14 de maio de 2009

Banda legitima combinação exótica de Marjorie

Resenha de Show
Título: Combinação Sobre Todas as Coisas
Artista: Marjorie Estiano (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Posto 8 (RJ)
Data: 13 de maio de 2009
Cotação: * * 1/2
Em cartaz dia 20 de maio, às 21h

Em 2005, Marjorie Estiano abriu o leque estético de seu até então limitado repertório para gravar DVD - em show cujo roteiro ia de Madonna (Cherish) a Chico Buarque (Até o Fim) - e mostrou que tinha voz e talento para ser bem mais do que a cantora juvenil fabricada pela gravadora Universal Music em 2004. Contudo, sua meteórica ascensão como atriz de novelas ofuscou sua carreira fonográfica e prejudicou a divulgação do segundo CD da artista, Flores, Amores e Blablablá (2007), esquecido pela própria Marjorie para se dedicar ao trabalho como protagonista da novela Duas Caras. O show que apresentou na noite de ontem, 13 de maio de 2009, na casa carioca Posto 8, é tentativa ainda tímida de retomar a carreira de cantora e burilar repertório para futuro CD.

Em cartaz somente na próxima quarta-feira, 20 de maio, o show já teve denunciado pelo seu título, Combinação Sobre Todas as Coisas, o ecletismo que caracteriza o roteiro. Tal combinação poderia soar meramente exótica, mas o fato é que o entrosado sexteto - arregimentado pela dupla de produtores André Aquino e Alexandre Castilho - legitima e dá unidade ao repertório. Já no primeiro número - Cajuína (Caetano Veloso), música arranjada com metais à moda de Kassin - salta aos ouvidos a originalidade dos arranjos. A presença de um acordeom, pilotado por João Bittencourt, faz com que a combinação sonora seja inusitada e valorize músicas como Pra Você Gostar de mim (Ta-Hí), o tema de Joubert de Carvalho que alavancou a carreira fonográfica de Carmen Miranda (1909-1955) em 1930 em registro carnavalesco.

O ponto negativo da estreia do show foi a própria Marjorie, nervosa em cena, sem demonstrar a segurança exibida no DVD de 2005. Ela é uma cantora de personalidade. A abordagem que dá às músicas - "as favoritas das favoritas", como conceituou em cena - não evoca o estilo de outras cantoras. Contudo, talvez por ser também atriz, Marjorie extrapolou nas caras e bocas quando apresentou músicas como Cupid (Sam Cooke). Seu excessivo gestual ficou evidente também em Ilegal, Imoral ou Engorda e ofuscou até o arranjo suingante que embalou o tema de Roberto e Erasmo Carlos, lançado pelo Rei em 1976. Menos, no caso, é mais.

O nervosismo - excessivo, já que a platéia era quase toda formada por amigos - também se fez perceber nos comentários feitos pela cantora em cena, quase todos bobos e dispensáveis. O ápice do blablablá foi um "Vamos lá, Salvador!" no meio da releitura em ritmo de reggae de Stand by me (Ben E. King, Jerry Leiber e Mike Stoller). "Não tenho muita habilidade para conversar", admitira a própria Marjorie em cena, momentos antes, após fazer sua versão pop, de clima bluesy, de Até o Fim (Chico Buarque). Teria sido melhor então que apenas cantasse, pois, se limpar seu gestual e se concentrar nas interpretações, Marjorie pode vir a se estabelecer como cantora. Mesmo sem maturidade para encarar um tema de Tom Waits (Chocolate Jesus) ou um standard de George e Ira Gershwin (They Can't Take That Away from me - em clima jazzy), a artista mostrou bom potencial do ponto de vista estritamente vocal. O que falta é se concentrar mais na música em si e domar o nervosismo. A combinação resultou bacana no Miss Celie's Blues - tema do filme A Cor Púrpura que Marjorie já havia cantado bem no DVD de 2005 - e na classuda interpretação de Ne me Quitte Pas (Jacques Brel) feita sob um foco de luz vermelha em exuberante arranjo. Talento e voz, Marjorie Estiano já tem. Falta é lapidá-los...

8 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Resenha de Show
Título: Combinação Sobre Todas as Coisas
Artista: Marjorie Estiano (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Posto 8 (RJ)
Data: 13 de maio de 2009
Cotação: * * 1/2
Em cartaz dia 20 de maio, às 21h

Em 2005, Marjorie Estiano abriu o leque estético de seu até então limitado repertório para gravar DVD - em show cujo roteiro ia de Madonna (Cherish) a Chico Buarque (Até o Fim) - e mostrou que tinha voz e talento para ser bem mais do que a cantora juvenil fabricada pela gravadora Universal Music em 2004. Contudo, sua meteórica ascensão como atriz de novelas ofuscou sua carreira fonográfica e prejudicou a divulgação do segundo CD da artista, Flores, Amores e Blablablá (2007), esquecido pela própria Marjorie para se dedicar ao trabalho como protagonista da novela Duas Caras. O show que apresentou na noite de ontem, 13 de maio de 2009, na casa carioca Posto 8, é tentativa ainda tímida de retomar a carreira de cantora e burilar repertório para futuro CD.

Em cartaz somente na próxima quarta-feira, 20 de maio, o show já teve denunciado pelo seu título, Combinação Sobre Todas as Coisas, o ecletismo que caracteriza o roteiro. Tal combinação poderia soar meramente exótica, mas o fato é que o entrosado sexteto - arregimentado pela dupla de produtores André Aquino e Alexandre Castilho - legitima e dá unidade ao repertório. Já no primeiro número - Cajuína (Caetano Veloso), música arranjada com metais à moda de Kassin - salta aos ouvidos a originalidade dos arranjos. A presença de um acordeom, pilotado por João Bittencourt, faz com que a combinação sonora seja inusitada e valorize músicas como Pra Você Gostar de mim (Ta-Hí), o tema de Joubert de Carvalho que alavancou a carreira fonográfica de Carmen Miranda (1909-1955) em 1930 em registro carnavalesco.

O ponto negativo da estreia do show foi a própria Marjorie, nervosa em cena, sem demonstrar a segurança exibida no DVD de 2005. Ela é uma cantora de personalidade. A abordagem que dá às músicas - "as favoritas das favoritas", como conceituou em cena - não evoca o estilo de outras cantoras. Contudo, talvez por ser também atriz, Marjorie extrapolou nas caras e bocas quando apresentou músicas como Cupid (Sam Cooke). Seu excessivo gestual ficou evidente também em Ilegal, Imoral ou Engorda e ofuscou até o arranjo suingante que embalou o tema de Roberto e Erasmo Carlos, lançado pelo Rei em 1976. Menos, no caso, é mais.

O nervosismo - excessivo, já que a platéia era quase toda formada por amigos - também se fez perceber nos comentários feitos pela cantora em cena, quase todos bobos e dispensáveis. O ápice do blablablá foi um "Vamos lá, Salvador!" no meio da releitura em ritmo de reggae de Stand by me (Ben E. King, Jerry Leiber e Mike Stoller). "Não tenho muita habilidade para conversar", admitira a própria Marjorie em cena, momentos antes, após fazer sua versão pop, de clima bluesy, de Até o Fim (Chico Buarque). Teria sido melhor então que apenas cantasse, pois, se limpar seu gestual e se concentrar nas interpretações, Marjorie pode vir a se estabelecer como cantora. Mesmo sem maturidade para encarar um tema de Tom Waits (Chocolate Jesus) ou um standard de George e Ira Gershwin (They Can't Take That Away from me - em clima jazzy), a artista mostrou bom potencial do ponto de vista estritamente vocal. O que falta é se concentrar mais na música e domar o nervosismo. A combinação resultou bacana no Miss Celie's Blues - tema do filme A Cor Púrpura que Marjorie já havia cantado bem no DVD de 2005 - e na classuda interpretação de Ne me Quitte Pas (Jacques Brel) feita sob um foco de luz vermelha em exuberante arranjo. Talento e voz, Marjorie Estiano já tem. Falta é lapidá-los...

14 de maio de 2009 às 12:49  
Anonymous Anônimo said...

Nunca entendi esses seus elogios a Marjorie, é melhor ela continuar como atriz mesmo.

14 de maio de 2009 às 16:35  
Anonymous Marcelo said...

Olha, eu concordo com o Mauro. Essa menina é muito talentosa. E se o que falta é ganhar segurança, não é nada que um bom profissional dirigindo o trabalho de interpretação não resolva. Ela é muito boa cantora e tem potencial pra crescer ainda mais.
Um abraço!

14 de maio de 2009 às 17:45  
Anonymous Rafa said...

Coinciência ou não, quatro das músicas citadas já foram cantadas e gravados pelo Renato Russo, solo ou na Legião.

(Apenas uma curiosidade...)

14 de maio de 2009 às 22:21  
Anonymous Felipe dos Santos Souza said...

Olha, eu concordo que a carreira de Marjorie vai evoluindo. Lentamente, mas vai.

Agora, caso continue tendo a carreira meio truncada pela solidez de sua evolução como atriz, até sinto dizer, mas não vai dar para (e)levar a carreira musical no mesmo patamar de importância, não.

Até daria nos Estados Unidos, onde exemplos de "cantrizes" campeiam à larga. Mas cá no Brasil... só olhar para Lucinha Lins e Zezé Motta, que desaceleraram na música tão logo engrenaram como atrizes. Ou para gente que aproveitou a fama fugaz para gravar uma coisinha e só, como Beth Goulart.

De minha parte, acho que ela tem talento e vai continuar, mas sem tanta regularidade.

P.S.: Concordo com Mauro: o histrionismo dela, às vezes, cansa. Muito "scat singing" para meu gosto.

15 de maio de 2009 às 08:30  
Blogger Felipe Melo said...

Eu acho que essa menina tem futuro, mas ainda não gravou O HIT, só isso!

Wanessa Camargo não lança algo pra estourar a boca do balão já há algum tempo e ninguém fala nada, o mesmo acontece com a "eterna cantora mirim" Sandy, que digamos de passagem, seu irmão medíocre foi mais longe!

15 de maio de 2009 às 14:14  
Anonymous Moisés said...

Bem, há um vídeo de Cajuína no youtube. Até fui tentar, mas é constrangedor.

15 de maio de 2009 às 15:21  
Anonymous Leandro Moura said...

Eu gosto muito do estilo da Marjorie!Acho ela natural,sensivel e uma grande atriz e cantora!

15 de maio de 2009 às 16:23  

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