'Macao' expõe profundezas do canto de Macalé
Resenha de CD
Título: Macao
Artista: Jards Macalé
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *
Título: Macao
Artista: Jards Macalé
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *
Décimo disco solo da espaçada obra fonográfica de Macalé, Macao - o nome do álbum se refere ao apelido do artista - não chega a ser um CD de inéditas. Há somente três novas músicas autorais entre as 11 faixas. O Engenho de Dentro é samba letrado por Abel Silva. Parceria com Xico Chaves, Se Você Quiser impõe ao disco a vivacidade típica do maxixe. Já Balada, colaboração de Macalé com Ana de Hollanda, tem atmosfera etérea, sincopada, distante do clima intenso das baladas. E é justamente por transitar em linhas nada óbvias que Macao é um legítimo disco de carreira de Macalé, situado entre os melhores da obra coerente do artista.
Em sintonia com seu passado, o compositor aborda músicas gravadas nos anos 70. Com arranjo urdido com quatro violões superpostos, todos tocados pelo próprio Macalé, Farinha do Desprezo abre Macao da mesma forma que abria o primeiro álbum do artista, Jards Macalé (1973). Na seqüência, Boneca Semiótica - o tema que fechava Aprender a Nadar (1975) - reaparece de forma inventiva com as experimentações do grupo Laptop&Violão com samples da orquestração original de Wagner Tiso inseridos no arranjo de tom contemporâneo. Mais adiante, The Archaic Lonely Star Blues - música lançada por Gal Costa em seu disco Le-Gal (1970), produzido por Macalé - ganha adorno próximo da ambiência do samba-canção, embora a intenção inicial tenha sido evocar a Bossa Nova nos 50 anos do movimento.
A propósito, a velha bossa é lembrada com Corcovado. O tema de Tom Jobim (1927 - 1994) é entoado por Macalé somente na companhia de seu violão. É quando floresce o grande intérprete. Macao é disco que seduz ao expor as profundezas do canto de Macalé. Basta ouvir Ne me Quitte Pas - com o piano e o arranjo de Cristóvão Bastos, que assina a direção musical de Macao com a mesma excelência com que desempenhou a tarefa nos álbuns O Q Faço É Música (1998) e Real Grandeza (2005) - para atestar a capacidade de Macalé de mergulhar fundo em praias alheias. Cantando em francês com insuspeita desenvoltura, o artista atinge todas as intenções dos versos suplicantes e desesperados do belga Jacques Brel sem esboçar arroubos vocais. Da mesma forma, ao cantar magistralmente Um Favor, Macalé se confirma como um dos grandes tradutores do universo amargurado de Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974), compositor que Macalé já abordara no belo álbum 4 Batutas & 1 Coringa (1987). Fechando o disco, há leitura pungente de Ronda (única faixa não inédita, extraída de CD produzido por Moacyr Luz em 2003 em tributo a São Paulo) e Só Assumo Só, tema de Luiz Melodia, outro compositor jogado na vala dos malditos dos anos 70 assim como Jards Macalé, o Macao.
5 Comments:
já imaginaram um disco em que Macalé canta Melodia e vice-versa? eles também podiam cantar juntos outros compositores. pô, os dois tão na mesma gravadora, gente...
Não me empolga tanto um encontro Macalé e Melodia.Mas me empolga muito este disco do Macalé.Cada disco dele é sempre sublime.4 ases e um coringa é uma preciosidade.Olha, eu proporia um encontro de Macalé com a Bethânia com participação especial da Gal Costa.Viva Macao!
Biscoito fino quando vamos ter a possibilidade de ouvir alguma coisa do disco no vosso site?
Vala dos malditos?
Olá querido Mauro, o nome do álbum do Macálé é "4 Batutas e 1 Coringa" e não 4 aves e 1 coringa... abraço terno
ESTOU ANSIOSA PARA ESCUTAR. ADORA MACALÉ.
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