13 de agosto de 2009

Elza arrepia ao se 'conter' em show com Aquino


Resenha de Show
Título: Arrepios
Artista: Elza Soares e João de Aquino
Local: Posto 8 (Rio de Janeiro RJ)
Data: 12 de agosto de 2009
Fotos: Mauro Ferreira
Cotação: * * * *
Como sempre, a mulata estava assanhada. Mas não muito... "Não é um show, é um recital", diferenciou Elza Soares várias vezes no palco da casa carioca Posto 8, durante a estreia de Arrepios, o show - ou recital, como prefere a cantora - em que divide o palco com o violonista João de Aquino, o percussionista Felipe dos Santos e o também violonista Gabriel de Aquino, que segue os passos do pai com segurança. Rótulos à parte, aos incríveis 79 anos, Elza ainda arrepia. Seja quando dosa os floreios vocais (como no medley que junta duas obras-primas de Johnny Alf, Eu e a Brisa e Ilusão à Toa), seja quando explora os limites de sua voz, como ao fim do último número, Cobra Caninana (João de Aquino e Hermínio Bello de Carvalho), quando Elza simula com malícia e habilidade o sotaque nagô. Mas o bis, com Malandro, é previsível.
"O que é que essa Elza tem? Como ela requebra bem...". Foi assim, parodiando a letra do samba O que É que a Baiana Tem? (Dorival Caymmi), que João de Aquino convocou Elza Soares para subir ao palco após magistral abordagem instrumental de Bananeira (João Donato). Um dos grandes violonistas nacionais, dono de um toque que parece sintetizar a seminal influência da música africana no Brasil, Aquino teria gabarito para segurar a atenção do público sem Elza. Mas o show-recital é dos dois. E a mulata - contida ou assanhada - rouba a cena desde que entra no palco cantarolando seu nome sobre a melodia de Moonlight Serenade. Na sequência, Antonico (Ismael Silva) sinaliza que a contenção de scats ajuda a lapidar o canto de Elza - acerto reiterado números mais tarde pela interpretação de Eu Sonhei que Tu Estavas tão Linda, a valsa de Lamartine Babo (1904 - 1963) na qual os músicos injetam suingue. Aliás, justiça seja feita, se Elza arrepia, o mérito deve ser repartido com a excepcional dupla de violonistas e com a costura de um roteiro amarrado com links curiosos, sendo o mais inteligante deles o que agrega o refrão de Cry me a River (Arthur Hamilton) a Juventude Transviada (Luiz Melodia), com direito a citação do Lamento da Lavadeira (Cartola e Monsueto). Faceira é emendada com Camisa Amarela (tingida de cacos desnecessários) em belo medley que culmina com citação de Na Batucada da Vida. É um tributo justo ao compositor Ary Barroso (1903 - 1964), em cujo programa de calouros Elza debutou nos anos 50 com diálogos já lendários, reproduzidos pela cantora em cena. E como Elza fala!!...
Intérprete sem limites geográficos, Elza deita e rola no suingue cubano do Mambo da Cantareira (Barbosa da Silva e Eloíde Warthoi, 1960). Depois de tributo pungente a Ângela Maria (Vida de Bailarina, com Elza deitada na poltrona) e de incursão pelo universo do bolero (La Barca), Elza tira do rosário de pérolas Ave Maria, oração recitada após medley que costura Barracão, Adeus América, O Samba Mandou me Chamar e Ave Maria no Morro. Pela voz única e pela vitalidade, Elza merece devoção fervorosa dos fãs de cantoras e da música brasileira. A mulata (ainda) é a tal.

9 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Este comentário foi removido pelo autor.

13 de agosto de 2009 às 16:47  
Anonymous Anônimo said...

Elza arrepia até cabeça de careca - conta uma novidade, Mauro.

Talento, força de vontade, "insistência", bom gosto, personalidade... muitas das qualidades aí tem artista p'ra danar ainda em forma - olha a D. Ivone Lara aí. MAS ESSA DISPOSIÇÃO, ESSE GOGÓ FURIOSO E ESSA SAÚDE, BENZA DEUS. E que continue assim.

13 de agosto de 2009 às 18:35  
Anonymous Anônimo said...

Sem palavras !
Elza sempre foi um das minhas favoritas !

13 de agosto de 2009 às 18:38  
Anonymous Anônimo said...

Nada é por acaso. Elza colhe os frutos de uma vida vivida mesmo. Muitos de nós aqui adora reclamar disso, daquilo ou achar isso ou aquilo já bom o bastante.
ESSA RALOU, RIU, CHOROU, CONHEÇOU CARA-A-CARA O BEM E O MAL DA VIDA E SOUBE CONTINUAR DE CABEÇA ERGUIDA E SEMPRE CAMINHANDO.
Benza Deus, não, benza Elza.

13 de agosto de 2009 às 19:17  
Anonymous Anônimo said...

Elza, meu muito obrigado por você existir. Um exemplo e sempre alguém a ser lembrada quando estou a ponto de querer morrer diante de qualquer problemazinho que abala o "meu mundo".
Que todas as forças da Natureza te conservem assim: uma eterna menina cheia de vida, esperança e energia... UMA DURA NA QUEDA. John McLaine perto de você é uma piada.

13 de agosto de 2009 às 21:19  
Blogger Luanda Cozetti said...

Salve Mauro!
Que delícia de texto...eu sou devota!rs!
beijos lusos,
Lu!

14 de agosto de 2009 às 14:43  
Anonymous Anônimo said...

Tb faço parte dos devotos eternos da nossa Elza Dura na Queda Soares.

14 de agosto de 2009 às 19:02  
Blogger Unknown said...

Tive oportunidade de ver Elza recentemente em um espetáculo em SP. Fiquei fascinada por sua competência, elegância e doçura. Já gostava de sua voz, mas pouco conhecia de sua história. Desde aquela noite li tudo que pude a seu respeito e descobri que além da artista excepcional estive diante de uma mulher plena, que com tudo que viveu ainda é capaz de amar e de cantar. De encantar e de arrepiar. Maravilhosa Elza.

15 de agosto de 2009 às 23:52  
Blogger Unknown said...

Mauro gostaria muito de uma foto com boa resolução para que possa imprimir do show da elza soares e joão de aquino, que foi maravilhoso. um show intimista e contagiante.
marlontadeubr@yahoo.com.br

19 de novembro de 2009 às 12:00  

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