6 de março de 2010

Ode à liberdade, 'Sessão das 10' volta ao cartaz

Resenha de CD (Reedição)
Título: Sociedade da
Grã-Ordem Kavernista
Apresenta Sessão das 10
Artista: Edy Star, Miriam
Batucada, Raul Seixas e
Sérgio Sampaio
Ano: 1971
Gravadora: CBS (Sony Music)
Cotação: * * * * 1/2

Em 1973, ao lançar Ouro de Tolo, uma das obras-primas de seu repertório inicial, Raul Seixas (1945 - 1989) alfinetou o sonho consumista da classe média iludida pelo falso Milagre Econônico propagado pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985). Ouro de Tolo foi como um soco no estômago da sociedade da época. Contudo, tal ideologia corrosiva e crítica já aparecia na deliciosa Êta Vida, festiva parceria de Raul com Sérgio Sampaio (1947 - 1994) que abriu o título mais anárquico e lúdico da discografia do Maluco Beleza, Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 (1971), ora reeditado em CD na coleção Caçadores de Música, posta nas lojas pela Sony Music entre o fim de fevereiro e o início deste mês de março de 2010. Ode à liberdade em tempos ditatoriais, o disco foi feito à revelia da gravadora CBS, onde Raul - ainda em busca de fama e de uma chance como cantor - trabalhava como produtor de artistas populares como Jerry Adriani e Diana. Aproveitando brecha na agenda do estúdio da companhia, Raul recrutou Edy Star, Miriam Batucada (1947 - 1994) e o já citado Sérgio Sampaio para gravar um disco que tirava sarro com o status quo da sociedade e com o próprio meio artístico. Na faixa-título, Sessão das 10, composta por Raul e cantada por Edy Star (o único do quarteto que ainda está vivo), a piada era com os cantores seresteiros que seguiam fiéis a uma estética musical pré-Bossa Nova. Em Eu Acho Graça, Sérgio Sampaio - autor e intéprete da faixa - ironizava os hippies que ainda vagavam pelo Brasil. Seja em ritmo de samba (Aos Trancos e Barrancos) ou no compasso veloz e vivaz do Chorinho Inconsequente (cantado por Miriam Batucada), Sessão das 10 questionava com humor e acidez os ideais de uma sociedade que se anestesiava com os bens de consumo, alheia ao que acontecia nos porões da ditadura. Contudo, a crítica era feita em tom jocoso, herdeiro da anarquia instaurada pelos Mutantes três anos antes. No xaxado Soul Tabaroa, Batucada, por exemplo, alfinetava a soul music que se popularizava no Brasil pelo vozeirão de Tim Maia (1942 - 1998), então no auge criativo. Contudo, era tudo brincadeira. E a maior prova de que o quarteto não se levava a sério foi o som de descarga ouvido em Finale, a vinheta que fecha o disco, já editado em CD de forma artesanal nos anos 90, mas há muito fora de catálogo. Sessão das 10 precisava mesmo voltar ao cartaz em tempos tão politicamente corretos. Viva a liberdade!

5 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em 1973, ao lançar Ouro de Tolo, uma das obras-primas de seu repertório inicial, Raul Seixas (1945 - 1989) alfinetou o sonho consumista da classe média iludida pelo falso Milagre Econônico propagado pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985). Ouro de Tolo foi como um soco no estômago da sociedade da época. Contudo, tal ideologia corrosiva e crítica já aparecia na deliciosa Êta Vida, festiva parceria de Raul com Sérgio Sampaio (1947 - 1994) que abriu o título mais anárquico e lúdico da discografia do Maluco Beleza, Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 (1971), ora reeditado em CD na coleção Caçadores de Música, posta nas lojas pela Sony Music entre o fim de fevereiro e o início deste mês de março de 2010. Ode à liberdade em tempos ditatoriais, o disco foi feito à revelia da gravadora CBS, onde Raul - ainda em busca de fama e de uma chance como cantor - trabalhava como produtor de artistas populares como Jerry Adriani e Diana. Aproveitando brecha na agenda do estúdio da companhia, Raul recrutou Edy Star, Miriam Batucada (1947 - 1994) e o já citado Sérgio Sampaio para gravar um disco que tirava sarro com o status quo da sociedade e com o próprio meio artístico. Na faixa-título, Sessão das 10, composta por Raul e cantada por Edy Star (o único do quarteto que ainda está vivo), a piada era com os cantores seresteiros que seguiam fiéis a uma estética musical pré-Bossa Nova. Em Eu Acho Graça, Sérgio Sampaio - autor e intéprete da faixa - ironizava os hippies que ainda vagavam pelo Brasil. Seja em ritmo de samba (Aos Trancos e Barrancos) ou no compasso veloz e vivaz do Chorinho Inconsequente (cantado por Miriam Batucada), Sessão das 10 questionava com humor e acidez os ideais de uma sociedade que se anestesiava com os bens de consumo, alheia ao que acontecia nos porões da ditadura. Contudo, a crítica era feita em tom jocoso, herdeiro da anarquia instaurada pelos Mutantes três anos antes. No xaxado Soul Tabaroa, Batucada, por exemplo, alfinetava a soul music que se popularizava no Brasil pelo vozeirão de Tim Maia (1942 - 1998), então no auge criativo. Contudo, era tudo brincadeira. E a maior prova de que o quarteto não se levava a sério foi o som de descarga ouvido em Finale, a vinheta que fecha o disco, já editado em CD de forma artesanal nos anos 90, mas há muito fora de catálogo. Sessão das 10 precisava mesmo voltar ao cartaz em tempos tão politicamente corretos. Viva a liberdade!

6 de março de 2010 às 10:54  
Anonymous josé paulo said...

Sem dúvida é melhor trabalho envolvendo o nome de Raul Seixas - que depois tornou-se um hippie caricato, evocando misticismo e outras bobagens tipo "sociedade alternativa".

6 de março de 2010 às 12:58  
Anonymous Anônimo said...

Clássico! Uma curiosidade que notei é que as datas de nascimento e de morte de Sampaio e Batucada coincidem (1947-1994).

6 de março de 2010 às 14:00  
Anonymous Anônimo said...

Raul foi muito mais que um cara que evocava misticismo.
Hippie?
Deu pra sacar que vc não entendeu nada.

7 de março de 2010 às 01:57  
Anonymous Anônimo said...

Bem-vinda reedição! será que retornou remasterizada? Tenho a primeira, mas o som não tá lá essas coisas...
Abs,
Ricardo Guima

8 de março de 2010 às 10:37  

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