7 de agosto de 2008

Ed realça sombras no primeiro álbum em inglês

Resenha de CD
Título: Chapter 9
Artista: Ed Motta
Gravadora: Trama
Cotação: * * * 1/2

Há no nono álbum de inéditas de Ed Motta reflexos de sua primeira incursão no teatro como compositor dos temas do musical Sete (2007). Não pelo fato de seu parceiro na trilha do espetáculo, Cláudio Botelho, ser o autor de uma letra das 10 músicas inéditas de Chapter 9, o primeiro trabalho inteiramente em inglês de Ed. Mas porque a atmosfera sombria que caracterizou Sete é perceptível logo na primeira longa faixa do álbum, The Man from the Oldest Building. Em seus seis minutos e 42 segundos, a balada já dá algumas pistas certeiras sobre Chapter 9. Após ter radicalizado no instrumental Dwitza (2002), ter tentado um meio termo no mais acessível Poptical (2003) e ter flertado com o samba-jazz em Aystelum (2005), o cantor constrói em Chapter 9 atmosfera soul pautada por seu habitual requinte harmônico e por ligeiro sotaque pop em faixas como a funkeada The Runaways e a retrô You're Supposed to... (uma das mais inspiradas da irregular safra de inéditas). Entre as sombras e o leve clima lisérgico de Twisted Blue, Ed surpreende positivamente ao apresentar faixa de ambiência mais roqueira. Tommy Boys's Big Mistake exibe guitarras em primeiro plano e tira o foco do retrô piano rhodes que sobressai em várias músicas.
Exceto a de Botelho, as letras em inglês são assinadas pelo DJ inglês Robert Gallagher, egresso de um coletivo de acid jazz. A propósito, cantar em inglês não chega a ser novidade na discografia de um artista que surgiu há 20 anos devotado ao funk e à música norte-americana. O fato realmente relevante deste canto atual de Ed é o abandono dos floreios vocais que empanavam o brilho de sua voz. Em bom português, ele não está cantando em edmottês neste disco em que apresenta músicas como The Sky and Falling (melodiosa e com leve levada de reggae), Ikarus on the Stairs (a faixa que fecha o álbum com o refinamento instrumental que salta aos ouvidos do início ao fim de Chapter 9) e The Caretaker (de rala inspiração melódica). No todo, Chapter 9 mantém Ed Motta distante do funk desencanado de seu início de carreira. E também do pop que norteou discos como Manual Prático para Festas, Bailes e Afins (1997). Temas lentos como St. Christopher's Last Stand e Georgie and the Dragons sinalizam que Ed Motta prefere continuar na sombra do mercado.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Mauro, a atmosfera sombria que caracterizou Sete é perceptível também na capa desse album ... Não ouvi mas tinha lindo uma matéria que você fez no O DIA e me interessei. O pessoal aqui em casa se amarra nele( apesar dos desnecessários scats ... )

7 de agosto de 2008 às 08:46  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, quem produziu o disco?

7 de agosto de 2008 às 09:09  
Anonymous Anônimo said...

Sobre "The Caretaker", seria mesmo "rala" ou "rara" inspiração melódica?

7 de agosto de 2008 às 11:54  
Anonymous Anônimo said...

se fosse americano, seria conhecido em todo o mundo.

7 de agosto de 2008 às 23:07  

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