13 de julho de 2007

Documentário fabrica a imagem real de Tom Zé

Resenha de filme
Título: Fabricando Tom Zé
Direção: Decio Matos Jr.
Estréia: 13 de julho de 2007
Cotação: * * * *

Raro é o documentário sobre um astro que resiste à tentação fácil de glorificar o nome enfocado na tela. Em cartaz nos cinemas nacionais a partir desta sexta-feira, 13 de julho, Fabricando Tom Zé reitera a todo momento a criatividade do compositor nascido em Irará (BA) e radicado em São Paulo (SP) sem, no entanto, cair na babação. A partir de turnê feita por Zé na Europa em 2005, o diretor Decio Matos Jr. molda o retrato sem retoques do artista - ajudado pela deliciosa incontinência verbal do compositor frente às câmeras. As declarações inusitadas de Tom Zé sustentam e até costuram a narrativa, embora o olhar do diretor também revele o personagem através do não-dito e deixe claro, por exemplo, como Neusa Martins, a mulher e empresária de Tom Zé, é a criatura que alimenta o criador. Aliás, os depoimentos bem certeiros de Neusa ajudam o espectador a compreender a figura já lendária do artista.

Tom Zé habita um mundo musical particular. Mas sua língua tem sido entendida por estrangeiros desde que uma cópia de seu LP Estudando o Samba (1976), obra-prima de sua discografia, foi parar casualmente nas mãos e ouvidos do americano David Byrne, que, ao decidir lançar discos de Tom Zé por seu selo, nos Estados Unidos, acabou gerando o renascimento artístico do compositor no Brasil. As imagens de shows captados na França, Itália e Suíça explicitam o fascínio exercido pelo artista sobre platéias que se permitem seduzir pela linguagem experimental da música de Tom.

Ovelha desgarrada do rebanho tropicalista, Tom Zé expõe a dor de ter amargado exílio de duas décadas em pleno Brasil. E sua relação mal-resolvida com Caetano Veloso e Gilberto Gil - os mentores da Tropicália - transparece sobretudo no depoimento em que Tom Zé estranha, sem citar nomes, a retirada de suas fotos na decoração de determinado Carnaval baiano que exaltava o som tropicalista. Se Caetano ainda faz uma mea-culpa, Gil se mostra bem mais seco (embora polido) em suas intervenções. Fica o dito pelo não-dito...

Fabricando Tom Zé descontrói Tom Zé para reerguer o Homem e o artista que, em determinados momentos, beirou a genialidade. E o barraco armado por ele na Suíça na passagem de som de show no Festival de Montreux, por conta do descaso de técnico que não se esforçou para entender as necessidades do compositor e de sua banda, ilustra a insubmissão de Zé aos colonialismos estrangeiros. Atitude até corajosa para quem somente conseguiu reapareceu na sua pátria por conta do aval externo, como lembra o crítico Tárik de Souza. Enfim, um grande filme que elucida um pouco a mente inquieta de um (grande) artista que extrapola rótulos e fronteiras.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Tom zé é o cara...
Na dele e revolucionando...

13 de julho de 2007 às 10:24  

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