15 de fevereiro de 2007

DVD capta calor da folia afro-baiana de Brown

Resenha de DVD
Título: Ao Vivo no Festival

de Verão de Salvador
Artista: Carlinhos Brown
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * *

Enquanto um espectador no meio da multidão agita bandeira com imagem de Bob Marley, o guitarrista Jaguar arrisca solo hendrixiano. É a deixa para Carlinhos Brown tocar Carlito Marrón, música de suingue cubano que batizou disco feito para o mercado hispânico. Retrato da miscigenação que molda a obra do tribalista, o número está no primeiro DVD que registra show de Brown. Filmado em fevereiro de 2006, Ao Vivo no Festival de Verão de Salvador sai pela Som Livre, mas não é mera reprodução do programa transmitido pela Rede Globo - como o DVD de Margareth Menezes na série, por exemplo. Lula Buarque de Hollanda põe a marca da Conspiração Filmes na apurada direção do show. Ou evento, melhor dizendo, pois a criatividade de Brown extrapola o limite do palco. A ponto de ele começar e terminar sua apresentação na rua, no comando dos 300 ritmistas do grupo Zarab. É como se fosse uma escola de samba à baiana. Com direito à magia religiosa de Salvador (BA).

Por seu discurso verborrágico e às vezes confuso, mas sempre pautado por idéias e conceitos inteligentes, Carlinhos Brown não tem sido levado a sério no Brasil – fora da fronteira baiana - como merecia. Vários exemplos do efervescente amálgama rítmico que caracteriza sua música estão nos 20 números do roteiro do show perpetuado neste DVD, aberto com Venho da Jurema, um tema adaptado pelo artista do cancioneiro da tribo indígena Kiriri. O repertório concilia um clássico do samba-reggae (Faraó, sucesso na voz de Margareth Menezes em 1987) e hits do trio Tribalistas (Carnavália - raro momento zen da apresentação - e Passe em Casa) com temas extraídos do folclore afro-brasileiro (Ashansu - número em que o cantor representa orixá - e Lorigena Bambam).

O leque de ritmos é rico e amplo. Se Swing Afro Big Gang evoca o suingue das big-bands do jazz das décadas de 30 e 40, Capitão do Asfalto incorpora a pulsação contemporânea do rap em discurso introdutório em favor da educação e socialização dos menores carentes. Brown, a propósito, comanda frutífero trabalho social em favela de Salvador com ideologia humanista que transparece nos depoimentos e nas imagens do making of do Festival Ghetho Square. É o alentado extra deste DVD filmado com requinte por Lula Buarque de Hollanda. O esmero é perceptível nas projeções que irrompem na tela durante Carnavália, por exemplo. Ou ainda durante as tomadas da multidão que reverencia Carlinhos Brown, artista à espera de reconhecimento em sua pátria afro-brasileira.

10 Comments:

Anonymous Anônimo said...

respeito brown mas sua música só tem sentido mesmo na Bahia.

15 de fevereiro de 2007 às 09:52  
Anonymous Anônimo said...

Brown não me pega mais. Muito confete pra pouco carnaval.

15 de fevereiro de 2007 às 17:00  
Anonymous Anônimo said...

Não concordo com os anonimos ai em cima. Vocês por acaso ouviram todos os cds solo da carreira de Brown ? Tem tb um cd duplo, que mistura as batidas do seu time de músicos de percussão com batidas eletrônicas que é fantástico. Aliás de onde saiu Bocarriba, e Mariacaipirinha, tb no roteiro no espetáculo. É impressionante ver as imagens dos shows de C.B em Barcelona, Madri, etc, que passam pelo DVD. Aquela multidão de estrangeiros nas ruas, comandados pelas mãos e cocares de um brasileiro Brown, com uma história musical e social muito intensa. É realmente uma pena, que no Brasil, ela tenha sido conhecido apenas pela canção : A NAMORADA, que é uma das mais fracas do primeiro cd, e depois por sua participação nos Tribalistas.
C.B tem um trabalho ritmico riquíssimo, e quando faz axés, não rima bunda com bunda, como muitos por ai. Não vou defender que ele seja um cantor maravilhoso, ( embora seja mais afinado que muitos catores de Sambaxé )mas não posso negar o valor histórico, poético e ritmico de sua obra, que exalta o Brasil e todo o imenso leque de influencias ritmicas de Portugal, Espanha, Africa e etc...

Acho uma pena, que o Brasil só venha dar valor para esse artista, depois que ele ganhar Grammys, e for elogiado pelos americanos. Aliás, até de filmes americanos com produções milionárias, o música já participou.

Não vamos fechar o leque de C.B e abri-lo só no carnaval. Seus albuns tem conteúdo para serem trabalhados em várias épocas do ano.

Eu tenho o DVD, e é ótimo.
Mas isso é a MINHA OPINIÃO, ok ?

Abraços a todos.
Edu - abc.

15 de fevereiro de 2007 às 22:27  
Anonymous Anônimo said...

respeito muito a Vera, mas a música de Brown faz sentido em qualquer lugar do mundo onde haja ouvidos mais atentos e menos preconceituosos. Anderson Falcão.

15 de fevereiro de 2007 às 23:34  
Anonymous Anônimo said...

Em primeiro lugar é uma pena como Margareth Menezes é tratada . Esse DVD que o Mauro citou é mesmo " mera reprodução do programa transmitido pela Rede Globo " . Maga tem seu valor e merecia ser tratada com mais respeito . Onde já se viu ? Cancelaram a participação do Arnaldo Antunes no novo DVD para diminuir os custos ...

Sobre Brown e seu jeitão . Acho que deveria investir mais no repertório zen . Em momemtos mais calmos como em É Você( Tribalistas )notamos que ele tem uma boa voz .É sim talentoso e injustiçado. Mas claro que não é tudo aquilo que Marisa Monte , Tom Zé e Daniela Mercury acham ...

Vou copiar o Edu , mas isso é a MINHA OPINIÃO, ok ?

15 de fevereiro de 2007 às 23:56  
Anonymous Anônimo said...

Esse Lula Buarque de Hollanda fatura uma nota preta não é não Mauro ? Posso estar enganado mas ele também trampa pra os dvds da Marisa Monte e Beth Carvalho . Aproveito a chegada do Carnaval para cantar para ele : Ei, voce aí me dá um dinheiro aí !

16 de fevereiro de 2007 às 07:00  
Anonymous Anônimo said...

Tenho os 2 primeiros CDs do Carlinhos. O primeiro comprei meio 'na onda' e não gostei, apesar da Quixabeira, deliciosa. Insisti com o segundo mas realmente parei por ali.

Aliás, Tribalistas - pra mim - é eufemismo para adolescência retardatária. Tenho tudo da Marisa, acho-a o máximo mas quanto a este trabalho...perdoei e passei por cima pq aqui comigo ela tem bastante crédito.

16 de fevereiro de 2007 às 10:14  
Anonymous Anônimo said...

Ainda bem que foi cancelada a participação de Arnaldo Antunes pois ele pouco tem relação com o universo e história do samba-reggae explorados no último DVD de Margareth Menezes.

17 de fevereiro de 2007 às 02:22  
Anonymous Anônimo said...

Excelente crítica, Mauro. Apenas uma observação, pois sou um urbanista de Salvador: o Candeal, bairro de origem de Carlinhos Brown e onde ele realiza suas ações sociais, não fica na periferia da cidade. É uma favela encravada em uma das áreas mais nobres e caras de Salvador. Só pra fazer uma comparação, é como o Morro do Cantagalo em Ipanema - não dá pra falar em periferia...

20 de fevereiro de 2007 às 17:49  
Blogger Mauro Ferreira said...

Valeu pela observação esclarecedora, anônimo das 17:49.

20 de fevereiro de 2007 às 18:21  

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