Série 'As Divas' reúne vozes do Brasil pré-bossa
Resenha de coleção de CDs
Título: As Divas
Artistas: Ana Lúcia, Ângela Maria, Aracy de Almeida,
Carmen Costa, Dóris Monteiro, Emilinha Borba, Isaura
Garcia, Helena de Lima e Vanusa
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *
Garimpada no farto arquivo da extinta gravadora Continental, a coleção As Divas repõe em catálogo 13 discos de nove cantoras que, com as exceções de Ana Lúcia e Vanusa, são da era pré-Bossa Nova. São intérpretes diplomadas na época de ouro do rádio e do samba-canção. A catarinense Ana Lúcia é a mais desconhecida das 13. Teve um de seus três únicos discos (Canta Triste) reeditado em outubro na série RGE Clássicos, da Som Livre. Na coleção da Warner, é seu álbum de estréia - Ana Lúcia, gravado em 1959 em clima cool - que volta ao catálogo para reviver seu belo canto. 10!
As divas enfocadas na coleção, a rigor, nada têm de cool. Ângela Maria tem relançados dois discos de 1961. Não Tenho Você e Quando a Noite Vem flagram a Sapoti no auge vocal, mas seu repertório na época já tinha perdido o viço do cancioneiro mais chique que gravou nos anos 50. Aracy de Almeida (1914 - 1988), ao contrário, já não estava em sua melhor forma vocal quando gravou disco ao vivo no Teatro Lira Paulistana (SP), em 1980, ano em que Carmen Costa, também já bem distante de sua fase áurea, lançou LP com músicas de Dalto, Cartola, Noel Rosa e Aldir Blanc.
Aliás, o disco Carmen Costa traz o mesmo som datado de Dóris Monteiro, álbum feito em 1981, quando a intérprete de Mocinho Bonito já vivia fase crespuscular. Dos dois títulos da ótima Dóris incluídos na coleção, o melhor é Vento Soprando, álbum de 1958, a rigor uma coletânea de músicas do compositor Fernando César, gravadas com frescor pela cantora entre 1954 e 1956. Já Emilinha Borba (1923 - 2005) têm reeditados na série seu primeiro LP solo (Calendário Musical, gravado em 1957 com repertório muito irregular) e o tardio Oh! As Marchinhas..., editado em 1981 com o registro do show feito pela Favorita da Marinha com Jorge Goulart no projeto Seis e Meia, do Teatro João Caetano (RJ). Bom!
Isaura Garcia (1919 - 1993) volta às lojas com dois pioneiríssimos songbooks. Chico Buarque de Hollanda e Noel Rosa na Voz de Isaura Garcia (1968) é primoroso, inclusive pela iniciativa de juntar o então quase novato autor de A Banda com o Poeta da Vila, compositor que teria influenciado Chico. O outro songbook, Ary Barroso e Billy Blanco na Voz de Isaura Garcia, de 1969, seguiu a fórmula do anterior até no título, mas não soa tão impecável. Por sua vez, Helena de Lima (1917 - 1999) ficou na seara do samba-canção em Para Ouvir Helena, álbum de 1958. Já Vanusa é lembrada com disco popular de 1973, inexpressivo, a despeito de ter trazido o seu maior sucesso, Manhãs de Setembro.
Pautada mais pelo gosto pessoal do pesquisador Rodrigo Faour do que pela relevância dos discos (alguns a rigor irrelevantes, outros realmente preciosos), a série As Divas parece moldada para fãs e colecionadores das cantoras enfocadas na coleção. Nem todas as nove merecem o título de diva, mas são vozes que montam perfil da música brasileira que veio antes da Bossa Nova e que, no caso delas, seguiu à margem da revolução pregada por João Gilberto.
Título: As Divas
Artistas: Ana Lúcia, Ângela Maria, Aracy de Almeida,
Carmen Costa, Dóris Monteiro, Emilinha Borba, Isaura
Garcia, Helena de Lima e Vanusa
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *
Garimpada no farto arquivo da extinta gravadora Continental, a coleção As Divas repõe em catálogo 13 discos de nove cantoras que, com as exceções de Ana Lúcia e Vanusa, são da era pré-Bossa Nova. São intérpretes diplomadas na época de ouro do rádio e do samba-canção. A catarinense Ana Lúcia é a mais desconhecida das 13. Teve um de seus três únicos discos (Canta Triste) reeditado em outubro na série RGE Clássicos, da Som Livre. Na coleção da Warner, é seu álbum de estréia - Ana Lúcia, gravado em 1959 em clima cool - que volta ao catálogo para reviver seu belo canto. 10!
As divas enfocadas na coleção, a rigor, nada têm de cool. Ângela Maria tem relançados dois discos de 1961. Não Tenho Você e Quando a Noite Vem flagram a Sapoti no auge vocal, mas seu repertório na época já tinha perdido o viço do cancioneiro mais chique que gravou nos anos 50. Aracy de Almeida (1914 - 1988), ao contrário, já não estava em sua melhor forma vocal quando gravou disco ao vivo no Teatro Lira Paulistana (SP), em 1980, ano em que Carmen Costa, também já bem distante de sua fase áurea, lançou LP com músicas de Dalto, Cartola, Noel Rosa e Aldir Blanc.
Aliás, o disco Carmen Costa traz o mesmo som datado de Dóris Monteiro, álbum feito em 1981, quando a intérprete de Mocinho Bonito já vivia fase crespuscular. Dos dois títulos da ótima Dóris incluídos na coleção, o melhor é Vento Soprando, álbum de 1958, a rigor uma coletânea de músicas do compositor Fernando César, gravadas com frescor pela cantora entre 1954 e 1956. Já Emilinha Borba (1923 - 2005) têm reeditados na série seu primeiro LP solo (Calendário Musical, gravado em 1957 com repertório muito irregular) e o tardio Oh! As Marchinhas..., editado em 1981 com o registro do show feito pela Favorita da Marinha com Jorge Goulart no projeto Seis e Meia, do Teatro João Caetano (RJ). Bom!
Isaura Garcia (1919 - 1993) volta às lojas com dois pioneiríssimos songbooks. Chico Buarque de Hollanda e Noel Rosa na Voz de Isaura Garcia (1968) é primoroso, inclusive pela iniciativa de juntar o então quase novato autor de A Banda com o Poeta da Vila, compositor que teria influenciado Chico. O outro songbook, Ary Barroso e Billy Blanco na Voz de Isaura Garcia, de 1969, seguiu a fórmula do anterior até no título, mas não soa tão impecável. Por sua vez, Helena de Lima (1917 - 1999) ficou na seara do samba-canção em Para Ouvir Helena, álbum de 1958. Já Vanusa é lembrada com disco popular de 1973, inexpressivo, a despeito de ter trazido o seu maior sucesso, Manhãs de Setembro.
Pautada mais pelo gosto pessoal do pesquisador Rodrigo Faour do que pela relevância dos discos (alguns a rigor irrelevantes, outros realmente preciosos), a série As Divas parece moldada para fãs e colecionadores das cantoras enfocadas na coleção. Nem todas as nove merecem o título de diva, mas são vozes que montam perfil da música brasileira que veio antes da Bossa Nova e que, no caso delas, seguiu à margem da revolução pregada por João Gilberto.
15 Comments:
bobagem isso de situar a bossa como um ponto de modernidade na mpb e rotular quem veio antes de pre-histórico. aracy de almeida sempre teve bossa.
Acho aquele disco ao vivo da Aracy maravilhoso. A 'forma vocal' podia não ser a mesma, mas ela está em grande forma!
Queria saber como esse Faour tem tanta liberdade assim nos arquivos das gravadoras!!? Tem tanta gente com melhores idéias do q as dele...
"Tem tanta gente com melhores idéias do q as dele..." NOSSA! Tô roxo de curiosidade pra saber de quem você está falando! A despeito da sua inveja, entenda liberdade como COMPETÊNCIA. :-D
Ao anônimo das 8:59, para seu conhecimento, os arquivos das gravadoras mofam sem a devida atenção. Não fossem pesquisadores como Charles Gavin, Marcelo Fróes e Rodrigo Faour, que propõem idéias ao geralmente apáticos deparamentos de marketing estratégico das majors, muitos discos continuariam inéditos em CD.
sinto falta de Marlene nessa coleção.
Mauro,
como o post sobre o disco do geraldo carneiro não tem espaço para comentários, deixo aqui uma pergunta.
como conseguir o disco fora do rio de janeiro, ele vai ser distribuido por alguma gravadora?
Vou me informar sobre a venda do CD do Geraldo, mas acredito que, por se tratar de um selo do Sesc, ele estará à venda nas unidades do Sesc.
Para quem gosta do gênero, excelente nestes tempos pré-carnavalescos, recomendaria o cd Oh, as Marchinhas! Tem marchinha que nunca ouvi, mas Emilinha Borba e Jorge Goulart passeiam em canções de João de Barro, João Roberto Kelly, Ari Barroso, Lamartine Babo e outros. Tô querendo comprar o cd da "Dama do Encantado", mas por aqui já esgotou. E quanto a serem ou não divas, acho a Vanusa, Helena de Lima e Ana Lúcia, muito aquém do panteão das grandes cantoras. E faltarm nesta lista "das antigas(?)" a Divina Elizeth Cardoso, as irmãs Batista e sem dúvida Dalva de Oliveira.
Marcelo Barbosa com ajuda de sua mãe diretamente de Brasília (DF) para o blog do Mauro.rsrs Abraços.
Conheci Aracy de Almeida apenas em seus últimos tempos de jurada do SS. Achava-a uma grande figura. Jamais ouvi uma gravação sua e ouvi dizer que foi uma grande intérprete de Noel Rosa, a quem admiro muito. Alguém poderia me informar o que existe em CD de sua obra, uma vez que onde procuro ninguém sabe me informar.
Obrigado.
Ola...
Juarez, Aracy de Almeida é interessante... de vez em quando é bom ouvir gravações antigas misturadas com o que há de novidade. Procure na internet gravações suas... "Vaca amarela", dueto dela com Lamartine Babo, chega a ser engraçado e ela é muito afinada.
E Rodrigo Faour não é meu amigo, mas o conheço pessoalmente e me dá impressão de ser profissional da maior competência.
Ola...
Juarez, Aracy de Almeida é interessante... de vez em quando é bom ouvir gravações antigas misturadas com o que há de novidade. Procure na internet gravações suas... "Vaca amarela", dueto dela com Lamartine Babo, chega a ser engraçado e ela é muito afinada.
E Rodrigo Faour não é meu amigo, mas o conheço pessoalmente e me dá impressão de ser profissional da maior competência.
Eu entendo Mauro, mas tenho amigos jornalistas que tem ótimas idéias e não conseguem essa abertura que o Rodrigo tem. Jamais as gravadoras abririam as portas pra qq tipo de pesquisa. Tem que ter um QI muito forte pra pesquisar arquivos em gravadoras, não é tõa fácil assim não...
Tem diva demais nessa lista.
'Diva' não quer dizer deusa?
Ainda bem que o tópico permanece. Comprei o cd da Araci e simplesmente é impagável, ri muito. É um cd literalmente a vontade. Hilário ela procurando o tom. Ri muito, antológico este cd. A entrevista é simplesmente demais. Recomendo, pena só 30 min, mas o cd é barato e compensa. E Noel Rosa é simplesmente sem comentários. Abraços,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
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