24 de setembro de 2009

'Nego' enfatiza contribuição judaica com poesia

Resenha de CD
Título: Nego
Artista: Vários
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

Nego é um disco que procura enfatizar a rica influência da cultura negra na música criada por compositores judeus que se estabeleceram nos Estados Unidos a partir dos anos 20. Tendo em comum a origem judaica, autores como Irving Berlin, Richard Rodgers, Lorenz Hart, Jerome Kern e a dupla George Gershwin & Ira Gershwin produziram joias da canção norte-americana cuja beleza perene as fazem reluzir através do tempo. Nego apresenta versões em português de Carlos Rennó para 14 dessas pérolas, arranjadas por Jaques Morelenbaum, que assina a produção do CD ao lado de Rennó e de Moogie Canazio. A interpretação coube a nomes como Maria Rita, Emílio Santiago, Erasmo Carlos, Seu Jorge, João Bosco, Olivia Hime, Zélia Duncan e Gal Costa, que abre o disco com Meu Romance. Ouvida também em dueto de Gal com um comportado Carlinhos Brown, a fiel versão de My Romance (Richard Rodgers e Lorenz Hart) é uma das que soam realmente naturais. Rennó tem habilidade para criar letras em português que preservam a qualidade poética dos versos originais. O problema é que elas nem sempre soam bem quando cantadas. É o caso de Sábio Rio, faixa defendida por João Bosco. Poucas vezes o Ol' Man River (Jerome Kern e Oscar Hammerstein) seguiu por correnteza tão fraca. Contudo, Nego se apresenta bem interessante no todo. Inclusive pela opção de arranjar algumas versões com toques brasileiros. Exemplo é a faixa-título, versão de Lover (Richard Rodgers e Lorenz Hart), entoada por Paula Morelenbaum no ritmo do samba. Erasmo Carlos também esfria Verão (Summertime - George Gershwin, Ira Gershwin e Dubose Heyward) no mesmo clima de Bossa Nova que tempera Tão Fundo É o Mar (How Deep Is the Ocean - Irving Berlin), faixa defendida por Moreno Veloso em registro vocal incrivelmente similar ao do pai Caetano Veloso. Fruta Estranha (Strange Fruit - Lewis Allan) é a versão de sabor mais original pelo apropriado tom de estranhamento criado pelo arranjo e respeitado pela interpretação de Seu Jorge. Encantada (Bewitched, Bothered e Bewildered - Richard Rogers e Lorenz Hart) é das versões mais habilmente engenhosas do disco. A letra, quilométrica, é valorizada pelo canto irretocável de Maria Rita. Já Mais Além do Arco-Íris (Over the Rainbow - Harold Arlen e E.Y. Harburg) perde boa parte de suas belas cores no registro de Zélia Duncan (não por culpa da cantora, mas pelo tom da faixa). Merece também citação, por ser inusitado, o encontro de Elba Ramalho e Dominguinhos com João Donato em Tenho um Xodó por Ti (I've Got a Crush on You - George Gershwin e Ira Gershwin). Assim como a sofisticação do canto de Luciana Souza em O Homem que Partiu (The Man That Got Away - Harold Arlen e Ira Gershwin). Enfim, independentemente da origem ou raça dos compositores, todas as músicas reunidas em Nego são páginas expressivas da canção norte-americana. E isso é o que interessa - afinal de contas.

8 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Nego é um disco que procura enfatizar a rica influência da cultura negra na música criada por compositores judeus que se estabeleceram nos Estados Unidos a partir dos anos 20. Tendo em comum a origem judaica, autores como Irving Berlin, Richard Rodgers, Lorenz Hart, Jerome Kern e a dupla George Gershwin & Ira Gershwin produziram joias da canção norte-americana cuja beleza perene as fazem reluzir através do tempo. Nego apresenta versões em português de Carlos Rennó para 14 dessas pérolas, arranjadas por Jaques Morelenbaum, que assina a produção do CD ao lado de Rennó e de Moogie Canazio. A interpretação coube a nomes como Maria Rita, Emilio Santiago, Erasmo Carlos, Seu Jorge, João Bosco, Olivia Hime, Zélia Duncan e Gal Costa, que abre o disco com Meu Romance. Ouvida também em dueto de Gal com um comportado Carlinhos Brown, a fiel versão de My Romance (Richard Rodgers e Lorenz Hart) é uma das que soam realmente naturais. Rennó tem habilidade para criar letras em português que preservam a qualidade poética dos versos originais. O problema é que elas nem sempre soam bem quando cantadas. É o caso de Sábio Rio, faixa defendida por João Bosco. Poucas vezes o Ol' Man River (Jerome Kern e Oscar Hammerstein) seguiu por correnteza tão fraca. Contudo, Nego se apresenta bem interessante no todo. Inclusive pela opção de arranjar algumas versões com toques brasileiros. Exemplo é a faixa-título, versão de Lover (Richard Rodgers e Lorenz Hart), entoada por Paula Morelenbaum no ritmo do samba. Erasmo Carlos também esfria Verão (Summertime - George Gershwin, Ira Gershwin e Dubose Heyward) no mesmo clima de Bossa Nova que tempera Tão Fundo É o Mar (How Deep Is the Ocean - Irving Berlin), faixa defendida por Moreno Veloso num registro vocal incrivelmente similar ao de Caetano Veloso. Fruta Estranha (Strange Fruit - Lewis Alla) é a versão de sabor mais original pelo apropriado tom de estranhamento criado pelo arranjo e respeitado pela interpretação de Seu Jorge. Encantada (Bewitched, Bothered e Bewildered - Richard Rogers e Lorenz Hart) é das versões mais habilmente engenhosas do disco. A letra, quilométrica, é valorizada pelo canto irretocável de Maria Rita. Já Mais Além do Arco-Íris (Over the Rainbow - Harold Arlen e E.Y. Harburg) perde boa parte de suas belas cores no registro de Zélia Duncan (não por culpa da cantora, mas pelo tom da faixa). Merece também registro o inusitado encontro de Elba Ramalho e Dominguinhos com João Donato em Tenho um Xodó por Ti (I've Got a Crush on You - George Gershwin e Ira Gershwin). Assim como a sofisticação do canto de Luciana Souza em O Homem que Partiu (The Man That Got Away - Harold Arlen e Ira Gershwin). Enfim, independentemente da origem ou raça dos compositores, todas as músicas reunidas em Nego são páginas expressivas da canção norte-americana. E isso é o que interessa - afinal de contas.

24 de setembro de 2009 às 10:56  
Anonymous Anônimo said...

Gal e Maria Rita salvam esse cd com versões que na maioria das vezes, na minha opinião, desvalorizam e avacalham os originais.

24 de setembro de 2009 às 11:14  
Anonymous Denilson said...

Mauro,

Tenho a impressão de que o nome do autor de Strange Fruit é Lewis Allen, não? De qualquer forma, há um pequeno erro de digitação no seu post.

PS: não gostei nenhum pouco dessa idéia de traduzir esses clássicos do cancioneiro norte-americano.

abração,
Denilson

24 de setembro de 2009 às 13:31  
Blogger igor said...

A versão de My Romance cantada por Gal vale o cd.

24 de setembro de 2009 às 14:21  
Anonymous Anônimo said...

Gal sempre Gal. Ela é o destaque do CD!

24 de setembro de 2009 às 14:42  
Anonymous Anônimo said...

A melhor música é a da Gal! E ponto! Por isso ela é referência! Voz linda!

24 de setembro de 2009 às 22:49  
Anonymous Anônimo said...

Gal, essencial !
Artista unica. dona de si, sabia sereia que nao se cansa de olhar para tudo do alto de suas rochas banhadas de limo e aguas cristalinas.
Quero comprar o meu correndo..apesar de umas vozes que nao fazem falta nenhuma para minha vida, estou ansioso pra ouvir Emilio, Paulinha, Maria Rita e Moreno que mesmo sem muita extensao vocal poe muito borogodo em tudo o que faz.

25 de setembro de 2009 às 01:24  
Anonymous Lurian said...

O disco com versões do Rennó para Cole Porter foi muito melhor que este. Os bons momentos deste ficaram mesmo por conta da correta Gal e a inpirada Maria Rita, enquanto o outro tinha vários bons momentos...

26 de setembro de 2009 às 09:24  

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