Ramil derrama fina poesia em disco de milonga
Resenha de CD
Título: Délibáb
Artista: Vitor Ramil
Gravadora: Satolep
Cotação: * * * 1/2
Fiel à estética do frio que tempera boa parte da música produzida no Sul do Brasil, o gaúcho Vítor Ramil derrama fina poesia em disco de milongas compostas a partir de versos do argentino Jorge Luis Borges (1899 - 1986) e do também gaúcho João da Cunha Vargas (1900 - 1980). A despeito de uma certa linearidade, inevitável pelo fato de os arranjos das 12 milongas terem sido moldados para dois violões (o de Ramil e o do argentino Carlos Moscardini, músico convidado de 11 faixas), Délibáb se impõe como mais um belo disco de Ramil, que assumiu a produção deste projeto gravado em Buenos Aires, na Argentina, em junho de 2009. Délibáb é vocábulo húngaro que designa miragem - como explica Ramil em textos reproduzidos na capa interna da edição dupla que junta CD e DVD (com documentário sobre a gravação e clipe de Querência, milonga adicional do repertório). A inspiração do compositor, contudo, parece bem real porque parece ser bem verdadeira a intimidade do artista com o universo dos poetas. Os versos de João da Cunha Vargas - um gaúcho natural de Alegrete (RS) - já trazem em si uma síntese das modas e costumes do Sul. Universo já mítico que permeia toda a obra fonográfica e literária de Ramil. E, talvez por isso, ele se mostre especialmente inspirado na composição de milongas para os poemas Chimarrão, Deixando o Pago e Pé de Espora. Inclusive porque, como ressalta o próprio Ramil no texto em que conceitua Délibáb, os versos de Vargas estão impregnados de doçura e melancolia que são mais rarefeitas nos poemas valentes de Borges, muitos escritos sobre o universo viril de lutas, sangue e mortes. Poemas que foram publicados pela primeira vez em 1965 em um livro sintomaticamente intitulado Para las Seis Cuerdas. Sim, Borges já pensava seus poemas como milongas. E, não por acaso, um deles se intitula Milonga de los Morenos e se impõe como um grande momento do disco (o maior dentre as seis faixas com versos de Borges). Ramil entoa a sedutora Milonga de los Morenos em dueto com Caetano Veloso, cantor íntimo desse universo hispânico de fina estampa. Enfim, Délibáb tem lá seus encantos. Embora seja disco de assimilação menos rápida para ouvidos educados longe demais das capitais...
Título: Délibáb
Artista: Vitor Ramil
Gravadora: Satolep
Cotação: * * * 1/2
Fiel à estética do frio que tempera boa parte da música produzida no Sul do Brasil, o gaúcho Vítor Ramil derrama fina poesia em disco de milongas compostas a partir de versos do argentino Jorge Luis Borges (1899 - 1986) e do também gaúcho João da Cunha Vargas (1900 - 1980). A despeito de uma certa linearidade, inevitável pelo fato de os arranjos das 12 milongas terem sido moldados para dois violões (o de Ramil e o do argentino Carlos Moscardini, músico convidado de 11 faixas), Délibáb se impõe como mais um belo disco de Ramil, que assumiu a produção deste projeto gravado em Buenos Aires, na Argentina, em junho de 2009. Délibáb é vocábulo húngaro que designa miragem - como explica Ramil em textos reproduzidos na capa interna da edição dupla que junta CD e DVD (com documentário sobre a gravação e clipe de Querência, milonga adicional do repertório). A inspiração do compositor, contudo, parece bem real porque parece ser bem verdadeira a intimidade do artista com o universo dos poetas. Os versos de João da Cunha Vargas - um gaúcho natural de Alegrete (RS) - já trazem em si uma síntese das modas e costumes do Sul. Universo já mítico que permeia toda a obra fonográfica e literária de Ramil. E, talvez por isso, ele se mostre especialmente inspirado na composição de milongas para os poemas Chimarrão, Deixando o Pago e Pé de Espora. Inclusive porque, como ressalta o próprio Ramil no texto em que conceitua Délibáb, os versos de Vargas estão impregnados de doçura e melancolia que são mais rarefeitas nos poemas valentes de Borges, muitos escritos sobre o universo viril de lutas, sangue e mortes. Poemas que foram publicados pela primeira vez em 1965 em um livro sintomaticamente intitulado Para las Seis Cuerdas. Sim, Borges já pensava seus poemas como milongas. E, não por acaso, um deles se intitula Milonga de los Morenos e se impõe como um grande momento do disco (o maior dentre as seis faixas com versos de Borges). Ramil entoa a sedutora Milonga de los Morenos em dueto com Caetano Veloso, cantor íntimo desse universo hispânico de fina estampa. Enfim, Délibáb tem lá seus encantos. Embora seja disco de assimilação menos rápida para ouvidos educados longe demais das capitais...
2 Comments:
Fiel à estética do frio que tempera boa parte da música produzida no Sul do Brasil, o gaúcho Vítor Ramil derrama fina poesia em disco de milongas compostas a partir de versos do argentino Jorge Luis Borges (1899 - 1986) e do também gaúcho João da Cunha Vargas (1900 - 1980). A despeito de uma certa linearidade, inevitável pelo fato de os arranjos das 12 milongas terem sido moldados para dois violões (o de Ramil e o do argentino Carlos Moscardini, músico convidado de 11 faixas), Délibáb se impõe como mais um belo disco de Ramil, que assumiu a produção deste projeto gravado em Buenos Aires, na Argentina, em junho de 2009. Délibáb é vocábulo húngaro que designa miragem - como explica Ramil em textos reproduzidos na capa interna da edição dupla que junta CD e DVD (com documentário sobre a gravação e clipe de Querência, milonga adicional do repertório). A inspiração do compositor, contudo, parece bem real porque parece ser bem verdadeira a intimidade do artista com o universo dos poetas. Os versos de João da Cunha Vargas - um gaúcho natural de Alegrete (RS) - já trazem em si uma síntese das modas e costumes do Sul. Universo já mítico que permeia toda a obra fonográfica e literária de Ramil. E, talvez por isso, ele se mostre especialmente inspirado na composição de milongas para os poemas Chimarrão, Deixando o Pago e Pé de Espora. Inclusive porque, como ressalta o próprio Ramil no texto em que conceitua Délibáb, os versos de Vargas estão impregnados de doçura e melancolia que são mais rarefeitas nos poemas valentes de Borges, muitos escritos sobre o universo de lutas, sangue e mortes. Poemas que foram publicados pela primeira vez em 1965 num livro sintomaticamente intitulado Para las Seis Cuerdas. Sim, Borges já pensava seus poemas como milongas. E, não por acaso, um deles se intitula Milonga de los Morenos e se impõe como um grande momento do disco (o maior dentre as seis faixas com versos de Borges). Ramil entoa a sedutora Milonga de los Morenos em dueto com Caetano Veloso, cantor íntimo desse universo hispânico de fina estampa. Enfim, Délibáb tem lá seus encantos. Embora seja disco de assimilação menos rápida para ouvidos educados longe demais das capitais...
Vitor Ramil é um gênio! Aproveitem mais esta pérola para entender a beleza do trabalho deste compositor gaúcho.
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