19 de junho de 2010

Leny depura boleros em show de beleza linear

Resenha de Show
Título: Alma Mía
Artista: Leny Andrade (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 18 de janeiro de 2010
Cotação: * * * *
Em cartaz em 3 e 4 de julho de 2010 na Lapinha (RJ)
"Bolero é bolero. Pop é pop...", diferenciou Leny Andrade no palco do Canecão (RJ), antes de cantar Nosotros (Pedro Junco), um dos boleros que a cantora depura em cena com sua técnica majestosa. Em sua estreia nacional, na noite de 18 de junho de 2010, o show Alma Mía reeditou o êxito do disco homônimo lançado em maio pela gravadora carioca Fina Flor. Leny sabe cantar um bolero no tom exato, sem cair no pantanoso terreno sentimental em que se jogam várias cantoras que encaram esse ritmo cubano que se popularizou no México. Leny canta boleros com bom gosto. "Sem maracas, sem bongô e sem congas", como a própria intérprete ressaltou em cena. Em contrapartida, em sua única apresentação no Canecão, Leny contou com orquestra de cordas - formada por 12 violinos - e naipe de sopros. Tudo sob a chique direção musical do pianista Fernando Merlino, produtor e arranjador do ótimo CD.
Como o disco que o inspirou, o show Alma Mía tem beleza por vezes linear. O tom e as tiradas pretensamente bem-humoradas de Leny sobre as letras - cujos conteúdos folhetinescos são descritos pela intérprete em bom e malicioso português - se repetem ao longo de boleros como Llévatela (Armando Manzanero) e Un Poco Más (Álvaro Carrillo). A entrada da orquestra de cordas, a partir de Lluvia en la Tarde (Arturo Castro), altera a pulsação dos arranjos sem desviar o show do trilho básico. Lluvia en la Tarde, a propósito, é bolero que deságua no Rio da Bossa Nova, em arranjo inspirado. Após Entonces (Arturo Castro), número em que sobressai o piano de Fernando Merlino, Leny acerta ao inserir um set de músicas brasileiras. Porque poucas cantoras interpretam um samba como Alvoroço (João de Aquino e Ivor Lancellotti) com tanta segurança e com tanto suingue. Se Sou Eu (Luana) impressiona pelo laço afro que reforça as afinidades entre o maestro Moacir Santos (1926 - 2006) e o letrista do tema, Nei Lopes, Batida Diferente (Maurício Einhorn e Durval Ferreira) mostra - para quem ainda não sabe - que Leny sabe cair com bossa no samba-jazz. Número de longa duração, Batida Diferente é pretexto para scats e solos da afiada banda. O bloco nacional esquenta o show a ponto de, na volta aos boleros, Leny seduzir de imediato a plateia ao realçar toda a beleza de Alma Mía (Maria Grever) e de Vete de mi, o bolero de Virgílio Expósito e Homero Expósito que Caetano Veloso gravou e propagou no álbum Fina Estampa (1994). No fim, uma esplendorosa interpretação de El Dia que me Quieras - a canção de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera que se transmutou em bolero, mesmo tendo sido criada no universo argentino do tango - ratifica a maestria do canto de Leny Andrade, intérprete que sabe que bolero é bolero e que pop é pop.

7 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

"Bolero é bolero. Pop é pop...", diferenciou Leny Andrade no palco do Canecão (RJ), antes de cantar Nosotros (Pedro Junco), um dos boleros que a cantora depura em cena com sua técnica majestosa. Em sua estreia nacional, na noite de 18 de junho de 2010, o show Alma Mía reeditou o êxito do disco homônimo lançado em maio pela gravadora carioca Fina Flor. Leny sabe cantar um bolero no tom exato, sem cair no pantanoso terreno sentimental em que se jogam várias cantoras que encaram esse ritmo cubano que se popularizou no México. Leny canta boleros com bom gosto. "Sem maracas, sem bongô e sem congas", como a própria intérprete ressaltou em cena. Em contrapartida, em sua única apresentação no Canecão, Leny contou com orquestra de cordas - formada por 12 violinos - e naipe de sopros. Tudo sob a chique direção musical do pianista Fernando Merlino, produtor e arranjador do ótimo CD.
Como o disco que o inspirou, o show Alma Mía tem beleza por vezes linear. O tom e as tiradas pretensamente bem-humoradas de Leny sobre as letras - cujos conteúdos folhetinescos são descritos pela intérprete em bom e malicioso português - se repetem ao longo de boleros como Llévatela (Armando Manzanero) e Un Poco Más (Álvaro Carrillo). A entrada da orquestra de cordas, a partir de Lluvia en la Tarde (Arturo Castro), altera a pulsação dos arranjos sem desviar o show do trilho básico. Lluvia en la Tarde, a propósito, é bolero que deságua no Rio da Bossa Nova, em arranjo inspirado. Após Entonces (Arturo Castro), número em que sobressai o piano de Fernando Merlino, Leny acerta ao inserir um set de músicas brasileiras. Porque poucas cantoras interpretam um samba como Alvoroço (João de Aquino e Ivor Lancellotti) com tanta segurança e com tanto suingue. Se Sou Eu (Luana) impressiona pelo laço afro que reforça as afinidades entre o maestro Moacir Santos (1926 - 2006) e o letrista do tema, Nei Lopes, Batida Diferente (Maurício Einhorn e Durval Ferreira) mostra - para quem ainda não sabe - que Leny sabe cair com bossa no samba-jazz. Número de longa duração, Batida Diferente é pretexto para scats e solos da afiada banda. O bloco nacional esquenta o show a ponto de, na volta aos boleros, Leny seduzir de imediato a plateia ao realçar toda a beleza de Alma Mía (Maria Grever) e de Vete de mi, o bolero de Virgílio Expósito e Homero Expósito que Caetano Veloso gravou e propagou no álbum Fina Estampa (1994). No fim, uma esplendorosa interpretação de El Dia que me Quieras - a canção de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera que se transmutou em bolero, mesmo tendo sido criada no universo argentino do tango - ratifica a maestria do canto de Leny Andrade, intérprete que sabe que bolero é bolero e que pop é pop.

19 de junho de 2010 às 01:43  
Anonymous Anônimo said...

Não concordo.Bolero já teve sua era pop.Foi o pop de toda geração que construiu a bossa nova.Tão popular que até os The Beatles gravaram Besame Mucho.Não gosto desse tom elitista que querem dar ao bolero para talvez se eximirem de alguma culpa.Leny pode ficar despreocupada pois sua voz tem tudo a ver com o bolero.Muito mais que a Nana Caymmi que tende a escumar demais sua voz para atingir um clima bolerístico,o que Leny não faz nenhum esforço para conseguir de forma privilegiada.

19 de junho de 2010 às 06:47  
Blogger Luca said...

Leny sabe cantar bolero e tudo o mais, pode cantar o que quiser que seu canto é de 'catiguria' como diria a bebel do paraíso tropical.

19 de junho de 2010 às 08:16  
Anonymous Anônimo said...

Prefiro Leny cantando nossas Bossas...

19 de junho de 2010 às 08:23  
Anonymous Barci said...

Leny lotou em sua única apresentação no Canecão?

19 de junho de 2010 às 09:17  
Anonymous lurian said...

Gostei muito do disco da Leny. Ela se saiu muito bem no bolero sem carregar demais nas tintas.

19 de junho de 2010 às 11:32  
Anonymous Lúcia said...

bobagem essa discussão de pop x bolero, presumo que Leny se referiu a quem grava bolero sem respeitar a 'essência' do gênero

Lúcia, Ouro Preto

19 de junho de 2010 às 12:39  

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