31 de março de 2010

Ralf renova a bossa de Paula com arranjos leves

Resenha de CD
Título: BossaRenova
Artista: Paula Morelenbaum
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Poucas vezes, ou talvez mesmo nunca, uma big-band pulsou com tanta leveza como neste álbum gravado em estúdio por Paula Morelenbaum entre Stuttgart (na Alemanha) e Rio de Janeiro (RJ) de dezembro de 2008 a abril de 2009. O mérito é do arranjador alemão Ralf Schmid, que conduz a SWR Big Band pelas trilhas suaves da bossa com um olhar diferenciado, verdadeiramente original, sem prejuízo da leveza essencial do gênero. "Bossa nova é mais um olhar do que um beijo... É mais um recado do que uma mensagem", conceitua Paula na abertura de Águas de Março, se valendo de um texto em prosa de Vinicius de Moraes (1913 - 1980) intitulado O Que É Bossa Nova?. A propósito, o Poetinha se faz presente no repertório através de belas releituras de Tempo de Amor (uma de suas parcerias com Baden Powell) e Tarde em Itapoã. A leveza com que este clássico da obra de Vinicius & Toquinho é reembalado exemplifica a maestria de Ralf Schmid na criação dos arranjos de BossaRenova, CD que descarta qualquer conceito ortodoxo de Bossa Nova ao agregar no repertório temas de universos tão díspares quanto Blackbird (John Lennon e Paul McCartney), Setembro (Ivan Lins e Gilson Peranzzetta) e Mas que Nada (standard da obra inicial de Jorge Ben Jor, objeto de abordagem mais convencional). Paula - solista segura, de voz incrivelmente afinada e sedutora - canta até versão de lindíssima balada alemã, Ich Grolle Nicht (de Robert Schumann e Heirich Heine). Intitulada Pra que Chorar? na versão em português assinada por Arthur Nestrovski, a faixa beira o sublime pela beleza da melodia, pela apropriada citação de Carinhoso (Pixinguinha e Braguinha) e pelo solo do trombone de Ernst Hutter. A SWR Big Band, a propósito, é orquestra que prioriza os sopros na sua formação (sopros que interagem bem com a percussão em O Morro Não Tem Vez, o samba de Tom & Vinicius). Músicos como o trompetista alemão Joe Kraus (conceituado no mundo do jazz) e o violoncelista Jaques Morelenbaum valorizam o disco com suas participações. Kraus toca em Tempo de Amor e em Setembro. Morelenbaum é convidado de Modinha (Seresta nº 6), tema de Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959). Lançado no exterior em 2009 e editado no Brasil pela gravadora Biscoito Fino neste mês de março de 2010, BossaRenova é disco leve, moderno (mas nunca modernoso, como ressalta Roberto Menescal num dos elogios reproduzidos no encarte) e arejado que põe Paula Morelenbaum em lugar de destaque na música brasileira. A discografia da cantora - que vem de outro excelente álbum, Telecoteco - Um Sambinha Cheio de Bossa... (2008) - tem valor e já ganha progressiva importância dentro e fora do universo bossa-novista.

7 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Poucas vezes, ou talvez mesmo nunca, uma big-band pulsou com tanta leveza como neste álbum gravado em estúdio por Paula Morelenbaum entre Stuttgart (na Alemanha) e Rio de Janeiro (RJ) de dezembro de 2008 a abril de 2009. O mérito é do arranjador alemão Ralf Schmid, que conduz a SWR Big Band pelas trilhas suaves da bossa com um olhar diferenciado, verdadeiramente original, sem prejuízo da leveza essencial do gênero. "Bossa nova é mais um olhar do que um beijo... É mais um recado do que uma mensagem", conceitua Paula na abertura de Águas de Março, se valendo de um texto em prosa de Vinicius de Moraes (1913 - 1980) intitulado O Que É Bossa Nova?. A propósito, o Poetinha se faz presente no repertório através de belas releituras de Tempo de Amor (uma de suas parcerias com Baden Powell) e Tarde em Itapoã. A leveza com que este clássico da obra de Vinicius & Toquinho é reembalado exemplifica a maestria de Ralf Schmid na criação dos arranjos de BossaRenova, CD que descarta qualquer conceito ortodoxo de Bossa Nova ao agregar no repertório temas de universos tão díspares quanto Blackbird (John Lennon e Paul McCartney), Setembro (Ivan Lins e Gilson Peranzzetta) e Mas que Nada (standard da obra inicial de Jorge Ben Jor, objeto de abordagem mais convencional). Paula - solista segura, de voz incrivelmente afinada e sedutora - canta até versão de lindíssima balada alemã, Ich Grolle Nicht (de Robert Schumann e Heirich Heine). Intitulada Pra que Chorar? na versão em português assinada por Arthur Nestrovski, a faixa beira o sublime pela beleza da melodia, pela apropriada citação de Carinhoso (Pixinguinha e Braguinha) e pelo solo do trombone de Ernst Hutter. A SWR Big Band, a propósito, é orquestra que prioriza os sopros na sua formação (sopros que interagem bem com a percussão em O Morro Não Tem Vez, o samba de Tom & Vinicius). Músicos como o trompetista alemão Joe Kraus (conceituado no mundo do jazz) e o violoncelista Jaques Morelenbaum valorizam o disco com suas participações. Kraus toca em Tempo de Amor e em Setembro. Morelenbaum é convidado de Modinha (Seresta nº 6), tema de Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959). Lançado no exterior em 2009 e editado no Brasil pela gravadora Biscoito Fino neste mês de março de 2010, BossaRenova é disco leve, moderno (mas nunca modernoso, como ressalta Roberto Menescal num dos elogios reproduzidos no encarte) e arejado que põe Paula Morelenbaum em lugar de destaque na música brasileira. A discografia da cantora - que vem de outro excelente álbum, Telecoteco - Um Sambinha Cheio de Bossa (2008) - tem valor e já ganha progressiva importância dentro e fora do universo bossa-novista.

31 de março de 2010 às 12:53  
Anonymous Luc said...

As big bands das rádios alemãs são o que há.

31 de março de 2010 às 12:58  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, voce afirmou que "Poucas vezes, ou talvez mesmo nunca, uma big-band pulsou com tanta leveza como neste álbum gravado em estúdio por Paula Morelenbaum entre Stuttgart (na Alemanha) e Rio de Janeiro (RJ)", com essa SWR Big Band. Porém, se não me engano é a mesma orquestra do disco da Joyce e nele tudo é muiiiiiiiiiiito leve.
Não ouvi o de Paula. Mas, vale uma análise pois, se for assim, essa Big Band vem se especializando em fazer coisas lindas com nossa música.

Carioca da Piedade

1 de abril de 2010 às 11:42  
Anonymous Anônimo said...

Ops, Mauro..."Ich Grolle Nicht" balada alemã???

"Ich Grolle Nicht" é um dos grandes clássicos do lied alemão do séc 19, composta pelo imortal Schumann sobre versos de um dos maiores poetas alemães da primeira metade do séc 19, Heinrich Heine.

Vc escreveu como se tratasse de compositores pop contemporâneos...

2 de abril de 2010 às 12:06  
Blogger Pedro Progresso said...

Achei o repertório batido. Regravar Tarde em itapuã a essa altura do campeonato é dose.

2 de abril de 2010 às 21:30  
Blogger Unknown said...

Enganou-se Anônimo, Carioca da Piedade, conforme ele mesmo previu. "Se não me engano", disse ele, e faço agora minhas suas palavras, o disco da Joyce a que se refere, será provavelmente “Celebrando Jobim”, lançado recentemente, realizado a convite da Big Band da WDR (Westdeutchland Rundfunk, que vem a significar Radiodifusão do Oeste da Alemanha) sediada em Colônia, ou Köln, como dizem eles. Já SWR Big Band em questão refere-se à Radiodifusão do Sudoeste da Alemanha. Quem dera tivéssemos aqui no Brasil um serviço público dedicado à arte e cultura com tal eficiência! O disco da Joyce com a WDR Big Band, conta com arranjos de Gilson Peranzetta, do genial Proveta (da Banda Mantiqueira) e de Jaques Morelenbaum, que aqui comparece com esse comentário corretivo, e foi gravado parcialmente em apresentação ao vivo no Köln Philharmonie. A propósito, tendo participado dos dois projetos, no Bossarenova como violoncelista, e no "disco da Joyce" como arranjador, regente e violoncelista, acabo de receber o disco "Ceremony", do pianista e compositor cubano Omar Sosa e a Big Band da NDR (Radiodifusão do Norte da Alemanha, sediada em Hamburgo e Hannover), recém lançado na Europa, no qual assino os arranjos, regência e violoncelo. Sem falsas modéstias, é um belo e consistente projeto, o qual gostaria muitíssimo de poder compartilhar com meus compatriotas, já que emociona-me o fato de tratar-se de uma produção conjunta de artistas cubanos, moçambicanos, alemães, americanos, suecos e um representante do Brasil (eu), e sua temática gira em torno da Santeria, a que Omar é devoto, e essa seria a versão Caribenha do nosso Candomblé, e gira em torno de referências a Iemanjá, Xangô, Elegua, entre outras divindades.

3 de abril de 2010 às 11:36  
Anonymous Anônimo said...

Paula tornou diferente aquela coisa sempre igual!
Belo cd!

3 de abril de 2010 às 21:35  

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