21 de agosto de 2010

Sucessão de hits eletriza o 'Acústico II' de Lulu

Resenha de Show
Título: Lulu Santos Acústico MTV II
Artista: Lulu Santos (em fotos de Mauro Ferreira)
Participação especial: Jorge Ailton e Marina de la Riva
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 20 de agosto de 2010
Cotação: * * * *
Em cartaz até 21 de agosto de 2010
Associadas aos grafismos de inspiração afro que moldam o bonito cenário do show Lulu Santos Acústico MTV II, as vozes africanas ouvidas na introdução do espetáculo sugerem guinada estética no repertório do Rei do Pop nativo. Contudo, ainda que remodele algumas músicas de seu vasto cancioneiro através dos arranjos e das divisões inusitadas de seu canto, o artista é sagaz o suficiente para entender que não pode transfigurar radicalmente as canções que todo mundo quer ouvir em seu formato original. É a sucessão de hits - e Lulu figura no seleto clube dos compositores que podem se dar ao luxo de cantar apenas sucessos durante duas horas de show - que eletriza a segunda incursão pela já desgastada série acústica da MTV, feita dez anos após a primeira. Não há banquinho. Há, sim, o violão que - aliado à percussão magistral de Pretinho da Serrinha - molda a sonoridade eletroacústica do show, que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na casa Vivo Rio, na noite de 20 de agosto de 2010, após estrear duas semanas antes em São Paulo.
Talvez justamente por não alocar hits em seu início, o show dá a falsa primeira impressão de ser morno. A inédita E Muito Mais (2010) e a obscura Papo Cabeça (1990) - não dão liga entre público e artista. A fina sintonia se esboça no terceiro número, Um pro Outro (1986), cai no popsambalanço Dinossauros do Rock (1988) e se estabelece definitivamente a partir de Toda Forma de Amor (1988). Por seu caráter catártico, a bela sequência tríplice com Toda Forma de Amor, Um Certo Alguém (1983) e O Último Romântico (1984) é um daqueles momentos de total comunhão entre público (fiel) e artista que cria atmosfera de irresistível encantamento. E em momentos como esse pouco parecem importar as novidades dos arranjos como a sutil ambientação de tango que desloca Vale de Lágrimas (2005) de seu clima original ou a releitura em ritmo de baião de Tudo Azul (1984) - esta com direito à zabumba. Reincidente no formato acústico, Lulu faz o que pode para diluir a inevitável dose de redundância do projeto. E, mais do que nos arranjos, as ousadias estilísticas residem nas modulações e divisões vocais que dão outra pulsação a hits como A Cura (1988), Tudo Bem (1985) e Minha Vida (1986). Mas tudo isso também parece pouco importar quando se faz ouvir com força na casa Vivo Rio o coro espontâneo do público em canções como Apenas Mais Uma de Amor (1992), hit do acústico de 2000.
Baixista da azeitada banda, Jorge Ailton garante o reforço vocal de Um pro Outro e assume a cena para fazer dueto - com dicção deficiente e sem carisma - com o patrão anfitrião em O Óbvio, música de seu primeiro disco solo, O Ano 1 (2010). Na sequência, é a vez de Marina de la Riva entrar em cena para pôr o molho latino em Adivinha o Quê (1983) - com versos em castelhano. De novo senhor da cena, Lulu injeta batida diferente na suingante Brumário (1989) e cai no samba em Sábado à Noite (1998). Até a cuíca de Pretinho da Serrinha ronca ao fim desse hit fornecido por Lulu ao grupo Cidade Negra. Em sintonia com o batuque, a batida de disco music de Baby de Babylon (2009) entra na avenida e prepara o clima para Aviso aos Navegantes (1997), Já É! (2003) e Assim Caminha a Humanidade (1994). No fim, o medley marítimo com Sereia (1983), De Repente Califórnia (1981) e Como uma Onda (1982) sela o clima catártico reeditado no bis em Tempos Modernos (1982), o hino pop que vem depois de Auto-Estima (1993). Difícil não mergulhar de cabeça na praia de Lulu Santos...

2 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Associadas aos grafismos de inspiração afro que moldam o bonito cenário do show Lulu Santos Acústico MTV II, as vozes africanas ouvidas na introdução do espetáculo sugerem guinada estética no repertório do Rei do Pop nativo. Contudo, ainda que remodele algumas músicas de seu vasto cancioneiro através dos arranjos e das divisões inusitadas de seu canto, o artista é sagaz o suficiente para entender que não pode transfigurar radicalmente as canções que todo mundo quer ouvir em seu formato original. É a sucessão de hits - e Lulu figura no seleto clube dos compositores que podem se dar ao luxo de cantar apenas sucessos durante duas horas de show - que eletriza a segunda incursão pela já desgastada série acústica da MTV, feita dez anos após a primeira. Não há banquinho. Há, sim, o violão que - aliado à percussão magistral de Pretinho da Serrinha - molda a sonoridade eletroacústica do show, que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na casa Vivo Rio, na noite de 20 de agosto de 2010, após estrear duas semanas antes em São Paulo.
Talvez justamente por não alocar hits em seu início, o show dá a falsa primeira impressão de ser morno. A inédita E Muito Mais (2010) e a obscura Papo Cabeça (1990) - não dão liga entre público e artista. A fina sintonia se esboça no terceiro número, Um pro Outro (1986), cai no popsambalanço Dinossauros do Rock (1988) e se estabelece definitivamente a partir de Toda Forma de Amor (1988). Por seu caráter catártico, a bela sequência tríplice com Toda Forma de Amor, Um Certo Alguém (1983) e O Último Romântico (1984) é um daqueles momentos de total comunhão entre público (fiel) e artista que cria atmosfera de irresistível encantamento. E em momentos como esse pouco parecem importar as novidades dos arranjos como a sutil ambientação de tango que desloca Vale de Lágrimas (2005) de seu clima original ou a releitura em ritmo de baião de Tudo Azul (1984) - esta com direito à zabumba. Reincidente no formato acústico, Lulu faz o que pode para diluir a inevitável dose de redundância do projeto. E, mais do que nos arranjos, as ousadias estilísticas residem nas modulações e divisões vocais que dão outra pulsação a hits como A Cura (1988), Tudo Bem (1985) e Minha Vida (1986). Mas tudo isso também parece pouco importar quando se faz ouvir com força na casa Vivo Rio o coro espontâneo do público em canções como Apenas Mais Uma de Amor (1992), hit do acústico de 2000.
Baixista da azeitada banda, Jorge Ailton garante o reforço vocal de Um pro Outro e assume a cena para fazer dueto - com dicção deficiente e sem carisma - com o patrão anfitrião em O Óbvio, música de seu primeiro disco solo, O Ano 1 (2010). Na sequência, é a vez de Marina de la Riva entrar em cena para pôr o molho latino em Adivinha o Quê (1983) - com versos em castelhano. De novo senhor da cena, Lulu injeta batida diferente na suingante Brumário (1989) e cai no samba em Sábado à Noite (1998). Até a cuíca de Pretinho da Serrinha ronca ao fim desse hit fornecido por Lulu ao grupo Cidade Negra. Em sintonia com o batuque, a batida de disco music de Baby de Babylon (2009) entra na avenida e prepara o clima para Aviso aos Navegantes (1997), Já É! (2003) e Assim Caminha a Humanidade (1994). No fim, o medley marítimo com Sereia (1983), De Repente Califórnia (1981) e Como uma Onda (1982) sela o clima catártico reeditado no bis em Tempos Modernos (1982), o hino pop que vem depois de Auto-Estima (1993). Difícil não mergulhar de cabeça na praia de Lulu Santos...

21 de agosto de 2010 às 19:26  
Blogger Luca said...

é preciso ouvidos abertos para ouvir músicas que não são hits, o texto me passa a impressão de que o crítico agiu como público: se encantou só com os hits

21 de agosto de 2010 às 20:36  

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