17 de dezembro de 2009

Leny e Alaíde realçam as luzes e sombras de Alf

Resenha de Show
Título: Homenagem a Johnny Alf
Artista: Alaíde Costa e Leny Andrade
Local: Teatro Sesc Ginástico (RJ)
Data: 16 de dezembro de 2009
Foto: Mauro Ferreira
Cotação: * * * *

"Antes da Bossa Nova, havia Johnny Alf". A frase dita por Leny Andrade em show no Birdland Jazz Club, em Nova York (EUA), está reproduzida no cartaz promocional de Homenagem a Johnny Alf, o show que reúne Leny e Alaíde Costa em torno da obra do autor de Olhos Negros. A frase reitera o real pioneirismo do compositor - atualmente em luta contra um câncer em São Paulo (SP) - na construção de uma moderna estética musical, na primeira metade dos anos 50, que culminaria com a formatação por João Gilberto da batida da bossa nova propriamente dita. Estreado esta semana no Rio de Janeiro, no Sesc Ginástico, o show é sedutor. Não somente pela reunião das vozes de Alaíde e Leny - duas cantoras criadas em berço bossa-novista que se juntam no final para cantar lindamente Eu e a Brisa e, no bis, Rapaz de Bem (em gracioso diálogo musical repleto de cacos e ginga) - mas também, e sobretudo, pela exposição do fino cancioneiro de Alf.

O roteiro é estruturado com o refinamento que sempre pauta as composições de Alf - ora sombrias, ora mais iluminadas, mas todas urdidas com requinte harmônico. Alaíde realça as sombras do cancioneiro de Alf, ficando responsável por abrir o show e apresentar no seu set individual por baladas soturnas como O Tempo e o Vento e Quem Sou Eu? - entoadas com rigor estilístico em clima noturno, como a evocar a atmosfera de uma boate do lendário Beco das Garrafas. É o "lado desconhecido" de Alf, como Alaíde explica em cena, entre números como Se Eu te Disser, Meu Sonho (um poema do compositor musicado pela própria Alaíde a pedido de Alf) e Dois Corações. São músicas difíceis que Alaíde, aos 74 anos, encara com valentia, em total interação com o trio formado por Fernando Merlino (piano, único acompanhante da cantora na supra-citada O Tempo e o Vento), Zeca Assumpção (baixo) e Kleberson Caetano (bateria). Trio em sintonia com Alf.

Com a entrada de Leny em cena, faz-se a luz no mesmo alto nível do bloco comandado por Alaíde. Após trocas de confetes com a colega e um discurso sobre a complexidade da obra de Alf, Leny - que vai completar 67 anos em 26 de janeiro de 2010 - põe sua voz poderosa a serviço de temas mais ensolarados e conhecidos do compositor. Casos da balada O Que É Amar - obra-prima que Leny valoriza com sua técnica irretocável e com sua intimidade com a obra de Alf - e de Céu e Mar, samba que, conforme conta a cantora em cena, foi apresentado por Alf originalmente como baião num festival cuja vitória garantiu ao compositor alento em tempos de dificuldades financeiras. Entre uma e outra, há Nossa Festa - uma pouco ouvida parceria de Alf com Alberto Chimelli - e Ilusão à Toa, outra joia, lapidada por Leny com direito à introdução de intervalos difíceis. No fim, Nós e o choro-canção Seu Chopin, Desculpe arrematam o bloco de Leny antes da volta de Alaíde ao palco para dois duetos de caráter histórico pela união de vozes de ideologias tão iluminadas em torno da obra precursora do genialf.

10 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

"Antes da Bossa Nova, havia Johnny Alf". A frase dita por Leny Andrade em show no Birdland Jazz Club, em Nova York (EUA), está reproduzida no cartaz promocional de Homenagem a Johnny Alf, o show que reúne Leny e Alaíde Costa em torno da obra do autor de Olhos Negros. A frase reitera o real pioneirismo do compositor - atualmente em luta contra um câncer em São Paulo (SP) - na construção de uma moderna estética musical, na primeira metade dos anos 50, que culminaria com a formatação por João Gilberto da batida da bossa nova propriamente dita. Estreado esta semana no Rio, no Teatro Sesc Ginástico, o show é primoroso. Não somente pela reunião das vozes de Alaíde e Leny - duas cantoras criadas em berço bossa-novista que se juntam no final para cantar lindamente Eu e a Brisa e, no bis, Rapaz de Bem (em gracioso diálogo musical cheio de cacos e ginga) - mas também, e sobretudo, pela exposição do fino cancioneiro de Alf.

O roteiro é estruturado com o refinamento que sempre pauta as composições de Alf - ora sombrias, ora mais iluminadas, mas todas urdidas com requinte harmônico. Alaíde realça as sombras do cancioneiro de Alf, ficando responsável por abrir o show e apresentar no seu set individual por baladas soturnas como O Tempo e o Vento e Quem Sou Eu? - entoadas com rigor estilístico em clima noturno, como a evocar a atmosfera de uma boate do lendário Beco das Garrafas. É o "lado desconhecido" de Alf, como Alaíde explica em cena, entre números como Se Eu te Disser, Meu Sonho (um poema do compositor musicado pela própria Alaíde a pedido de Alf) e Dois Corações. São músicas difíceis que Alaíde, aos 74 anos, encara com valentia, em total interação com o trio formado por Fernando Merlino (piano, único acompanhante da cantora na supra-citada O Tempo e o Vento), Zeca Assumpção (baixo) e Kleberson Caetano (bateria). Trio em sintonia com Alf.

Com a entrada de Leny em cena, faz-se a luz no mesmo alto nível do set comandado por Alaíde. Após trocas de confetes com a colega e um discurso sobre a complexidade da obra de Alf, Leny - que vai completar 67 anos em 26 de janeiro de 2010 - põe sua voz poderosa a serviço de temas mais ensolarados e conhecidos do compositor. Casos da balada O Que É Amar - obra-prima que Leny valoriza com sua técnica irretocável e com sua intimidade com a obra de Alf - e de Céu e Mar, samba que, conforme conta a cantora em cena, foi apresentado por Alf originalmente como baião num festival cuja vitória garantiu ao compositor alento em tempos de dificuldades financeiras. Entre uma e outra, há Nossa Festa - uma pouco ouvida parceria de Alf com Alberto Chimelli - e Ilusão à Toa, outra joia, lapidada por Leny com direito à introdução de intervalos difíceis. No fim, Nós e o choro-canção Seu Chopin, Desculpe arrematam o bloco de Leny antes da volta de Alaíde ao palco para dois duetos de caráter histórico pela união de vozes de ideologias tão iluminadas em torno da obra precursora do genialf.

17 de dezembro de 2009 às 13:59  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, eu não vi esse show. Afinal moro em SP. Mas deve ser mesmo maravilhoso. Alaíde Costa aos 74 anos canta lindamente. A técnica apurada é um presente de Deus. Adoro a voz de Alaíde. Me comove muito seu canto afinado e lúdico. Que bom termos essa grande cantora. A Leny também é muito bacana. Mas Alaíde Costa é especialmente interessante.

17 de dezembro de 2009 às 16:18  
Anonymous Anônimo said...

Amo Alaídinha e me surpreendi com Leny, pois achava ela " achona demais " pra dividir o palco com alguém com talento que tem Miss Costa. No mais,força genialf !!

17 de dezembro de 2009 às 17:43  
Anonymous Anônimo said...

O Teatro Sesc Ginástico cabe 513 pessoas.Lotou ?

17 de dezembro de 2009 às 17:47  
Blogger anonimo said...

Não assisti o show, mas só o fato de ser uma homanagem ao grande Jonnhy Alf, é garantia de boa música. Somado ao talento das cantoras, especialmente Alaíde Costa , que reúne técnica e emoção como nenhuma outra consegue. Suavidade que faz bem aos ouvidos e vai direto ao coração.........

18 de dezembro de 2009 às 00:06  
Anonymous Anônimo said...

Sou fã dos três: Alf, Alaíde e Leny. Gigantes da nossa música. Motivos de orgulho nacional. Pena é não poder ter assistido ao show.

18 de dezembro de 2009 às 09:28  
Anonymous Anônimo said...

Ainda espero o dia que se possa realmente valorizar grandes talentos como estes 3.

18 de dezembro de 2009 às 10:00  
Anonymous Plava Laguna said...

Não precisa esperar, 10:00. O talento dos três já é valorizado. Alf é mencionado em todas as antologias de música brasileira. Premiadíssimo compositor. Leny tem seu público (no qual me incluo), tanto no Brasil quanto no exterior. Alaíde também tem muitos admiradores.
A mídia reconhece a importância e o VALOR dos três sempre que pode (vide a resenha acima).
Será que tem algum na pendura?

18 de dezembro de 2009 às 17:31  
Anonymous Anônimo said...

Pena estar viajando na semana desse show. Espero que volte aos palcos cariocas. Jonnny Alf dispensa comentários. Leny Andrade indiscutívelmente uma grande cantora, de muitos recursos. E Alaíde Costa? O que dizer dessa deusa negra? Esbanja técnica, com seu jeito contido. E nos faz chorar ao ouví-la cantar. Leiam o livro "Solistas Dissonantes" e saibam mais sobre a luta dessa guerreira para se impor como cantora negra, sem os clichês costumeiros encontrados - muitas vezes impostos por essa máquina cruel de fabricar coisas de fácil "digestão". Parabéns Jonnhy pela obra , Leny pela qualidade vocal e Alaíde, esse exemplo de talento e dignidade.

18 de dezembro de 2009 às 22:20  
Anonymous ernest desde argentina said...

Este show histórico debería ser grabado para re-verlo muchas veces.
Se trata de tres genios de la música.

19 de dezembro de 2009 às 23:02  

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