20 de abril de 2008

Pêra tira maquiagem ao contar a saga frenética

Resenha de livro
Título: As Tais Frenéticas - Eu Tenho uma Louca Dentro de mim
Autor: Sandra Pêra
Editora: Ediouro
Preço: R$ 49, 90
Páginas: 224
Cotação: * * * 1/2

Em 5 de agosto de 1976, seis mulheres soltas na vida bancaram as garçonetes-cantoras da discoteca que Nelson Motta abria no então seminal Shopping da Gávea, situado num dos bairros mais nobres da Zona Sul do Rio de Janeiro. Nem elas sabiam que iam virar a mesa. Mas viraram a música brasileira de pernas pro ar, embaladas em meias de náilon que viraram símbolos daqueles dancin' days. É essa história de magia que Sandra Pêra, uma daquelas seis mulheres, revive em seu recém-editado livro As Tais Frenéticas - Eu Tenho uma Louca Dentro de mim.
A autora narra na primeira pessoa a saga do sexteto feminino As Frenéticas, que, além de Pêra, trazia na sua formação original Dudu, Edir, Leiloca, Lidoka, Regina e Sandra. Como os shows feitos pelo grupo na Frenetic Dancin' Days Discotheque encantavam mais os freqüentadores da casa do que a agilidade das garotas como garçonetes, as seis subiram literalmente no salto e injetaram alegria, irreverência e sensualidade numa música brasileira que não podia sorrir por conta das patrulhas ideológicas daqueles anos de repressão. Até então, somente a mutante Rita Lee tinha se dado ao desfrute libertário e subvertia a regra de que mulheres deviam cantar samba ou música romântica (mesmo as garotas papo firme da Jovem Guarda ensaiaram rebeldia devidamente controlada por suas mamães e pelo próprio sistema). Não por acaso, Rita acabou tendo sua trajetória entrelaçada com a das Frenéticas. O nome da Ovelha Negra consta nos créditos de músicas como Perigosa - o primeiro grande hit do grupo - e Fonte da Juventude, outra delícia do histórico LP de estréia das moças.
O sucesso na discoteca gerou tititi e um contrato com a gravadora WEA ainda em 1976. E, a partir do compacto que trazia A Felicidade Bate à sua Porta (de Gonzaguinha, compositor que seria recorrente no repertório do sexteto), o trem da alegria partiu veloz em direção a todo o Brasil. Com fluência, numa narrativa estruturada em tópicos que evoca a forma de um almanaque, com direito a incontáveis fotos, Sandra Pêra tira a maquiagem das Frenéticas e conta a história, revelando os meandros que as uniram (todas estavam desempregadas quando Nelson Motta teve a idéia de criar as garçonetes-cantoras), a sedução do sucesso, o conseqüente envolvimento com as drogas e o dissabor dos primeiros fracassos, quando a magia dos dancin' days já começava a se dissipar. Além do afeto que envolve as seis.
As Tais Frenéticas é interessante livro de memórias escrito em tom coloquial e informal, sem grandes rigores estilísticos. Não é uma reportagem que oferece a visão de todos os lados. A autora nunca abre mão do texto na primeira pessoa, mas a riqueza de detalhes de sua memória privilegiada permite a reconstituição dos fatos, dispostos no livro em ordem cronológica. E cada uma das (muitas) fotos ajuda a visualizar o que a autora relata no texto. Por ter vivido a própria história, falta algumas vezes à autora a visão crítica de quem estava fora da festa. Exemplo é o entusiasmo com que ela se refere à música É que Nessa Encarnação Eu Nasci Manga, composta por Luli e Lucina. Gravada pelas Frenéticas em seu terceiro álbum (Soltas na Vida, 1979), a música foi erroneamente escolhida pela WEA (a véia, como Sandra se refere jocosamente à gravadora hoje denominada Warner Music) sem ter o mesmo forte apelo de Perigosa, Dancin' Days e O Preto que Satisfaz, sucessos dos dois primeiros álbuns. A recepção morna da música e do terceiro LP foi o início do fim. As Frenéticas ainda abriram suas asas nos anos seguintes, mas o vôo nunca mais foi tão alto - em que pese bom álbum em torno da obra de Lamartine Babo (Babando Lamartine, 1980) injustamente inédito em CD.
A autora também aborda em As Tais Frenéticas as posteriores tentativas de reagrupar o grupo para evocar a magia dos dancin' days. A que repôs o grupo em real evidência aconteceu em 1992, quando as Frenéticas foram convocadas para gravar a música Perigosas Peruas para a abertura da novela homônima exibida pela Rede Globo naquele ano. A gravação rendeu coletânea, As Mais Gostosas das Frenéticas, turbinada com três músicas inéditas. Mas o revival foi efêmero. Em seu testemunho, a autora garante que percebera desde o início dos anos 80 que a festa do grupo já se aproximava do fim. Ficaram as memórias daqueles frenéticos dias dançantes, contadas por Sandra Pêra neste livro de caráter afetivo que documenta bem a saga daquelas pretensas seis garçonetes que - sem planejar uma revolução - viraram a mesa...

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Dancei MUUUUUITO ao som dessas garotas.
Ótimos tempos...

20 de abril de 2008 às 13:24  
Anonymous Anônimo said...

A banda não é muito a minha, mas o livro é ótimo.

Destaco historinhas espirituosas, como a ocasião em que um jornalista perguntou a Gonzaguinha o que ele achava de uma banda como as Frenéticas cantando "A Felicidade Bate à Sua Porta", ao que ele respondeu, curto e grosso: "Acho que quem tem linha é carretel".

E histórias sensíveis, como a do mesmo Gonzaguinha chegando ao hospital onde Sandra dera à luz Amora e colocando um fone na mamãe, para que ela pudesse ouvir a versão definitiva da canção que Gonzaga fizera para ela, "Eu Apenas Queria que Você Soubesse". Ou as meninas notando, durante as sessões de gravação de "Babando Lamartine", a tristeza do arranjador. Afinal, Cesar Mariano - "emprestado" por Elis Regina - já começava a viver, naquela virada de 80 para 81, o começo do fim da parceria musico-conjugal com Elis. Ou até o carinho que Sandra sempre demonstra, ao se referir a gente como um tal moleque de nome Lulu Santos, que viveu muito aqueles dias dançantes...

Bem, de certa forma, as Frenéticas continuam aí. Algumas foram para um caminho mais discreto. Outras ainda aparecem vez por outra, como a astróloga Leiloca ou a atriz Dhú Moraes, a Nega Dudu. E a memória daqueles dias prossegue...

Felipe dos Santos Souza

20 de abril de 2008 às 15:35  
Anonymous Anônimo said...

Gente, eu adoro as Frenéticas! Outro dia as encontrei no natureba de Ipanema e mandei torpedo e tudo. Tudo no maior respeito, para não perturbar o jantar. Uma dela é protética de profissão, não é?

20 de abril de 2008 às 17:01  
Anonymous Anônimo said...

Adorei o livro. Elas são geniais e Sandra Pêra é muito verdadeira.
Nivaldo

21 de abril de 2008 às 17:32  
Anonymous Anônimo said...

Coloque a música das Frenéticas em qualquer festa dance e verá o sucesso que ainda faz.Todos dançam!

23 de abril de 2008 às 16:33  
Anonymous Anônimo said...

O livro é bobo e cafona, como As Frenéticas.
Estou no meio da leitura e perdi a conta do número de vezes em que ela cita a própria altura (1,80 cm) como uma coisa fora do normal.

8 de maio de 2008 às 01:59  
Anonymous Anônimo said...

Não, o livro não é bobo ou cafona, o livro é gostoso de ler, é saudosista e em tom afetivo Sandra repassa com suas palavras tudo que ela viveu nesta época. Eu tinha apenas 12 anos no auge destas, que prá mim eram malucas, assim como Rita Lee...ledo engano, eram maravilhosas...estavam à frente de seu tempo e era o que mais me chamava à atenção. Tinham postura libertária, moderna, quebravam tabus e alegravam a cara feia do Brasil em eras 'Figueiredos' e outros...Melhor que o livro é esperar que relancem todos os álbuns em cds incluindo as versões citadas em espanhol e as inéditas gravadas em trabalhos paralelos.

Artur Corrêa Teixeira - BH
Produtor Editorial

15 de março de 2009 às 11:11  

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