15 de julho de 2010

Mendes expõe Brasil no tempo e tom habituais

Resenha de CD
Título: Bom Tempo
Artista: Sergio Mendes
Gravadora: Concord
Records / Universal Music
Cotação: * * 1/2
No CD Bom Tempo, Sergio Mendes faz o que sempre fez desde a década de 60, ou seja, formata o suingue da música brasileira dentro do padrão de país tropical que ainda identifica o Brasil no imaginário mundial mais de 50 anos após o estouro da Bossa Nova. Clichês já evidenciados na imagem da capa do álbum recém-lançado no Brasil em edição dupla que agrega CD com 12 remixes. A novidade já não tão nova é o rap incorporado por Mendes à receita desde Timeless, álbum de 2006 que revitalizou sua carreira graças a uma providencial associação com o rapper will.i.am. O rap aparece em meio à batucada gringa de Ye-Me-Lê (Luiz Carlos Vinha e Chico Feitosa) - no caso, um rap escrito pelo trio britânico Bimbo Jones - e em dois temas de Carlinhos Brown, Magalenha e You and I, faixas gravadas com fortes intervenções vocais do próprio Brown, responsável pelos raps inseridos nas músicas de sua autoria. O tribalista, aliás, é nome recorrente na ficha técnica de Bom Tempo, estando presente já na música de abertura, Emoriô (João Donato e Gilberto Gil), em que insere funkeada batida afro-brasileira. Nesta faixa, Mendes reverencia compositores como mestre Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) - saudado com citação de Surfboard - e Jorge Ben Jor, evocado com Mas que Nada, o tema que impulsionou a carreira internacional de Mendes em 1966 (Emoriô e You and I contam com adesões da cantora Nayanna Holley). De Jorge Ben Jor, a propósito, Mendes rebobina País Tropical com clichês e a adição do rap do duo H2O.

As presenças de Brown e de Seu Jorge - outro nome brasileiro em boa rotação no cenário internacional recrutado por Mendes para Bom Tempo - contribuem para os acertos do álbum. A enérgica interpretação de Jorge em Maracatu Atômico (Jorge Mautner e Nelson Jacobina) é um dos pontos luminosos do disco que se sobrepõem aos clichês e valorizam Bom Tempo. Com menos vigor, Seu Jorge também pôs voz em Maracatu - Nação do Amor, música de Moacir Santos (1996 - 2006), letrada por Nei Lopes (Mendes também aborda Orpheus, outro tema da nobre lavra afro da dupla). Com presença mais discreta, Milton Nascimento canta Caxangá, parceria com Fernando Brant, revivida por Mendes sem brilho especial. Enfim, Bom Tempo é disco que ajusta a música brasileira às batidas moldadas para ouvidos gringos. E é para eles.

2 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

No CD Bom Tempo, Sergio Mendes faz o que sempre fez desde a década de 60, ou seja, formata o suingue da música brasileira dentro do padrão de país tropical que ainda identifica o Brasil no imaginário mundial mais de 50 anos após o estouro da Bossa Nova. Clichês já evidenciados na imagem da capa do álbum recém-lançado no Brasil em edição dupla que agrega CD com 12 remixes. A novidade já não tão nova é o rap incorporado por Mendes à receita desde Timeless, álbum de 2006 que revitalizou sua carreira graças a uma providencial associação com o rapper will.i.am. O rap aparece em meio à batucada gringa de Ye-Me-Lê (Luiz Carlos Vinha e Chico Feitosa) - no caso, um rap escrito pelo trio britânico Bimbo Jones - e em dois temas de Carlinhos Brown, Magalenha e You and I, faixas gravadas com fortes intervenções vocais do próprio Brown, responsável pelos raps inseridos nas músicas de sua autoria. O tribalista, aliás, é nome recorrente na ficha técnica de Bom Tempo, estando presente já na música de abertura, Emoriô (João Donato e Gilberto Gil), em que insere funkeada batida afro-brasileira. Nesta faixa, Mendes reverencia compositores como mestre Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) - saudado com citação de Surfboard - e Jorge Ben Jor, evocado com Mas que Nada, o tema que impulsionou a carreira internacional de Mendes em 1966 (Emoriô e You and I contam com adesões da cantora Nayanna Holley). De Jorge Ben Jor, a propósito, Mendes rebobina País Tropical com clichês e a adição do rap do duo H2O.

As presenças de Brown e de Seu Jorge - outro nome brasileiro em boa rotação no cenário internacional recrutado por Mendes para Bom Tempo - contribuem para os acertos do álbum. A enérgica interpretação de Jorge em Maracatu Atômico (Jorge Mautner e Nelson Jacobina) é um dos pontos luminosos do disco que se sobrepõem aos clichês e valorizam Bom Tempo. Com menos vigor, Seu Jorge também pôs voz em Maracatu - Nação do Amor, música de Moacir Santos (1996 - 2006), letrada por Nei Lopes (Mendes também aborda Orpheus, outro tema da nobre lavra afro da dupla). Com presença mais discreta, Milton Nascimento canta Caxangá, parceria com Fernando Brant, revivida por Mendes sem brilho especial. Enfim, Bom Tempo é disco que ajusta a música brasileira às batidas moldadas para ouvidos gringos. E é para eles.

15 de julho de 2010 às 14:34  
Blogger Gill Sampaio Ominirò said...

Bem diz Mauro: "Clichês já evidenciados". Sergio Mendes me soa um oportunista do talento alheio. Nã me conformo com o álbum Brasileiro, no qual Carlinhos Brown é o nome forte nas composições e instrumentação. E quem ficou com o Grammy? Mendes! Os discos do Sergio são ótimos, têm uma musicalidade muito interessante, mas sempre agregada ao talento dos outros. Agora é a hora e a vez de Will.I.Am. Não me conformo.

15 de julho de 2010 às 19:44  

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