4 de fevereiro de 2009

Quase tudo dá pé no segundo CD de Cris Aflalo

Resenha de CD
Título: Quase Tudo Dá
Artista: Cris Aflalo
Gravadora: Tratore
Cotação: * * * 1/2

Cris Aflalo é cantora paulista que dedicou seu primeiro CD - Só Xerêm, gravado em 2003 - ao repertório de seu avô cearense, Xerêm (1911 - 1982), nome artístico do cantor e compositor Pedro de Alcântara Filho. O disco obteve alguma repercussão, mas é com seu segundo álbum, Quase Tudo Dá, que Aflalo tem tudo para se firmar no país da cantoras. Produzido de forma independente pela própria artista, em parceria com Luiz Waack, o CD se revela sedutor por conta de sua sonoridade leve e moderna. A combinação (sutil) de eletrônica e regionalismo - perceptível em músicas autorais como Matutu, uma das quatro assinadas por Aflalo entre as 11 faixas do álbum - pontua o trabalho. Assim como a presença de compositores identificados com a cena indie paulistana. Caso do catarinense (radicado em São Paulo) Carlos Careqa, autor do envolvente tema que abre o disco, Tudo que Respira Quer Comer. Na seqüência, Aflalo recria no tempo de delicadeza uma obra-prima recente de Lula Queiroga (composta com Lulu Oliveira e Alexandre Bicudo), Conceição dos Coqueiros, num registro tão elegante quanto a gravação pungente de Elba Ramalho. Parcerias de Arnaldo Antunes como Péricles Cavalcanti e Luiz Tatit, respectivamente, Quase Tudo e Um Som são outros bons momentos de um disco que atinge seu ápice criativo em Um Tom, música de Caetano Veloso que Aflalo recria inicialmente com minimimalismo acústico urdido por violão de nylon (a cargo de Luiz Waack) até dar outro tom ao tema com a entrada, na segunda parte, de discreto baticum eletrônico. Com voz afinada e sempre bem colocada, Aflalo ainda enfrenta o idioma sinuoso da Língua do Pê, tema da fase tropicalista de Gilberto Gil. Enfim, quase tudo dá pé neste segundo disco de Cris Aflalo - e o quase é pelo fato de as inéditas autorais não alcançarem o alto nível do repertório de lavra alheia, embora cumpram a função de esboçar universo próprio para a intérprete.

10 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Cris Aflalo é cantora paulista que dedicou seu primeiro CD - Só Xerêm, gravado em 2003 - ao repertório de seu avô cearense, Xerêm (1911 - 1982), nome artístico do cantor e compositor Pedro de Alcântara Filho. O disco obteve alguma repercussão, mas é com seu segundo álbum, Quase Tudo Dá, que Aflalo tem tudo para se firmar no país da cantoras. Produzido de forma independente pela própria artista, em parceria com Luiz Waack, o CD se revela sedutor por conta de sua sonoridade leve e moderna. A combinação (sutil) de eletrônica e regionalismo - perceptível em músicas autorais como Matutu, uma das quatro assinadas por Aflalo entre as 11 faixas do álbum - pontua o trabalho. Assim como a presença de compositores identificados com a cena indie paulistana. Caso do catarinense (radicado em São Paulo) Carlos Careqa, autor do envolvente tema que abre o disco, Tudo que Respira Quer Comer. Na seqüência, Aflalo recria no tempo de delicadeza uma obra-prima recente de Lula Queiroga (composta com Lulu Oliveira e Alexandre Bicudo), Conceição dos Coqueiros, num registro tão elegante quanto a gravação pungente de Elba Ramalho. Parcerias de Arnaldo Antunes como Péricles Cavalcanti e Luiz Tatit, respectivamente, Quase Tudo e Um Som são outros bons momentos de um disco que atinge seu ápice criativo em Um Tom, música de Caetano Veloso que Aflalo recria inicialmente com minimimalismo acústico urdido por violão de nylon (a cargo de Luiz Waack) até dar outro tom ao tema com a entrada, na segunda parte, de discreto baticum eletrônico. Com voz afinada e sempre bem colocada, Aflalo ainda enfrenta o idioma sinuoso da Língua do Pê, tema da fase tropicalista de Gilberto Gil. Enfim, quase tudo dá pé neste segundo disco de Cris Aflalo - e o quase é pelo fato de as inéditas autorais não alcançarem o alto nível do repertório de lavra alheia, embora cumpram a função de esboçar universo próprio para a intérprete.

4 de fevereiro de 2009 às 21:42  
Anonymous Anônimo said...

Bela cantora e resenha precisa.
Realmente não é fácil intérprete feminina no "País das Intérpretes" se estabelecer. Mas eu torço por ela. Coragem no 1º disco repetida neste segundo ao gravar repertório "estranho" para os mais "conservadores". Mas sou justo: assim como elogio e não critico regravações quando são de músicas eternas e por bons intérpretes e/ou intérpretes que tenham alguma "ligação" com o repertório regravado - não apenas para vender fácil o já conhecido pelo público - também elogio a "modernidade" do inédito ou do antigo bem "modernizado". Deu para entender ?
Sucesso para esta menina. É mais uma, é fato, mas que bom que venha mais uma. Outras é que poderiam sair de cena... Deu para entender também ?

4 de fevereiro de 2009 às 22:14  
Anonymous Anônimo said...

Uma delícia esse cd, sutil e encantador, a sonoridade, a voz, as canções é tudo delicadamente pensado... não a conhecia, agora conheço e adoro.

4 de fevereiro de 2009 às 23:17  
Anonymous Anônimo said...

Tava sentindo falta das boas críticas do Mauro, enfocando uma cena mais alternativa e interessante na música brasileira... é uma cantora ótima, com um repertório precioso e cheio de sutilezas... No começo do ano o Mauro começou meio estranho na escolha do que comentar, mas agora tá melhorando...

4 de fevereiro de 2009 às 23:22  
Blogger André Luís said...

Pois é, finalmente uma crítica sobre Cris Aflalo. Adorei seu primeiro álbum, seu estilo, sua voz... Vou ouvir esse álbum novo todo com cuidado. Já conheço algumas (e aprovei). Ótimo nome no "país das cantoras" (algumas que deveriam nem ter surgido...!).

5 de fevereiro de 2009 às 01:16  
Anonymous Anônimo said...

O Mauro tem uma implicância com as cantoras/compositoras! Nunca o vi elogiar nenhuma.

5 de fevereiro de 2009 às 01:28  
Anonymous Anônimo said...

A Cris Aflalo é excelente. Não a conhecia. Mais uma vez, obrigado Mauro pela notícia.

Mas, para ser bem realista, muito pouca chance dela acontecer, da forma como o Mauro predisse, com um disco independente, sem um investimento muito grande por trás, coisa que eu acho que ela não tem.

Torço muito por ela, pois ela é muito melhor do que muita cantora incensada pela mídia por aí... rsrs

abração,
Denilson

5 de fevereiro de 2009 às 09:05  
Anonymous Anônimo said...

Boa cantora sim. Precisamos de pessoas com a coragem de gravar autores da cena alternativa,sem a preocupação de agradar à massa. Se vai 'acontecer' ou não, é outra questão. Pelo menos, no momento vai nos proporcionar boas audições!

5 de fevereiro de 2009 às 10:22  
Anonymous Anônimo said...

Aos poucos, Lula Queiroga vai se firmando na cena musical nacional e virando presença obrigatória nos albuns de quem, assim como ele, ainda não emplacou de fato.

Além de Cris Aflalo - que não conheço -, Luiza Possi, a banda catarinense Iriê, Fênix, Marina Machado, Valéria Oliveira além dos amigos Pedro Luis e a Parede, Roberta Sá e Lenine gravaram recentemente musicas suas

Sem falar em Elba Ramalho e Ana Carolina...


Luz em Lula

5 de fevereiro de 2009 às 11:08  
Anonymous Anônimo said...

Aprovação quase 90% para este Lula aí também. CONCORDO COM DIOGO.

5 de fevereiro de 2009 às 19:50  

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