3 de março de 2010

Emílio 'dá baile' no óbvio ao evocar Ed Lincoln

Resenha de CD
Título: Só Danço Samba
Artista: Emílio Santiago
Gravadora: Santiago
Music
Cotação: * * * * 1/2

Emílio Santiago gravou outro disco de um jeito diferente do que costuma fazer. Título que vai inaugurar o selo do cantor, Santiago Music, Só Danço Samba é um tributo ao suingue de Ed Lincoln, o músico cearense que migrou para o Sul e, pilotando seu órgão elétrico, se tornou um dos reis dos bailes em épocas mais românticas. Pois Emílio dá baile na mesmice ao fazer este CD que evoca o balanço de Lincoln. O som do órgão - tocado por Julinho Teixeira - sobressai bem nas 14 faixas do álbum, produzido com requinte harmônico por José Milton, que já havia pilotado outro grande título da discografia de Emílio (Bossa Nova, Sony Music, 2000). À altura do ótimo CD anterior do cantor, De um Jeito Diferente (Indie Records, 2007), Só Danço Samba ratifica a opção do artista por álbuns feitos sem pressões mercadológicas. Com sua voz aveludada de afinação e emissão impecáveis, Emílio deita e rola no ritmo de standards como Samba de Verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle - com direito a alguns versos em inglês do sucesso internacional dos irmãos cariocas), Influência do Jazz (Carlos Lyra - com uma percussão de sotaque cubano), Só Danço Samba (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). O jeito diferente vem do órgão de Julinho Teixeira - fiel à sonoridade de Lincoln - e do repertório que não se limita aos clássicos. Emílio traz à tona três temas de autoria do próprio Ed Lincoln, que, em seus bailes, não se restringia a tocar músicas alheias. Deix'Isso pra Lá - parceria de Lincoln com Luiz Paulo - é o destaque dos três por seu balanço moldado para os salões. Já Olhou pra mim e Nunca Mais, músicas feitas por Lincoln com Silvio César, são exemplos da melancolia romântica que também dava o tom dos bailes. E, por falar em temas, o samba A Cada Dia que Passa - composto por Antonio Adolfo e gravado originalmente por Emílio no segundo disco do pianista, Continuidade (1980) - se distingue do repertório pela abordagem social da letra, pioneira ao retratar a inércia do povo face às injustiças sociais e misérias humanas do mundo moderno. Por ter sido lançado em disco independente de repercussão bem restrita, A Cada Dia que Passa vai soar como um samba inédito, a exemplo de um outro belo exemplar do gênero, Confissão, rara parceria de Djalma Ferreira e Luiz Bandeira. Dentre os temas mais conhecidos, Emílio foi feliz ao selecionar Sambou, Sambou - joia de João Donato e João Melo lapidada no clima dos bailes - e Tendência, o samba de Ivone Lara e Jorge Aragão, recriado pelo cantor em tons suaves, subinhados pelo trombone de Roberto Marques. E, mesmo pontuado por certa melancolia amorosa, o baile de Emilio Santiago nunca fica desanimado. Quase no fim, o cantor marca outro golaço ao trazer parceria de Mart'nália e Mombaça, Chega, para o universo dos salões de outrora. E o baile termina em alto astral, com a alegria do medley carnavalesco que junta Zum Zum Zum (Orlandivo e Durval Ferreira), Vou Rir de Você (Heitor Menezes) e Na Onda do Berimbau (Oswaldo Nunes). Um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos, Emílio Santiago cresce quando faz discos de um jeito refinado e diferente.

P.S.: O CD Só Danço Samba não está nas lojas. Emílio Santiago ainda negocia a distribuição do disco (que vai sair ainda este ano).

7 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Emílio Santiago gravou outro disco de um jeito diferente do que costuma fazer. Título que vai inaugurar o selo do cantor, Santiago Music, Só Danço Samba é um tributo ao suingue de Ed Lincoln, o músico cearense que migrou para o Sul e, pilotando seu órgão elétrico, se tornou um dos reis dos bailes em épocas mais românticas. Pois Emílio dá baile na mesmice ao fazer este CD que evoca o balanço de Lincoln. O som do órgão - tocado por Julinho Teixeira - sobressai bem nas 14 faixas do álbum, produzido com requinte harmônico por José Milton, que já havia pilotado outro grande título da discografia de Emílio (Bossa Nova, Sony Music, 2000). À altura do ótimo CD anterior do cantor, De um Jeito Diferente (Indie Records, 2007), Só Danço Samba ratifica a opção do artista por álbuns feitos sem pressões mercadológicas. Com sua voz aveludada de afinação e emissão impecáveis, Emílio deita e rola no ritmo de standards como Samba de Verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle - com direito a alguns versos em inglês do sucesso internacional dos irmãos cariocas), Influência do Jazz (Carlos Lyra - com uma percussão de sotaque cubano), Só Danço Samba (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). O jeito diferente vem do órgão de Julinho Teixeira - fiel à sonoridade de Lincoln - e do repertório que não se limita aos clássicos. Emílio traz à tona três temas de autoria do próprio Ed Lincoln, que, em seus bailes, não se restringia a tocar músicas alheias. Deix'Isso pra Lá - parceria de Lincoln com Luiz Paulo - é o destaque dos três por seu balanço moldado para os salões. Já Olhou pra mim e Nunca Mais, músicas feitas por Lincoln com Silvio César, são exemplos da melancolia romântica que também dava o tom dos bailes. E, por falar em temas, o samba A Cada Dia que Passa - composto por Antonio Adolfo e gravado originalmente por Emílio no segundo disco do pianista, Continuidade (1980) - se distingue do repertório pela abordagem social da letra, pioneira ao retratar a inércia do povo face às injustiças sociais e misérias humanas do mundo moderno. Por ter sido lançado em disco independente de repercussão bem restrita, A Cada Dia que Passa vai soar como um samba inédito, a exemplo de um outro belo exemplar do gênero, Confissão, rara parceria de Djalma Ferreira e Luiz Bandeira. Dentre os temas mais conhecidos, Emílio foi feliz ao selecionar Sambou, Sambou - joia de João Donato e João Melo lapidada no clima dos bailes - e Tendência, o samba de Ivone Lara e Jorge Aragão, recriado pelo cantor em tons suaves, subinhados pelo trombone de Roberto Marques. E, mesmo pontuado por certa melancolia amorosa, o baile de Emilio Santiago nunca fica desanimado. Quase no fim, o cantor marca outro golaço ao trazer parceria de Mart'nália e Mombaça, Chega, para o universo dos salões de outrora. E o baile termina em alto astral, com a alegria do medley carnavalesco que junta Zum Zum Zum (Orlandivo e Durval Ferreira), Vou Rir de Você (Heitor Menezes) e Na Onda do Berimbau (Oswaldo Nunes). Um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos, Emílio Santiago cresce quando faz discos de um jeito refinado e diferente.

P.S.: O CD Só Danço Samba não está nas lojas. Emílio Santiago ainda negocia a distribuição do disco (que vai sair ainda este ano).

3 de março de 2010 às 11:19  
Anonymous Anônimo said...

Deve ser um primor esse cd. Emilio com um repertório fantástico desses é pra provar pra esses artistas novatos que não adianta inventar modismos, ser polêmico e fazer caras e bocas pra fazer um trabalho de qualidade e verdadeiro. Que venha logo pra nossas mãos e ouvidos esse novo cd.

3 de março de 2010 às 11:46  
Anonymous Dirce said...

Só ouvindo.
Tenho medo do som de churrascaria do homenageado.

3 de março de 2010 às 12:52  
Anonymous Anônimo said...

Torço muito pelo Emílio Santiago. Ele é sensacional! Dia desses o assisti cantando "Guacyra" no programa do Rolando Boldrim. Foi pura emoção!

3 de março de 2010 às 15:49  
Anonymous Anônimo said...

De Emílio a única coisa que tá faltando é o box com os discos dele da fase Phillips/Polygram, inclusive o Feito Para Ouvir com as capas originais. Tomara que Rodrigo Faour perceba que estão faltando estes discos em CD.

3 de março de 2010 às 17:54  
Anonymous Anônimo said...

Mais um golaço do genial Emílio! Que esteja nas lojas o mais rápido possível!!! Nivaldo.

3 de março de 2010 às 22:15  
Anonymous Anônimo said...

sem dúvida, um dos 10 melhores cantores brasileiros na ativa. Mesmo sem ouvir, já podemos prever que será um bom disco pela homenagem a Ed Lincol. A capa do cd, porém, é horrorosa.

16 de março de 2010 às 21:26  

Postar um comentário

<< Home