13 de junho de 2008

Com BiD, Chico faz folia moderna e espirituosa

Resenha de CD
Título: Francisco,
Forró y Frevo
Artista: Chico César
Gravadora: Chita Discos
/ EMI Music
Cotação: * * * * 1/2

Depois de abordar o universo erudito em disco introspectivo idealizado com o Quinteto da Paraíba (De Uns Tempos pra Cá, 2005) e de parodiar o universo brega no single Compacto e Simples, também de 2005, Chico César dá nova amostra de sua versatilidade ao armar arraial moderno no álbum Francisco, Forró y Frevo. O artista recorreu ao produtor BiD - mentor do coletivo paulista Funk Como le Gusta, conceituado na cena eletrônica - para fazer um CD que mira tanto as festas juninas (através dos xotes e xaxados agrupados sob o genérico rótulo de forró) como a folia carnavalesca (através dos frevos). E o fato é que o disco é ótimo. Primeiro pelo fato de a safra de inéditas autorais do compositor ser de excelente nível. Segundo porque, com uso dosado dos recursos eletrônicos, BiD aditivou frevos e forrós sem descaracterizar os gêneros. Terceiro porque Chico César criou letras desencanadas, escritas sob ótica espirituosa. Mixado por Mario Caldato, Francisco, Frevo y Forró é disco alegre que fala de amor, sexo e diversão com verve, evocando um tom libertário.
Turbinado por BiD com sintetizadores, scratches e samples, o repertório é cativante - exceto por uma ou outra música menos inspirada, como Zabé, tributo à tocadora de pífano Zabé da Loca. Já na faixa de abertura, o frevo Girassol, as guitarras de Fernando Catatau sinalizam a busca por sonoridades atípicas no gênero. Nos xotes, como Comer na Mão e Ociosa, Chico César pretende realçar as afinidades rítmicas do gênero nordestino com o reggae jamaicano. No bloco dos frevos, houve a intenção de erguer a ponte Pernambuco-Bahia, integrando a habitual pulsação metaleira dos frevos ouvidos em Recife e Olinda com a guitarra baiana. A fusão encorpa Pelado, frevo em que Chico faz bem-humorado protesto contra a carestia dos abadás que garantem o acesso à folia de Salvador. Mestre da guitarra baiana, Armandinho - aliás, reverenciado no frevo Armando - é o convidado da faixa.
Se xotes como Feriado cortejam os festejos juninos, frevos como Humanequim (de longa passagem instrumental) e Solto na Buraqueira foram moldados para animar as folias com seus metais em brasa, soprados no ritmo carnavalesco. Não satisfeito, Chico César ainda requisitou outros três convidados para fortalecer seu arraial. Cantor veterano de frevos, Claudionor Germano solta a voz na Marcha da Cueca (única regravação do CD), unida em medley de alto teor erótico com a Marcha da Calcinha, parceria de César com Pedro Osmar. Dominguinhos põe voz e sanfona a serviço dos versos do xote Deus me Proteja. Já Seu Jorge canta Dentro em registro grave e interiorizado que combina bem com a sensualidade embutida na letra da música. Nem parece Seu Jorge.
Dentro do universo forrozeiro, o CD prioriza os xotes, mas Abaeté, Abaiacu e Namorado tem levada rápida que evoca os xaxados. Na letra, Chico César recorre à metáfora para abordar de forma espirituosa os crimes praticados contra homossexuais na Lagoa do Abaeté, ponto de encontros gays em Salvador (BA). Alertas à parte, Francisco, Forró y Frevo é disco de caráter festivo que mostra que, se usados com moderação, os recursos eletrônicos podem animar tanto raves quanto um arraial. O importante, no caso, foi manter a vibração original de frevos e forrós, pois, como sentencia o compositor em verso da faixa Eletrônica, "música eletrônica sem energia não dá". Ele tem razão!

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Chico César é ótimo compositor...e esse disco deve estar tudo de bom, mesmo.

Vou conferir.

Glauber 97

13 de junho de 2008 às 21:14  
Anonymous Anônimo said...

Salve, Salve, Salve!!!!!!!!!!

Chico César sabe tudo de r'timo e com certeza mais ainda de ritmos nordestinos> Apoiado por múiscos de primeira fez essa MARAVILHA de CD.
Que FELICIDADE!!!!!!!!!!!

13 de junho de 2008 às 23:05  
Blogger Carmem Silvia said...

Chico César é tudo de bom.
Ótima resenha!

14 de junho de 2008 às 09:07  
Anonymous Anônimo said...

Belíssima capa!!!

14 de junho de 2008 às 09:43  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, fiquei curioso. Tava na hora do grande Chico dar outro show. De vez em quando o cara arrebenta.

14 de junho de 2008 às 09:52  
Anonymous Anônimo said...

Chico está certíssimo.

A eletrônica é um grande recurso para ser usado como elemento dos arranjos. Mas é como bateria. Se for usado sozinho é um saaaaaaaaaaaaaacoooooooo.

Quem aguenta solo de bateria? A mesma coisa com música eletrônica, aquela coisa chata, longa, repetitiva, que esse pessoalzinho de roupinha fashion fica com aquela cara ridícula de deleite ouvindo por horas. Um porre. Você entra na boite e sai três horas depois com a sensação de que ouviu a mesma música a noite toda. Que saudade da dicotheque e suas musiquinhas bobas mas bonitinhas, gostosas, com letrinha e cantores bacanas cantando.

14 de junho de 2008 às 09:53  

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