'Passageiro' refina obra já perene de Maranhão
Resenha de CD
Título: Passageiro
Artista: Rodrigo Maranhão
Gravadora: MP,B Discos / Universal Music
Cotação: * * * * *
Em 1999, Rodrigo Maranhão se revelou compositor no mercado fonográfico através de boas parcerias com Pedro Luís, gravadas naquele ano por Verônica Sabino (Rosa que me Encanta) e pelo próprio parceiro (Rap do Real, tema vivaz que inspirou o título do segundo álbum de Pedro Luís e a Parede, É Tudo Um Real). No ano seguinte, Baile da Pesada - parceria com Fernanda Abreu, gravada pela Garota Sangue Bom no álbum Entidade Urbana - repôs Maranhão no circuito do funk carioca. Rota seguida pelo compositor no comando da miscigenada Bangalafumenga, banda-sensação da cena indie do Rio de Janeiro (RJ) nos anos 90. Mas foi somente em 2005, quando Maria Rita pôs sua voz no Caminho das Águas ao fazer o disco Segundo, que Maranhão começou de fato a ser notado como compositor por público mais amplo. Gravado também por Roberta Sá, o autor carioca - cuja ascendência vem do Rio Grande do Norte - teve então a chance de tecer Bordado, seu primeiro CD solo, editado em 2007. A costura do repertório inspirado chamou atenção, ainda que várias músicas já tivessem sido gravadas por intérpretes com maior domínio vocal. Três anos depois, Passageiro - o sublime segundo disco solo de Maranhão - contradiz seu título e confirma que o artista veio para ficar, com lugar garantido no primeiro time de compositores de sua geração.
Desta vez, tudo é novo. E tudo soa novo. Sob a batuta minimalista do produtor Zé Nogueira, Maranhão lança estupendo e inédito repertório autoral, situado entre o samba urbano e os ritmos do interior nordestino. Entre o sertão e o mar exposto na capa, muso inspirador do Samba pra Vadiar que evoca o universo praieiro de Dorival Caymmi (1914 - 2008). Hábil na costura artesanal desse cancioneiro inédito, Nogueira consegue a proeza de disfarçar os limites vocais de Maranhão. Mesmo miúda, a voz alcança todas as intenções poéticas de temas como o onírico baião Sonho, a toada Três Marias - que transita em trilho pavimentado pelo violão de Maranhão e pela percussão sutil de Marçal - e o xote Maria Sem Vergonha, embasado pelo delicado arsenal percussivo de Marcos Suzano. Passageiro, a propósito, foi todo bordado no tempo da delicadeza, irmanando samba feito (quase) à moda tradicional do morro (Um Samba pra Ela), canção de amor ao estilo camerístico (De Mares e Marias, embalada pelo piano de Leandro Braga e por cordas regidas pelo próprio pianista) e tema inspirado pelo mais universal dos ritmos portugueses (Quase um Fado - faixa na qual figura a pungente voz lusitana de António Zambujo). As ousadias estilísticas do compositor - como a subversão do conceito de suingue no Samba Quadrado - atestam que Maranhão está em nítida evolução como compositor. O repertório de Bordado, já de alto nível, é superado pela safra de inéditas de Passageiro. O disco em si é obra-prima que embute pequenas obras-primas como a já citada toada Três Marias, a Valsa Lisérgica - composta com Pedro Luís, parceiro da única faixa não assinada somente por Maranhão - e a canção que dá nome ao álbum e o encerra em tom sublime, com a rabeca cortante de Siba remetendo ao universo da embolada. Completam o repertório Camaleão e Fogo no Paiol, samba capaz de incendiar um bloco. Enfim, um disco irretocável, bordado com poesia tão minimalista e elegante quanto a acústica arquitetura dos arranjos. Sem ter a pretensão de soar muderno, Rodrigo Maranhão já começa a se insinuar compositor eterno no cancioneiro popular brasileiro. Passageiro refina obra já perene.
Título: Passageiro
Artista: Rodrigo Maranhão
Gravadora: MP,B Discos / Universal Music
Cotação: * * * * *
Em 1999, Rodrigo Maranhão se revelou compositor no mercado fonográfico através de boas parcerias com Pedro Luís, gravadas naquele ano por Verônica Sabino (Rosa que me Encanta) e pelo próprio parceiro (Rap do Real, tema vivaz que inspirou o título do segundo álbum de Pedro Luís e a Parede, É Tudo Um Real). No ano seguinte, Baile da Pesada - parceria com Fernanda Abreu, gravada pela Garota Sangue Bom no álbum Entidade Urbana - repôs Maranhão no circuito do funk carioca. Rota seguida pelo compositor no comando da miscigenada Bangalafumenga, banda-sensação da cena indie do Rio de Janeiro (RJ) nos anos 90. Mas foi somente em 2005, quando Maria Rita pôs sua voz no Caminho das Águas ao fazer o disco Segundo, que Maranhão começou de fato a ser notado como compositor por público mais amplo. Gravado também por Roberta Sá, o autor carioca - cuja ascendência vem do Rio Grande do Norte - teve então a chance de tecer Bordado, seu primeiro CD solo, editado em 2007. A costura do repertório inspirado chamou atenção, ainda que várias músicas já tivessem sido gravadas por intérpretes com maior domínio vocal. Três anos depois, Passageiro - o sublime segundo disco solo de Maranhão - contradiz seu título e confirma que o artista veio para ficar, com lugar garantido no primeiro time de compositores de sua geração.
Desta vez, tudo é novo. E tudo soa novo. Sob a batuta minimalista do produtor Zé Nogueira, Maranhão lança estupendo e inédito repertório autoral, situado entre o samba urbano e os ritmos do interior nordestino. Entre o sertão e o mar exposto na capa, muso inspirador do Samba pra Vadiar que evoca o universo praieiro de Dorival Caymmi (1914 - 2008). Hábil na costura artesanal desse cancioneiro inédito, Nogueira consegue a proeza de disfarçar os limites vocais de Maranhão. Mesmo miúda, a voz alcança todas as intenções poéticas de temas como o onírico baião Sonho, a toada Três Marias - que transita em trilho pavimentado pelo violão de Maranhão e pela percussão sutil de Marçal - e o xote Maria Sem Vergonha, embasado pelo delicado arsenal percussivo de Marcos Suzano. Passageiro, a propósito, foi todo bordado no tempo da delicadeza, irmanando samba feito (quase) à moda tradicional do morro (Um Samba pra Ela), canção de amor ao estilo camerístico (De Mares e Marias, embalada pelo piano de Leandro Braga e por cordas regidas pelo próprio pianista) e tema inspirado pelo mais universal dos ritmos portugueses (Quase um Fado - faixa na qual figura a pungente voz lusitana de António Zambujo). As ousadias estilísticas do compositor - como a subversão do conceito de suingue no Samba Quadrado - atestam que Maranhão está em nítida evolução como compositor. O repertório de Bordado, já de alto nível, é superado pela safra de inéditas de Passageiro. O disco em si é obra-prima que embute pequenas obras-primas como a já citada toada Três Marias, a Valsa Lisérgica - composta com Pedro Luís, parceiro da única faixa não assinada somente por Maranhão - e a canção que dá nome ao álbum e o encerra em tom sublime, com a rabeca cortante de Siba remetendo ao universo da embolada. Completam o repertório Camaleão e Fogo no Paiol, samba capaz de incendiar um bloco. Enfim, um disco irretocável, bordado com poesia tão minimalista e elegante quanto a acústica arquitetura dos arranjos. Sem ter a pretensão de soar muderno, Rodrigo Maranhão já começa a se insinuar compositor eterno no cancioneiro popular brasileiro. Passageiro refina obra já perene.
12 Comments:
Em 1999, Rodrigo Maranhão se revelou compositor no mercado fonográfico através de boas parcerias com Pedros Luís, gravadas naquele ano por Verônica Sabino (Rosa que me Encanta) e pelo próprio parceiro (Rap do Real, tema vivaz que inspirou o título do segundo álbum de Pedro Luís e a Parede, É Tudo Um Real). No ano seguinte, Baile da Pesada - parceria com Fernanda Abreu, gravada pela Garota Sangue Bom no álbum Entidade Urbana - repôs Maranhão no circuito do funk carioca. Rota seguida pelo compositor no comando da miscigenada Bangalafumenga, banda-sensação da cena indie do Rio de Janeiro (RJ) nos anos 90. Mas foi somente em 2005, quando Maria Rita pôs sua voz no Caminho das Águas ao fazer o disco Segundo, que Maranhão começou de fato a ser notado como compositor por público mais amplos. Gravado também por Roberta Sá, o autor carioca - cuja ascendência vem do Rio Grande do Norte - teve então a chance de tecer Bordado, seu primeiro CD solo, editado em 2007. A costura do repertório inspirado chamou atenção, ainda que várias músicas já tivessem sido gravadas por intérpretes com maior domínio vocal. Três anos depois, Passageiro - o sublime segundo disco solo de Maranhão - contradiz seu título e confirma que o artista veio para ficar, com lugar garantido no primeiro time de compositores de sua geração.
Desta vez, tudo é novo. E tudo soa novo. Sob a batuta minimalista do produtor Zé Nogueira, Maranhão lança estupendo e inédito repertório autoral, situado entre o samba urbano e os ritmos do interior nordestino. Entre o sertão e o mar exposto na capa, muso inspirador do Samba pra Vadiar que evoca o universo praieiro de Dorival Caymmi (1914 - 2008). Hábil na costura artesanal desse cancioneiro inédito, Nogueira consegue a proeza de disfarçar os limites vocais de Maranhão. Mesmo miúda, a voz alcança todas as intenções poéticas de temas como o onírico baião Sonho, a toada Três Marias - que transita em trilho pavimentado pelo violão de Maranhão e pela percussão sutil de Marçal - e o xote Maria Sem Vergonha, embasado pelo delicado arsenal percussivo de Marcos Suzano. Passageiro, a propósito, foi todo bordado no tempo da delicadeza, irmanando samba feito (quase) à moda tradicional do morro (Um Samba pra Ela), canção de amor ao estilo camerístico (De Mares e Marias, embalada pelo piano de Leandro Braga e por cordas regidas pelo próprio pianista) e tema inspirado pelo mais universal dos ritmos portugueses (Quase um Fado - faixa na qual figura a pungente voz lusitana de António Zambujo). As ousadias estilísticas do compositor - como a subversão do conceito de suingue no Samba Quadrado - atestam que Maranhão está em nítida evolução como compositor. O repertório de Bordado, já de alto nível, é superado pela safra de inéditas de Passageiro. O disco em si é obra-prima que embute pequenas obras-primas como a já citada toada Três Marias, a Valsa Lisérgica - composta com Pedro Luís, parceiro da única faixa não assinada somente por Maranhão - e a canção que dá nome ao álbum e o encerra em tom sublime, com a rabeca cortante de Siba remetendo ao universo da embolada. Completam o repertório Camaleão e Fogo no Paiol, samba capaz de incendiar um bloco. Enfim, um disco irretocável, bordado com poesia tão minimalista e elegante quanto a acústica arquitetura dos arranjos. Sem ter a pretensão de soar muderno, Rodrigo Maranhão já começa a se insinuar compositor eterno no cancioneiro popular brasileiro. Passageiro refina obra já perene.
Fazia tempo que o Mauro escrevia uma crítica tão boa, super bem escrita, maravilha, Maranhão merece! Linda a capa do disco.
5 estrelas, man?
Vou conferir.
Rodrigo realmente é um gênio!
Eu comprei o disco sem compromisso e estou VICIADO, não paro de ouvir, muito bom mesmo, vale todas as estrelas.
Ainda não ouvi o novo disco, mas já falo isso há tempos. Rodrigo Maranhão é o melhor compositor disparado de sua geração.
Merecidíssimo!!!
As ***** estrelas assinaladas por vc valem cada minuto desse CD.
Maravilhoso!!!
A cada audição alterno minha música preferida.
No momento "Passageiro" a música que dá título ao CD é a que me "toma o pensamento".
Até agora, o CD do ano!!!
Mercido tmb o reconhecimento com a obra do Maranhão, artista que vem na calada, conquistando seu espaço, principalmente entre as cantoras que buscam novidades bacanas p
Mauro,
Bela crítica!
Adoro o trabalho do Rodrigo.
Fiquei com água na boca.
Abraços,
Lula
Tenho o 1º CD do Rodrigo, assisti seu show aqui em Natal, o conheci pessoalmente. Então comprei hoje seu 2º CD "no escuro" sem medo. Tenho certeza que é uma obra-prima. Só espero que seja um álbum com mais de 30 minutos de duração... rsrs
Rodrigo e Edu Krieger são os melhores de sua geração. Juntos no palco, então, são imbatíveis, têm uma química perfeita!
vale cada estrelinha!
linda crítica,mauro!
beijo luso,
lu!
O Melhor CD dos últimos tempos!
Não canso de ouvir!
Perfeito!
Postar um comentário
<< Home