29 de março de 2008

Olhar terno de Pillar desarma o caubói Waldick

Resenha de documentário
Título: Waldick - Sempre no meu Coração
Direção: Patrícia Pillar
Cotação: * * * *
Foto: Wellington Macedo
Em exibição no festival É Tudo Verdade
Rio de Janeiro: Ponto Cine Guadalupe (1 de abril, às 18h. 3 de abril, às 16h)
São Paulo: CineSesc (4 de abril, às 19h)
Brasília: Centro Cultural Banco do Brasil (19 de abril, às 20h)

"A vida é assim mesmo", resigna-se Waldick Soriano à certa altura do documentário que marca a feliz estréia da atriz Patrícia Pillar na direção cinematográfica. Exibido em primeira mão no festival É Tudo Verdade, o filme Waldick - Sempre no meu Coração foca o cantor de 74 anos com olhar terno, mas isento e até mesmo duro em alguns momentos. Ao assumir a câmera, Pillar se despiu do papel de fã assumida do cantor - muito popular nos anos 60 e 70 - para reapresentá-lo com fidelidade nessa fase crepuscular. E o que se vê na tela é um Waldick corroído pela solidão. "Durmo sozinho. Meu companheiro é o travesseiro", confidencia o astro resignado. A declaração é feito por Waldick em meio a depoimentos de mulheres magoadas (e ainda apaixonadas) que ajudam o espectador a entender as razões da solidão que acompanha Waldick na velhice. Sem nunca perder a ternura pelo personagem, Pillar vai construindo enredo que forma retrato sem retoques do ídolo formado na universidade da vida - como ele mesmo diz... O ponto fraco do filme é seu ralo material de arquivo.
Ex-garimpeiro e ex-engraxate, entre várias outras profissões desprezadas na escala social, Waldick se sagrou cantor e compositor das dores de amores - com pelo menos uma obra-prima no currículo, Tortura de Amor. Foi o ídolo de um Brasil que o Brasil finge ignorar. Mas que o filme de Pillar foca com generosos closes captados em cidades do interior da Bahia e do Ceará - locais em que Waldick volta e meia recupera a majestade ao subir em palcos pobres, quase improvisados, para cantar músicas como Vestida de Branco, Dama de Vermelho e Eu Também Sou Gente. Sim, o ex-garanhão Waldick Soriano não é cachorro, não. E o filme cresce quando Pillar consegue desarmar o caubói e fazê-lo sair da personagem que encarna como uma armadura. Em pungente entrevista, uma das últimas que concedeu para a cineasta estreante, Waldick abre o coração corroído por mágoas e desilusões familiares. E emociona o espectador ao se resignar diante da solidão, fiel companheira. Quando sobem os créditos finais, ao som de Cavalgada (Roberto e Erasmo Carlos) na voz de Waldick Soriano, está nu aquele que já foi o rei do Brasil interiorano. o Brasil tido como cafona (ou brega). E que sempre continuará rei no coração da (promissora) cineasta Patrícia Pillar.

10 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Mauro, o filme pode até ser recomendável mas a música de Waldick é ruim. Se tem gente no Brasil que canta, pobre desse Brasil. Não vamos exaltar isso só porque é popular. Nada contra o referido cantor mas é promovendo boa música que se forma o gosto musical de um país.

29 de março de 2008 às 16:06  
Anonymous Anônimo said...

Helena, uma sugestão: leia "Eu não sou cachorro, não" de Paulo César de Araújo. Vc verá q o Brasil, musicalmente, nunca foi pobre, e q a chamada música cafona contribuiu, e mto, pra esta grandiosidade.

29 de março de 2008 às 16:44  
Blogger Pedro Progresso said...

Mauro, você foi assistir ao documentário do Caetano (COração Vagabundo)?
E do Wally Salomão?
Espero sua resenha soobre eles, caso tenha visto.
=)

29 de março de 2008 às 18:37  
Anonymous Anônimo said...

Ô, Mauro.

Dá 5 estrelas para esse filme, por favor.

Esse documentário é maravilhoso. A Patrícia Pillar é uma das mulheres mais bacanas que há nesse país e estréia como excelente cineasta.

Tomara que ela continue assim.

abração,
Denilson

29 de março de 2008 às 20:26  
Blogger Pedro Progresso said...

Desculpa, Documentário sobre o Caetano Veloso!
E o outro sobre o Wally também?

29 de março de 2008 às 22:14  
Blogger EmpilhaDor de Poesias said...

Assistí o documentário Waldick-Sempre no meu coração e simplesmente o filme é uma pérola,comovente, lindo,delicado...tudo de bom!
Patrícia Pillar é uma cineasta de mão cheia,parabéns para ela.
Silvia

29 de março de 2008 às 23:21  
Anonymous Anônimo said...

Acrescento ao desejo de 'Pedropeter' meu anseio de uma resenha acerca de "Ninguém sabe o duro que dei", de Cláudio Manoel - sim, o Casseta -, Micael Langer e Calvito Leal, filme que trata dos sombrios bastidores do caso em que Wilson Simonal acabou ficando com a pecha de "delator", caindo num dos mais injustos ostracismos que a música nacional já viu.

Felipe dos Santos Souza

29 de março de 2008 às 23:34  
Blogger Márcio said...

Também recomendo a leitura de "Eu não sou cachorro não" a todos os que quiserem uma visão mais informativa e menos preconceituosa da música popular/brega no Brasil.

30 de março de 2008 às 12:09  
Anonymous Anônimo said...

Me lembrei do meu maravilhoso cd da trilha do filme "Domésticas".
Pra quem gosta de brega autêntico é uma belezura, recomendo.

Jose Henrique

30 de março de 2008 às 17:50  
Anonymous Djair said...

A arte não carece de preconceito, o termo pejorativo de brega é uma maneira de mascarar, um refinado gosto musical dos cults, que não conhecem Chopin, Jean Michel Jarre e outros mitos mundiais.No fundo mesmo todo mundo curte os boleros que falam de traição, amores utopicos e decepções, a boa musica é a que o povo aclama como Bievenido Granda, Miguel Aceves Mejias, Julio Iglesias, Beatles, Charles Aznavour, Sinatra e aqui no Brasil Nelson Gonçalves,Luiz Gonzaga, Roberto Carlos e WALDIK SORIANO.

23 de setembro de 2009 às 16:23  

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