27 de março de 2010

Russo deu dimensão poética ao rock brasileiro

No comando da Legião Urbana, Renato Russo (1960 - 1996) deu nova dimensão poética ao rock brasileiro. Vivo fosse, o cantor completaria 50 anos neste sábado, 27 de março de 2010. A efeméride é pretexto para a edição de disco (Duetos, com a reunião de 15 encontros reais e virtuais) e livro (Como se Não Houvesse Amanhã, que traz 20 contos inspirados em músicas do compositor brasiliense). Entretanto, a forma mais segura de mergulhar no universo de Russo - e compreender a importância de seu legado - é ouvir os discos que ele gravou em vida com a Legião Urbana e fora do grupo. Quando a Legião Urbana estourou em 1985, sem as estratégias de marketing que hoje cercam os lançamentos póstumos que envolvem Renato Russo, o pop rock brasileiro já tinha gerado bandas e artistas importantes como Os Mutantes, Raul Seixas (1945 - 1989) e Rita Lee. Naquele momento, grupos que também escreveriam capítulos essenciais na história desse rock brasileiro - casos de Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e dos Titãs (estes ainda sem a maturidade e o conceito que ficariam bem mais nítidos em 1986 com o lançamento do álbum Cabeça Dinossauro) - já estavam em cena, dando os seus primeiros importantes passos no mercado fonográfico. Mesmo assim, a chegada da Legião Urbana deu nova dimensão ao que estava sendo cantado para a juventude nativa por cantores e compositores que também eram jovens. "Somos tão jovens...", reiterou Russo em verso de Tempo Perdido, balada à moda The Smiths que se destacou no repertório do segundo álbum da Legião (Dois, 1986). Sim, Russo era jovem, mas já parecia ter vivência adulta, trazendo na bagagem toda uma gama de referências literárias e poéticas que fizeram as letras escritas para o repertório da Legião Urbana atingirem uma dimensão até então inalcançável pelos roqueiros brasileiros. Russo tinha o que dizer. E dizia tudo com versos elaborados. Se as letras do seminal álbum Legião Urbana (1985) situavam a juventude dentro de um universo sócio-político, as letras de Dois retratavam esses jovens dentro do mundo complicado das relações afetivas. Na sequência, após a pausa estratégica para rebobinar o explosivo repertório do seminal grupo Aborto Elétrico em Que País É Este 1979 - 1987 (1987), as letras do álbum As Quatro Estações (1989) puseram Deus e a religião no meio - e é sintomaticamente aí que a figura de Renato Russo começa a adquirir um caráter messiânico. Como se Russo fosse o profeta que, a cada disco ou a cada letra, trazia as boas novas. Que seriam melancólicas em V (1991), o quinto álbum da Legião Urbana. É quando, já consumido pelo vírus da Aids que o levaria à morte em outubro de 1996, Russo começa a expor sua vivência gay e a fazer o inventário emocional de sua geração naqueles tempos de amor e morte. Inventário prosseguido em O Descobrimento do Brasil (1993) - álbum de menor vigor musical, mas não poético - e em A Tempestade (1996), cujas sessões de gravação geram também o já póstumo Uma Outra Estação (1997). Paralelamente, em carreira solo de intérprete, Russo celebrou seu conquistado orgulho gay em The Stonewall Celebration Concert (1994) e revirou as afetivas memórias da música italiana no intenso Equilíbrio Distante (1995). Mesmo cantando letras alheias, havia em seus dois discos individuais um conceito e uma poesia que reiteravam o legado imortal deixado por Renato Russo. Por isso, ele continua tão vivo. Força sempre!!!!

14 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

No comando da Legião Urbana, Renato Russo (1960 - 1996) deu nova dimensão poética ao rock brasileiro. Vivo fosse, o cantor completaria 50 anos neste sábado, 27 de março de 2010. A efeméride é pretexto para a edição de disco (Duetos, com a reunião de 15 encontros reais e virtuais) e livro (Como se Não Houvesse Amanhã, que traz 20 contos inspirados em músicas do compositor brasiliense). Entretanto, a forma mais segura de mergulhar no universo de Russo - e compreender a importância de seu legado - é ouvir os discos que ele gravou em vida com a Legião Urbana e fora do grupo. Quando a Legião Urbana estourou em 1985, sem as estratégias de marketing que hoje cercam os lançamentos póstumos que envolvem Renato Russo, o pop rock brasileiro já tinha gerado bandas e artistas importantes como Os Mutantes, Raul Seixas (1945 - 1989) e Rita Lee. Naquele momento, grupos que também escreveriam capítulos essenciais na história desse rock brasileiro - casos de Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e dos Titãs (estes ainda sem a maturidade e o conceito que ficariam bem mais nítidos em 1986 com o lançamento do álbum Cabeça Dinossauro) - já estavam em cena, dando os seus primeiros importantes passos no mercado fonográfico. Mesmo assim, a chegada da Legião Urbana deu nova dimensão ao que estava sendo cantado para a juventude nativa por cantores e compositores que também eram jovens. "Somos tão jovens...", reiterou Russo em verso de Tempo Perdido, balada à moda The Smiths que se destacou no repertório do segundo álbum da Legião (Dois, 1986). Sim, Russo era jovem, mas já parecia ter vivência adulta, trazendo na bagagem toda uma gama de referências literárias e poéticas que fizeram as letras escritas para o repertório da Legião Urbana atingirem uma dimensão até então inalcançável pelos roqueiros brasileiros. Russo tinha o que dizer. E dizia tudo com versos elaborados. Se as letras do seminal álbum Legião Urbana (1985) situavam a juventude dentro de um universo sócio-político, as de Dois retratavam esses jovens dentro do mundo complicado das relações afetivas. Na sequência, após a pausa estratégica para rebobinar o explosivo repertório do seminal grupo Aborto Elétrico em Que País É Este 1979 - 1987 (1987), as letras do álbum As Quatro Estações (1989) puseram Deus e a religião no meio - e é sintomaticamente aí que a figura de Renato Russo começa a adquirir um caráter messiânico. Como se Russo fosse o profeta que, a cada disco ou a cada letra, trazia as boas novas. Que seriam melancólicas em V (1991), o quinto álbum da Legião Urbana. É quando, já consumido pelo vírus da Aids que o levaria à morte em outubro de 1996, Russo começa a expor sua vivência gay e a fazer o inventário emocional de sua geração naqueles tempos de amor e morte. Inventário prosseguido em O Descobrimento do Brasil (1993) - álbum de menor vigor musical, mas não poético - e em A Tempestade (1996), cujas sessões de gravação geram também o já póstumo Uma Outra Estação (1997). Paralelamente, em carreira solo de intérprete, Russo celebrou seu conquistado orgulho gay em The Stonewall Celebration Concert (1994) e revirou as afetivas memórias da música italiana no intenso Equilíbrio Distante (1995). Mesmo cantando letras alheias, havia em seus dois discos individuais um conceito e uma poesia que reiteravam o legado imortal deixado por Renato Russo. Por isso, ele continua tão vivo. Força sempre!...

27 de março de 2010 às 10:51  
Anonymous Ricardo Guima said...

Lindo texto, Mauro! Russo será eterno! Um dos heróis que marcarão para sempre o "rock brasil"!
Abs,
Ricardo Guima

27 de março de 2010 às 10:51  
Anonymous Anônimo said...

Parabéns pelo texto. Renato Russo sempre foi, é e será lembrado pela sua brilhante obra. A Legião nunca foi uma das minhas bandas preferidas (as outras citadas no post estão à frente), mas é inegável a força, a influência e a importância que ela teve no cenário do rock nacional.

legio urban omnia vincit

27 de março de 2010 às 11:50  
Anonymous Leo said...

Belíssimo texto. Um quero conseguir este poder de síntese e dosar emoção e informação. Parabéns Mauro. E salve Renato!

27 de março de 2010 às 13:25  
Blogger Célia Porto said...

COM VOCÊS RENATO RUSSO
Aqui vai toda minha emoção ao poeta Renao Russo, que estaria completando 50 anos no dia 27 de março. Com respeito e emoção dedico esta postagem a Giuliano seu filho, sua irmã Carmem Tereza e Dona Carminha sua mãe. A família que merece a lembrança dos bons momentos com o compositor e poeta, que deixou o seu melhor para ser compartilhado, com uma só vontade -expandir o amor e a paz.

Participo do CD Duetos com muito carinho e agradeço pelo convite. A gravação ficou simples e bonita. Claro que a presença de Renato era só virtual, mas a gente sente a emoção, porque sabe que ele tratava as coisas dele com crinho e era bstante exigente. Ele disse a mim - ¨Acho legal quando outros cantores gravam e cantam minhas músicas em estilos diferentes porque assim é uma forma de atingir outros corações¨.
É por isso que o considero.
FORÇA SEMPRE.
CÉLIA PORTO

27 de março de 2010 às 14:27  
Anonymous Anônimo said...

MAURO,
PARABÉNS PELO TEXTO!!!
HÁ MUITO TEMPO VC NÃO ESCREVIA ALGO TÃO COERENTE, TÃO DE VOCÊ...
TEXTO MUITO BOM MESMO !!!
ADOREI A DEFINIÇÃO DE "INVENTÁRIO EMOCIONAL".
QUEM VIVEU ESTA ÉPOCA, IA A CADA LANÇAMENTO EM UMA LOJA DE DISCO COMRPAR O VINIL DA LEGIÃO, COM CERTEZA SABE BEM DO QUE VC ESTÁ FALANDO.
TEXTO PRIMOROSO, PARABÉNS!!

itamardias

itamardias@gmail.com

27 de março de 2010 às 14:27  
Anonymous Anônimo said...

Um poeta transgressor, lúcido, e necessário. É para sempre! Meu carinho Renato.

27 de março de 2010 às 15:39  
Anonymous Gerlande Diogo said...

Legião Urbana tudo vence!

27 de março de 2010 às 15:52  
Anonymous Anônimo said...

Tarefa sempre complicada falar da Legião. Para o bem e para o mal.

Bem... eu quase fui um integrante da "Religião Urbana" que tanto impressiona as pessoas, até hoje. Quando eu tinha meus nove, dez anos, era desses que tinha o cancioneiro (composto, na maioria das vezes, por Renato Russo) na ponta da língua.

Depois dei uma enjoada. Além disso, conheci Paralamas e Titãs, e deles fiquei admirador eterno. Mas, mesmo deixando um pouco de lado, nunca deixei de respeitar a história que Renato urdiu na música brasileira, ao lado dos colegas Dado, Bonfá e Negrete.

Está certo que eu olho com um pouco de desdém e até "bode" esse caráter quase messiânico que o filho de seu Renato e dona Maria do Carmo adquiriu ao longo da carreira - notadamente, como bem apontou Mauro, a partir de "As Quatro Estações".

Talvez porque eu me identificasse mais com Dado - e até com o bissexto Negrete. Talvez porque, aos poucos, RR ficou, digamos, uma entidade, algo quase à parte da Legião Urbana. Não era mais o cara que tocava baixo, ou violão, ou teclado, e fazia parte da banda. Era alguém acima.

Além disso, eu confesso que vejo mais graça em coisas obscuras da Legião, como "Metrópole", "Plantas Embaixo do Aquário" e "Feedback song for a dying friend", do que nas "Pais e Filhos" e "Teatro dos Vampiros" da vida.

Mas o fato é que, em sua geração, Renato talvez tenha sido o cidadão mais culto, mais elaborado, com mais lastro cultural a respeito do mundo. Um lastro como, talvez, não se encontre em nenhum de seus companheiros (talvez algo de Arnaldo Antunes lembre).

Além disso, ele - e, por tabela, a Legião - tinham ideologia, uma linha de pensamento. E dela não se desviaram por nada. Tal atitude é rara.

Por isso, a marca tão indelével que ele deixou. Por isso, o merecimento tão grande de que seu nome continue a ser falado - e que ele continue a ser porta-voz de gerações posteriores.

E já que lembraram do "Força Sempre" e do "Urbana Legio Omnia Vincit", eu lembro: "Ouça no volume máximo".

Felipe dos Santos Souza

27 de março de 2010 às 21:21  
Blogger Pod papo - Pod música said...

Grande Renato Russo, ele faz muita falta na música brasileira.

Beijos

27 de março de 2010 às 23:13  
Blogger Unknown said...

Renato Russo, o compositor de todos os dias. Fico feliz hoje de ver meu neto (8 anos) entrar no carro e pedir imediatamente que ligue o som para ouvir o cd do Legião Urbana que fica no nosso carro.
Muita força,e parabéns minha amiga Célia Porto por estar sempre rendendo homenagens a esse grande cantor e compositor.Um beijão. Célia Véras

30 de março de 2010 às 06:22  
Blogger Adriana Fittipaldi said...

Texto brilhante! E maravilhosa a iniciativa de artistas como Celia Porto de nos brindar com outras interpretações desse grande poeta, ressignificando e vivificando o seu legado. Parabéns!

31 de março de 2010 às 15:32  
Anonymous Anônimo said...

As músicas do Renato Russo, fez e continua fazendo parte da minha vida.
Pena que eu não tive a oportunidade de lhe enviar esta mensagem.Ou melhor nunca é tarde para homenagear alguém que se ama.

Renato,

"Quando você morrer, nós vamos plantar um pezinho de maconha no seu túmulo.

Esse pezinho de maconha vai crescer, vai brotar, as pessoas vão usar e você vai continuar fazendo a cabeça de todo mundo".

Silvana Moura.

Atenção! A palavra maconha está no sentido figurado.

21 de julho de 2010 às 01:01  
Anonymous Anônimo said...

Mauro,

Continue escrevendo sobre Renato Russo.

Amei o texto, parabéns!

Sentirei uma saudade eterna do Renato.

Abs.

21 de julho de 2010 às 01:05  

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