5 de março de 2010

Bela porta para reentrar na música de Amelinha

Resenha de CD (Reedição)
Título: Porta Secreta
Artista: Amelinha
Ano: 1980
Gravadora: CBS (Sony
Music)
Cotação: * * * *


Cantora cearense projetada nos anos 70, Amelinha gravou bons discos com regularidade até a primeira metade da década de 80, mas não conseguiu dar continuidade à sua discografia inicial, salvo um ou outro projeto de forró de caráter mais populista. Terceiro álbum da intérprete, lançado originalmente em 1980 e até então inédito em CD, Porta Secreta chega, enfim, ao formato digital na coleção Caçadores de Música, que está sendo posta nas lojas pela gravadora Sony Music com reedições de 51 títulos que estavam fora de catálogo (o terceiro álbum de Elba Ramalho - Elba, de 1981 - também ganhou sua primeira edição em CD nessa série). A arte gráfica da reedição é primorosa, preservando e reproduzindo as fotos e informações do LP original. Quanto ao som, é satisfatório - embora não haja indicação de remasterização na ficha técnica. Lançado no embalo do estouro nacional de Foi Deus que Fez Você, iluminada canção de Luiz Ramalho defendida por Amelinha no festival MPB-80 (TV Globo, 1980), Porta Secreta emplacou nas paradas o galope Gemedeira (Robertinho de Recife e Capinam). Mas seu repertório, ouvido 30 anos depois, resiste bem ao tempo, cabendo destacar Esquinas Nacionais, pungente tema em que Leno, aproveitando os ventos da abertura política que sopravam desde 1979, revolve com lirismo sombras da guerrilha desigual de ideais travada ao longo da ditadura instaurada no Brasil em 1964. A gaita virtuosa de Maurício Einhorn sobressai no arranjo de Paulo Machado. O mesmo tom politizado permeia Beijo Morto Beijo (Pedro Osmar e Jaiel de Assis). Já o choro-canção De Mim que Fui, De Mim que Sou (Gereba e Patinhas) tem um clima seresteiro que aparecia também na delicada abordagem de Valsinha (Chico Buarque e Vinicius de Moraes) feita por Amelinha ao lado de Toquinho. Já Renegado (Clodô, Climério, Clésio) é daquelas típicas canções que apareciam no repertório de Fagner nos anos 70 (os autores são irmãos nascidos no Piauí). Autor da abolerada faixa-título, Porta Secreta, Zé Ramalho dividiu a produção do álbum com Mauro Motta e conduziu a direção musical. Direção acertada, valorizada por produção rica, com direito a metais e cordas em várias faixas. Enfim, uma bela porta para entrar - ou reentrar - na discografia de Amelinha, cantora de timbre e personalidade bem delineados. Que deveria ter tido carreira fonográfica condizente com o seu talento.

20 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sabemos o que de fato fez com que a carreira de Amelinha ( e até de Zé Remalho ) ficasse espaçada nos anos 80 ...

Sofia Barreto
Guapimirim-RJ

5 de março de 2010 às 22:09  
Blogger André said...

Que venham outros títulos dessa grande artísta!

P.S.: Ô, Mauro, faz a resenha dos relançamentos da Gal(creio q dentro desse mesmo projeto da Sony)! Obrigado!

5 de março de 2010 às 23:42  
Anonymous Telmo said...

Oi Mauro, tem a lista dos outros 50 títulos da coleção Caçadores de música? Alguma coisa mais antiga do Fagner (Traduzir-se, por exemplo)?

6 de março de 2010 às 01:05  
Blogger Fábio Passadisco said...

Mauro.

Belo texto sobre um belo disco... só queria fazer uma correção: "Foi Deus Que Fez Você" é do paraibano Luiz Ramalho e não do pernambucano Luiz Bandeira (autor de "Voltei Recife", "Que Bonito É", entre outras)

6 de março de 2010 às 09:34  
Blogger Mauro Ferreira said...

Fábio, grato pela observação do erro na autoria da faixa Foi Deus que Fez Você, já corrigido. Abs, MauroF

6 de março de 2010 às 10:07  
Blogger Geraldo said...

Clodo, Climério e Clésio são piauienses e não cearenses.

Quais são os outros títulos da série?

Seria muito bom que conseguissem relançar outros títulos da antiga CBS, a exemplo do disco SORO e de discos de Petrucio Maia, Manassés, Banda Santarém, Massafeira, Patativa do Assaré, Fagner, entre outros.

6 de março de 2010 às 10:48  
Anonymous Anônimo said...

Há anos espero essa reedição! Esse terceiro rebento da Amelinha é lindo, rodou muito na vitrola lá de casa nos bons idos anos 80! Aproveitando, recado pro internauta Telmo: "Traduzir-se", um dos últimos bons suspiros de Fagner, foi reeditado em cd em 1992, numa série (já fora de catálogo) chamada "Geração Nordeste"!
Valeu, Mauro! Com esa notícia ganhei o fim-de-semana!
Abs,
Ricardo Guima

6 de março de 2010 às 10:51  
Blogger Mauro Ferreira said...

Geraldo, muito obrigado pela informação da origem dos irmãos Clodô, Climério e Clésio. Já corrigi o texto. Abs, MauroF

6 de março de 2010 às 10:59  
Anonymous Lurian said...

Lamento que a carreira de Amelinha tenha tomado esse rumo, ela era a maior cantora de galopes (Gemedeira, Galope rasante) dominando com maestria os ritmos rápidos como o frevo(frevo mulher, Romance da lua lua), dos baiões agalopados (Coito das araras)também se destacando também nas rancheiras juninas. Sua atual ausência no cenário musical é uma perda qualitativa para todos nos.

6 de março de 2010 às 10:59  
Blogger Mauro Ferreira said...

Aviso aos navegantes, a tiragem inicial de Porta Secreta é de apenas mil cópias. Sugiro que comprem logo o disco (à venda no site da livraria Saraiva, por exemplo) porque não acredito que a Sony vá produzir uma nova tiragem caso a atual se esgote. Abs, MauroF

6 de março de 2010 às 11:00  
Blogger Fábio Passadisco said...

Mauro.

Segundo a Sony, os títulos mais vendidos vão ficar em catálogo e novos serão relançados... Falam até no "Massafera".

6 de março de 2010 às 12:35  
Anonymous Anônimo said...

Emanuel Andrade

Amelinha é uma grande figura. No São João do ano passado tive a oportunidade de bater um longo papo(entrevista) com essa cantora que ouço desde guri. Ela tem histórias curiosas. Pra quem não sabe a bela Tempo Rei que Gil fez e mostrou por acaso, ai num encontro com o baiano na casa do Jorge Mautner, ela disse que a canção era dela e mais ninguém quando ouviu os versos "Mãe senhora do perpétuo socorrei". O disco Água e Luz também é fenomenal. Nesse porta Secreta é impecável a Esquinas Nacionais.
Só queria saber da qualidde do áudio, porque o vinil era abafado.
Mauro, manda ver o que vai sair mais nessa coleção.

6 de março de 2010 às 14:06  
Anonymous Anônimo said...

Mesmo os discos que o Mauro qualificou de 'mais populistas' tem boas músicas de compositores menos conhecidos no eixo sul-sudeste como Aciolly Neto, Anchieta Dalí e outros. Acho a discografia da Amelinha de boa qualidade e realmente concordo que os arranjos tem resistido bem ao tempo.

6 de março de 2010 às 15:21  
Anonymous Anônimo said...

Foi uma excelente iniciativa da Sony colocar em catálogo algumas jóias raras da nossa música, porém ela esqueceu de algumas pérolas. Tomaram que venham em breve:
1. João Bosco - Tiro de Misericórdia;
2. Fágner 1986 - Lua do Leblon, além dos 2 em espanhol;
3. Beth Carvalho - Coração Feliz e Ao vivo em Montreux;
4. Amelinha - Água e Luz e Caminho do Sol;
5. Os discos de Nélson Gonçalves, Altemar Dutra e Luiz Gonzaga inéditos em CDs.

Vamos torcer. O difícil é o começo. Como já começou...

6 de março de 2010 às 15:54  
Anonymous Anônimo said...

Esse disco da Amelinha é lindo. Vale a pena comprar, mas ela fez uns também popularescos. Muito ruins. Espero que volte ao mundo da música pela porta da frente. É uma bela voz. Uma figura interessante. Vou comprar!

6 de março de 2010 às 20:37  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, sabe se os discos da potiguar Terezinha de Jesus também serão relançados? Os 3 primeiros (Vento Nordeste, Caso de Amor e Sotaque)valem muito a pena!
Abs,
Ricardo Guima

8 de março de 2010 às 10:45  
Anonymous Anônimo said...

A Sony também nos deve os 2 incríveis discos que a genial paraibana Cátia de França lançou em 79 (Vinte palavras ao redor do sol) e 80 (Estilhaços), bem que podia sair um 2 em 1...
Abs,
Ricardo Guima

9 de março de 2010 às 11:41  
Blogger KL said...

Depois desse álbum luxuoso em todos os sentidos, Amelinha ainda faria dois lps interessantes mas, com certeza, "Porta Secreta" foi o auge dela. E, mesmo os discos medianos da época, são mil vezes melhores do que 90% das produções atuais, de cantoras que também resolveram compor - sem talento nenhum para isso.

KL

14 de março de 2010 às 23:04  
Anonymous Anônimo said...

Mauro

Muito boa esta resenha sobre a "porta secreta", de Amelinha. Realmente ela faz muita falta na MPB, uma voz única e uma sensibilidade à flor da pele. Tenho todos os discos dela e de fato, "Flor da Paisagem", "Frevo Mulher" e este "Porta secreta" são imbatíveis. Mas Amelinha também gravou o excelente "Água e Luz" e no disco "Mulher nova bonita e carinhosa..." há canções maravilhosas! Sou fã incondicional da cantora, desde os anos 80, e acompanho também suas incursões pelos forrós e xotes, como no excelente CD "vento, forró e folia", de 2002.
Que venham novas gravações de Amelinha. Que falta ela faz!
Um abraço, Mauro.
Gilmar Trindade
Itabuna/BA

7 de abril de 2010 às 23:42  
Blogger Edu César said...

Ola Mauro.
Sou doídio por essa mulher com
voz de deusa grega.
Gostaria muito de saber sobre um
disco Amelinha chamado "Fruta Madura", que sei que existe porque
já ví até a capa do disco na internete, fora que no youtube tem
esta musica que é uma das ultimas
composições do Gonzaguinha, só que
o disco que é bom, cadê? Já revirei
os sebos de Sampa e nada.
Abraços.
Edu

30 de abril de 2010 às 21:05  

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