Falta só azeite na saborosa farofa black de Elza
Resenha de Show
Título: Compulsivos e a Perigosa
Artista: Elza Soares e Farofa Carioca (em fotos de Mauro
Ferreira)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 5 de março de 2009
Cotação: * * * 1/2
Na noite de quinta-feira, 5 de março de 2009, o show que junta Elza Soares ao grupo Farofa Carioca estreou em alto e bom som, temperado na pressão. Contudo, as falhas técnicas da estréia - sobretudo na projeção de vídeos - e as gordurinhas do roteiro sinalizaram que o espetáculo ainda deverá ficar mais azeitado ao longo de sua provável turnê nacional. Musicalmente, a mistura está quase no ponto e seduz, por mais que o sabor nem seja mais original. Seguindo a lição de mestres como Tim Maia (1942 - 1998), não por acaso saudado pela cantora ao fim de W Brasil como "o maior dos síndicos", Elza e Farofa conectam o suingue brasileiro - em especial, o do samba - ao balanço do funk e do soul. Nessa linha Black Rio, o grupo mostrou toda a potência de seu som e Elza, festejada por sua bossa negra, quase sempre entrou no tom. No bloco inicial, em que figuram músicas como Manguetown (da Nação Zumbi) e Brasil (o samba-rock de Cazuza, arranjado com pulsação que tende mais para o rock do que para o samba), até parecia que a cantora seria conduzida em cena pelo elétrico Mario Broder, o (excelente) cantor que substituiu Seu Jorge no posto de vocalista do Farofa Carioca. Contudo, ao voltar ao palco para segundo bloco com a banda, Elza tomou as rédeas do show com arrasadora abordagem de A Carne. Na seqüência, a cantora pôs todo seu suingue e sua verve numa releitura do ótimo samba-enredo Alô, Alô, Taí Carmen Miranda! (Império Serrano, 1972), mostrando que ela, Elza, era o tempero especial da Farofa Carioca.
A pressão do som da Farofa estava alta, sobretudo por conta do trio de metais que evocava a sonoridade da banda de Tim Maia, a Vitória Régia. Do repertório do Síndico, a propósito, Elza e Mario Broder reviveram o samba-soul Réu Confesso com arranjo clonado da gravação original de Tim, feita em 1973. O número figura no melhor bloco do show, quando os cantores entoam Timbó - música de Ramon Russo gravada pelo Farofa Carioca em seu primeiro CD, Moro no Brasil (1998), e turbinada no show com afro-beats - e Mas que Nada. O primeiro sucesso de Jorge Ben Jor, de 1963, ganha tons lânguidos, num clima de bossa negra.
Sem Elza, o Farofa Carioca segura a onda com as músicas de seu segundo álbum, Tubo de Ensaio (2008). O grupo saúda o funk em Som Mil, tira do baú uma balada-soul de Carlos Dafé (Pra que Vou Recordar o que Chorei?) e cai no suingue em temas como Minissaia (Valmir Ribeiro, Carlos Moura e Gabriel Moura), típicos da discografia de Seu Jorge. Além da voz potente, que lembra eventualmente o timbre viril de Sandra de Sá, Mario Broder tem excelente presença de palco. O que falta a ele e a Elza no show em alguns momentos é timing. Ambos se excedem nos improvisos finais de W Brasil e, na segunda metade do show, engatam diálogos longos e chatos. Contudo, o show oferece boas surpresas até o fim. A melhor delas é a transposição de um dos maiores sucessos de Bezerra da Silva, Malandragem Dá um Tempo, para o universo rítmico da música cubana. Com verve, Elza sustenta interpretação em portunhol e, espirituosa, termina o número com a saudação (Azúcar!) que se tornou a marca registrada da rainha da salsa, Celia Cruz (1923 - 2003), nos palcos. Boa sacada também foi a lembrança de O Campeão (Meu Time), samba feliz e carioquíssimo de Neguinho da Beija-Flor, entoado somente com as vozes e a batucada que também sustentam Vou Festejar, sucesso de Beth Carvalho em 1978. Entre um samba e outro, a turma celebra o batidão carioca com Diretoria, pérola do baú do funk. Enfim, Compulsivos e a Perigosa é farofa de tempero black que vai ficar ainda mais saborosa quando ganhar um pouco mais de azeite.
Título: Compulsivos e a Perigosa
Artista: Elza Soares e Farofa Carioca (em fotos de Mauro
Ferreira)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 5 de março de 2009
Cotação: * * * 1/2
Na noite de quinta-feira, 5 de março de 2009, o show que junta Elza Soares ao grupo Farofa Carioca estreou em alto e bom som, temperado na pressão. Contudo, as falhas técnicas da estréia - sobretudo na projeção de vídeos - e as gordurinhas do roteiro sinalizaram que o espetáculo ainda deverá ficar mais azeitado ao longo de sua provável turnê nacional. Musicalmente, a mistura está quase no ponto e seduz, por mais que o sabor nem seja mais original. Seguindo a lição de mestres como Tim Maia (1942 - 1998), não por acaso saudado pela cantora ao fim de W Brasil como "o maior dos síndicos", Elza e Farofa conectam o suingue brasileiro - em especial, o do samba - ao balanço do funk e do soul. Nessa linha Black Rio, o grupo mostrou toda a potência de seu som e Elza, festejada por sua bossa negra, quase sempre entrou no tom. No bloco inicial, em que figuram músicas como Manguetown (da Nação Zumbi) e Brasil (o samba-rock de Cazuza, arranjado com pulsação que tende mais para o rock do que para o samba), até parecia que a cantora seria conduzida em cena pelo elétrico Mario Broder, o (excelente) cantor que substituiu Seu Jorge no posto de vocalista do Farofa Carioca. Contudo, ao voltar ao palco para segundo bloco com a banda, Elza tomou as rédeas do show com arrasadora abordagem de A Carne. Na seqüência, a cantora pôs todo seu suingue e sua verve numa releitura do ótimo samba-enredo Alô, Alô, Taí Carmen Miranda! (Império Serrano, 1972), mostrando que ela, Elza, era o tempero especial da Farofa Carioca.
A pressão do som da Farofa estava alta, sobretudo por conta do trio de metais que evocava a sonoridade da banda de Tim Maia, a Vitória Régia. Do repertório do Síndico, a propósito, Elza e Mario Broder reviveram o samba-soul Réu Confesso com arranjo clonado da gravação original de Tim, feita em 1973. O número figura no melhor bloco do show, quando os cantores entoam Timbó - música de Ramon Russo gravada pelo Farofa Carioca em seu primeiro CD, Moro no Brasil (1998), e turbinada no show com afro-beats - e Mas que Nada. O primeiro sucesso de Jorge Ben Jor, de 1963, ganha tons lânguidos, num clima de bossa negra.
Sem Elza, o Farofa Carioca segura a onda com as músicas de seu segundo álbum, Tubo de Ensaio (2008). O grupo saúda o funk em Som Mil, tira do baú uma balada-soul de Carlos Dafé (Pra que Vou Recordar o que Chorei?) e cai no suingue em temas como Minissaia (Valmir Ribeiro, Carlos Moura e Gabriel Moura), típicos da discografia de Seu Jorge. Além da voz potente, que lembra eventualmente o timbre viril de Sandra de Sá, Mario Broder tem excelente presença de palco. O que falta a ele e a Elza no show em alguns momentos é timing. Ambos se excedem nos improvisos finais de W Brasil e, na segunda metade do show, engatam diálogos longos e chatos. Contudo, o show oferece boas surpresas até o fim. A melhor delas é a transposição de um dos maiores sucessos de Bezerra da Silva, Malandragem Dá um Tempo, para o universo rítmico da música cubana. Com verve, Elza sustenta interpretação em portunhol e, espirituosa, termina o número com a saudação (Azúcar!) que se tornou a marca registrada da rainha da salsa, Celia Cruz (1923 - 2003), nos palcos. Boa sacada também foi a lembrança de O Campeão (Meu Time), samba feliz e carioquíssimo de Neguinho da Beija-Flor, entoado somente com as vozes e a batucada que também sustentam Vou Festejar, sucesso de Beth Carvalho em 1978. Entre um samba e outro, a turma celebra o batidão carioca com Diretoria, pérola do baú do funk. Enfim, Compulsivos e a Perigosa é farofa de tempero black que vai ficar ainda mais saborosa quando ganhar um pouco mais de azeite.
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Na noite de quinta-feira, 5 de março de 2009, o show que junta Elza Soares ao grupo Farofa Carioca estreou em alto e bom som, temperado na pressão. Contudo, as falhas técnicas da estréia - sobretudo na projeção de vídeos - e as gordurinhas do roteiro sinalizaram que o espetáculo ainda deverá ficar mais azeitado ao longo de sua provável turnê nacional. Musicalmente, a mistura está quase no ponto e seduz, por mais que o sabor nem seja mais original. Seguindo a lição de mestres como Tim Maia (1942 - 1998), não por acaso saudado pela cantora ao fim de W Brasil como "o maior dos síndicos", Elza e Farofa conectam o suingue brasileiro - em especial, o do samba - ao balanço do funk e do soul. Nessa linha Black Rio, o grupo mostrou toda a potência de seu som e Elza, festejada por sua bossa negra, quase sempre entrou no tom. No bloco inicial, em que figuram músicas como Manguetown (da Nação Zumbi) e Brasil (o samba-rock de Cazuza, arranjado com pulsação que tende mais para o rock do que para o samba), até parecia que a cantora seria conduzida em cena pelo elétrico Mário Broder, o vigoroso cantor que substituiu Seu Jorge no posto de vocalista do Farofa Carioca. Contudo, ao voltar ao palco para segundo bloco com a banda, Elza tomou as rédeas do show com arrasadora intepretação de A Carne. Na seqüência, a cantora pôs todo seu suingue e sua verve numa releitura do ótimo samba-enredo Alô, Alô, Taí Carmen Miranda! (Império Serrano, 1972), mostrando que ela, Elza, era o tempero especial da Farofa Carioca.
A pressão do som da Farofa estava alta, sobretudo por conta do trio de metais que evocava a sonoridade da banda de Tim Maia, a Vitória Régia. Do repertório Síndico, a propósito, Elza e Mário Broder reviveram o samba-soul Réu Confesso com arranjo clonado da gravação original de Tim, feita em 1973. O número figura no melhor bloco do show, quando os cantores entoam Timbó - música de Ramon Russo gravada pelo Farofa Carioca em seu primeiro CD, Moro no Brasil (1998), e turbinada no show com afro-beats - e Mas que Nada. O primeiro sucesso de Jorge Ben Jor, de 1963, ganha tons lânguidos, num clima de bossa negra.
Sem Elza, o Farofa Carioca segura a onda com as músicas de seu segundo álbum, Tubo de Ensaio (2008). O grupo saúda o funk em Som Mil, tira do baú uma balada-soul de Carlos Dafé (Pra que Vou Recordar o que Chorei?) e cai no suingue em temas como Minissaia (Valmir Ribeiro, Carlos Moura e Gabriel Moura), típicos da discografia de Seu Jorge. Além da voz potente, que lembra eventualmente o timbre viril de Sandra de Sá, Mario Broder tem excelente presença de palco. O que falta a ele e a Elza no show em alguns momentos é timing. Ambos se excedem nos improvisos finais de W Brasil e, na segunda metade do show, engatam diálogos longos e chatos. Contudo, o show oferece boas surpresas até o fim. A melhor delas é a transposição de um dos maiores sucessos de Bezerra da Silva, Malandragem Dá um Tempo, para o universo rítmico da música cubana. Com verve, Elza sustenta interpretação em portunhol e, espirituosa, termina o número com a saudação (Azúcar!)que se tornou a marca registrada da rainha da salsa, Celia Cruz (1923 - 2003), nos palcos. Boa sacada também foi a lembrança de O Campeão (Meu Time), samba feliz e carioquíssimo de Neguinho da Beija-Flor, entoado somente com as vozes e a batucada que também sustentam Vou Festejar, sucesso de Beth Carvalho em 1978. Entre um samba e outro, a turma celebra o batidão carioca com Diretoria, pérola do baú do funk. Enfim, Compulsivos e a Perigosa é farofa de tempero black que vai ficar ainda mais saborosa quando ganhar um pouco mais de azeite.
Falta, como sempre faltou, um rumo a carreira fonografica de Elzita
Que fim levou seu novo show " Elza Sapeca da Breca " ?
Tá assim meio ... Sandra de Sá .. MPB ... Musica Preta Brasileira, saca ?
Elza é uma sobrevivente digna em todos os sentidos. Orgulho para a Nação. Muito artista deveria ter metade de seu talento, garra, saúde e disposição.
parabéns Elza Soares e Farofa Carioca e bem vindo também Mario Broder com sua voz e simpatia
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