'Sou' traz cara estranho no bloco do eu sozinho
Resenha de CD
Título: Sou
Artista: Marcelo Camelo
Gravadora: Zé Pereira
/ Sony BMG
Cotação: * * *
"E lá vai Deus sem sequer saber de nós / Saibamos pois / Estamos sós", sentencia um descrente Marcelo Camelo nos três únicos versos de Passeando, um dos 12 temas autorais de seu primeiro CD solo, Sou. Faixa quase instrumental, Passeando assume sua vocação ao ser repetida no fim do álbum, em versão de textura erudita gravada somente com o piano de Clara Sverner. Embora (muito) bem acompanhado (por Sverner, Dominguinhos, o grupo paulista Hurtmold e Mallu Magalhães, entre outros), Camelo ressalta a solidão neste disco que o afasta do rock - em que pesem as guitarras e a leve ambiência roqueira de Mais Tarde, uma das (quatro) músicas gravadas com o acompanhamento do Hurtmold.
Sou representa mergulho radical na atmosfera contemplativa já evidenciada em boa parte do último álbum de estúdio do grupo Los Hermanos, 4 (2005). De clima viajante, Sou é disco de muitas canções e em algumas delas, caso de Tudo Passa, Camelo canta de forma sussurrada, com uma emissão propositalmente desleixada. Ao entrar no bloco do eu sozinho, o hermano se assume de vez como um cara estranho que habita um universo todo particular. O ouvinte de Sou precisa acostumar seus ouvidos a essas estranhezas para perceber a beleza que se esconde atrás delas em temas como Doce Solidão e Téo e a Gaivota, cujo registro inicial - disponibilizado pelo compositor em sua página no MySpace em dezembro de 2007 - já indicava a trilha zen que seria seguida por Camelo em seu CD solo. Um trabalho do estilo "ame-o ou deixe-o".
Entre baladas introspectivas, Sou também apresenta faixas de regionalismo estilizado. Liberdade foi adornada com a sanfona de Dominguinhos. Vida Doce ostenta cama percussiva que evoca a batida do samba-reggae. Já Menina Bordada é uma ciranda com toques de carimbó no arranjo. O regionalismo desta faixa evoca Despedida, a música que Camelo deu para Maria Rita gravar no álbum Segundo (2005). A propósito, o cantor apresenta em Sou sua (re)leitura de Santa Chuva (com cordas regidas por Gilson Peranzzetta) na contramão do caminho dramático percorrido de forma mais apropriada por Rita em seu imbatível registro original.
O clima bem etéreo de Sou dilui a vivacidade rítmica de faixas supostamente mais animadas - como a marchinha Copacabana, um postal simpático do bairro carioca. Temas como Janta - de espírito folk, condizente com o som da convidada Mallu Magalhães, que toca violão e canta em inglês na faixa bilingüe - estão em maior sintonia com o tom interiorizado do álbum de Camelo, que, em Sou, não justifica de forma plena o status de melhor compositor brasileiro da década. Contudo, seu solo é bom.
Título: Sou
Artista: Marcelo Camelo
Gravadora: Zé Pereira
/ Sony BMG
Cotação: * * *
"E lá vai Deus sem sequer saber de nós / Saibamos pois / Estamos sós", sentencia um descrente Marcelo Camelo nos três únicos versos de Passeando, um dos 12 temas autorais de seu primeiro CD solo, Sou. Faixa quase instrumental, Passeando assume sua vocação ao ser repetida no fim do álbum, em versão de textura erudita gravada somente com o piano de Clara Sverner. Embora (muito) bem acompanhado (por Sverner, Dominguinhos, o grupo paulista Hurtmold e Mallu Magalhães, entre outros), Camelo ressalta a solidão neste disco que o afasta do rock - em que pesem as guitarras e a leve ambiência roqueira de Mais Tarde, uma das (quatro) músicas gravadas com o acompanhamento do Hurtmold.
Sou representa mergulho radical na atmosfera contemplativa já evidenciada em boa parte do último álbum de estúdio do grupo Los Hermanos, 4 (2005). De clima viajante, Sou é disco de muitas canções e em algumas delas, caso de Tudo Passa, Camelo canta de forma sussurrada, com uma emissão propositalmente desleixada. Ao entrar no bloco do eu sozinho, o hermano se assume de vez como um cara estranho que habita um universo todo particular. O ouvinte de Sou precisa acostumar seus ouvidos a essas estranhezas para perceber a beleza que se esconde atrás delas em temas como Doce Solidão e Téo e a Gaivota, cujo registro inicial - disponibilizado pelo compositor em sua página no MySpace em dezembro de 2007 - já indicava a trilha zen que seria seguida por Camelo em seu CD solo. Um trabalho do estilo "ame-o ou deixe-o".
Entre baladas introspectivas, Sou também apresenta faixas de regionalismo estilizado. Liberdade foi adornada com a sanfona de Dominguinhos. Vida Doce ostenta cama percussiva que evoca a batida do samba-reggae. Já Menina Bordada é uma ciranda com toques de carimbó no arranjo. O regionalismo desta faixa evoca Despedida, a música que Camelo deu para Maria Rita gravar no álbum Segundo (2005). A propósito, o cantor apresenta em Sou sua (re)leitura de Santa Chuva (com cordas regidas por Gilson Peranzzetta) na contramão do caminho dramático percorrido de forma mais apropriada por Rita em seu imbatível registro original.
O clima bem etéreo de Sou dilui a vivacidade rítmica de faixas supostamente mais animadas - como a marchinha Copacabana, um postal simpático do bairro carioca. Temas como Janta - de espírito folk, condizente com o som da convidada Mallu Magalhães, que toca violão e canta em inglês na faixa bilingüe - estão em maior sintonia com o tom interiorizado do álbum de Camelo, que, em Sou, não justifica de forma plena o status de melhor compositor brasileiro da década. Contudo, seu solo é bom.
11 Comments:
"E lá vai Deus sem sequer saber de nós / Saibamos pois / Estamos sós", sentencia um descrente Marcelo Camelo nos três únicos versos de Passeando, um dos 12 temas autorais de seu primeiro CD solo, Sou. Faixa quase instrumental, Passeando assume sua vocação ao ser repetida no fim do álbum, em versão de textura erudita gravada somente com o piano de Clara Sverner. Embora bem acompanhado (por Sverner, Dominguinhos, o grupo paulista Hurtmold e Mallu Magalhães, entre outros), Camelo ressalta a solidão neste disco que o afasta do rock - em que pesem as guitarras e a leve ambiência roqueira de Mais Tarde, uma das (quatro) músicas gravadas com o acompanhamento do Hurtmold.
Sou representa mergulho radical na atmosfera contemplativa já evidenciada em boa parte do último álbum de estúdio do grupo Los Hermanos, 4 (2005). De clima viajante, Sou é disco de muitas canções e em algumas delas, caso de Tudo Passa, Camelo canta de forma sussurrada, com uma emissão propositalmente desleixada. Ao entrar no bloco do eu sozinho, o hermano se assume de vez como um cara estranho que habita um universo todo particular. O ouvinte de Sou precisa acostumar seus ouvidos a essas estranhezas para perceber a beleza que se esconde atrás delas em temas como Doce Solidão e Téo e a Gaivota, cujo registro inicial - disponibilizado pelo artista em sua página no MySpace em dezembro de 2007 - já indicava a trilha zen que seria seguida por Camelo em seu CD solo. Um trabalho do estilo "ame-o ou deixe-o".
Entre baladas introspectivas, Sou também apresenta faixas de regionalismo estilizado. Liberdade foi adornada com a sanfona de Dominguinhos. Vida Doce ostenta cama percussiva que evoca a batida do samba-reggae. Já Menina Bordada é uma ciranda com toques de carimbó no arranjo. O regionalismo desta faixa evoca Despedida, a música que Camelo deu para Maria Rita gravar no álbum Segundo (2005). A propósito, o cantor apresenta em Sou sua (re)leitura de Santa Chuva (com cordas regidas por Gilson Peranzzetta) na contramão do caminho dramático percorrido de forma mais apropriada por Rita em seu imbatível registro original.
O clima bem etéreo de Sou dilui a vivacidade rítmica de faixas supostamente mais animadas - como a marchinha Copacabana, um postal simpático do bairro carioca. Temas como Janta - de espírito folk, condizente com o som da convidada Mallu Magalhães, que toca violão e canta em inglês na faixa bilingüe - estão em maior sintonia com o tom interiorizado do álbum de Camelo, que, em Sou, não justifica de forma plena o status de melhor compositor brasileiro da década. Contudo, seu solo é bom.
Pode ser impressão, mas há uma cena toda introspectiva-melancólica percorrida nas sonoridades contemporâneas de cantores como Marcelo Camelo (Nos), Rômulo Froes (Calado; Cão), Bia Krieger (Nocturno). Nos dois primeiros uma aura à la Batatinha-Macalé?
Já disse que havia mudado de opinião sobre o Camelo.
E, após ler o que ele disse, de se sentir mais livre no processo de feitura de "Sou" do que estava sendo no palco, quando tinha de gritar para eclipsar a força febril dos fãs de LH; após ver a qualidade do pessoalzinho que o acompanha no instrumental; enfim, após tudo isso, me certifico de que o trabalho do vascaíno deve ter ficado bom.
Vou ouvir. Aliás, já devia ter ouvido.
Felipe dos Santos Souza
Felipe, tenho saudades do tempo que camelo era um animal que vivia no deserto ...
O CD é bom de ouvir.
E fica melhor ainda se "pular" a faixa Janta com participação da "coisinha mais chata que já vi na música brasileira" Mallu Magalhães.
Eu adoro a música Janta e adoro a Malu... pura espontaneidade...
Um bom disco para ouvidos não imediatistas, "sou" se revela aos poucos e a cada audiçao.
Eu achei um disco muito bonito e leve-denso. E olha, "não gosto" (entre aspas mesmo) da Mallu Magalhães mas ela está cantando bem e a música é a cara dela. Bonita faixa.
Concordo com o Mauro. Esse disco é bom, apenas.
O disco é bom, mas os do Los Hermanos são melhores. Se tivesse começado a carreira sozinho, Cemelo não teria chegado tão longe. Ele depende e muito da banda.
"Ao entrar no bloco do eu sozinho, o hermano se assume de vez como um cara estranho que habita um universo todo particular"
Ai. Não resistiu, heim, Mauro!
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