Fafá revê carreira em DVD com olhar caudaloso
Resenha de CD / DVD
Título: Fafá de Belém
ao Vivo
Artista: Fafá de Belém
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * (CD)
e * * * * (DVD)
Bem típica de Fafá de Belém, a gargalhada ouvida no meio da interpretação descontraída do samba de roda Filho da Bahia (1975) indica que a cantora manteve sua espontaneidade face à pompa e orquestra armada no palco do Theatro da Paz (PA), em 5 e 6 de outubro de 2006, para a gravação de seu primeiro DVD, ora lançado pela EMI Music simultaneamente com o CD homônimo. É o "primeiro grande olhar" sobre a carreira da artista – como define a própria Fafá na entrevista apresentada nos extras – e, dentro do caráter retrospectivo de projetos do gênero, é justo reconhecer que o resultado supera expectativas. Fafá se cercou de produção luxuosa para revisar sua trajetória - uma caminhada de cunho inicialmente regional que, a partir de 1986, foi ganhando contornos sentimentais, apesar de um ou outro disco feito fora da esfera populista como o álbum dedicado à obra de Chico Buarque.
Fafá de Belém ao Vivo concilia todos os afluentes desta artista marcada por sua fartura. "Somos um povo de emoções caudalosas como nossos rios", caracteriza a cantora ao interpretar Vermelho (1996), último dos 20 números do enxuto roteiro do DVD (o CD condensa o show em 12 números e apresenta duas faixas gravadas em estúdio). Mas até que Fafá soube podar habituais excessos ao (re)interpretar baladas como Meu Disfarce (1988) sem soar over.
Brejeira como no bom início de carreira, a cantora rodopia pelo palco ao som de violinos em Raça (1977) e evolui charmosa na cadência do bolero Sob Medida (1979). As cordas sinfônicas dão pulsação diferente a músicas como Dentro de mim Mora um Anjo (1978), ainda que a maioria dos arranjos seja fiel às orquestrações originais. Se Sedução (1977) tem acentuado o clima sensual com luzes vermelhas, Pode Entrar (1976) prima pelo clima onírico da letra da terna modinha gravada por Fafá em seu primeiro álbum, Tamba-Tajá, e que ela revive sentada no palco do Theatro da Paz, cuja arquitetura imponente é alvo de generosas tomadas pelas lentes (nada óbvias) de Roberto de Oliveira, diretor do DVD.
Nessa volta de Fafá a Belém, Coração do Agreste (1989) adquire sentido biográfico por conta da letra de Aldir Blanc sobre o ato de regressar (a música foi tema da novela Tieta). Mais inesperada no roteiro, Que me Venha Este Homem (1979) sinaliza a intenção da cantora de pescar pérolas menos óbvias em seu baú. Já as maiores obviedades (Meu Homem, Memórias e Meu Dilema, hits de 1986 / 1987 da fase da cantora na Som Livre) são condensadas em pot-pourri até necessário em roteiro retrospectivo que inclui, claro, a guarânia Nuvem de Lágrimas (1989), marco do gênero sertanejo.
Saudado por Fafá como "a grande voz desta terra", o cantor Walter Bandeira é o convidado de Foi Assim (1977), número pontuado pela gaita de Luiz Pardal. Já Mariana Belém, filha da cantora, faz participação afetiva em Maria Solidária (1978). O toque político fica por conta do discurso que introduz Menestrel das Alagoas (1983) e da letra em estilo "puxão de orelha" de Brilho Dental (Rui Veloso e Carlos Tê), uma das três esmaecidas inéditas exibidas na voz de Fafá. Aonde (Dalto e Cláudio Rabello) soa realmente nova, mas História de Amor (versão de canção italiana feita pelo mesmo Cláudio Rabello) exibe o tom sentimental que caracteriza a maior parte da discografia de Fafá de Belém, à qual este projeto ao vivo vem somar com olhar fiel aos (des)caminhos da cantora, ainda em caudalosa forma vocal. Fafá precisava mesmo retornar a Belém...
Título: Fafá de Belém
ao Vivo
Artista: Fafá de Belém
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * (CD)
e * * * * (DVD)
Bem típica de Fafá de Belém, a gargalhada ouvida no meio da interpretação descontraída do samba de roda Filho da Bahia (1975) indica que a cantora manteve sua espontaneidade face à pompa e orquestra armada no palco do Theatro da Paz (PA), em 5 e 6 de outubro de 2006, para a gravação de seu primeiro DVD, ora lançado pela EMI Music simultaneamente com o CD homônimo. É o "primeiro grande olhar" sobre a carreira da artista – como define a própria Fafá na entrevista apresentada nos extras – e, dentro do caráter retrospectivo de projetos do gênero, é justo reconhecer que o resultado supera expectativas. Fafá se cercou de produção luxuosa para revisar sua trajetória - uma caminhada de cunho inicialmente regional que, a partir de 1986, foi ganhando contornos sentimentais, apesar de um ou outro disco feito fora da esfera populista como o álbum dedicado à obra de Chico Buarque.
Fafá de Belém ao Vivo concilia todos os afluentes desta artista marcada por sua fartura. "Somos um povo de emoções caudalosas como nossos rios", caracteriza a cantora ao interpretar Vermelho (1996), último dos 20 números do enxuto roteiro do DVD (o CD condensa o show em 12 números e apresenta duas faixas gravadas em estúdio). Mas até que Fafá soube podar habituais excessos ao (re)interpretar baladas como Meu Disfarce (1988) sem soar over.
Brejeira como no bom início de carreira, a cantora rodopia pelo palco ao som de violinos em Raça (1977) e evolui charmosa na cadência do bolero Sob Medida (1979). As cordas sinfônicas dão pulsação diferente a músicas como Dentro de mim Mora um Anjo (1978), ainda que a maioria dos arranjos seja fiel às orquestrações originais. Se Sedução (1977) tem acentuado o clima sensual com luzes vermelhas, Pode Entrar (1976) prima pelo clima onírico da letra da terna modinha gravada por Fafá em seu primeiro álbum, Tamba-Tajá, e que ela revive sentada no palco do Theatro da Paz, cuja arquitetura imponente é alvo de generosas tomadas pelas lentes (nada óbvias) de Roberto de Oliveira, diretor do DVD.
Nessa volta de Fafá a Belém, Coração do Agreste (1989) adquire sentido biográfico por conta da letra de Aldir Blanc sobre o ato de regressar (a música foi tema da novela Tieta). Mais inesperada no roteiro, Que me Venha Este Homem (1979) sinaliza a intenção da cantora de pescar pérolas menos óbvias em seu baú. Já as maiores obviedades (Meu Homem, Memórias e Meu Dilema, hits de 1986 / 1987 da fase da cantora na Som Livre) são condensadas em pot-pourri até necessário em roteiro retrospectivo que inclui, claro, a guarânia Nuvem de Lágrimas (1989), marco do gênero sertanejo.
Saudado por Fafá como "a grande voz desta terra", o cantor Walter Bandeira é o convidado de Foi Assim (1977), número pontuado pela gaita de Luiz Pardal. Já Mariana Belém, filha da cantora, faz participação afetiva em Maria Solidária (1978). O toque político fica por conta do discurso que introduz Menestrel das Alagoas (1983) e da letra em estilo "puxão de orelha" de Brilho Dental (Rui Veloso e Carlos Tê), uma das três esmaecidas inéditas exibidas na voz de Fafá. Aonde (Dalto e Cláudio Rabello) soa realmente nova, mas História de Amor (versão de canção italiana feita pelo mesmo Cláudio Rabello) exibe o tom sentimental que caracteriza a maior parte da discografia de Fafá de Belém, à qual este projeto ao vivo vem somar com olhar fiel aos (des)caminhos da cantora, ainda em caudalosa forma vocal. Fafá precisava mesmo retornar a Belém...
18 Comments:
e bilhete? ficou de fora?
Fafá demorou para lançar seu 1° DVD, mas pelo que li, valeu a pena. Pena mesmo é uma artista do porte de Fafá, não ter sua discografia reeditada e remasterizada. Os 5 primeiros albuns da cantora, tive de passar do Vinil para Cd. Dai quando entro no site da Amazon.com e vejo que é possivel comprar albuns do inicio da carreira das cantoras americanas, francesas, portuguesas, indianas, africanas, etc .... dói no coração que as nossas não tenham ( salvo Gal e Maria Bethânia, que depois de tantos anos teve merecidamente uma reedição )
Estou muito curioso para assistir a esse DVD, e desejo a Fafá, muita sorte neste e nos próximos projetos.
Edu - abc
Fafá é uma grande artista. Pena que em seu repertório existam músicas sertanejas e bregas. Tem gente que gosta, eu não! ESTRELA RADIANTE é um dos discos da MPB mais ricos e harmônicos que já ouvi. Espero que Fafá volte a gravar mais Milton Nascimento.
Fafa sabe que o melhor do seu repertório está lá no início.O dvd me parece interessante, tanto repertorio como arranjos. E que no fim ela é honesta em não negar nenhum momento da carreira.A idéia do pot-pourri (ui) ótima.
Esperando que a Universal coloque na praça com nova remasterização os discos históricos da Fafa este dvd(sairá também em cd?)pode ser um bom momento prá matar a saudade da Maria de Fátima.
Fafá está de parabéns. Viva o Pará de Fafá, Leila Pinheiro, Jane Duboc e Waldemar Henrique.
A verdade é que de uns trabalhos pra cá Fafá tem voltado a trilhar os caminhos da boa e velha MPB voluntariamente(?) deixado de lado na década de 80 . Ela é sem duvida uma grande interprete e tem um publico fiel que a acompanha mesmo quando sua musica desemboca para ritmos regionais ou populares .
Seus CDs 'PIANO E VOZ ' e ' MARIA DE FÁTIMA PALHA FIGUEIREDO ' mostram o faro para boa música da paraense .
Abraços , Diogo !
Fafá , Elba , Sandra , Alcione , Beth ... me parece que as nossas feras femininas estão voltando com tudo .
Fui rever a discografia da Fafa lá no site dela.E pude constatar que já nos anos 90 a Fafa estava de novo de olho em boas canções,mesmo incluindo algumas de gosto popular.Eu creio que essa redirecionada da cantora é decisão pessoal,não imposta.Pelo contrário sua produtora queria que ela voltasse ao brega logo depois do Chico.Pode?
Nada se compara aos primeiros discos, repertório absurdo de bom!O Dvd aí me parece muito interessante.Então viva fafá!
O problema de Fafá não é unicamente repertório. Há anos passou a interpretar qquer canção de forma exagerada transformando tudo no que põe a boca em um grande dramalhão.
Acompanhei o começo de sua carreira e lamento muitíssimo que Fafá tenha optado unicamente pelo 'abajur lilás'. Até o CD com as canções do Chico ficou MUITO aquém do que poderia render para qualquer cantora de gosto mais apurado.
Considero seus 2 primeiros discos sensacionais, especialmente o Água que exalava delicadeza, sutileza, e seu canto fluía lindamente. Delicadeza que, há muito tempo, Fafá não exibe mais (profissionalmente, claro).
É Jamile, concordo com vc. Os 4 primeiros discos da Fafá são um primor de beleza. Até a versão de Sob Medida, é definitiva no LP de 79. O arranjo, a voz, tudo é melhor. Vamos esperar um trabalho mais delicado e com um técnico de som também melhor, pra não abafar a voz da Fafá como abafou no cd do Chico.
Exagero na interpretação tem mesmo.Mas, eu que não tenho ouvido a Fafá desde muito tempo(muito tempo mesmo) me pergunto, o disco com canções do Chico também é assim?Vi na rede um vídeo da Fafá cantando um fado, achei muito interessante, direi quase impecável,só no finalzinho da canção ela dá uma exagerada desnecessária.Mas, era ótimo.
Os dois primeiros realmente tem um frescor que não se vê nos outros. Mas considero que até o essencial e crença a Fafá ainda era o máximo.
Mas a delicadeza não vende.Pena!
Acontece tudo ao contrário.Quando um artista amadurece deveria poder ter muito mais tempo para compor um disco, uma obra.Deveria chegar até a síntese do que viveu.A produção e roteiro do dvd parece interessante,como serão as interpretações? Over?
Espero que não.
Concordo com Jamile e os que se seguem. Quando surgiu, Fafá já começou "por cima". Sua voz agradável, alegria contagiante, espontaneidade e simpatia, conquistaram o país, uma boa parte da "intelectualidade" tapuia e figuras de peso na MPB como Milton e Ivan Lins. Sem falar no trânsito totalmente livre pelo jet-set do eixo Rio-São Paulo, que a adotou imediatamente. Aliás, lembro de um belíssimo texto escrito para ela em uma revista semanal por ninguém menos que Vinícius de Moraes.
Enfim, passada esta pororoca inicial, com três belíssimos discos e um show que era sua cara -Tamba-tamjá, Fafá desorientou legal. Não teve estofo para lutar pelo nível de qualidade que vinha apresentando e resolveu ser "coerente com o povo" - sic.
Tem todo o direito; duvidar quem há de?! Eu, contudo, pulei fora de sua canoa que - para meu gosto - vinha fazendo um belo trajeto.
Fafá ficou over, sim. Vulgarizou muito seu canto, sim. Embora com um crescente volume de voz, desaprendeu a cantar, uma vez que um grande cantor não é o que faz de cada interpretação um tour-de-force a ser vencido. Desenvolveu um problema seríssimo de dicção que atrapalha ainda mais sua emissão e tudo deságua num aguaceiro despropositado.
Bons tempos aqueles em que Fafá fazia chover uma chuva refrescante e perfumada como ainda hoje acontece em sua terra. Espero que este retorno tenha sido importante para arejar esta artista que, sem dúvida e apesar de tudo, tem enormes qualidades.
Este novo trabalho da Fafá deve estar bom mesmo, haja vista que até o nível destes comentários a seu respeito está bem melhor...
Novos fãs???
Mauro , a declaração do anonimo das 11 :43 me fez lembrar que muitas cantoras tem seu próprio selo musical . Fafá mesmo criou o selo Kaiapó e por ele lançou o Canto das águas em 2001 onde deu prioridade as composições de seus conterrâneos .
Ela fechou esse selo e voltou para EMI ? Ou esse novo trabalho foi produzido pelo Kaiapó e só será distribuido pela EMI ? Eu li na Isto é que ela penou para achar uma gravadora para lançar o Tanto Mar e aí resolveu bancar o projeto de forma independente . Mas o trabalho foi distribuido pela Sony BMG . Queria que todas as cantoras que tivessem seus selos divulgassem mais isso . Pelo que sei todas as citadas acima tem seu próprio selo , menos Alcione .
Tom, esse projeto foi bancado pela EMI, mas - acredito - tem patrocínio do Governo do Pará.
Hoje em dia as cantoras tadinhas que não vendem tem seus selos: Bethânia (Quitanda), Fernanda Abreu (Garota sangue bom), Beth Carvalho (Andança), Marisa Monte (Phonomotor)e agora a Fafá Kaiapó Belém.
Bom dia Mauro
Não entendi o que foi posto pelo anônimo 8:54 ... Como assim 'Hoje em dia '?
Antonio Adolfo foi o pioniero nesse ramo de independência criando o selo Artezanal há exatos 30 anos . Onde fez 500 cópias do seu CD 'Feito em Casa ' que tinha a participação de Joyce .
Além das citadas acima , Arnaldo Antunes ( Rosa Celeste ) , Zeca Baleiro ( Saravá Music ) , Leila Pinheiro ( Tacacá ) , Alceu Valença ( Tropicana ) , Elba Ramalho ( Ramax ) , Daniela Mercury ( Páginas do Mar ) e Jair de Oliveira ( S de Samba ) entre muitos outros , também preferiram a independencia artistica !
Mas como o Tom , também fiquei curioso sobre o rumo que tomou o selo Kaiapó da Fafá de Belém ...
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