21 de maio de 2009

Carol retrata Aracy com excesso de teatralidade


Resenha de Show
Título: Aracy de Samba e de Almeida
Artista: Carol Bezerra (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Centro Cultural Carioca (RJ)
Data: 20 de maio de 2009
Cotação: * * 1/2
Em cartaz na quarta-feira, 27 de maio de 2009, às 20h
É com - caricatos - óculos e peruca que Carol Bezerra pisa no palco do Centro Cultural Carioca, o CCC, ao som do prefixo musical do programa de calouros comandado pelo apresentador Sílvio Santos na TV das décadas de 70 e 80. A intenção é evocar a figura desglamourizada e quase grotesca com que Aracy de Almeida (1914 - 1988) ainda é associada no imaginário popular por sua atuação como jurada do programa para, na sequência, em rápida metamorfose, fazer surgir em cena a cantora espontânea, desbocada e importante que se projetou na década de 30. De volta ao cartaz no Rio de Janeiro (RJ), após ter estreado em novembro de 2008 no circuito carioca do Sesc, o show Aracy de Samba e de Almeida tem a ambição de retratar com foco teatral uma das intérpretes preferidas de Noel Rosa (1910 - 1937). Atriz paulista que integra atualmente o elenco do musical Tom & Vinicius, em cartaz no Rio, Carol Bezerra já encarnou Aracy no filme Noel, o Poeta da Vila, de Ricardo Van Steen. No show, que deverá resultar em disco a ser lançado em 2010, ela canta com alegria sambas como Com que Roupa? (Noel Rosa, 1931) e O Orvalho Vem Caindo (Noel Rosa e Kid Pepe, 1934). O conjunto Chora que Passa - formado por Lucas Porto (violão), Marcílio Lopes (bandolim) e Thiaguinho da Serrinha (percussão) - acompanha Carol em cena na interpretação de sambas como O Maior Castigo que Eu te Dou (Noel Rosa, 1937), Camisa Amarela (samba de Ary Barroso que Aracy lançou em 1939) e Feitiço da Vila. (Noel Rosa e Vadico, 1935). Jóias lapidadas originalmente pelo canto de Aracy.
A intenção foi criar atmosfera cênica para entrelaçar músicas do repertório de Aracy - a única menos conhecida é a resignada Eu Sei Sofrer (Noel Rosa, 1937) - com dados biográficos da cantora, ouvidos em textos ditos off. Contudo, o problema do show reside basicamente no excesso de teatralidade que acaba pondo as interpretações de Carol em segundo plano. E sua voz, embora de timbre comum, é bonita e afinada. A cantora se movimenta de forma tão frenética pelo palco que sua leitura graciosa de sambas como Fez Bobagem (Assis Valente, 1942) acaba saindo do foco principal. Tanto que os melhores momentos do show são aqueles em que Carol se permite ficar parada. A abordagem de Feitio de Oração (Noel Rosa e Vadico, 1935) - feita em tons suaves, com a artista sentada - resulta interessante e mostra que, sem tanto frenesi em volta, a emissão vocal da cantora fica mais límpida. Carol também acerta ao experimentar registro mais interiorizado ao cantar Pra que Mentir? (Noel Rosa e Vadico, 1937). Em contrapartida, ela carrega nas tintas ao reviver, de forma enfática, músicas como Filosofia (Noel Rosa e André Filho, 1933) e Último Desejo (Noel Rosa, 1937). Há também excesso de textos, alguns (inteiramente) dispensáveis. Falta, em essência, um diretor que apare esses abusos teatrais do show sem diluir a alegria esfuziante com que Carol Bezerra aborda o repertório de Aracy de Almeida.

2 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Resenha de Show
Título: Aracy de Samba e de Almeida
Artista: Carol Bezerra (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Centro Cultural Carioca (RJ)
Data: 20 de maio de 2009
Cotação: * * 1/2
Em cartaz em 27 de maio de 2009, às 20h
É com - caricatos - óculos e peruca que Carol Bezerra pisa no palco do Centro Cultural Carioca, o CCC, ao som do prefixo musical do programa de calouros comandado pelo apresentador Sílvio Santos na TV das décadas de 70 e 80. A intenção é evocar a figura desglamourizada e quase grotesca com que Aracy de Almeida (1914 - 1988) ainda é associada no imaginário popular por sua atuação como jurada do programa para, na sequência, em rápida metamorfose, fazer surgir em cena a cantora espontânea, desbocada e importante que se projetou na década de 30. De volta ao cartaz no Rio de Janeiro (RJ), após ter estreado em novembro de 2008 no circuito carioca do Sesc, o show Aracy de Samba e de Almeida tem a ambição de retratar com foco teatral uma das intérpretes preferidas de Noel Rosa (1910 - 1937). Atriz paulista que integra atualmente o elenco do musical Tom & Vinicius, em cartaz no Rio, Carol Bezerra já encarnou Aracy no filme Noel, o Poeta da Vila, de Ricardo Van Steen. No show, que deverá resultar em disco a ser lançado em 2010, ela canta com alegria sambas como Com que Roupa? (Noel Rosa, 1931) e O Orvalho Vem Caindo (Noel Rosa e Kid Pepe, 1934). O conjunto Chora que Passa - formado por Lucas Porto (violão), Marcílio Lopes (bandolim) e Thiaguinho da Serrinha (percussão) - acompanha Carol em cena na interpretação de sambas como O Maior Castigo que Eu te Dou (Noel Rosa, 1937), Camisa Amarela (samba de Ary Barroso que Aracy lançou em 1939) e Feitiço da Vila. (Noel Rosa e Vadico, 1935). Jóias lapidadas originalmente pelo canto de Aracy.
A intenção foi criar atmosfera cênica para entrelaçar músicas do repertório de Aracy - a única menos conhecida é a resignada Eu Sei Sofrer (Noel Rosa, 1937) - com dados biográficos da cantora, ouvidos em textos ditos off. Contudo, o problema do show reside basicamente no excesso de teatralidade que acaba pondo as interpretações de Carol em segundo plano. E sua voz, embora de timbre comum, é bonita e afinada. A cantora se movimenta de forma tão frenética pelo palco que sua leitura graciosa de sambas como Fez Bobagem (Assis Valente, 1942) acaba saindo do foco principal. Tanto que os melhores momentos do show são aqueles em que Carol se permite ficar parada. A abordagem de Feitio de Oração (Noel Rosa e Vadico, 1935) - feita em tons suaves, com a artista sentada - resulta interessante e mostra que, sem tanto frenesi em volta, a emissão vocal da cantora fica mais límpida. Carol também acerta ao experimentar registro mais interiorizado ao cantar Pra que Mentir? (Noel Rosa e Vadico, 1937). Em contrapartida, ela carrega nas tintas ao reviver, de forma enfática, músicas como Filosofia (Noel Rosa e André Filho, 1933) e Último Desejo (Noel Rosa, 1937). Há também excesso de textos, alguns (inteiramente) dispensáveis. Falta, em essência, um diretor que apare esses abusos teatrais do show sem diluir a alegria esfuziante com que Carol Bezerra aborda o repertório de Aracy de Almeida.

21 de maio de 2009 às 11:52  
Blogger CAROL BEZERRA said...

Interessante Mauro, vou refletir sobre tudo. Acredito que o caminhar dá-se ao caminhar... continuo aprendendo.

Só não sei se quero me livrar dos excessos... hehe! Mas, espero conseguir evoluir dentro disto, procurando uma direção como vc propõe.

Obrigada pela presença e sinceridade.
Tornei-me seguidora.
Um grande abraço!

22 de maio de 2009 às 03:27  

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