Com sua bossa negra, Elza se garante até no jazz
Evento: Festival I Love Jazz
Título: My Soul Is Black
Artista: Elza Soares (em fotos de Mauro Ferreira)
Participação especial: Nivaldo Ornelas
Local: Teatro Oi Casa Grande (RJ)
Data: 8 de agosto de 2010
Cotação: * * * 1/2
Quarenta e oito anos depois de Elza Soares ter deslumbrado Louis Armstrong (1901 - 1971) com sua bossa negra, a cantora voltou a celebrar no palco o encontro com o trompetista norte-americano, que conheceu Elza em show feito pela artista no Chile, durante a Copa do Mundo de 1962. A recordação desse encontro deu o start na quarta e última apresentação da intérprete do festival I Love Jazz, que chegou ao fim na noite de 8 de agosto de 2010, no palco do Teatro Oi Casa Grande (RJ), após passar por Belo Horizonte (MG), Brasília (DF) e São Paulo (SP). Embora a programação do festival dirigido por Marcelo Costa tenha incluído atrações internacionais que evocavam o jazz tradicional de New Orleans (EUA), a atração principal foi Elza, que deu com o show My Soul Is Black uma (bela) prévia do seu primeiro disco de jazz - em lento processo de gravação desde 2009. A pronúncia do inglês de Elza pode não ser das mais aceitáveis e a voz pode já não ter toda a potência dos anos 60, mas a tal bossa negra - que batizou álbum antológico de 1960 em que Elza já cantava samba com influência do jazz - ainda está lá e fez com que a mulata ainda assanhada se garantisse entre músicos feras como o guitarrista argentino Victor Biglione (autor dos arranjos) e o saxofonista Nivaldo Ornellas, convidado do show (dos mais cuidados de Elza, nos últimos anos).
Um belo solo do trompete de Altair Martins ambientou a cena e preparou o público para a aparição de Elza. Que abriu seu show com What a Wonderful World (Bob Thiele e George David Weiss, 1968) em homenagem a Louis Armstrong, relatando - com sua habitual verve - o encontro que teve com o trompetista em 1962. Em seu espirituoso discurso, Elza traçou paralelo entre o jazz e o samba antes de cantar (I Love You) For Sentimental Reasons (William Best e Deek Watson, 1945), segundo número de roteiro que alinhou standards do cancioneiro norte-americanos com clássicos brasileiros, a maioria da lavra soberana de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994). Hábil nos scats e modulações vocais, Elza se mostrou à vontade no exercício do jazz, cantado por ela à sua moda. Estava ali no palco do Teatro Oi Casa Grande uma cantora em fina sintonia com o quinteto com quem dividia a cena. Músicas como Cry me a River (Arthur Hamilton, 1953) - com pulsação vibrante em sua parte final - e Retrato em Branco e Preto (Tom Jobim e Chico Buarque, 1968) ganharam interpretações (razoavelmente) sofisticadas, embora o grande momento da noite tenha sido Summertime (George Gershwin, 1935), revivida por Elza em registro gutural que remeteu à histórica interpretação de Janis Joplin (1943 - 1970). Ao fim, o roteiro voltou a recorrer ao cancioneiro atemporal de Jobim em suingante medley que juntou Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) - com a letra alterada por Elza com citações a si mesma - e Só Danço Samba (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1963). Na sequência, a cantora arrematou o show com afago no ego dos cariocas: Valsa de uma Cidade (Ismael Neto e Antonio Maria, 1954), entoada a capella e sem microfone. Sempre assanhada, a mulata ainda é a tal na valsa, no samba e mesmo no jazz por conta de sua bossa negra.
11 Comments:
Elza É.
Outro (novo) show da Elza ???
Lê-se abaixo alguns dos títulos dos shows que Elza estreiou nos últimdos tempos :
" My Soul Is Black "
" No Divã com a Diva "
" Elza, Operária Brasileira "
" Arrepios "
" Compulsivos e a Perigosa "
" Beba-me "
Pois é, mais um NOVO SHOW de Elza, ela e Bethânia, as duas DIVAS brasileiras, sempre com um novo espetáculo no auge da sua efervecência criativa. Cantar ainda como a Elza, as novas gerações terão que rebolar...
Bethânia ok, pois o novo show sempre precede uma turnê ou um conceito com prazo de validade mas no caso de Elza é diferente e as criticas são compreensíveis. São tiros n'água!
Elza é uma grande mulher. Admirável seu vigor e como ela se refaz,ressurgindo sempre com shows novos, sem se repetir. E que venha o cd jazzistico!!! A interepretação visceral à la Janis Joplin eu gostaria de ter visto, porque Janis canta uma Summertime que não parece Summertime... no 'verão' de Janis parece que o sol solta faiscas de tão quente. Uma outra interpretação de arrepiar para Summertime é a de Sarah Vaughan que nunca saiu em cd, mas está no youtube, a grande diva vai dos graves aos agudos criando modulações incríveis na voz, numa profana mistura entre o canto lírico e o popular. Dois paradoxos possíveis!! Dois espetáculos!!!
Nossa, fiquei surpreso com sua avaliação do show porque aqui em SP deu pra perceber que ela não estava preparada! Soube enrolar bem a platéia! Cantou num inglês sofrível e várias vezes usou do scat singing como alternativa. Sua versão de Summertime em nada tem de similar com o de Janis Joplin.
Gosto muito de Elza, mas sua apresentação no Auditorio Ibirapuera foi mais do que decepcionante.
Ela destruiu com Retrato em Branco e Preto, na sua versão declamatória.
Uma pena! :( @Cdnuts
Tbm me surpreendeu a avaliação do show. A estréia aqui em BH foi sofrível. Improvisação - no pior sentído do termo. "Retrato em branco e preto" ela não cantou - leu (mal) a letra; muita embromação em cima do carisma dela. Uma pena!Soou decadente. E olha que sou super-fã da Elza.
Caros, o show do Rio talvez tenha sido o melhor das quatro apresentações do festival por ter sido o último. Vi e ouvi uma cantora segura no meio de feras. Claro, a pronúncia é deficiente. Mas o que conta, para mim, é que Elza entendeu a linguagem dos músicos e dialogou com eles de igual para igual - ao seu modo, é claro. Mas a minha resenha é tão somente a visão de um crítico de MPB / Pop que tem apenas conhecimetos rudimentares de jazz. E viva a diversidade! Abs, MauroF
Estive no Auditório Ibirapuera e a emoção foi geral, Elza levantou a platéia que aos gritos aplaudiram durante muito tempo, o inglês pode sim não ser perfeito, afinal, Elza é Brasileira e falando de Sarah Vaughan, seus discos dedicado a canções brasileiras, o português não é perfeito e se fosse, não seria a Sarah, e sim mais uma cruner... Enfim, adorei o show "My soul is black" espero que este sim, saia em turnê. "Retrato em branco e preto" achei muito lindo ela recitou, uma maravilhosa música em poema e a crítica daqui de SP comparou este momento como ao da atriz francesa Jeanne Moreau quando declamou o poema "Dos olhos da amada" do Vinícius de Moraes...
"Sua versão de Summertime em nada tem de similar com o de Janis Joplin".
Ué, claro! Senão ela não seria "A Elza Soares" e sim uma cover da Janis.
E quanto ao inglês perfeito... bem, já falaram da grande Sarah. Outra gigante, Nina Simone, também cantava em francês com um sotaque carregadíssimo...
É que o povo colonizado adora sair bonitinha na foto.
LITO
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