O desfile majestoso da obra pioneira da 'rainha'
Resenha de Show - Gravação de CD e DVD
Título: Canto de Rainha
Artista: Ivone Lara
Participações especiais: Arlindo Cruz, Beth Carvalho,
Bruno Castro, Caetano Veloso, Délcio Carvalho, Gilberto
Gil, Jorge Aragão e Velha Guarda do Império Serrano
Local: Canecão (RJ)
Data: 11 de agosto de 2009
Cotação: * * * *
Entronizada na cadeira disposta ao centro do palco, Ivone Lara exibia porte de rainha. Justo. A coroa do samba é mesmo desta compositora que abriu alas e pediu passagem para as mulheres. Aos 88 anos de vida e 62 de carreira (tomando-se como ponto de partida sua pioneira admissão na ala de compositores da escola Império Serrano em 1947), Ivone Lara (vista em foto de Mauro Ferreira) é dona de uma obra realmente majestosa. Que desfilou imponente no palco do Canecão (RJ) na noite de terça-feira, 11 de agosto de 2009, no show idealizado e dirigido por Túlio Feliciano para possibilitar a gravação do primeiro DVD da autora de Sonho Meu - samba, aliás, revivido com Beth Carvalho num dos números mais belos da noite. Um time de convidados realmente especiais lhe fez a merecida corte. A despeito de uma certa confusão no final (com a Velha Guarda do Império Serrano), prejudicado por súbito black-out do palco, a gravação resultou sedutora. Mesmo com o descompasso entre a direção, a anfitriã e os artistas convidados. Nem a falta de mobilidade imposta a Ivone pelo tempo a impediu de ensaiar uns passos de samba ao som dos versos do partido alto Não Chora Neném. A cargo do diretor musical Paulão Sete Cordas, os arranjos tiveram tom moderado para não ofuscar a voz de Ivone. Voz de dimensões ancestrais que parece incorporar todas as tradições do samba. E que, descontadas as limitações da idade, brilhou em muitos momentos, como a introdução a capella do samba Mas Quem Disse que Eu te Esqueço? - bissexta parceria com Hermínio Bello de Carvalho, saudado na platéia pela própria Ivone, atenta a qualquer comentário ouvido do público. O desfile de sambas majestosos montou belo painel de sua obra de original desenho melódico. Ecoou a melancolia impregnada em sambas de tom mais dolente como Liberdade e Resignação. O otimismo que insiste em desafiar os dissabores da vida nos versos de sambas como Alvorecer. A deliciosa cadência baiana de sucessos como Alguém me Avisou, samba muito apropriadamente revivido na companhia de Caetano Veloso e de Gilberto Gil. O elo seminal com a mãe África e o jongo, evidenciado em Axé de Ianga (Pai Maior). A nostalgia do prazer de fazer samba nos terreiros imperiais, propagado em Serra dos meus Sonhos Dourados. E, acima de tudo, o dom de criar um repertório que, gêneros e cadências à parte, parece sempre oriundo das cepas mais nobres do samba. Ouvir Dona Ivone Lara é ouvir música e canto de rainha. Vitalícia.
Título: Canto de Rainha
Artista: Ivone Lara
Participações especiais: Arlindo Cruz, Beth Carvalho,
Bruno Castro, Caetano Veloso, Délcio Carvalho, Gilberto
Gil, Jorge Aragão e Velha Guarda do Império Serrano
Local: Canecão (RJ)
Data: 11 de agosto de 2009
Cotação: * * * *
Entronizada na cadeira disposta ao centro do palco, Ivone Lara exibia porte de rainha. Justo. A coroa do samba é mesmo desta compositora que abriu alas e pediu passagem para as mulheres. Aos 88 anos de vida e 62 de carreira (tomando-se como ponto de partida sua pioneira admissão na ala de compositores da escola Império Serrano em 1947), Ivone Lara (vista em foto de Mauro Ferreira) é dona de uma obra realmente majestosa. Que desfilou imponente no palco do Canecão (RJ) na noite de terça-feira, 11 de agosto de 2009, no show idealizado e dirigido por Túlio Feliciano para possibilitar a gravação do primeiro DVD da autora de Sonho Meu - samba, aliás, revivido com Beth Carvalho num dos números mais belos da noite. Um time de convidados realmente especiais lhe fez a merecida corte. A despeito de uma certa confusão no final (com a Velha Guarda do Império Serrano), prejudicado por súbito black-out do palco, a gravação resultou sedutora. Mesmo com o descompasso entre a direção, a anfitriã e os artistas convidados. Nem a falta de mobilidade imposta a Ivone pelo tempo a impediu de ensaiar uns passos de samba ao som dos versos do partido alto Não Chora Neném. A cargo do diretor musical Paulão Sete Cordas, os arranjos tiveram tom moderado para não ofuscar a voz de Ivone. Voz de dimensões ancestrais que parece incorporar todas as tradições do samba. E que, descontadas as limitações da idade, brilhou em muitos momentos, como a introdução a capella do samba Mas Quem Disse que Eu te Esqueço? - bissexta parceria com Hermínio Bello de Carvalho, saudado na platéia pela própria Ivone, atenta a qualquer comentário ouvido do público. O desfile de sambas majestosos montou belo painel de sua obra de original desenho melódico. Ecoou a melancolia impregnada em sambas de tom mais dolente como Liberdade e Resignação. O otimismo que insiste em desafiar os dissabores da vida nos versos de sambas como Alvorecer. A deliciosa cadência baiana de sucessos como Alguém me Avisou, samba muito apropriadamente revivido na companhia de Caetano Veloso e de Gilberto Gil. O elo seminal com a mãe África e o jongo, evidenciado em Axé de Ianga (Pai Maior). A nostalgia do prazer de fazer samba nos terreiros imperiais, propagado em Serra dos meus Sonhos Dourados. E, acima de tudo, o dom de criar um repertório que, gêneros e cadências à parte, parece sempre oriundo das cepas mais nobres do samba. Ouvir Dona Ivone Lara é ouvir música e canto de rainha. Vitalícia.
5 Comments:
Entronizada na cadeira disposta ao centro do palco, Ivone Lara exibia porte de rainha. Justo. A coroa do samba é mesmo desta compositora que abriu alas e pediu passagem para as mulheres. Aos 88 anos de vida e 62 de carreira (tomando-se como ponto de partida sua pioneira admissão na ala de compositores da escola Império Serrano em 1947), Ivone Lara (vista em foto de Mauro Ferreira) é dona de uma obra realmente majestosa. Que desfilou imponente no palco do Canecão (RJ) na noite de terça-feira, 11 de agosto de 2009, no show idealizado e dirigido por Túlio Feliciano para possibilitar a gravação do primeiro DVD da autora de Sonho Meu - samba, aliás, revivido com Beth Carvalho num dos números mais belos da noite. Um time de convidados realmente especiais lhe fez a merecida corte. A despeito de uma certa confusão no final (dividido com a Velha Guarda do Império Serrano), prejudicado por súbito black-out do palco, a gravação resultou emocionante. Nem a falta de mobilidade imposta a Ivone pelo tempo a impediu de ensaiar uns passos de samba ao som dos versos do partido alto Não Chora Neném. A cargo do diretor musical Paulão Sete Cordas, os arranjos tiveram tom moderado para não ofuscar a voz de Ivone. Voz de dimensões ancestrais que parece incorporar todas as tradições do samba. E que, descontadas as limitações da idade, brilhou em muitos momentos, como a introdução a capella do samba Mas Quem Disse que Eu te Esqueço? - bissexta parceria com Hermínio Bello de Carvalho, saudado na platéia pela própria Ivone, atenta a qualquer comentário ouvido do público. O desfile de sambas majestosos montou belo painel de sua obra de original desenho melódico. Ecoou a melancolia impregnada em sambas de tom mais dolente como Liberdade e Resignação. O otimismo que insiste em desafiar os dissabores da vida nos versos de sambas como Alvorecer. A deliciosa cadência baiana de sucessos como Alguém me Avisou, samba muito apropriadamente revivido na companhia de Caetano Veloso e de Gilberto Gil. O elo seminal com a mãe África e o jongo, evidenciado em Axé de Ianga (Pai Maior). A nostalgia do prazer de fazer samba nos terreiros imperiais, propagado em Serra dos meus Sonhos Dourados. E, acima de tudo, o dom de criar um repertório que, gêneros e cadências à parte, parece sempre oriundo das cepas mais nobres do samba. Ouvir Dona Ivone Lara é ouvir música e canto de rainha. Vitalícia.
Que beleza Mauro! Parabéns pelo texto! Abs,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
Mauro, parabéns pelas resenhas, mas nesta você se superou. O pessoal aqui adora elogiar seu artista. Baba, pede autógrafo, "sai na porrada" quando falam mal dele, enfim.
MAS VOCÊ É PARTE IMPORTANTE NO PROCESSO. DEVE SER CANSATIVO, ÀS VEZES DEVE DAR VONTADE DE MANDAR TUDO E TODOS PARA A P.Q.P. - COMO EM QUALQUER TRABALHO - MAS CONTINUE FAZENDO ESSA PONTE IMPRESCINDÍVEL ENTRE NÓS SIMPLES MORTAIS E ESSA ARTE QUE EMBALA CORAÇÕES, ACALENTA TRISTEZAS, INJETA INSULINA NA PREGUIÇA (C/ EXCEÇÃO DE DORIVAL :-) ), É COMPANHIA PARA TUDO QUE É SENTIMENTO E FAZ DO MUNDO UM LUGAR MELHOR PARA SE VIVER.
Não deixe nunca de ser essa ponte (e sem pedágio!) entre o nada e o tudo.
Vai descansar agora, rapaz, que eu tô te acompanhando desde às duas da madrugada de hoje, desde que chegamos desse showzaço, aí.
Parabéns mais uma vez e VIVA O SAMBA, VIVA A MÚSICA E VIVA VOCÊ!
Beleza, Mauro
Que toda esta beleza se multiplique.
Salve Dona Ivone!
Tom bom
São Paulo/SP, Brasil
Belo texto, Mauro
Gente, "Alvorecer" é uma das músicas mais lindas já feitas em todos os tempos no Brasil.
Viva Dona Ivone Lara! Sempre e sempre!!!
abração,
Denilson
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