos, ou até mais, Arlindo Cruz é um dos caras que mais produz samba da melhor qualidade nos quintais férteis do Rio de Janeiro. Contudo, foi preciso que a MPB (no caso, Maria Rita) desse aval ao compositor para, numa confusão de valores, Arlindo começar a ganhar espaço na mídia. No embalo dessa descoberta, o artista foi parar na MTV, registrando em 13 de novembro de 2008, no Citibank Hall de São Paulo (SP), um show que funciona como resumo de sua obra. Egresso do grupo Fundo de Quintal, Arlindo gravou ótimos discos em dupla com Sombrinha antes de partir para carreira solo que, sim, precisava de um registro ao vivo de bom nível (o anterior, Pagode do Arlindo ao Vivo, gravado em 2003, tinha acabamento tosco). Não que sejam excepcionais a imagem e o áudio desse MTV ao Vivo editado em DVD e dois CDs (vendidos separadamente), mas, ao menos, a gravação está dentro de um padrão aceitável. A felicidade de Arlindo é visível já no número de abertura. Na sequência, o artista celebra o samba e a própria obra no medley que une por afinidade temática Um Velho Malandro de Corpo Fechado e Da Melhor Qualidade. Tal medley já anuncia o tom festivo do show, que termina com o compositor rodeado no palco por colegas e familiares. Entre abraços e beijos, a interpretação de Quem Gosta de mim - um samba de letra autobiográfica que encerra o roteiro de caráter essencialmente retrospectivo - soa até prejudicada. Mas vale por expressar o afeto que o meio do samba dedica a Arlindo Cruz. Dentro desse contexto, as intervenções de Beth Carvalho e Zeca Pagodinho, embora previsíveis, soam naturais. Intérprete que canta Arlindo desde os anos 80, Beth entra na segunda parte de Saudade Louca. Zeca - parceiro e amigo de primeira hora - se mostra à vontade ao versar com Arlindo no inédito partido alto Vê se Não Demora, mais uma jóia da lavra dos dois compositores. A presença do rapper Marcelo D2, no menos inspirado samba Mão Fina, também se justifica pelo fato de Arlindo ter sido apresentado ao público da MTV por conta de suas aparições em clipes de D2, como o próprio Arlindo conta em cena de forma espontânea, acrescentando que os amigos de seu filho passaram a lhe reconhecer como artista depois de sua entrada na MTV. E o fato é que, com maior ou menor visibilidade, Arlindo parece ser o mesmo cara de sempre. Entre inéditas como Chegamos ao Fim (samba de tonalidade mais dolente), Bom Aprendiz (parceria com o filho Arlindo Neto, o convidado afetivo do medley com dois sambas-enredos da escola carioca Império Serrano) e Amor à Favela, o artista revive feliz sucessos de várias épocas e parceiros. Bem receptivo à carreira do sambista desde antes do aval da mídia, o público paulista faz coro tanto em Camarão que Dorme a Onda Leva (parceria com Zeca e Beto sem Braço) como em A Pureza da Flor (parceria com Babi e Jr. Dom). Para a platéia, Arlindo Cruz há muito já é um dos caras...

26 de abril de 2009 às 21:13  
Anonymous Anônimo said...

Parabéns Alindo!
O Almir Guineto merece um reconhecimento assim.
Viva o Guineto!

26 de abril de 2009 às 22:51  
Anonymous Anônimo said...

Tudo bem, mas essa divisão enre "samba" e "MPB" que a primeira frase coloca me parece um empecilho. Acho que é só refletir um pouco para ver que a dicotomia não se sustenta, e que ela tradicionalmente tem sido usada para marginalizar sambistas.

Mesmo que esta não seja a intenção aqui, replica uma esturtura enraizada nos escritos sobre música brasileira, e problemática.

27 de abril de 2009 às 10:22  
Anonymous Anônimo said...

Engraçado, não acho que a Maria Rita tenha aberto portas para o Arlindo na Mídia, antes das gravações da Maria Rita Arlindo Cuz já vinha com sua popularidade crescendo, desde o disco ao vivo, que o Mauro chamou de tosco, e os pagodes do teatro Rival. Já o D2 fez realmente o arlindo ser conhecido pelo público MTV. Senti falta da Alcione, que talvez tenha sido quem mais gravou a obra do Arlindo Cruz. Chegamos ao fim, já tinha sido gravada pelo Exalta Samba.

28 de abril de 2009 às 13:58  
Anonymous Anônimo said...

"Senti falta da Alcione, que talvez tenha sido quem mais gravou a obra do Arlindo Cruz".
Piada! Já ouviu falar em Beth Carvalho?

28 de abril de 2009 às 14:44  
Anonymous Anônimo said...

Maria Rita ajudou SIM pelo simples fato que parte de seu público, que provavelmente acha que samba é tudo a mesma coisa, pôde em seu último disco apreciar samba DE VERDADE e nele ela gravou 6!!!! de Arlindo.
Já com relação ao público que conhece samba - samba mesmo - os agradecimentos são para o próprio Arlindo mesmo mais o Fundo de Quintal e, claro, a Locomotiva do samba Beth Carvalho.

28 de abril de 2009 às 20:57  
Anonymous Anônimo said...

Beth gravou muitas coisas do Arlindo, Pagodinho, Almir, Sereno... como todos sabem. Mas é raro um disco da Alcione que não tenha um ou dois sambas do Arlindo, isso, acho que desde 1982, com vamos arrepiar. Como Alcione gravou muito mais que Beth, tendo gravado 1 disco por ano, em sei lá quantos anos de carreira(35?), acredito que ela tenha gravado mais coisas. Mas isso não é importante, a ausência dela no CD é que eu acho estranho.

28 de abril de 2009 às 22:13  
Anonymous Anônimo said...

Não acho que o público da Maria Rita vá aos shows do Arlindo, ou compre seus Cds, agora o inverso acontece e muito.

28 de abril de 2009 às 22:14  
Anonymous Anônimo said...

Eu sou "público" de ambos porque gosto de boa música, seja ela samba, MPB "tradicional", POP/ROCK, Regional, bolero, valsa, enfim: sons que tragam emoção, alegria e/ou beleza a meu ouvido e coração.
Recuso-me a acreditar que quem gosta de Nana não aprecia Beth Carvalho ou quem goste de João Bosco não aprecie Alceu Valença. NÃO FAZ SENTIDO.

29 de abril de 2009 às 19:43  

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