5 de maio de 2010

Luiz Tatit pega rumo certo no CD 'Sem Destino'

Resenha de CD
Título: Sem Destino
Artista: Luiz Tatit
Gravadora: Dabliú Discos
Cotação: * * * 1/2

Mestre teórico da canção, Luiz Tatit mostra na prática que domina como poucos a arte de fazer música em seu quinto CD solo, Sem Destino. Revelado nos anos 70 no Grupo Rumo, ícone da vanguarda paulista, Tatit trilha caminho mais próximo do que se convencionou chamar de pop na melhor parte da safra de inéditas do disco (das 12 músicas, apenas Almas Gêmeas já tinha sido gravada - no caso, por Ana Costa em seu CD Novos Alvos). Por mais que haja um ou outro tema que experimente testar os limites da canção convencional, caso de Nando e Nanda (Dante Ozetti e Luiz Tatit), boa parte do repertório de Sem Destino é palatável, até mesmo assoviável, sem trair o universo do compositor. O fino estilista da canção se mostra mais acessível em músicas como De Favor, Por que Nós? - parceria com Marcelo Jeneci, compositor em justa ascensão na cena pop que colabora como músico em várias faixas de Sem Destino - e Dia Sim, Dia Não. A faixa-título também se impõe em safra que questiona de forma lúdica o suposto fim da canção. Em tom nordestino, Quando a Canção Acabar recorre à fábula d'A Cigarra e a Formiga para expor as visões paradoxais de Jacimara (a cigarra que consome com avidez sua fornada de canções) e de Jacqueline (a formiga que estoca sua canções para se precaver do fim). É fato que Sem Destino fica bem menos assoviável em sua segunda metade por conta de temas menos sedutores como Quem Gostou de mim, composto para o espetáculo de dança Querida Senhorita O (2007) e defendido no disco pela cantora Juçara Marçal. Mas é nesta segunda metade que Tatit se exercita mais como estudioso da canção. Em A Volta do Sabiá, ele dialoga em clima forrozeiro com a Canção do Exílio, do poeta Gonçalves Dias (1823 - 1864). Em Relembrando Nazareth, ele entra no universo do choro ao letrar melodia de Capiba (1904 - 1997). Divididos com Ná Ozzetti, intérprete que mais se ajusta à obra de Tatit com seu canto límpido, os versos citam títulos de obras do compositor Ernesto Nazareth (1863 - 1934). Na contramão da criação de Relembrando Nazareth, Tatit recebeu quatro versos de Itamar Assumpção (1949 - 2003) que geraram Quem Sabe, parceria com o Nego Dito que fecha disco estiloso, urdido sob a direção musical de Jonas Tatit. Mesmo sem destino, Luiz continua no rumo certo...

5 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Mestre teórico da canção, Luiz Tatit mostra na prática que domina como poucos a arte de fazer música em seu quinto CD solo, Sem Destino. Revelado nos anos 70 no Grupo Rumo, exponte da vanguarda paulista, Tatit trilha caminho mais próximo do que se convencionou chamar de pop na melhor parte da safra de inéditas do disco (das 12 músicas, apenas Almas Gêmeas já tinha sido gravada - no caso, por Ana Costa em seu CD Novos Alvos). Por mais que haja um ou outro tema que experimente testar os limites da canção convencional, caso de Nando e Nanda (Dante Ozetti e Luiz Tatit), boa parte do repertório de Sem Destino é palatável, até mesmo assoviável, sem trair o universo do compositor. O fino estilista da canção se mostra mais acessível em músicas como De Favor, Por que Nós? - parceria com Marcelo Jeneci, compositor em justa ascensão na cena pop que colabora como músico em várias faixas de Sem Destino - e Dia Sim, Dia Não. A faixa-título também se impõe em safra que questiona de forma lúdica o suposto fim da canção. Em tom nordestino, Quando a Canção Acabar recorre à fábula d'A Cigarra e a Formiga para expor as visões paradoxais de Jacimara (a cigarra que consome com avidez sua fornada de canções) e de Jacqueline (a formiga que estoca sua canções para se precaver do fim). É fato que Sem Destino fica bem menos assoviável em sua segunda metade por conta de temas menos sedutores como Quem Gostou de mim, composto para o espetáculo de dança Querida Senhorita O (2007) e defendido no disco pela cantora Juçara Marçal. Mas é nesta segunda metade que Tatit se exercita mais como estudioso da canção. Em A Volta do Sabiá, ele dialoga em clima forrozeiro com a Canção do Exílio, do poeta Gonçalves Dias (1823 - 1864). Em Relembrando Nazareth, ele entra no universo do choro ao letrar melodia de Capiba (1904 - 1997). Divididos com Ná Ozzetti, intérprete que mais se ajusta à obra de Tatit com seu canto límpido, os versos citam títulos de obras do compositor Ernesto Nazareth (1863 - 1934). Na contramão da criação de Relembrando Nazareth, Tatit recebeu quatro versos de Itamar Assumpção (1949 - 2003) que geraram Quem Sabe, parceria com o Nego Dito que fecha disco estiloso, urdido sob a direção musical de Jonas Tatit. Mesmo sem destino, Luiz continua no rumo certo...

5 de maio de 2010 às 14:01  
Anonymous Henrique said...

Olá Mauro,

achei muito legal sua resenha e seu blog. Sou da assessoria de imprensa Ponto e Vírgula e trabalhamos com a cantora de MPB Valéria Oliveira (www.myspace.com/valeriaoliveira). Gostaria de entrar em contato com você para mandar o material da cantora.

Meu contato é: pontovirgula arroba uol ponto com ponto br

Abraços
Henrique

5 de maio de 2010 às 15:49  
Anonymous Anônimo said...

Prezado Mauro, se me permitir corrigir pequeno erro gráfico na segunda frase do texto, vai aqui: "Revelado nos anos 70 no grupo Rumo, expoEnte da vanguarda paulista,...", fisgou? Falta o 'e' na palavra "expoente". Não precisa publicar meu comentário se preferir. Só corrigir...
Abs,
Ricardo Guima

5 de maio de 2010 às 15:51  
Blogger Mauro Ferreira said...

Grato por me alertar do erro de digitação, Ricardo. Mas, como o texto fica graficamente desarrumado se eu acrescentar o 'e', optei por 'ícone' em vez de expoente. Abs, mauroF

5 de maio de 2010 às 16:16  
Anonymous Anônimo said...

Um belíssimo disco! Merecia pelo menos 4 estrelas, Mauro.

14 de maio de 2010 às 12:28  

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