Mutantes simulam sua anarquia áurea em Haih
Resenha de CD
Título: Haih... or
Amortecedor
Artista: Os Mutantes
Gravadora: Anti
Cotação: * * *
É sintomático que o primeiro álbum de estúdio do grupo Os Mutantes em 35 anos vá sair apenas no exterior - em 7 de setembro de 2009 - e não tenha o Brasil incluído na sua rota de lançamento mundial. Já vazado na internet, o CD Haih... or Amortecedor simula a anarquia e a alegria da fase áurea da obra fonográfica do grupo (a vivida com Rita Lee entre 1968 e 1972) e despreza a posterior fase progressiva. O culto aos Mutantes no mercado internacional certamente vai fazer com que o álbum seja recebido com calor e entusiasmo próprios de quem conhece os discos antigos, mas não viveu o contexto histórico em que eles - os tais discos do auge vivido com Rita - foram gravados com doses altas de pioneirismo e criatividade. É difícil ou mesmo impossível para o grupo - refém de seu passado de glória - reeditar o brilho do começo. Nesse sentido, Haih... or Amortecedor pode ser tido tanto como um bom disco quanto como uma cópia barata de seus antecessores. A rigor, o álbum pode ser considerado bom porque há toda uma excelência instrumental que dá credibilidade à anarquia que permeia faixas como Querida Querida e 2000 e Agarraum (formatada com alternâncias de climas que oscilam entre a pegada nordestina e o tom viajante da banda). Há alguma dose de deboche (em especial no Samba do Fidel, temperado com previsível molho cubano e com citação do bolero Besame Mucho) e de inventividade nas letras (em especial nos versos construídos por Tom Zé para Anagrama, tema ligeiramente abolerado que conta com vocais do próprio Zé). Entre a leveza quase pop de Teclar e a pegada roqueira de Neurociência do Amor (que inclui versos em inglês na letra em português), os Mutantes tentam reproduzir o suingue personalíssimo de Jorge Ben Jor na inédita fornecida pelo Zé Pretinho, O Careca, sem reeditar a força da gravação de A Minha Menina, presente do compositor em 1968. Aliás, o maior problema de Haih... or Amortecedor é que os Mutantes de hoje flertam demais com o passado enquanto os Mutantes de ontem olhavam para o futuro. Difícil ouvir Nada Mudou sem pensar que houve uma tentativa vã de reconstruir na faixa o clima de Panis et Circensis. Difícil também extrair algum humor da apropriação dos códigos dos mantras indianos feita em Gopala Krishna Om. Mas, justiça seja feita, o disco que estampa a foto de um corvo na capa - haih significa corvo no dialeto de uma tribo norte-americana - não constrange e resulta até digno. O guitarrista Sérgio Dias Baptista continua dirigindo seu grupo sem tirar o olho do retrovisor. Por isso mesmo, os álbuns feitos pelos Mutantes há 40 anos estão anos-luz à frente de Haih... or Amortecedor, mas é justamente esse apego ao passado que vai fazer com que Haih... seja ouvido com generosidade no exterior.
Título: Haih... or
Amortecedor
Artista: Os Mutantes
Gravadora: Anti
Cotação: * * *
É sintomático que o primeiro álbum de estúdio do grupo Os Mutantes em 35 anos vá sair apenas no exterior - em 7 de setembro de 2009 - e não tenha o Brasil incluído na sua rota de lançamento mundial. Já vazado na internet, o CD Haih... or Amortecedor simula a anarquia e a alegria da fase áurea da obra fonográfica do grupo (a vivida com Rita Lee entre 1968 e 1972) e despreza a posterior fase progressiva. O culto aos Mutantes no mercado internacional certamente vai fazer com que o álbum seja recebido com calor e entusiasmo próprios de quem conhece os discos antigos, mas não viveu o contexto histórico em que eles - os tais discos do auge vivido com Rita - foram gravados com doses altas de pioneirismo e criatividade. É difícil ou mesmo impossível para o grupo - refém de seu passado de glória - reeditar o brilho do começo. Nesse sentido, Haih... or Amortecedor pode ser tido tanto como um bom disco quanto como uma cópia barata de seus antecessores. A rigor, o álbum pode ser considerado bom porque há toda uma excelência instrumental que dá credibilidade à anarquia que permeia faixas como Querida Querida e 2000 e Agarraum (formatada com alternâncias de climas que oscilam entre a pegada nordestina e o tom viajante da banda). Há alguma dose de deboche (em especial no Samba do Fidel, temperado com previsível molho cubano e com citação do bolero Besame Mucho) e de inventividade nas letras (em especial nos versos construídos por Tom Zé para Anagrama, tema ligeiramente abolerado que conta com vocais do próprio Zé). Entre a leveza quase pop de Teclar e a pegada roqueira de Neurociência do Amor (que inclui versos em inglês na letra em português), os Mutantes tentam reproduzir o suingue personalíssimo de Jorge Ben Jor na inédita fornecida pelo Zé Pretinho, O Careca, sem reeditar a força da gravação de A Minha Menina, presente do compositor em 1968. Aliás, o maior problema de Haih... or Amortecedor é que os Mutantes de hoje flertam demais com o passado enquanto os Mutantes de ontem olhavam para o futuro. Difícil ouvir Nada Mudou sem pensar que houve uma tentativa vã de reconstruir na faixa o clima de Panis et Circensis. Difícil também extrair algum humor da apropriação dos códigos dos mantras indianos feita em Gopala Krishna Om. Mas, justiça seja feita, o disco que estampa a foto de um corvo na capa - haih significa corvo no dialeto de uma tribo norte-americana - não constrange e resulta até digno. O guitarrista Sérgio Dias Baptista continua dirigindo seu grupo sem tirar o olho do retrovisor. Por isso mesmo, os álbuns feitos pelos Mutantes há 40 anos estão anos-luz à frente de Haih... or Amortecedor, mas é justamente esse apego ao passado que vai fazer com que Haih... seja ouvido com generosidade no exterior.
6 Comments:
Pra mim soou Tom Zé demais e como se uma banda nova quisesse homenagear Os Mutantes.
E tem uma faixa especialmente que parece do Pato Fu.
E porque no Querida Querida a cantora desafina tanto tanto? A rita Lee fazi a muitas oscilações com a voz mas sempre mantinha-se afinada.
É sintomático que o primeiro álbum de estúdio do grupo Os Mutantes em 35 anos vá sair apenas no exterior - em 7 de setembro de 2009 - e não tenha o Brasil incluído na sua rota de lançamento mundial. Já vazado na internet, o CD Haih... or Amortecedor simula a anarquia sonora da fase áurea da obra fonográfica do grupo (a vivida com Rita Lee entre 1968 e 1972) e despreza a posterior fase progressiva. O culto aos Mutantes no mercado internacional certamente vai fazer com que o álbum seja recebido com calor e entusiasmo próprios de quem conhece os discos antigos, mas não viveu o contexto histórico em que eles - os tais discos do auge vivido com Rita - foram gravados com doses altas de pioneirismo e criatividade. É difícil ou mesmo impossível para o grupo - refém de seu passado de glória - reeditar o brilho do começo. Nesse sentido, Haih... or Amortecedor pode ser tido tanto como um bom disco quanto como uma cópia barata de seus antecessores. A rigor, o álbum pode ser considerado bom porque há toda uma excelência instrumental que dá credibilidade à anarquia que permeia faixas como Querida Querida e 2000 e Agarraum (formatada com alternâncias de climas que oscilam entre a pegada nordestina e o tom viajante da banda). Há alguma dose de deboche (em especial no Samba do Fidel, temperado com previsível molho cubano e com citação do bolero Besame Mucho) e de inventividade nas letras (em especial nos versos construídos por Tom Zé para Anagrama, tema ligeiramente abolerado que conta com vocais do próprio Zé). Entre a leveza quase pop de Teclar e a pegada roqueira de Neurociência do Amor (que inclui versos em inglês na letra em português), os Mutantes tentam reproduzir o suingue personalíssimo de Jorge Ben Jor na inédita fornecida pelo Zé Pretinho, O Careca, sem reeditar a força da gravação de A Minha Menina, presente do compositor em 1968. Aliás, o problema de Haih... or Amortecedor é que os Mutantes de hoje flertam demais com o passado enquanto os Mutantes de ontem olhavam para o futuro. Difícil ouvir Nada Mudou sem pensar que houve uma tentativa vã de reconstruir na faixa o clima de Panis et Circensis. Difícil também extrair algum humor da apropriação dos códigos dos mantras indianos feita em Gopala Krishna Om. Mas, justiça seja feita, o disco que estampa a foto de um corvo na capa - haih significa corvo no dialeto de uma tribo norte-americana - não constrange e resulta até digno. O guitarrista Sérgio Dias Baptista continua dirigindo seu grupo sem tirar o olho do retrovisor. Por isso mesmo, os álbuns feitos pelos Mutantes há 40 anos estão anos-luz à frente de Haih... or Amortecedor, mas é justamente esse apego ao passado que vai fazer com que Haih... seja ouvido com generosidade no exterior.
olha, sobre a similaridade com Pato Fu: Pato Fu é uma banda que bebeu MUITO da fonte Mutantes, então acho que qualquer semelhança é válida, porque são bandas interligadas em estilo e gênero, quase.
"Amortecedor é que os Mutantes de hoje flertam demais com o passado enquanto os Mutantes de ontem olhavam para o futuro" ( MF)
Mr Ferreira,
Essa frase é genia e resume tudol! ...infelizmente não acontece apenas com eles,mas com boa parte dos dinossauros.
Pedro Pessoa
Beth Carvalho,se ouvir esse album, gravará na certa esse tal " Samba de Fidel " ...
Muito bom o cd!!!!!
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