Maria Rita fica solta na intimidade do Tom Jazz
Título: Maria Rita
Artista: Maria Rita (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Tom Jazz (SP)
Data: 12 de julho de 2010
Cotação: * * * * 1/2
De volta ao cartaz nas segundas-feiras de agosto e setembro.
A partir de 9 de agosto. Até 27 de setembro de 2010. Às 21h30m
O show que Maria Rita apresentou nas últimas quatro segundas-feiras na casa paulista Tom Jazz - um espaço pequeno, moldado para apresentações mais intimistas - pode até ser encarado como voluntária volta ao começo. Afinal, foi em casas pequenas que a cantora começou a ganhar experiência de palco no início dos anos 2000. Mas agora Maria Rita é uma estrela. E nada mais será como antes depois de seu estouro nacional em 2003. Por isso mesmo, é tão curiosa quanto prazerosa a experiência de ver Maria Rita cumprindo temporada semanal numa casa como o Tom Jazz - para a qual, aliás, a artista retorna a partir de 9 de agosto de 2010. Encerrado o longo ciclo do disco e show Samba Meu (2007), a intérprete retoma seu repertório antigo - sem abandonar um ou outro samba do CD, como Cria (Serginho Meriti e César Belieny) - mas com a leveza conquistada em seu espetáculo anterior. O resultado é um show delicioso. Leve e solta na intimidade do Tom Jazz, Maria Rita se permite brincar em cena com desenvoltura não vista nem mesmo no show Samba Meu. Mas é diversão levada a sério. A grande cantora está o tempo todo em cena, valorizando até músicas medianas como Soledad (Jorge Drexler), gravada por ela em 2006, em disco do compositor uruguaio (12 Secundos de Oscuridad). O que já saiu de cena foi o peso inicial - e inevitável, justiça seja feita - de ser a filha cantora de Elis Regina (1945-1982).
"Esse show não vai virar CD, não vai virar DVD. É um show só nosso", conceitua Maria Rita em cena, logo no bloco inicial do roteiro, montado - como ela revela mais tarde ao público - com músicas que nunca gravou ou que gravou em discos de colegas. E, sobretudo, com canções que gosta de cantar. É evidente a alegria com que a intérprete apresenta um samba como Num Corpo Só (Arlindo Cruz e Picolé) ou um tema já espirituoso como Pagu (Rita Lee e Zélia Duncan). Somente o número de abertura - Conceição dos Coqueiros, pungente música de Lula Queiroga (bem) gravada por Elba Ramalho no álbum Qual o Assunto que Mais lhe Interessa? (2007) - já vale a ida ao show. A música soa quase como uma oração na voz de Rita - mas sem tom solene - e ganha significado ainda maior quando, ao fim, o arranjo a emenda com Santana (Junio Barreto), tema que também toca na questão religiosa de forma poética, sem clichês espiritualistas. Maria Rita - vale lembrar - ia gravar Santana no álbum Segundo (2005), mas desistiu porque o compositor já tinha dado a preferência a Gal Costa, que registrou Santana em seu revigorante CD Hoje (2005).
Em relação ao roteiro da estreia da temporada, iniciada em 21 de junho, a única modificação foi a inclusão de Todo Carnaval Tem seu Fim (Marcelo Camelo). Na companhia de trio de piano (Tiago Costa), contrabaixo acústico (Sylvinho Mazzucca) e bateria (Cuca Teixeira), a cantora exercita um lado meio jazzy que renova a interpretação de músicas como Só de Você (Rita Lee e Roberto de Carvalho) - com o ritmo marcado pelo estalar dos dedos da plateia - e A História de Lily Braun (Edu Lobo e Chico Buarque), esta em clima de sensualidade dengosa. São experiências de uma cantora que revelou em cena ter sido influenciada pelo jazz norte-americano, em especial pela voz esperta de Ella Fitzgerald (1917 - 1996). Ora densa (como em Perfeitamente, inédita parceria de Fred Martins com Francisco Bosco que versa sobre questões do coração), ora leve (como em Conta Outra, número que evoca ligeiramente a atmosfera do samba-jazz), Maria Rita é no palco do Tom Jazz uma cantora sem compromisso que se permite explorar possibilidades. Seus comics ao fim de Cara Valente - o samba de Marcelo Camelo que retorna no bis iniciado com Encontros e Despedidas (Milton Nascimento e Fernando Brant) - atestam a evolução de uma cantora que, a bem da verdade, já estreou pronta. Mas que, felizmente, se permite brincar em cena. A ponto de, favorecida pelo clima íntimo do Tom Jazz, nem ter se abalado com o erro no verso inicial de Casa Pré-Fabricada (Marcelo Camelo) na apresentação de 12 de julho. Com uma luz bonita, eventualmente intensa para realçar o tom ensolarado de O Que É o Amor (Arlindo Cruz, Maurição e Fred Camacho) e o clima quente d'A História de Lily Braun, o show transitório de Maria Rita em nada fica a dever aos espetáculos oficiais de sua trajetória. Ao contrário. Há toda uma ambiência e uma musicalidade refinadas no palco - um cuidado perceptível, por exemplo, no baixo bem marcado de Muito Pouco (Moska). E, por mais que a temporada seja conduzida pela cantora pelo puro prazer de estar em cena com seus músicos, o show vai acabar influenciando de maneira positiva o tom do próximo álbum da cantora (ainda não gravado e sequer idealizado). Maria Rita brinca, mas sempre se leva a sério...
22 Comments:
O show que Maria Rita apresentou nas últimas quatro segundas-feiras na casa paulista Tom Jazz - um espaço pequeno, moldado para apresentações mais intimistas - pode ser encarado como voluntária volta ao começo. Afinal, foi em casas pequenas que a cantora começou a ganhar experiência de palco no início dos anos 2000. Mas agora Maria Rita é uma estrela. E nada mais será como antes depois de seu estouro nacional em 2003. Por isso mesmo, é tão curiosa quanto prazerosa a experiência de ver Maria Rita cumprindo temporada semanal numa casa como o Tom Jazz - para a qual, aliás, a artista retorna a partir de 9 de agosto de 2010. Encerrado o longo ciclo do disco e show Samba Meu (2007), a intérprete retoma seu repertório antigo - sem abandonar um ou outro samba do CD, como Cria (Serginho Meriti e César Belieny) - mas com a leveza conquistada em seu espetáculo anterior. O resultado é um show delicioso. Leve e solta na intimidade do Tom Jazz, Maria Rita se permite brincar em cena com desenvoltura não vista nem mesmo no show Samba Meu. Mas é diversão levada a sério. A grande cantora está o tempo todo em cena, valorizando até músicas medianas como Soledad (Jorge Drexler), gravada por ela em 2006, em disco do compositor uruguaio (12 Secundos de Oscuridad). O que já saiu de cena foi o peso inicial - e inevitável, justiça seja feita - de ser a filha cantora de Elis Regina (1945-1982).
"Esse show não vai virar CD, não vai virar DVD. É um show só nosso", conceitua Maria Rita em cena, logo no bloco inicial do roteiro, montado - como ela revela mais tarde ao público - com músicas que nunca gravou ou que gravou em discos de colegas. E, sobretudo, com canções que gosta de cantar. É evidente a alegria com que a intérprete apresenta um samba como Num Corpo Só (Arlindo Cruz e Picolé) ou um tema já espirituoso como Pagu (Rita Lee e Zélia Duncan). Somente o número de abertura - Conceição dos Coqueiros, pungente música de Lula Queiroga (bem) gravada por Elba Ramalho no álbum Qual o Assunto que Mais lhe Interessa? (2007) - já vale a ida ao show. A música soa quase como uma oração na voz de Rita - mas sem tom solene - e ganha significado ainda maior quando, ao fim, o arranjo a emenda com Santana (Junio Barreto), tema que também toca na questão religiosa de forma poética, sem clichês espiritualistas. Maria Rita - vale lembrar - ia gravar Santana no álbum Segundo (2005), mas desistiu porque o compositor já tinha dado a preferência a Gal Costa, que registrou Santana em seu revigorante CD Hoje (2005).
Em relação ao roteiro da estreia da temporada, iniciada em 21 de junho, a única modificação foi a inclusão de Todo Carnaval Tem seu Fim (Marcelo Camelo). Na companhia de trio de piano (Tiago Costa), contrabaixo acústico (Sylvinho Mazzucca) e bateria (Cuca Teixeira), a cantora exercita um lado meio jazzy que renova a interpretação de músicas como Só de Você (Rita Lee e Roberto de Carvalho) - com o ritmo marcado pelo estalar dos dedos da plateia - e A História de Lily Braun (Edu Lobo e Chico Buarque), esta em clima de sensualidade dengosa. São experiências de uma cantora que revelou em cena ter sido influenciada pelo jazz norte-americano, em especial pela voz esperta de Ella Fitzgerald (1917 - 1996). Ora densa (como em Perfeitamente, inédita parceria de Fred Martins com Francisco Bosco que versa sobre questões do coração), ora leve (como em Conta Outra, número que evoca ligeiramente a atmosfera do samba-jazz), Maria Rita é no palco do Tom Jazz uma cantora sem compromisso que se permite explorar possibilidades. Seus comics ao fim de Cara Valente - o samba de Marcelo Camelo que retorna no bis iniciado com Encontros e Despedidas (Milton Nascimento e Fernando Brant) - atestam a evolução de uma cantora que, a bem da verdade, já estreou pronta. Mas que, felizmente, se permite brincar em cena. A ponto de, favorecida pelo clima íntimo do Tom Jazz, nem ter se abalado com o erro no verso inicial de Casa Pré-Fabricada (Marcelo Camelo) na apresentação de 12 de julho. Com uma luz bonita, eventualmente intensa para realçar o tom ensolarado de O Que É o Amor (Arlindo Cruz, Maurição e Fred Camacho) e o clima quente d'A História de Lily Braun, o show transitório de Maria Rita em nada fica a dever aos espetáculos oficiais de sua trajetória. Ao contrário. Há toda uma ambiência e uma musicalidade refinadas no palco - um cuidado perceptível, por exemplo, no baixo bem marcado de Muito Pouco (Moska). E, por mais que a temporada seja conduzida pela cantora pelo puro prazer de estar em cena com seus músicos, o show vai acabar influenciando de maneira positiva o tom do próximo álbum da cantora (ainda não gravado e sequer idealizado). Maria Rita brinca, mas sempre se leva a sério...
Acho digna.
São nessas horas que a vontade de morar em Sampa grita em mim...
não sairá na-da nesse setembro de 2010 ????
Gosto muito de shows em ambientes intimistas assim, onde o que se privilegia são os artistas e a música por eles produzida.
Eu gosto desse repertório que a MR está cantando nesse show. Não gostei nem um pouco do cd/dvd/show "Samba Meu". Fico feliz e tenho certeza de que será o maior sucesso.
Mas, Mauro, qual a razão para você ter tirado 1/2 estrela desse show? Não entendi.
abração,
Denilson
A maior cantora surgida nos últimos tempos, pra alegria de muitos e despeito de outros tantos...
Maria Rita surpreendeu a todos com essa decisão. Continuar uma trajetória é retroceder. É a glória do saber querer.
Para quem tem lotado grandes casas de espétáculos, a temporada no Tom Jazz é certeza de sucesso absoluto.
Quisera ter grana para ir também todas as segundas ver Maria Rita cantar de pertinho.
Acho que a questão nem é tanto ter grana pra assistir a todos os shows dela no Tom Jazz, mas sim conseguir ingresso. rsrsrs
Eu também queria muito assistir...
abração,
Denilson
São nessas (e em várias e várias outras) horas que a vontade de morar em Sampa grita em mim... [2]
Coisa boa e fina é para poucos, lei da procura e da oferta...
Não sei porque não pode virar DVD, a baihanada tem laçado cada cooooiiisssaaa....
Muito ver este seu olhar, Mauro, sobre o novo trabalho de Maria Rita. Obviamente, ela já tem mídia automática. Mas é especialmente feliz a idéia de retornar aos pequenos espaços onde muita gente desenvolveu a intimidade própria que a música requer. Que Maria Rita esteja entrando nesta empreitada, há um sinal maravilhoso de que o trabalho pode evoluir e que a cantora está cada vez mais rigorosa com seus passos no caminho da música brasileira e nossas miscigenações! Valeu!
Acho " Soledad " uma bela canção de Jorge Drexler - gravada por ela em dueto com ele em 2006 no já citado album " 12 Secundos de Oscuridad ". É quase tão bela quanto " Mal intento " - outro presente do uruguaio a Maria Rita.
Fiquei curioso também pra ouvi-la cantando " A História de Lily Braun " - aliás tema regravado 4 vezes nos ultimos anos por Edu Lobo,Teresa Cristina,Maria Gadú e Monica Salmaso - , vou caçar no You Tube.
Há no utube em ótima qualidade ela cantando no programa ensaio, só pra quem não sabe. Melhor do que esses shows mal gravados por aí com péssimo áudio.
Bela notícia, Mauro. Paradoxalmente, Maria Rita estreou pronta, mas cresce a olhos vistos. Bom pra nós.
Agora, pedindo licença, Mauro, posso divulgar meu blog aqui?
Criei na semana passada o Blog Música do Brasil, homenageando Vinícius de Moraes 30 anos depois que o poetinha saiu de cena. O texto de hoje fala do diálogo de compositores por meio de canções. Ultrapassando barreiras do tempo, a música torna possível um papo entre Caetano Veloso e Noel Rosa, Chico Buarque e Geraldo Pereira, Joyce e Dorival Caymmi e muito mais gente boa.
Fica o convite para visitarem, lerem, comentarem, criticarem o blog sempre que possível. Espero vocês em:
http://blogmusicadobrasil.wordpress.com/
e também no Twitter:
@musicadobrasil
Grande abraço,
Anderson Falcão.
quando ela desistir de copiar a mamãe e autodescobrir-se talvez consiga ser uma grande cantora e, aí sim, honrar o dna Costa/Mariano.
K
Puxa vida, Mauro, uma boa e uma má notícia... A boa é que Maria Rita está de volta com um show instigante como no início da carreira. E a má: o show não vai virar cd ao vivo ou dve... Que peninha!!!!
Não sou nenhum grande fã de Maria Rita, mas penso que seus fãs devem estar orgulhosos pois é notável o quanto ela cresce com o tempo...
Queria estar em Sampa para ver esse show.
Espero ser surpreendido no próximo cd.
Ficou linda a música Conceição dos Coqueiros cantada pela Maria Rita no Tom Jazz.
"Soledad" é mediana, Mauro? Pode até não ser a melhor canção de "12 Segundos...", mas tampouco é mediana. A letra, a escolha de palavras de Drexler... o violão... sinceramente, mediana não pode ser. Mediana é, ao contrário de um comentário acima, "Mal Intento". Essa sim é mediana.
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