O CD que revela requinte oculto na voz de Célia
Resenha de CD
Título: Célia 40 Anos - O Lado Oculto das Canções
Artista: Célia
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * *
Célia completa 40 anos de carreira sem o reconhecimento, a popularidade e o prestígio que lhe são devidos no mundo da música por conta da beleza de sua voz. Revelada em 1970 no programa de TV Um Instante, Maestro!, comandado pelo apresentador Flávio Cavalcanti (1923 - 1986), a cantora gravou com certa regularidade na década de 70, mas logo foi empurrada para a margem do mercado fonográfico. Nos anos 2000, um belo disco, Faço no Tempo Soar Minha Sílaba (Lua Music, 2007), lembrou a perenidade de seu canto. Mas é este O Lado Oculto das Canções - produzido com mais luxo, perceptível já na foto clicada por Luiz Tripoli para a capa - que pode dar a Célia alguma projeção pelo fato de estar sendo distribuído pela Som Livre. Com direito à faixa na trilha sonora da novela Passione. Aliás, trata-se da melhor faixa: Vidas Inteiras, em registro sublime que mostra tanto a sagacidade do canto de Célia quanto a beleza do tema cedido por Adriana Calcanhotto para a trilha sonora do filme Polaróides Urbanas (2007). Pena que, no disco de Célia, Vidas Inteiras apareça mixada com o bolero Déjame Ir (Mike Ribas e Chico Navarro). A versão ouvida na trilha da novela - editada de modo a incluir apenas a música de Calcanhotto - é mais sedutora...
Disco de emoções polidas, O Lado Oculto das Canções tem seu título inspirado em verso de Eternamente (Tunai e Sérgio Natureza, 1983), canção embalada em cordas suntuosas na gravação de Célia. O título - dado pelo DJ Zé Pedro, como conta a cantora no texto de agradecimento publicado no encarte do disco - revela a intenção de mostrar outras possibilidades para músicas de diferentes estilos e estirpes. Célia destila a emoção de Vinho Antigo (Claudio Rabello e Dalto, 1979) com cordas e a leveza que também pauta a releitura quase jazzy do funk Não Vou Ficar (Tim Maia, 1970). É com arranjos minimalistas e suingantes - quase sempre urdidos apenas com o contrabaixo acústico de Marcos Paiva, o piano de Ogair Jr. e a percussão sutil de Nelton Essi - que Célia interpreta músicas como Aqui (Ana Carolina e Antônio Villeroy, 2006) e Desejo de Mulher (Zélia Duncan e Hamilton de Holanda, 2007). Contudo, é o violão virtuoso de Dino Barioni - parceiro de Célia no supra-citado CD Faço no Tempo Soar a Minha Sílaba - que faz toda a diferença ao ambientar o samba Se Não For por Amor (Benito Di Paula, 1973) em clima quase cool. A temperatura fica mais quente em Cigarro (Zeca Baleiro, 2005). O bandoneón de Thadeo Romano faz esta bonita, melodiosa e já esquecida balada bluesy do compositor maranhense tangenciar o universo do tango. O mesmo universo evocado pelo acordeom de Toninho Ferragutti no registro de Apelo (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966), um dos mais densos do disco. Entre pérola menos reluzente do cancioneiro kitsch de Jair Amorim e Evaldo Gouveia (Cantiga de Quem Está Só, 1960) e tema etéreo do repertório de Guilherme Arantes (Êxtase, 1979), Célia reaviva canção menor de Ângela RoRo (Meu Benzinho, 1988) e faz dueto com Ney Matogrosso em Não se Vá, a versão de Thina para música de Alain Bellec que dominou as paradas radiofônicas do Brasil em 1976 nas vozes de Jane & Herondy. Em arranjo suntuoso que harmoniza violinos e cellos, Não se Vá ganha polimento no duo de Célia com Ney - embora tal refinamento não torne a canção necessariamente mais interessante. É a demolidora interpretação de Sonhos (Peninha, 1977) que revela toda a beleza que, 40 anos depois da aparição da cantora, ainda reside oculta na voz de Célia.
Título: Célia 40 Anos - O Lado Oculto das Canções
Artista: Célia
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * *
Célia completa 40 anos de carreira sem o reconhecimento, a popularidade e o prestígio que lhe são devidos no mundo da música por conta da beleza de sua voz. Revelada em 1970 no programa de TV Um Instante, Maestro!, comandado pelo apresentador Flávio Cavalcanti (1923 - 1986), a cantora gravou com certa regularidade na década de 70, mas logo foi empurrada para a margem do mercado fonográfico. Nos anos 2000, um belo disco, Faço no Tempo Soar Minha Sílaba (Lua Music, 2007), lembrou a perenidade de seu canto. Mas é este O Lado Oculto das Canções - produzido com mais luxo, perceptível já na foto clicada por Luiz Tripoli para a capa - que pode dar a Célia alguma projeção pelo fato de estar sendo distribuído pela Som Livre. Com direito à faixa na trilha sonora da novela Passione. Aliás, trata-se da melhor faixa: Vidas Inteiras, em registro sublime que mostra tanto a sagacidade do canto de Célia quanto a beleza do tema cedido por Adriana Calcanhotto para a trilha sonora do filme Polaróides Urbanas (2007). Pena que, no disco de Célia, Vidas Inteiras apareça mixada com o bolero Déjame Ir (Mike Ribas e Chico Navarro). A versão ouvida na trilha da novela - editada de modo a incluir apenas a música de Calcanhotto - é mais sedutora...
Disco de emoções polidas, O Lado Oculto das Canções tem seu título inspirado em verso de Eternamente (Tunai e Sérgio Natureza, 1983), canção embalada em cordas suntuosas na gravação de Célia. O título - dado pelo DJ Zé Pedro, como conta a cantora no texto de agradecimento publicado no encarte do disco - revela a intenção de mostrar outras possibilidades para músicas de diferentes estilos e estirpes. Célia destila a emoção de Vinho Antigo (Claudio Rabello e Dalto, 1979) com cordas e a leveza que também pauta a releitura quase jazzy do funk Não Vou Ficar (Tim Maia, 1970). É com arranjos minimalistas e suingantes - quase sempre urdidos apenas com o contrabaixo acústico de Marcos Paiva, o piano de Ogair Jr. e a percussão sutil de Nelton Essi - que Célia interpreta músicas como Aqui (Ana Carolina e Antônio Villeroy, 2006) e Desejo de Mulher (Zélia Duncan e Hamilton de Holanda, 2007). Contudo, é o violão virtuoso de Dino Barioni - parceiro de Célia no supra-citado CD Faço no Tempo Soar a Minha Sílaba - que faz toda a diferença ao ambientar o samba Se Não For por Amor (Benito Di Paula, 1973) em clima quase cool. A temperatura fica mais quente em Cigarro (Zeca Baleiro, 2005). O bandoneón de Thadeo Romano faz esta bonita, melodiosa e já esquecida balada bluesy do compositor maranhense tangenciar o universo do tango. O mesmo universo evocado pelo acordeom de Toninho Ferragutti no registro de Apelo (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966), um dos mais densos do disco. Entre pérola menos reluzente do cancioneiro kitsch de Jair Amorim e Evaldo Gouveia (Cantiga de Quem Está Só, 1960) e tema etéreo do repertório de Guilherme Arantes (Êxtase, 1979), Célia reaviva canção menor de Ângela RoRo (Meu Benzinho, 1988) e faz dueto com Ney Matogrosso em Não se Vá, a versão de Thina para música de Alain Bellec que dominou as paradas radiofônicas do Brasil em 1976 nas vozes de Jane & Herondy. Em arranjo suntuoso que harmoniza violinos e cellos, Não se Vá ganha polimento no duo de Célia com Ney - embora tal refinamento não torne a canção necessariamente mais interessante. É a demolidora interpretação de Sonhos (Peninha, 1977) que revela toda a beleza que, 40 anos depois da aparição da cantora, ainda reside oculta na voz de Célia.
14 Comments:
Que photoshop horrível! Coisa de amador...
Pedro, até pode ser... mas será que diante de tanta coisa exposta no texto, o que chama atenção para você é o tratamento da foto...
Comprei correndo o CD e achei maravilhoso. Célia cantando como nunca, tudo de bom! Muito bem produzido e adorei as fotos do TRIPOLI. Parabéns Célia! Que venha o DVD no mesmo nível. NIVALDO OLIVEIRA
Como este país trata mal alguns grandes talentos. Célia sempre teve excelente repertório e voz, e no entanto, poucos a conhecem! O fato é que ela tem sobrevivido no mercado, seja com seus discos primorosos como "Faço no tempo soar minha sílaba", ou em participações especiais não menos brilhantes como na Homenagem a Maysa com a praticamente inédita "Nós". Ainda não ouvi o disco mas sendo de Célia compro de olhos fechados e ouvidos bem abertos!
Boa Luca! Photoshop ou não a capa está linda e tem tudo a ver com o Lado oculto das canções!
Só não concordo com a classificação de "Música Menor" para "Meu Benzinho" de Angela RoRo. É faixa de um bom disco de RoRo já a margem do mercado.
Não sei porque insistem em localizar a produção da compositora somente entre os discos que lançou no mercado oficial? Por isso que muitos vivem do "mais do mesmo", sempre gravando os mesmos sucesos passados.
Mauro, essa foto de capa é de luxo?
A mulher está com um véu preto no rosto, de roupa preta, os olhos fechados. Isso lembra alguém no caixão morto. É uma capa muito feia. Célia não merecia isso. E as gravações de músicas simplórias e bregas é de gosto muito duvidoso. Onde uma cantora com 40 anos de carreira quer chegar com isso? Quem teve essa brilhante idéia? Não escutei o disco e não vou comprar. Um dueto com Ney em “Não se vá". Uma música ruim dessas não merecia o Ney nessa empreitada. Ainda bem que você não escreveu que é um dos melhores discos do ano. Quando estiver na internet vou ouvir.
Marcos - Sorocaba - SP
Tão logo soube do lançamento, também corri pra comprar o CD de Célia. E o tenho ouvido muito, com enorme prazer! Que beleza --- a voz límpida, maravilhosa, intacta de Célia brilha em todas as faixas! Um luxo musical para ouvidos sensíveis, em meio a tanta porcaria passageira. Salve Célia! Teu canto enobrece a música brasileira.
Achei a capa um luxo!!! lembra uma capa antiga da Montserrat Caballé. Deve estar maravilhoso.
Ansiedade para ouvir Meu benzinho, que é sim, uma linda balada da Rorô!
Excelente disco. Comprei em pré-venda e não canso de ouvi-lo.
Para quem o deseja, acho que foram lançadas apenas 1.000 cópias pois no disco está AA1.000. Então, corram senão acaba.
Vi que muitos acharam a capa feia mas eu achei linda. E Célia também achou pois nos agradecimentos ela cita o pessoal da maquiagem e cabeleileiros que a transformaram em uma diva para a capa do CD. Para mim ela ficou uma diva.
Mauro, confio na sua descrição do disco e no talento da cantora, que merece estar no topo. Em meio a tanta gente insossa e com o talento nos "países baixos", Célia tem história e voz para debutar como nos iniciais aninhos de sua carreira. Um luxo! Vou comprar correndo.
Também achei muito estranha. Primeiro, me pareceu alguém de luto, sofrendo de olhos fechados, com roupa e véu negros. Mas acho que o Marcos de Sorocaba está certo: também lembra alguém morto num caixão. Gostei bastante do último CD da Célia, mas estou em dúvida em relação a este, por causa do repertório e desta capa de mau agouro.
Flávio
Gente
O rei está nu!!
Até onde esta "intelectualidade" vai insistir em não enchergar tanto mal gosto em um único CD?
A capa é horrível!! Parece mesmo que a Célia está morta em um caixão!!
A seleção de músicas atira para todos os lados e não acerta nada!!
Mauro, te respeito muito, gosto muito do teu Blog e te considero bastante sensato, mas 4 estrelas foi demais!!
Mas como sei que és democratico, não vais deletar meu comentário!!
Grande abraço
Que gente conservadora. Não tendo do que reclamar, e sem ouvir o cd, reclamam do repertório, da capa, da vida...
Enfim... Mauro concordo com as 4 estrelas, o cd poderia ser melhor sim! o clima jazzy ajuda em algumas canções, mas o fato é que muitas regravações de músicas já executadas demasiadamente não ajudam a alavancar o cd. O Ponto forte é justamente nas músicas das novas gerações, nas outras há um certo dejá vu... Entre erros e acertos ainda prefiro Faço no tempo soar minha sílaba!
Célia é uma das nossas maiores intérpretes, daquelas que cantam TUDO bem: bolres, samba , jazz baladas, blues....tangos. Ouvi-la é uma aula e qualquer disco que ela lance merece toda a nossa reverência. Para mim, ela é uma inspiração da elegância do cantar. Menos é mais. Beijo, Célia, sou seu fã. Carlos Navas
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